quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

QUANDO COMEÇAMOS A ERRAR?

Transcrevemos abaixo esclarecido artigo de Leonardo Boff, publicado nos jornais em outubro de 2008.

“Sentimos hoje a urgência de estabelecermos uma paz perene com a Terra. Há séculos estamos em guerra contra ela. Enfrentamo-la de mil formas no intento de dominar suas forças e de aproveitar ao máximo seus serviços. Temos conseguido vitórias, mas a um preço tão alto que agora a Terra parece se voltar contra nós. Não temos nenhuma chance de ganhar dela. Ao contrário, os sinais nos dizem que devemos mudar, senão ela poderá continuar sob a luz benfazeja do Sol, mas sem a nossa presença.
É tempo de fazermos um balanço e nos perguntarmos: quando começou o nosso erro? A maioria dos analistas diz que tudo começou há cerca de 10 mil anos com a revolução do neolítico, quando os seres humanos se tornaram sedentários, projetaram vilas e cidades, inventaram a agricultura, começaram com as irrigações e a domesticação dos animais. Isso lhes permitiu sair da situação de penúria de, dia após dia, garantir a alimentação necessária através e da recolheção de frutos. Com a nova forma de produção, criou-se o estoque de alimentos que serviu de base para montar exércitos, fazer guerras e criar impérios. Mas se desarticulou a relação de equilíbrio entre natureza e ser humano. Começou o processo de conquista do planeta que culminou, em nossos tempos, com a tecnificação e artificialização de praticamente todas as nossas relações com o meio ambiente.
Estimo, entretanto, que esse processo começou muito antes, no seio mesmo da antropogênese. Desde os seus albores, cabe distinguir três etapas na relação de ser humano com a natureza. A primeira era de interação. O ser humano interagia com o meio, sem interferir nele, aproveitando de tudo o que ele abundantemente lhe oferecia. Prevalecia o equilíbrio entre ambos. A segunda etapa foi a da intervenção. Corresponde à época em que surgiu, há cerca de 2,4 milhões de anos, o homo habilis. Este nosso ancestral começou a intervir na natureza ao usar instrumentos rudimentares como um pedaço de pau ou uma pedra para melhor se assenhorear das coisas ao seu redor. Inicia-se o rompimento do equilíbrio original. O ser humano se sobrepõe à natureza. Esse processo se complexifica até surgir a terceira etapa, que é a da agressão. Coincide com a revolução do neolítico. Aqui se abre um caminho de aceleração na conquista da natureza. Após a revolução do neolítico, sucederam-se as várias revoluções, a industrial, a nuclear, a biotecnológica, a da informática, ao da automação e a da nanotecnologia. Sofisticaram-se cada vez mais os instrumentos de agressão, até penetrar nas partículas subatômicas (topquarks, hadrions) e no código genético dos seres vivos.
Em todo esse processo se operou um profundo deslocamento na relação. De ser inserido na natureza como parte dele, o ser humano transformou-se num ser fora e acima da natureza. Seu propósito é dominá-la e tratá-la, na expressão de Francis Bacon, o formulador do método científico, como o inquisidor trata o inquirido: tortura-lo até que entregue todos os seus segredos. Esse método é vastamente imperante nas universidades e nos laboratórios.
Entretanto, a Terra é um planeta pequeno, velho e com limitados recursos. Sozinha, não consegue mais se auto-regular. O estresse pode se generalizar e assumir formas catastróficas. Temos que reconhecer nosso erro: o de termo-nos afastado dela, esquecendo que somos Terra, que ela é o único lar que possuímos e que nossa missão é cuidar dela. Devemos fazê-lo com a tecnologia que desenvolvemos, mas assimilada dentro de um paradigma de sinergia e benevolência, base da paz perpétua tão sonhada por Kant.”

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

GOVERNO MUNDIAL

Em diversos artigos, temos citado que, ante o vital problema ecológico por que passa o planeta, a sua solução começa pela efetivação de um governo mundial. Este seria o primeiro passo concreto para estabelecer uma condição lógica com objetivo de revolucionar toda a arquitetura conceitual da sociedade humana. Como não temos sido compreendidos ao apontar esse rumo, resolvemos fazer uma pequena análise do assunto, procurando justificar nossa posição e esclarecer os pontos em que se fundamenta. Não chegamos a tal conclusão pelo simples e personalístico fator psicológico do “achismo”, mas por conclusão racional amadurecida após mais de 20 anos de concentrado exercício de observação, estudo e reflexão.
Como revela a História, em diferentes estágios a sociedade ficou dependente das decisões de um governo monolítico que abrangia o “mundo” da época. Integrava-se à cultura sedimentada dessas ocasiões o entendimento de que o “mundo” era plano e infinito. Antigamente, sob conceitos pessoais, só se contavam os lugares com importância estratégico-militar e econômica. Esses imensos territórios eram conquistados, geralmente pelo poder das armas, e se lhes dava o nome de império. Tivemos em tempos distintos impérios que abarcavam o “mundo” conhecido ou significativo, tais como os dos egípcios, dos gregos, dos romanos. A Idade Média foi uma longa ocasião em que as diretrizes políticas e religiosas, com amplidão “mundial”, eram ditadas por uma autoridade centralizada no Vaticano. Foi um poder único no contexto universal por diversos séculos.
Posteriormente, revelou-se que o mundo era esférico, limitado mas enorme. Contudo, as partes representativas, mercê de uma população reduzida, eram poucas e cobriam apenas o mundo conhecido. No século XVI, com uma população estimada em 600 milhões de pessoas, o mundo total ainda era excessivamente grande, tão grande que os paises mais poderosos se julgaram no direito de colonizar os de povos mais atrasados para lhes explorar os recursos naturais. A ganância pessoal comandou o período de intensa anexação de territórios, até onde os canhões conseguiam alcançar. A Inglaterra se gabava de ser um império tão grande que, em seus vastos domínios, a luz do sol nunca deixava de brilhar.
Com o crescimento demográfico para índices absurdos (de 1900 a 2008, apenas 108 anos, a população do planeta quadruplicou); a ocupação de todos os espaços; a extensão da agricultura; a revolução industrial; o desenvolvimento tecnológico acelerado; e a ganância desenfreada, agora universalizada pela formação de inúmeras corporações econômicas, o planeta foi ficando cada vez mais pequeno. A tal ponto que, hoje, o nosso hábitat natural global, está insuficiente em 30% da sua capacidade natural de suporte e recomposição. Imagine-se que somente dos EE.UU. saem diariamente rumo à Europa, 1000 aviões que retornam à tarde. O movimento doméstico de aeronaves naquele país chega a 16.000 voos diários.
Pelo avanço da dinâmica citada, houve uma mudança muito grande na visão de mundo. O conceito de espaço atualmente é muito diferente do que vigorava quando ainda não havia o problema ambiental. Basta meditarmos quão irracional é a existência de uma cidade com 10 milhões de habitantes. Como conseqüência lógica, temos que ter, no atual século XXI, a consciência de que o mundo é um planeta diminuto, insuficiente, extenuado, anêmico, próximo a entrar nas violentas convulsões da agonia. Está numa situação idêntica à de uma laranjeira que retira da terra 100% de seiva máxima de sua capacidade e transfere, hoje, 30% à colônia de ávidos sugadores de pulgões que não cessam de procriar. Seguidamente, a seiva vital dessa árvore será desviada em 40% para os parasitos, progressivamente, até que a laranjeira se torne anêmica e morra.
Esse pequeno histórico é para caracterizar que, no entendimento cultural dos povos – consequente da tradição histórica –, governo mundial representaria a existência de um órgão brutal destinado a se impor ao mundo em benefício dos interesses de um país. Tal como se percebe hoje: vigência de um imperialismo de fato, camuflado sob o eufemismo de globalização. Na verdade, compreendemos que a globalização é realmente um imperialismo, mas não exatamente de um país, e sim de um sistema social de castas, construído sob o arcabouço econômico. Esse entendimento não se coaduna com a ideologia ambientalista, fundamentada na visão de fatos trágicos, concretos e insofismáveis sob o endosso da ciência e da observação. Governança mundial abrangente já existe, só que com métodos e objetivos vis.
Ante as evidências do desequilíbrio ambiental e identificação do agente causal, ambos gigantescos, torna-se urgente a formação de um governo planetário, isto é, um órgão pleno para gerenciar a preservação do meio ambiente em todo o globo terrestre. Com essa finalidade, calcada na visão realista das dificuldades advindas dos vícios individualistas, deverá ele ser forte, representativo, soberano, dispondo da união das forças coercivas dos principais paises. Essa conclusão se baseia na situação inconteste de que o planeta, submisso à estrutura econômica de caráter mundial, está à mercê das conveniências nacionais, extremamente danosas ao todo.
O arcabouço da atual civilização se fundamenta na ação de transformar incontrolavelmente os recursos naturais finitos não em investimento, mas em renda. É o mesmo que uma fábrica alienar mensalmente parte de máquinas operatrizes. Nesse objetivo, deve-se levar em consideração que se chocam os objetivos mercantilistas dos paises com os da preservação ambiental. As nações agem em função de seus interesses econômicos às custas do planeta; o governo global deverá atuar em função dos interesses vivenciais do planeta, beneficiando o conjunto global. O benefício do todo deve se sobrepor ao das partes, por uma simples questão de lógica.
Algumas vozes representativas têm se pronunciado incisivamente sobre a degradação planetária. Kevin Rudd, primeiro ministro da Austrália, por exemplo, disse que “Nenhum problema ressalta mais a interdependência entre nações do que a mudança climática. Ela demanda que nosso sistema global faça algo que nunca foi feito antes.” Parece-nos que a Austrália tem o governo mais pragmático em assuntos ecológicos porque esse país vem sofrendo, em termos reais, as conseqüências danosas das ações econômicas e demográficas, pois os recursos naturais daquele país são relativamente pobres e fracos e, por isso, as reações vêm mais cedo.
Emma Duncan, em uma análise ambiental no “The Economist” escreveu, sobre a próxima reunião em Copenhague em 30.11.2009, que “Não se chegar a um consenso significa que a humanidade está desistindo de tentar salvar o planeta.” Consenso em Copenhague, se positivo, só pode distinguir-se como um protótipo de governo mundial. Contudo, há vozes dissonantes, como a do Sr. Peter Braleck Letmathe, gerente geral da Nestlé, em artigo escrito sobre o problema de água no mundo: “... da forma como a água tem sido administrada, ficaremos sem água muito antes de ficarmos sem combustível.” Esse senhor tem a consciência aprisionada pelas influências culturais, não conseguindo enxergar um grau de ângulo fora de seus interesses. Não é capaz de distinguir entre o essencial à vida e o supérfluo.
Alguém dirá que governo mundial constitui uma utopia. Excluindo-se o sentido negativo, posteriormente agregado ao termo, o rumo aventado pode ser chamado de utopia no seu sentido benéfico, justo e racional. Mas – aí é que está a dificuldade – essa utopia, a que corresponde uma revolução, deve ser mesmo implementada, por necessidade de sobrevivência, sob pena de ela se transformar em mortalha. Uma revolução só é utopia antes de ser realizada.
Entendemos que essas ações – que somente podem partir de lideranças mundiais –, se não forem efetivadas com urgência, o planeta chegará a um ponto crítico sem retorno. Daí em diante, a sentença do caos estará decretada.
A respeito de urgência, cabe-nos pôr em relevo um fator importantíssimo na sua conceituação. Referimo-nos ao Tempo, que tem a indestrutível propriedade de não voltar atrás e a razão científica segundo a qual as ações maléficas de hoje produzem reações climáticas a médio e longo prazo. Dentro desse contexto, temos apenas 15 ou 20 anos para reverter o déficit existente de 30%. É um tempo muito curto para uma reviravolta na civilização atual. Defendemos que o único caminho para o refluxo da situação é tomarmos atitudes radicais, orquestradas, que somente um governo único mundial pode e teria condições de tomar. Não há tempo para conscientização de 6.600.000.000 de pessoas nem tempo para educação das crianças. A propósito, o recém-empossado presidente dos EE.UU., Barack Obama, já tomou providências para anular medidas proibitivas aos Estados Federados, atinentes ao meio ambiente, ditadas anteriormente pelo irresponsável Bush. Reconhecendo a importância do tempo na tomada de decisões ambientalistas, o novo presidente declarou textualmente: “Estes são tempos extraordinários. E eles exigem ação rápida e extraordinária.” All Gore, premio Nobel, em seu pronunciamento na reunião que se está realizando em Doha, advertiu os participantes de que "o problema ambiental está se tornando irreversível”.
Observa-se que é da natureza humana unir-se para atingir objetivos comuns. Isso já vem sendo realizado por diversos países, mas sempre sob a óptica de interesses político-econômicos. Cada vez mais vem se acentuando esse procedimento. Temos diversos exemplos: ONU, U.E. (União Européia), Nafta, Mercosul, OEA, Alba (Alternativa Bolivariana para a América), Unasul, OPEP, FMI, APEC (Fórum de Cooperação Econômica Ásia), G-8, G-20, União Africana, Parlamentares para Ação Global, Associação das Nações do Sudeste Asiático e diversas outras com menor expressão. Já se fala em uniões mais amplas, como “Nações Continentais”. Essas alianças denotam a percepção de uma necessidade político-econômica de grupamento, com vistas às necessidades das partes. Só falta os países enxergarem o óbvio, a auto-destruição ambiental que, em última análise, será também a causa do desmoramento total desse maldito arcabouço econômico.
Na verdade, os principais governos nacionais têm conhecimento da situação de suicídio planetário; não têm é coragem para agir, pois isso implicaria perturbar o caminho de enriquecimento da casta privilegiada. Alguns países têm tomado posições discursivas em favor do meio ambiente, mas se limitam a medidas aparentes, demagógicas, inócuas superficiais. Mesmo países com mais conscientização ambiental como a Holanda, Alemanha, Austrália, Japão, sózinhas, não têm condições para impôr ao restante do mundo ações concretas. Veja-se, por exemplo, a ineficácia dos diversos documentos produzidos pelos principais fóruns internacionais sobre o meio ambiente. Rajendra Pachauri, presidente da comissão IPCC, no encerramento da apresentação do relatório final, proferiu sábias palavras para o mundo. Disse ele que o IPCC apresentou o resultado dos esforços científicos e intelectuais, ficando a implantação das ações correspondentes aos países que têm músculos.
Temos observado que no mundo são realizadas reuniões em defesa do hábitat natural, com maior ou menor participação de autoridades. Até em âmbito municipal. Sempre tratam o assunto com generalidades abstratas ou enganadoras, notando-se que tais atos se constituem apenas como reforço de posições políticas. Quando há fóruns mais representativos, formulam protocolos irreais, inócuos, superficiais que não levam em consideração o verdadeiro sentido do perigo ambiental. Assim foi o Protocolo de Kioto, o de Poznan e será o próximo encontro de Copenhague.
Somente um Governo Mundial, ou Administração Global, ou Centro Mundial, ou que nome seja, com autoridade exclusiva para o meio ambiente – investido de forças e prerrogativas de soberania – poderá salvar a vida em nosso planeta.

domingo, 18 de janeiro de 2009

HIPOCRISIA ORQUESTRADA

Depois do relatório acusatório dos cientistas do Painel Intergovernamental da ONU, já ouvimos e temos lido inúmeras palestras, entrevistas, informações, discursos, de pessoas que, institucionalmente, são autoridades ou se sentem como tal em assuntos ambientais. Quase todas teimam em tratar o problema vivencial do planeta de uma forma inteiramente em desacordo com a realidade. Pior ainda: defendem que o desenvolvimento deve ser feito de forma sustentável e insistem nesse ponto, como se desenvolvimento fosse objetivo de vida. Isso é um modo de fugirem da dura realidade perante suas próprias consciências. Tais autoridades, representantes que são dos interesses econômicos, acovardados, não têm a coragem de enfrentar os fatos, à vista do verdadeiro tamanho do problema ambiental. Acreditamos que algumas raras autoridades não têm consciência da medonha realidade e, influenciados pela falácia dos seus pares, inocentemente repetem o estribilho do coro. Os fatos danosos provocados pela atual civilização estão ai, visíveis, palpáveis, audíveis, palatáveis, olfativeis e ilógicos. Não há como dialogar com fatos.
Eu me sinto agredido em minha inteligência ao ouvir alguém defender o desenvolvimento sustentável. Sinto que tal discurso está sendo dirigido a um rebanho de carneiros, a quem compete apenas balançar a cabeça, como concordância cômoda e irracional. E os participantes da engrenagem econômica repetem e defendem o mesmo bordão, porque conveniente aos seus interesses de ganância. Vem à idéia a imagem de alguém querendo me enfiar um enorme punhal na altura do coração, dizendo que isso me faria bem, pois se trata simplesmente de um punhal curativo. Ou os arautos da sabedoria estão inteiramente equivocados, provando assim que são incapazes de enxergar o obvio – o que os levaria à categoria de imbecis – ou estão munidos da satânica ferramenta lingüística da má-fé.
Desenvolvimento sustentável não existe. Essa expressão foi cunhada e bastante divulgada pelos poder econômico para que servisse de uma espécie semântica de morfina ecológica. Equivale a uma canção de ninar. Uma breve análise do lema, empunhado pelos grandes empresários e por diversos ambientalistas de boa fé, mostra sua verdadeira natureza. Desenvolver significa (vide dicionários): crescer, aumentar, progredir, expandir, tornar-se maior. Sustentar significa (vide dicionários): segurar, suportar, conservar, manter, reprimir, conter. Desenvolvimento sustentável significa, com palavras mais claras: crescimento contido; aumento preservado; expansão estacionária; progresso conservado; dilatação sem aumento; evolução inerte. Ora, isso é um paradoxo gritante. É o mesmo que dizer: esfera quadrada; secura da água; subir para baixo; tristeza feliz; reta curva; frio do fogo; beleza feia e coisas que tais. Isso se chama absurdo, contradição, quando não má-fé.
Certa vez, respondendo a alguém que me perguntou quais os custos e benefícios do desenvolvimento sustentável, argüimos que, para a atividade econômica, há os benefícios do marketing, um recurso de ordem psicológica de massa, cujo filão é explorado atualmente à custa do real sofrimento da Natureza. Isso equivale a passar anestesiante num enfermo para que sinta menos dor nos cortes de lhe fazemos em suas carnes. Para o planeta Terra, é evidente que os custos são a morte, e os benefícios… bem, depois da morte, não há benefícios. Que benefício se poderia esperar de ações tão mortais? Para se ter uma idéia sobre o que está oculto e enganador sob o manto da expressão “desenvolvimento sustentável”, citamos alguns dados de uma reportagem da revista Carla Capital, de 15.10.2008, tendo como título “O verde e a cor dos negócios”. Informa a reportagem que 80% das grandes empresas realizam alguma atividade em favor do meio ambiente, baseadas em que o comportamento “verde” exerce influência favorável aos seus negócios, pois capta entre os consumidores uma preferência psicológica de simpatia e colaboração. Numa pesquisa, apurou-se que 52% dos empresários entendem que o comportamento “verde” influencia o mercado. Os resultados práticos tabulados, segundo a mesma pesquisa, indicam que atitudes ambientais (superficiais e inócuas, diga-se de passagem) trazem uma “imagem positiva” para a empresa, que se traduz em maiores lucros. Heloísa Torres de Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, organização que estimula o consumo consciente, deu longa entrevista à publicação “Isto É”, da qual retiramos a seguinte informação: “de acordo com uma pesquisa da instituição, o número de consumidores, que no ano passado privilegiaram empresas com boas práticas sócio-ambientais em suas decisões de compra, cresceu 7% em relação ao estudo anterior, de 2003.” Resumo: postura ambientalista por parte das corporações econômicas é ótima atitude de publicidade e constitui um eficiente instrumento-fim. E as pessoas bem intencionadas, mas desconhecedoras da profundidade do problema ambiental, são enganadas por essas hábeis ações de maquiagem. Tanto é verdade, que diversos ambientalistas honestos dão livre curso à expressão “desenvolvimento sustentável”, numa colaboração ingênua aos objetivos ocultos dos verdadeiros malfeitores do nosso planeta. Enquanto alguém se esforça para economizar uma gota de água, imaginando estar colaborando para a sustentabilidade ambiental, milhares de outros nada sentem ao desperdiçar milhares de litros, anulando aqueles esforços e fortalecendo seus objetivos de insustentabilidade no objetivo do lucro.
Tais ações e publicidades verdes dos agentes econômicos equivalem a empunhar a mesma bandeira dos legítimos ambientalistas – como sádica estratégia de traição, protegidos que estão pela máscara criminosa da hipocrisia –, para desviar o rumo de tão sagrada missão e satisfazer as vantagens imediatistas do lucro. Equivale de fato a agir contra os interesses do agonizante planeta. A ganância que alimenta a estrutura econômica desta civilização, em sua cegueira visual e tátil pela ambição materialista irracional, está trocando a vivência de longo prazo da humanidade pela lucratividade de curto prazo para poucos.
O que o planeta precisa, e com urgência, é de reversão civilizacional geral, aí incluídos os fatores econômicos e populacionais. Isso equivale a uma revolução que se destina a abortar, ainda em tempo, uma perspectiva caótica. Até o momento, é possível reverter o tal rumo suicida. Daqui a vinte anos a situação será irreversível. Guarde bem isto, caro leitor: desenvolvimento sustentável não existe.