quarta-feira, 20 de agosto de 2008

NECESSIDADE E CONSUMO - VIDA E MORTE

Meu amigo Agenor era muito inteligente e aficionado por aviação. Conheci-o desde quando freqüentávamos a mesma escola secundária. Naquele tempo ele já demonstrava o rumo de sua vida, pois só falava sobre avião. Colecionava figurinhas, miniaturas, folhetos, livros e tudo o mais que dissesse respeito à aviação. Era um verdadeiro maníaco. Teoricamente, já sabia pilotar. No prosseguimento dos estudos, naturalmente que ingressou na faculdade de engenharia, com especialização na construção de aeronaves. Formado, empregou-se numa indústria aeronáutica. Com as primeiras economias, construiu ele mesmo um modesto aeroplano com o qual estava sempre viajando.
Aliava seu entusiasmo pela aviação ao destemor com que enfrentava as diversas excursões que fazia por todo o Brasil. Certa ocasião, planejou sem maiores cautelas encetar uma viagem de Goiânia a Manaus, pilotando aquele seu amado condor inanimado, que não dispunha de avançados recursos tecnológicos para a empreitada. O vôo começou bem, mas quando estava em meio caminho começaram a surgir problemas mecânicos não previstos. Lançou um SOS pelo rádio e procurou contornar a situação. Não conseguiu. Mas como estava em região de selva amazônica densa (ainda era densa), conseguiu fazer o pequeno avião ir roçando aquele manto macio, composto pela formação contínua da copa das árvores. Conseguiu descer incólume para o chão. A primeira coisa que lhe ocorreu foi analisar a situação e equacionar suas atitudes. Trouxe, retirado do aparelho, um caderno e caneta, onde pretendia registrar sua desventura.
Depois de alguns dias, nos quais andou com dificuldade por entre aquela mata densa (ainda era densa), em meio a tal ambiente, sem orientação, sozinho, cansado e faminto, já se mostrava exausto e fraco. Certo dia, desnutrido há vários dias, dentre a penumbra da floresta, vislumbrou uma névoa clara, denotando que havia uma fonte de luz naquele rumo. Afastando ramos e cipós, com cuidado e atenção redobrada foi seguindo na direção mais clara quando começou a ouvir sons que não lhe eram desconhecidos. Com ânsia, foi-se aproximando do objetivo quando, ao arredar um tufo de vegetal, viu-se frente a um colossal prédio moderno, frenético de luz e som e grandes portas abertas. No frontispício estava gravado, com letras luminosas, “Life’s Shopping, Seu Center de Consumo”. A alegria do meu amigo foi imensa, conforme está registrado no seu caderno. O primeiro pensamento do frágil segregado da civilização foi satisfazer à sua fome. Com as poucas forças que ainda lhe sobravam, entrou e começou a procurar qualquer coisa que servisse de alimento. O prédio tinha três andares e o herói faminto o percorreu todo. Só encontrou lojas com luxuosas vitrines, expondo bolsas femininas, roupas de última moda, enfeites caseiros, jóias diversas, casa de câmbio, telefones de última geração, tapetes, perfumes, oferta de compra de automóveis em suaves prestações.
Desesperado, Agenor saiu correndo daquele “Inferno da Ilusão”, embrenhou-se novamente na selva (ainda era selva), e deixou-se cair ao chão, chorando amarguradamente até que, prostrado pela fraqueza, a noite eterna lhe cobriu o corpo.
Alguns anos depois, quando o progresso chegou lá, acharam o caderno.
(inspirada em caso verídico)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

DESTRUINDO O MEIO AMBIENTE

Uma empresa de vulto internacional está instalando grande fábrica de cerveja em determinada cidade de Minas Gerais. Será a segunda maior indústria da espécie no Brasil, ocupando imensa área. Para tanto, reuniram-se as autoridades municipais, os representantes da mencionada indústria e o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, órgão integrante da administração local para tratar e resolver os trâmites burocráticos, de forma que a empresa ficasse legalmente habilitada para iniciar as obras no menor prazo possível. E os representantes da indústria saíram com a aprovação total. Imaginamos como terá ocorrido tal reunião. Naturalmente, depois de pagas todas as taxas, o mencionado Conselho, por unanimidade, aprovou o corte de 140 árvores frutíferas nativas, condenando à morte todo o bioma da área, sob promessa de compensações. Serão substituídos, portanto, todos os seres vivos, macro e micro, (não só as árvores). Segundo supomos, devem ter declarado mais ou menos assim: “se é para o progresso, aprovamos”. Para formalidade de aparências e tranqüilidade de consciências, exigiram que, em troca, a empresa prometesse plantar outras árvores em outros lugares e em tempos futuros. Trocaram um ato concreto de morte e destruição por uma vaga promessa, cuja efetividade já conhecemos há muito tempo.
Essas ações nos fazem compará-las com as que ocorreram outrora na ilha de Páscoa, quando os nativos cortaram todos as árvores em benefício da fabricação de moais de pedra, seus deuses. Decisões daquela época devem ter sido parecidas: “se é para louvar nossos deuses, aprovamos o corte de árvores.” E todos sabem das conseqüências para os habitantes daquela ilha, sem o suporte de seus seres vivos vegetais.
Além desses tais Conselhos Municipais, conta o Estado de Minas Gerais com os seguintes órgãos oficiais para defesa do meio ambiente:
1) Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema);
2) Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)
3) Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam)
4) Instituto Estadual de Florestas (ICF)
5) Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam)
É muita gente ganhando para defender o meio ambiente. Bem entendido: defender no faz-de-conta.
Descrevemos acima um fato concreto, ocorrido há uns 10 dias, que deve estar harmonizado com os outros órgãos oficiais por esse Brasil afora, cuja verdadeira função é fingir que defendem a Natureza, mas que, na efetividade, ungem os atos do esquema econômico. São, portanto, instrumentos que servem ao senhor lucro e, em conseqüência, apressam o suicídio da humanidade.
Tanta omissão, tanta hipocrisia, tanta irresponsabilidade!!!!
Por isso clamamos por um Governo Mundial como única e última esperança.