sexta-feira, 24 de julho de 2009

PREVISÃO OU MALDIÇÃO?

Por colaboração do eminente ambientalista Antídio S. P. Teixeira, publicamos abaixo, por ele enviado e comentado, um documento sábio, histórico e atual.

Carta do cacique Seathl ao presidente dos Estados Unidos em 1859

“O grande chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. O grande chefe nos assegurou, também, de sua amizade e benevolência. Isso é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Porém, vamos pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o chefe Seathl diz, com a mesma certeza com que os nossos irmãos brancos podem confia na alteração das estações do ano.
Minha palavra é como a luz das estrelas: não empalidecem. Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? – tal idéia nos é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar nem do resplendor das águas. Como podes então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda essa terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. Sabemos que o homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele, um torrão de terra é igual a outro, porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga; e, depois de exauri-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo do seu pai sem remorsos de consciência. Rouba a terra dos seus filhos. Nada respeita. Esquece as sepulturas dos seus antepassados e o direito dos filhos. Sua ganância empobrecerá a terra e deixará atrás de si os desertos. A vista de suas cidades é um tormento para os olhos do homem vermelho. Mas, talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas dos insetos. Talvez, por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é para mim uma afronta aos ouvidos. E, que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? – um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d’água e o próprio cheiro do vento purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar puro é precioso para o homem vermelho assim como para todos os seres vivos que respiram o mesmo ar, animais e homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo ele é insensível ao ar fétido.
Se eu decidi aceitar esta proposta, imporei a seguinte condição: que o homem branco trate os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser certo de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os abatiam a tiros, do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão que, nós índios, matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? – se todos os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual porque tudo que acontece aos animais pode afetar também os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo que fere a terra, fere, também os filhos da terra. Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbiram sob o peso da vergonha. E, depois da derrota, passam o tempo no ócio e envenenam seus corpos com alimentos adocicados e bebidas ardentes.
Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não serão muitos. Mais algumas horas, até mesmo uns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra, ou que têm vagueado em bandos nos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos de um povo que foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso. De uma coisa sabemos e o homem branco talvez descobrirá um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julgas, talvez, o possuir da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra. Mas, não podes. Ele é o Deus da humanidade inteira. E quer bem, igualmente, tanto ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por ele. E, causar danos à terra, é demonstrar desprezo pelo seu Criador. O homem branco vai desaparecer, talvez, mais depressa do que as outras raças. Continua poluindo a sua própria cama; e hás de morrer numa noite, sufocado pelos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem a gente e as colinas escarpadas se encheres de fios que falam, onde ficarão os sertões? – terão acabado? E as águias? terão ido embora? – restará dar adeus às andorinhas e a caça; é o começo da luta pela sobrevivência; o fim da vida.
Talvez compreendêssemos se conhecêssemos com que sonha o homem branco; se soubéssemos quais as esperanças que transmitem a seus filhos nas longas noites de inverno; que visões do futuro oferecem às suas mentes para que possam formar os desejos para o dia de amanhã. Mas, nós somos selvagens e os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E, por serem oculto, temos que escolher os nossos próprios caminhos. Se consentirmos, é para garantir as Reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós a amamos como recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças como ela era quando dela tomaste posse. E, com toda sua força, seu poder e todo seu coração, conserva-a para seus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem pode evitar o nosso destino comum.”
Quem acompanha o noticiário do dia-a-dia sabe que, além do aquecimento global e suas consequências, outro problema gravíssimo que ocorre nas maiores cidades do mundo é o descarte do lixo. Nos últimos dias do mês de junho p.p., foi apreendido no Rio Grande do Sul um carregamento em “conteineres” recreados com lixo doméstico procedente da Europa. A África vem servindo de lixão para diversos países ricos. O lixão de Gramacho, no Mun. de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, já está saturado pelo lixo importado do Rio de Janeiro. DESPERTE PARA ESTA REALIDADE.

domingo, 19 de julho de 2009

SOMOS IGNORANTES

Por ser esclarecedor e se coadunar com as idéias de Carlos Gabaglia Penna, anteriormente aqui publicadas sob o título “Economistas clássicos e o meio ambiente”, damos a seguir divulgação a um artigo lavrado por Leonardo Boff (www.leonardoboff.com), eminente pensador e assessor da presidência da ONU. O administrador deste blog não endossa inteiramente as considerações do digno articulista, mas considera benéfica e esclarecedora a difusão do foco do artigo: o divórcio entre as teorias econômicas pregadas pelos profissionais da área e as realidades ambientais. Divulgar ao máximo argumentações realistas e inteligentes sobre o meio ambiente é obrigação de consciência de todos os ambientalistas.

Eis o texto:
“Quem teve o privilégio de acompanhar a cúpula dos povos na ONU, de 24 a 26.6, para encontrar saídas includentes para a crise econômico-financeira, vivenciou dupla perplexidade. A primeira, o fato de se ter chegado a um surpreendente consenso acerca de medidas a serem implementadas a curto e médio prazos. A segunda, verificar que tudo se concentrou apenas no aspecto econômico-financeiro, sem qualquer referência aos limites da biosfera e à devastação da natureza que o tipo de desenvolvimento vigente implica. Quer dizer, a economia virou um conjunto de teorias e fórmulas que expertos dominam e aplicam, esquecendo-se de que ele é parte da sociedade e da política, algo, portanto, ligado à vida das pessoas. Era como se os políticos e expertos não respirassem, não comessem, não se vestissem e andassem nas nuvens, e não no solo. Mas, para eles, tais coisas são meras externalidades que não contam.”
“Ao ouvi-los, pensava eu lá com meus botões: quão inconscientes e irresponsáveis são esses políticos, representantes de seus povos, que não se dão conta de que a verdadeira crise não é essa que discutem, a da insustentabilidade da biosfera e a incapacidade de a mãe Terra repor os recursos e serviços necessários para a humanidade. Bem advertiu o ex-secretário da ONU Kofi Annan: essa insustentabilidade não apenas impede a produção e a reprodução, senão põe em risco a sobrevivência da espécie humana.”
“Todos são reféns da economia-zumbi do desenvolvimento, entendido como puro crescimento econômico (PIB). Ora, exatamente esse paradigma do desenvolvimento mentirosamente sustentável do atual modo de acumulação mundial está levando a humanidade e a Terra à ruína. As pessoas são as últimas a contar. Primeiro, vêm os mercados, os bancos, o sistema financeiro. Com apenas 1% do que se aplicou para salvar os bancos da falência, poder-se-ia resolver toda a fome do planeta, atesta a FAO. A mesma FAO advertiu: existem 40 países com reserva alimentar de apenas três meses. Sem uma articulada cooperação mundial, grassará fome e morte de milhões de pessoas.”
“Discutir a crise econômico-financeira sem incluir as demais crises – o aquecimento global, a alimentária, a energética e a humanitária – é mentir aos povos sobre a real situação da humanidade.”
“Temo que nossos filhos e netos, daqui a alguns anos, olhando para o nosso tempo, tenham motivos de nos amaldiçoar e de nos devotar um soberano desprezo, porque não fizemos o que devíamos fazer. Sabíamos dos riscos e preferimos salvar as moedas e garantir os bônus quando poderíamos salvar o Titanic que estava afundando.”
“O Brasil, nesse sentido, é uma lástima. Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo, esse seria o Brasil. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta e as maiores florestas tropicais, tem possibilidade de criar uma matriz energética limpa, mas não acordou ainda. Nos fóruns mundiais, vive em permanente sesta política. Não despertou para suas possibilidades e responsabilidades face à preservação da Terra e da vida.”
“Ao contrário, na contramão da história, estamos construindo usinas à base de carvão. Desmatamos a Amazônia em 1.084 quilômetros quadrados entre agosto de 2008 a maio de 2009. E somos o quinto maior poluidor do mundo. O fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, faltos de senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum.”

sábado, 11 de julho de 2009

O QUE É DESMATAR

Está atualmente a humanidade, por intermédio de seus insensíveis e deficientes mentais, derrubando as árvores que caracterizam as matas naturais ainda existentes, principalmente na Amazônia, oeste de África e Grandes Ilhas do sudeste asiático. A ilha de Borneo, por exemplo, está praticamente sem cobertura florestal, e seu animal símbolo, o orangotango, hoje sobrevive em parques de proteção biológica.
Essas ações, de caráter empresarial e individual, contínuas, furiosas e danosas, são impelidas pelo objetivo máximo da vida, definido pela estrutura econômica da atual civilização: a ganância a qualquer custo.
E os governos irresponsáveis dessas regiões fingem que combatem tão odioso procedimento, mas por efetivas ações dão-lhe suporte para que prossigam nessa prática destrutiva. Tudo justificado pela glória de impulsionar seus paises rumo ao progresso material, sustentado no aumento de ganhos gerais: dos governos, políticos, parasitas sociais, sistema econômico individualista, atividades paralelas, empregos. Numa só palavra: desenvolvimento.
O que é uma mata? Não são apenas árvores. Não é somente o solo potencialmente agriculturável. Não é uma fonte inesgotável de ganhos. Uma mata é um mundo. Sim, é um conjunto harmonioso que sustenta a vida. Assim como o planeta Terra é um mundo para os homens, uma mata é um mundo para seus habitantes. Ali está em equilíbrio uma existência imensa de seres vivos, dos quais apenas as árvores são mencionadas. Ali vive, ali é seu meio, ali é o mundo da biodiversidade. Biodiversidade é uma palavra síntese que abarca todo aquele mundo, desde o mais simples até os mais complexos. Se destruirmos a biodiversidade de um desses mundos, também estaremos destruindo o plano geral do planeta, pois as partes globais são interdependentes. O desequilíbrio climático atual é conseqüência, entre outras, dessas tragédias íntimas.
Como sabemos, a vida se alimenta da própria vida, de uma forma harmoniosa, equilibrada e sustentável. Essa cadeia começa com a essencial atividade dos vegetais, que recebem a energia vital do Sol, necessária à realização da fotossíntese, o milagre da transformação em vida dos elementos químicos do solo e do ar. É a comunhão sagrada entre a Terra e o Sol. Os vegetais são os desbravadores do planeta, são a porta por onde entram todas as demais condições de vivência. Nesse mundo (em situação trágica) a que nos referimos, vivem os animais de todos os tipos, os fungos, as bactérias; uns dependentes de outros. Todos são parte para manutenção do equilíbrio do sistema a que chamamos meio ambiente.
Plantações extensas de eucalipto não têm biodiversidade; não têm vida. São apenas ferramentas de ganho, lucro.
Quando os brutamontes destroem as árvores, arrancam suas raízes, limpam o solo para plantio, desequilibram e destroem um mundo. Um mundo, um mundo!
Recentemente, um “sábio” deputado apresentou um projeto de lei, no qual constava que os proprietários de terras poderiam destruir suas matas desde que, posteriormente à realização dos seus objetivos econômicos, recompusesse a área destruída com o plantio de árvores. Ele não tem a mínima consciência desse mundo a que nos estamos referindo. Árvores são apenas a estrutura protetora que garante um ecossistema, isto é, um mundo que requer milhões de anos para encontrar seu próprio equilíbrio vivencial. Não são os humanos os seres mais importantes do planeta; são as plantas, grandes e pequenas. Todos os demais dependem delas.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ECONOMISTAS CLÁSSICOS E MEIO AMBIENTE

Transcrevemos a seguir um brilhante texto enviado por e-mail pelo eminente ambientalista Antonio Radi. O articulista, Carlos Gabaglia Penna, aborda com acuidade a importantíssima relação "economia-meio".


Caríssimos:
Abaixo segue texto para vossa leitura e reflexão. . .
Um Amplexo,
Antonio Radi.

Economistas clássicos e meio ambiente
Carlos Gabaglia Penna 08/06/2009, 07:00

Durante a discussão sobre a posição norte-americana na Conferência Mundial sobre População, que teria lugar em Bucareste, em 1974, cada vez que os economistas sugeriam uma solução do tipo moto-contínuo para fornecer ao mundo fontes ilimitadas de energia, um dos cientistas presentes, calmamente, afirmava que a proposta violava a segunda lei da Termodinâmica. Após ouvir tal informação algumas vezes, um economista, irritado, saiu-se com esta: “e quem sabe qual será a 2ª lei da Termodinâmica daqui a cem anos?”. Suponho que ele confiava que o presidente Ronald Reagan – ou, bem mais tarde, um George Bush – revogasse lei tão incômoda.
A fé profunda no progresso tecnológico é compartilhada por pobres e ricos, por capitalistas e socialistas, todos empenhados em ignorar fatos científicos insofismáveis. Mas são os economistas clássicos – secundados por governistas de todas as matizes – os campeões do entusiasmo pelo crescimento econômico permanente. Mesmo que às custas da lógica.
Robert Solow é um economista americano, ex-professor do Massachusetts Institute of Technology, que - além de importantes prêmios nacionais – foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia (1987). É particularmente conhecido por seus trabalhos sobre crescimento econômico. Ele afirmou que “o mundo pode, com efeito, sobreviver sem recursos naturais” (!?!). a Natureza não seria, portanto, um obstáculo para o progresso humano.
O economista Julian Simon, falecido em 1998, foi um professor de Administração de Negócios da Universidade de Maryland, nos EUA. Tornou-se mais conhecido pelos seus trabalhos sobre população, recursos naturais e imigração. Teve grande influência na política da administração Reagan no que se referia às questões demográficas, defendendo a ideia de que os recursos naturais são infinitos.
Abro parênteses: os EUA do presidente Reagan foram responsáveis por um grande atraso na implantação de políticas regionais de limitação populacional. Em uma conferência da ONU sobre o assunto, em 1984 (no México), o governo americano utilizou o mesmo slogan adotado pela Índia na década anterior (e, hoje em dia, por alguns membros do governo petista): “desenvolvimento é o melhor contraceptivo”. Entre meados dos anos setenta e 2008, a população indiana cresceu em cerca de 570 milhões de indivíduos e a renda per capita era, em 2006, apenas 11,2% da brasileira.
Voltando ao professor Simon, ele escreveu que “quanto mais [recursos naturais] nós usarmos, mais ricos ficaremos” e que “não há limites práticos para aumentar, para sempre, nosso patrimônio (ou, pelo menos, por sete bilhões de anos)”. Isso levou um demógrafo da Universidade de Oxford, David Coleman, a ironizar que faltava a Julian Simon – quando se referiu a 7 bilhões de anos – a confiança de que poderíamos sobreviver ao esgotamento do sol...
Nos tempos dos economistas britânicos Adam Smith (século XVIII) e David Ricardo (século XVIII e XIX), a Natureza era percebida como um grande e inexaurível recurso. Isso era perfeitamente compreensível, pois a população mundial girava em torno de um bilhão de pessoas e a tecnologia da época era muitíssimo menos poderosa e ambientalmente invasiva do que a atual. No entanto, parte dos economistas do presente parece acreditar que o livre mercado, através dos preços, irá regular o consumo de recursos escassos e promover uma produção mais eficiente. Ou que a inventividade humana sempre produzirá, ou descobrirá, materiais substitutos. Não é, entretanto, o que está ocorrendo no planeta.
A economia clássica reconhece a terra (significando todos os seus recursos naturais), o trabalho e o capital produzido como as fontes básicas da prosperidade material. A economia neoclássica foca somente no capital e no trabalho, tratando a “terra” apenas como uma forma intercambiável de capital. Para eles, tem muito pouca importância o fato de a Natureza ser usada não apenas como fonte de ativos valiosos, mas também como receptora dos resíduos e da poluição da economia.
O ciclo de vida de uma mercadoria é muito maior para a ecologia do que para a economia. Para um economista, o ciclo de vida de um automóvel começa com a exploração do minério de ferro e termina quando é pago e sai da revendedora. A partir daí, fará apenas parte de estatísticas. O ciclo da gasolina, da mesma forma, encerra-se no tanque de algum veículo. Para o ambientalista, contudo, ou melhor, para o mundo real, o ciclo do automóvel prossegue muito além. Ele continua ao longo da sua utilização (através de seus impactos), na necessidade de abertura de vias e de sua pavimentação que permitam o tráfego do automóvel, na sua transformação em sucata, na sua permanência na paisagem, e, finalmente, na disposição das partes não aproveitadas em aterro sanitário.
O ciclo da gasolina iniciou-se muitos milhões de anos anteriores à descoberta do petróleo, com a decomposição de plantas e animais, continua através das emissões de poluentes quando essa gasolina é queimada e culmina com os efeitos dessas emissões nas florestas, no clima global e na saúde das pessoas. Muitos economistas e planejadores parecem desconhecer que a Economia depende integralmente dos recursos naturais, ou seja, dos minerais metálicos e não-metálicos (recursos não renováveis), das diferentes fontes de energia, assim como da atmosfera, da água, do solo e da biodiversidade. É uma ilusão imaginar que a atividade econômica independe da qualidade desses recursos.
É igualmente inacreditável que se imagine que a Economia possa prescindir dos limites do meio ambiente, levando as pessoas a defender o crescimento econômico permanente. Sequer a necessidade de empregos o justifica, pois, como todos sabem, o aumento das atividades está, cada vez mais, descolado da demanda de mão-de-obra. Os lucros das empresas sobem e elas seguem despedindo funcionários.
Somente o desconhecimento de princípios básicos da Ciência permite que se assuma tal posição. Não me refiro apenas a Termodinâmica, Ecologia ou Teoria dos Sistemas, mas igualmente a Matemática que revela que progressão geométrica em qualquer sistema - que é como se comportam a Economia e a Demografia – tende ao colapso. Expansão econômica contínua é uma impossibilidade física; defendê-la, portanto, é uma sandice.
Herman Daly, ex-funcionário do Banco Mundial e atualmente professor da Universidade de Maryland, é provavelmente o mais conhecido entre os modernos economistas que consideram as questões ambientais como relevantes em seus estudos e projetos. Ele afirmou que “o crescimento, a panaceia do passado, está se transformando rapidamente na pandemia do presente”. Ele também escreveu que:
Os economistas dedicam tanta atenção ao crescimento do Produto Interno Bruto que o confundem com “crescimento econômico”, sem admitir a possibilidade de que esta possa ser “não econômico”, uma vez que seus custos marginais, derivados dos impactos sociais e ambientais, podem ser maiores que o seu valor em termos dos benefícios da produção.
É o que se convencionou denominar internalização dos lucros, externalização dos custos. Empreendimentos diversos proporcionam lucros gordos aos donos do negócio (e polpudas comissões a políticos), mas quem arca com os custos - a degradação ambiental, a destruição de belas paisagens, o deslocamento de populações etc. – é a sociedade. Esta paga a conta. Isso acontece a toda hora e é chamado de progresso...
Daly diz ainda que a Economia não tem que crescer indefinidamente para se eliminar a miséria, mas que a solução se baseia em 3 itens básicos, “ainda que para muitos seja desagradável”: aumento da produtividade no uso dos recursos, controle populacional e redistribuição de riqueza. Este último item – fundamental - é possível, mas choca-se com a ganância e o egoísmo humanos. Não alcançaremos a sustentabilidade enquanto, grosso modo, as 500 pessoas mais ricas do planeta acumularem fortunas que equivalem à riqueza total do um bilhão de pessoas mais pobres.
A insistência no aumento permanente do consumo de bens e serviços – como solução para todos os males da sociedade – parece impregnada no inconsciente coletivo de boa parte da humanidade, mas, além de inútil, ela só conseguirá levar ao colapso o sistema suporte da vida. Da vida humana, bem compreendido, pois como escreveu o paleontologista Stephen Jay Gould: “…se tratarmos a Terra com decência, ela continuará a sustentar-nos por algum tempo. Se nós a ferirmos, ela vai sangrar um pouco, livrar-se de nós, curar-se e depois seguir cuidando de sua própria vida, em sua própria escala [de tempo].”

Fonte: nossofuturocomum.blogspot.com