terça-feira, 27 de novembro de 2012

O SILÊNCIO NADA INOCENTE DO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO

 
Autora: Zoraide Vilasboas
Dois acidentes, graves, em menos de um mês, expõem, mais uma vez, as vulnerabilidades do Programa  Nuclear Brasileiro.  Mas  as  autoridades responsáveis    não  saem  do  “sapato alto”.   Vale tudo  pra  tentar reforçar a cortina do silêncio,       com a      qual tentam blindar os crimes ambientais (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm) praticados a 757 km de Salvador, pela unidade de exploração de urânio da Indústrias Nucleares do Brasil –INB, em Caetité, onde começa o ciclo de produção da cara e perigosa energia atômica, que ameaça a sobrevivência da humanidade, como vem alertando as várias catástrofe nucleares ocorridas no mundo (Chernobyl, Fukushima, etc.), deixando em seu rastro a letal contaminação radioativa.
Sexta-feira passada (2/11/2012), os operadores da INB enfrentaram, de forma precária, como é habitual, novo desafio. Estancar um vazamento de ácido sulfúrico que estava sendo drenado de um tanque, que estoca 100 mil litros do produto, para uma das bacias que armazenam licor de urânio. A tubulação do ácido furou e, com as chuvas, a contenção não resistiu. O ácido foi parar no reservatório de água pluvial, que é pequeno e, quando chove, costuma transbordar para o meio ambiente. Desde o acidente, a produção está paralisada. Vazamentos de ácido sulfúrico são corriqueiros na planta da INB.
VAZAMENTO DE URÂNIO 1 – Há muito tempo trabalhadores e as comunidades do entorno da mina denunciam o risco a que estão submetidos. A tubulação é velha, enferrujada e calcula-se que haja furos em vários pontos subterrâneos (instalação obsoleta) já que existem pontos críticos na empresa referente a este produto. Há um poço de monitoramento, por exemplo, o PMA-18, que apresentou um vazamento de ácido sulfúrio, jamais controlado, apesar do poço ter sido até concretado. Também comunidades do entorno da empresa já detectaram pelo menos uma “nascente” que expele um liquido de cor e aparência estranhas. Nesta mesma área, em outubro de 2009, houve um vazamento, que a empresa tentou minimizar, alegando que tinha sido de solvente, como se produtos químicos fossem inofensivos. A verdade restabelecida informou que 30 mil litros de licor de urânio vazaram para as células da área 160, e, depois, vazou para o meio ambiente um volume proporcional de solvente carregado de urânio.
Na unidade de extração e beneficiamento de urânio, os recorrentes “incidentes” já entraram na rotina e a ocorrência deles não mais surpreendem trabalhadores, nem as populações afetadas pela mineração de urânio, que enfrentam no seu dia a dia o medo e a desesperança com a omissão do Estado ante os problemas levados pela INB à região. Pó de concentrado de urânio, poeira radioativa, radônio voam pelo ar, licor de urânio e ácido sulfúrico e outros produtos químicos penetram no solo e na água, contaminando o meio ambiente. Mas o que mais revolta e preocupa, são o silencio obsequioso do Poder Público e a impunidade que protegem as ilegalidades do setor nuclear no Brasil.
VAZAMENTO DE URÂNIO 2 – Em 18 de outubro deste ano, vazaram para o meio ambiente centenas de quilos de concentrado de urânio, evidenciando, mais uma vez, a insegurança técnico-operacional, que caracteriza o Programa Nuclear Brasileiro em Caetité e ameaça a saúde de trabalhadores e das populações da região. (há controvérsia sobre o quantitativo vazado. Logo depois, a Associação Movimento Paulo Jackson – Ética,Justiça,Cidadania enviou oficio pedindo informações e providencias as autoridades responsáveis pela fiscalização da INB, como a presidência do IBAMA, Comissão Nacional de Energia Nuclear , Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA) e Ministérios Públicos Estadual e Federal.
Até hoje não se conhece nem uma resposta, nem uma posição das autoridades competentes sobre aquele acidente. Nem uma equipe especial de inspeção se deslocou do IBAMA, CNEN, ou SEMA para averiguar a ocorrência. Mesmo tendo sido lembrado que aquela era a segunda ocorrência, grave, ocorrida em cerca de um ano, na área de entamboramento de urânio, cujas atividades foram interditadas, em julho de 2011, pela auditora do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi, pelo assessor do Ministério Público do Rio de Janeiro, Robson Spinelli Gomes e por auditores da SRTE/BA, durante inspeção dos Ministérios Públicos do Trabalho (Federal) e Estadual. Naquela oportunidade, os operários enfrentaram um dos maiores riscos de contaminação coletiva ocorrida no meio ambiente do trabalho, devido ao episódio que ficou conhecido nacionalmente, quando uma revolta popular tentou impedir a entrada em Caetité de 90 toneladas de material radioativo, em maio do ano passado.
O urânio, que estava em tambores lacrados há 30 anos, veio do Centro de Pesquisa da Marinha (Iperó/SP) para a Bahia, onde os trabalhadores foram obrigados a manipular o produto, de forma improvisada, sem a segurança necessária para quem trabalha com material radioativo e alguns deles passaram mal. A preocupação é crescente, pois, mais uma vez, foram expostos a tão alto risco de contaminação na manipulação de produto altamente radioativo, sem que os órgãos fiscalizadores tomem as medidas cabíveis. Além da interdição, em 2011, os auditores do MTE lavraram cinco Autos de Infração voltados para a proteção da saúde dos trabalhadores e notificação para a aposentadoria especial aos 20 anos de trabalho, negada pela INB.
É necessário lembrar que por causa das ilegalidades que envolveram o transporte e a reembalagem da carga radioativa vinda de São Paulo, também o IBAMA embargou a área, onde são feitas atividades de precipitação, filtração, secagem e embalagem do pó de urânio, que vai para o exterior para ser enriquecido e volta para o Brasil, onde é transformado no combustível das usinas atômicas de Angra dos Reis (RJ). E aplicou duas multas à INB, nos valores de R$600 mil, em junho, e R$2 milhões, em agosto. Mais muito ágil, quando se trata de obedecer às ordens “superiores”, a Superintendência do IBAMA no Estado da Bahia logo no início de agosto já tinha tornado sem efeito, o embargo da área de entamboramento e a multa aplicados por seus técnicos, alegando que medidas desta natureza, dependem de aprovação prévia do presidente do IBAMA.
Na mesma inspeção de julho de 2011, uma equipe técnica da Fundação Nacional de Saúde –FUNASA constatou que o Governo da Bahia e os prefeitos de Caetité e Lagoa Real não estão cumprindo as determinações da liminar concedida pelo juiz de Direito de Caetité a uma Ação Civil Pública, movida pelo Ministério Público Estadual, em 2009, contra a INB, o Estado da Bahia e os referidos municípios. A FUNASA comprovou tudo que os movimentos sociais e populares vêm denunciando e pedindo providencias, há anos, sem que as autoridades competentes atendam os seus reclamos. Ao que se sabe, o relatório da FUNASA não produziu efeito.
E qual o desdobramento disto? Nem um. Impunidade total. A sociedade da região continua deixando no ar a resposta, que as autoridades teimam em não levar em conta. Quem vai responder pelos prejuízos causados pela exploração de urânio na Bahia e quais providências foram adotadas para garantir a integridade da saúde das populações da região e dos trabalhadores, em especial aqueles que se envolveram mais diretamente no episódio.
Por Zoraide Vilasboas, jornalista da Coordenação de Comunicação da ASSOCIAÇÃO MOVIMENTO PAULO JACKSON-Ética, Justiça, Cidadania.
Fonte: EcoDebate, 09/11/2012
 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

ESPECISMO E ECOCÍDIO: 100 MILHÕES DE TUBARÕES MORTOS POR ANO

 
Autor: José Eustáquio Diniz Alves
 [EcoDebate] O especismo é uma discriminação humana contra as outras espécies. Entre as agressões mais cruéis contra os animais sencientes está a prática do “Finning” – que é a captura e o corte das barbatanas do tubarão ainda vivo, sendo que, após a amputação, o resto do animal é jogado ao mar, onde, depois de muito sofrimento, acaba morrendo. As pessoas, em geral, têm medo de tubarão, mas são os tubarões que têm muitos motivos para temer os humanos.
A cada ano, cerca de 100 milhões de tubarões são mortos por esta prática cruel que causa tantos danos às suas populações. As barbatanas de tubarão são consideradas uma iguaria em algumas partes do mundo, principalmente no leste asiático. Em Hong Kong, por exemplo, uma sopa de barbatana de tubarão pode chegar a valer 100 dólares, tornando este tipo de pesca um grande negócio para os pescadores. Com o crescimento demográfico e a ascensão social de crescentes contingentes de asiáticos, esta prática vem se tornando cada vez mais comum.
Recentemente, alguns países, como os Estados Unidos da América (EUA), já proibiram o “finning” de tubarões. Mas este crime de especismo é muito difícil de ser evitado em outros locais, principalmente porque os tubarões não possuem fronteiras nacionais, pois são “senhores” dos oceanos, mas ironicamente são escravos da maldade humana. O “finning” continua sendo praticado em muitas partes do mundo, em especial, nos pontos extremos, como a América do Sul e a Austrália, contribuindo para o declínio das diversas espécies. O tubarão-azul, por exemplo, está em grave perigo de extinção, pois estima-se que 90% das barbatanas retiradas são desta espécie.
A sopa de barbatanas é um prato tradicional chinês, que a cultura antropocêntrica diz ser afrodisíaca e trazer sorte e inúmeros benefícios à saúde. Atualmente, é servida principalmente em casamentos e outras celebrações. Cerca de um terço de todo o consumo anual é feito no ano novo chinês.
Mas por meio da mobilização e da luta de ONGs e ambientalistas junto a restaurantes e grandes hotéis ao redor do mundo, a maior cadeia de hotéis na Ásia, Shangri-La, com mais de 72 hotéis, retirou os pratos à base de barbatanas do cardápio antes das festividades de casamento e de ano novo.
Além da mobilização dos defensores do meio ambiente e da biodiversidade, é preciso criar uma lei internacional condenando a matança de tubarões como mais um tipo de crime contra o ecosistema. Interromper a eliminação dos tubarões é mais uma forma de luta para erradicar o ecocídio da face da Terra.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE;
 Fonte: EcoDebate, 07/11/2012
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

FILOSOFIA - UMA VISÃO MAIS INTEGRAL DO MUNDO

Autora: Maria Aparecida Dionísio, Psicopedagoga, especializada em Filosofia Clínica e pesquisadora em Psicologia Integral.
 Ao tratarmos de Filosofia estamos tratando de conteúdos que só se esgotam no ser humano. E o ser humano é inesgotável. Ao contrário de toda Ciência, que impõe respeito, a Filosofia levanta suspeita, ela não permite juízos prévios.
Desde a Antiguidade, o ensino de Filosofia existe sob diversas formas e apesar de falar a linguagem do mundo, ela é acessível apenas aos que buscam as “verdades mais verdadeiras”.Sendo de fácil compreensão, a Filosofia abre-nos um campo infinito: o do pensamento dos homens e de tudo que existe no universo.
Para os leigos poderíamos dizer em palavras simples que os Filósofos falam em palavras complicadas o que poderiam falar de modo simples. Eles nos ajudam a entender melhor o mundo e a nós mesmos.
Filosofar é viver, e o uso de palavras complicadas se deve ao fato de que um Filósofo deve se aproximar o máximo da Verdade. E ele só pode fazê-lo através das palavras.
Mas a Filosofia não teria sentido se não participasse de nossa vida diária. E assim apresentamos uma Filosofia que pode nos auxiliar na compreensão de nós mesmos e da vida no planeta: a Filosofia Integral, que hoje nos traz uma visão de homem mais humano, mais voltado para seu autoconhecimento e mais preocupado com o futuro do planeta.
O homem saiu das cavernas, passou pelas imagens, desbravou terrenos férteis e hoje finca sua morada em computadores que ligam o Oriente ao Ocidente. Evoluiu. A Filosofia também. Assim, hoje podemos usufruir da Filosofia Clínica, que trata de angústias profundas, de problemas de ordem existencial de uma maneira natural, com técnicas que apenas aproximam “o homem de sua natureza humana, de sua essência”.
E ao encontrar a essência, encontramos Deus. Aí está o verdadeiro significado da Filosofia: um encontro consigo mesmo para vislumbrar o mais Divino e Humano em nós e na Natureza, ou em linguagem filosófica: “Um Eu, um Tu e um Nós”.
Fonte: Fábio Oliveira

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

ERRADICAR O ECOCÍDIO

 
Autor: José Eustáquio Diniz Alves
EcoDebate] O Ecocídio é um crime que acontece contra as espécies animais e vegetais do Planeta. O Ecocídio acontece onde há extensos danos, destruição ou perda de ecossistemas. Tem acontecido no mundo em uma escala maciça e a cada dia está ficando pior. Exatamente por isto, cresce a consciência de que é preciso mudar o modelo de produção e consumo, interrompendo este processo que tem aumentado a destruição da vida na Terra. Para tanto, é preciso considerar o Ecocídio um crime contra a paz, um crime contra a natureza e um crime contra a humanidade e as gerações futuras.
O site “Eradicating Ecocide” (http://www.eradicatingecocide.com/) considera ser necessário a aprovação de uma lei internacional contra o Ecocídio para fazer com que os dirigentes de empresas e os chefes de Estado sejam legalmente responsáveis por proteger a Terra e as espécies não humanas. As pessoas com baixo padrão de consumo e o Planeta teriam que se tornar a prioridade número um da legislação nacional e internacional. O mundo já definiu o Genocídio como um crime, falta fazer o mesmo em relação ao Ecocídio.
As Conferências das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio/92 e a Rio + 20, buscou estabelecer metas vinculativas e acordos legais para combater uma série de crises sociais e ambientais na tentativa de alcançar um futuro sustentável.
Porém, a produção econômica do Planeta continuou a aumentar, ao mesmo tempo que continuam existindo cerca de um 900 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar e sem acesso à energia elétrica. O fosso entre ricos e pobres continua elevado, embora exista um processo de convergência no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Mas o progresso da civilização tem acontecido ao mesmo tempo em que a destruição em massa dos ecosistemas da Terra se aprofundam em uma escala nunca vista antes na história.
O desmatamento da Amazônia ao longo de 30 anos, por exemplo, tem provocado danos irremediáveis. Outros ecossistemas também estão em perigo. Até 2050, podem ocorrer um percentual de 80% a 90% de extinção de espécies de mamíferos, aves e anfíbios e uma perda generalizada da vegetação.
Ao invés de leis garantindo prioritariamente o pagamento do lucro e dos juros do capital financeiro na ordem internacional é preciso criar uma legislação contra o ecocídio e contra os danos e a destruição em massa dos ecosistemas. Para alcançar o verdadeiro desenvolvimento sustentável é priciso garantir de forma explícita que o direito à vida não é privilégio da espécie humana.
Tornar o Ecocídio um crime é uma forma de tentar salvar o Planeta. A humanidade já avançou na abolição da escravatura, no fim do apartheid e na condenação do crime do genocídio. Agora é preciso tornar o imperativo moral tão importante quanto o imperativo econômico. O ecosistema deve estar no centro das preocupações e da legislação internacional no sentido de proteger a vida e a biodiversidade.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate, 31/10/2012
 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A CORTESIA

               
Autora: Délia Staingerg Gozmán, filósofa
Começaremos esclarecendo que o verdadeiro sentido etimológico e ideológico da palavra "cortesia" nos vem das antigas "cortes", lugares habitualmente usados por filósofos, artistas, literatos, políticos, economistas, juízes, médicos e, em geral, todos os profissionais e pessoas distintas a quem correspondia tomar as considerações e decisões em um estado ou reino, em uma, como dizia Platão, congregação; quem, por seus talentos, saberes e habilidades, prestavam um serviço público à sociedade; os que estavam encarregados do estado, palavra que, em latim, se transformou em "res pública" (da coisa pública), de onde vem a palavra "República".
Em todas as antigas culturas e civilizações que conhecemos, ainda que parcialmente, existia uma forma "cortês" de relações entre as pessoas. Na chamada idade Média do Ocidente, o cortês se configurou em círculos mais fechados de comunicação entre damas e Cavalheiros e destes entre si, desde a formação como pajens até a culminação como cavalheiros.
Desgraçadamente, com o andar do tempo, muitas dessas sãs e úteis tradições caíram em desuso e também na degeneração, promovendo costumes falsos e mentirosos. Esta última imagem é a que nos tem chegado através da comunicação massiva. E hoje, sobretudo entre os medianamente jovens, os que sofreram a deformação do pós-guerra, a cortesia aparece como um sinônimo de falsidade e falta de autenticidade.
Nós, filósofos, queremos resgatar e gerar formas de cortesia que nos afastem da animalidade estupidizante e do enfado do meramente instintivo.
A cortesia é, por sua vez, uma forma de generosidade e de amor. Um reconhecimento da fraternidade universal para além de todas as diferenças de classes, etnias, sexos, condições sociais e econômicas. É uma maneira humilde, mas agradável de aplicarmos nosso primeiro princípio:
Reunir aos homens e mulheres de todas as crenças, raças e condições sociais em torno de um ideal de fraternidade universal.
Assim como, quando damos um presente, por pobre que este seja, costumamos cobri-lo de papéis e fitas coloridas, de maneira que antes de chegar ao objeto em si, o destinatário tenha a sensação de que pensamos carinhosamente nele e que nos preocupamos em expressar-lhe nossos sentimentos afetuosos e nossos bons desejos. Toda palavra e ação devem estar prudentemente envoltas de nossa capacidade de dar e amar.
Não se é menos homem ou menos mulher por superar rusticidades. Ao contrário, são o cavalheiro e a dama mais eficazes e agradáveis se põem em tudo que fazem uma pitada de beleza, de amor e de cortesia. Saudarmo-nos com um aperto de mãos, um abraço ou um beijo, conforme sejam as circunstancias e os atores, e por "ator" devemos entender o que o Imperador Augusto entendia: partícipes ativos e eficazes da vida... O que faz algo, o verdadeiro "Ator", segundo o teatro "Mistérico", é o que representa as coisas, o que as apresenta de novo, mas agora com uma carga de interpretação humana que as melhora, embeleza e enobrece, de modo que todos possam participar de alguma maneira delas.
Deveríamos nos esforçar em deixar fora todo gesto de ira e amargura, de ódio ou de rancor. Esta atitude, mesmo que se comece de forma meramente externa, se se mantém com força e perseverança, chega a atingir patamares mais profundos, e como o palhaço dos contos, de tanto sorrir e fazer rir, acaba por contagiar-se a si mesmo com sua alegria e encontra consolo para as desventuras da vida.
Existem muitas "ideologias" políticas e religiosas que têm provocado genocídios e tem feito muitas pessoas chorarem. Façamos nós o contrário; tragamos alegria, paz, concórdia, prosperidade. Um filósofo triste por circunstâncias banais, não é um verdadeiro filósofo; é menos ainda, se o demonstra e anda chorando suas penas a todas as suas amizades, dando sinais de frouxura, impotência espiritual e debilidade vampirizante.
Acostumemo-nos a dar antes de pedir.
Evitemos julgar os demais à luz de nosso ainda nascente discernimento, abundantemente deformado por nossas paixões. Sejamos fortes e verticais.
No mundo já há mendigos demais... Não sejamos um deles.
Não me refiro tão somente ao plano econômico, mas sim ao global. Ofereçamos as mãos cheias! Nossa energia, nossa bondade e boa vontade para todos. Trabalhemos muito. Estudemos, pensemos e oremos o necessário..., mas, acima de todas essas coisas, rompamos nossos modelos de egocentrismo, com Humildade de Coração, que não é do corpo e dos trapos. Sejamos corteses... Façamos realmente e todos os dias um mundo novo e melhor... E vivamos nele.
Fonte: Fábio Oliveira
 
 
 



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ENERGIA NUCLEAR EM DESUSO

Autor: Heitor Scalambrini Costa
 [EcoDebate] Setembro de 2012 ficará marcado na história pelos anúncios feitos pelos governos japonês e francês, a respeito da decisão de se afastarem da energia nuclear, responsável pelos piores pesadelos da humanidade. Esta tomada de posição tem um significado especial, visto que estes países, até então defensores desta fonte energética, têm em suas matrizes a maior participação mundial da nucleoeletricidade. Depois da histórica decisão do governo alemão em abandonar em definitivo a energia nuclear, agora são os governos do Japão e da França que vão rever os planos relativos ao uso do nuclear.
O Japão anunciou que irá abrir mão da energia nuclear ao longo das próximas três décadas. Esta decisão, tomada após um encontro ministerial (14/09), indica o abandono de tal fonte energética na “década de 2030″. Esta posição governamental foi tomada após o desastre de Fukushima que abalou a confiança da população na segurança dos reatores nucleares. O plano japonês apresentado é semelhante ao da Alemanha, primeira nação industrializada que comprometeu desligar todos os seus 17 reatores até 2022. Sem dúvida para o Japão, a tarefa é complexa visto que 1/3 da eletricidade gerada no país é proveniente dos 50 reatores instalados em seu território.
Ainda sobre a decisão do governo japonês existem criticas por não ter sido especificado, quando exatamente a meta seria alcançada, já que a decisão agora tomada não seria obrigatória para governos futuros. O que significa em principio, que uma nova administração poderia reverter os planos. Todavia, analistas afirmam que dificilmente esta mudança de rumo ocorreria pelo alto engajamento e conscientização dos japonese(a)s, demonstrada em recente pesquisa de opinião, onde mais da metade da população se diz favorável ao fim do uso do nuclear no país. Também houve criticas sobre o porque deste calendário ser tão dilatado, já que o país chegou a desligar 48 dos reatores depois do desastre de Fukushima, e poderia, com o aumento da participação das fontes renováveis e com um ambicioso programa de eficientização energética, atingir a meta num prazo menor. Todavia, mesmo com estas ressalvas, a decisão anunciada aponta para um novo rumo na questão energética japonesa e mundial.
Já na França, em recente conferencia realizada (14 e 15/9) sobre questões ambientais, em Paris, o presidente, François Hollande, cumprindo promessa de campanha, declarou que está engajado na transição energética, baseada em dois princípios: eficiência e fontes renováveis; e que planeja reduzir a dependência do país da energia nuclear, hoje correspondendo a 75% da matriz energética, para 50% até 2025.
Sem ter metas conclusivas para o abandono definitivo da energia nuclear no seu território, sem duvida a decisão do governo francês é histórica e extremamente positiva, visto que até então, discutir a questão nuclear na França era tabu. Para aqueles defensores desta tecnologia que sempre mencionavam o estado francês como referencia de uma experiência exitosa na área nuclear, fica ai uma derrota de grandes proporções. Sem dúvida, a França rever sua posição, mesmo diante das dificuldades, da complexidade do problema e das contradições existentes, é indispensável para um mundo de amanhã sem nuclear.
Somados a Áustria, Bélgica, Suíça, Itália (decisão plebiscitaria, onde mais de 90% da população votou contrário à instalação de novos reatores nucleares em seu território) que reviram os planos de instalação de novas usinas, e decidiram se distanciar da energia nuclear; agora a Alemanha, o Japão e a França tomaram decisões semelhantes.
Diante deste contexto internacional fica aqui uma pergunta que não quer calar: porque então o governo brasileiro insiste em planejar a construção de usinas nucleares? Com a palavra as “autoridades energéticas”.
Fonte: EcoDebate,
 

domingo, 4 de novembro de 2012

A CRESCENTE E PERIGOSA "ONDA" DE INTOLERÂNCIA E OBSCURATISMO



Autor: Henrique Cortez

 [Ecodebate] O noticiário, seguidamente, informa os mais variados atos de intolerância, no Brasil e no mundo, no que parece ser uma perigosa e crescente ‘onda’ de ódio e preconceitos. Uma ‘onda’ assustadora, que pode por em risco nosso futuro comum, ou pelo menos, a convivência pacífica entre uns e outros.

Seria de se esperar que, com o advento de um novo século, fosse iniciado um novo período de tolerância e de respeito ao outro, quem quer que seja. No entanto, lamentavelmente, não é isto que se observa. Na prática, está evidente o crescimento de uma onda global de intolerância, de preconceitos e de absoluta rejeição aos que, de algum modo, são diferentes. Esta ‘onda’ de intolerância é crescente na Europa, no Oriente Médio, na Ásia e também Brasil.

A cada dia vemos novos e, cada vez mais, raivosos discursos, textos, artigos, declarações e etc, que são evidentemente racistas, preconceituosos e intolerantes.

No Brasil, aparentemente, crescem as posições hostis aos indígenas e quilombolas, aos movimentos sociais e populares. Não são poucos os que defendem a “erradicação” das favelas, do controle de natalidade (dos pobres evidentemente) e da criminalização dos movimentos sociais.

Nas escolas públicas brasileiras, 87% da comunidade – sejam alunos, pais, professores ou servidores – têm algum grau de preconceito contra homossexuais. O dado faz parte de pesquisa divulgada recentemente pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Uma pesquisa feita pelo Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, em São Paulo, mostrou que 70% dos homossexuais entrevistados já sofreram algum tipo de agressão. Destaque-se que, em 2011, foram constatados ao menos 278 assassinatos relacionados à homofobia.

Mascaramos o nosso racismo fazendo de conta que somos um país que se orgulha da miscigenação, mas de cada dez pobres, sete são negros. Uma pesquisa do instituto Datafolha , de nov/2008, identificou que 93% dos entrevistados reconheciam que existia racismo no Brasil, mas apenas 3% declararam seu preconceito contra negros. Ou seja, apenas os outros são racistas…

Ninguém nasce intolerante, preconceituoso, racista, homofóbico, misógino supremacista, antisemita, islamofóbico, etc. Estas são atitudes que aprendemos desde o berço, herdadas da intolerância, aberta ou camuflada, de nossos antepassados. Se não tivermos capacidade crítica de compreender nossos próprios preconceitos e superá-los, iremos, certamente, reproduzir o modelo, também contaminando o berço de nossos descendentes.

Mesmo a intolerância religiosa está em franco crescimento, sabotando todos os esforços em prol do ecumenismo e do diálogo interigrejas.

E, aproveitando-se do ultraconservadorismo religioso, também cresce a homofobia e a misoginia. A homofobia é óbvia e pública, mas a misoginia é mais mascarada e hipócrita. Muitas vezes ao destacar a ‘importância’ da mulher no estrito papel de filha, esposa e mãe, expõe o subtexto patriarcal da manutenção das mulheres em posições subordinadas ao homem, quer seja esposo, pai ou, até mesmo, sacerdote.

Neste mesmo sentido, como ‘fruto’ da violência machista, mais da metade das jovens entre 16 e 20 anos já sofreu algum tipo de agressão física ou moral pelos namorados.

Todo intolerante, de qualquer tipo, é alguém que acredita estar absolutamente certo, do que quer que seja e, portanto, todos os que pensam ou são diferentes estão absolutamente errados. Simples assim.

Intolerância e violência caminham juntos e, por isto, muito sangue já foi derramado a partir desta lógica perversa e, infelizmente, tudo indica que muito sangue ainda irá correr.

Muitos desafios se apresentam neste novo século, com destaque para as mudanças climáticas, aquecimento global, hiperconsumo, esgotamento de recursos naturais, crise alimentar, refugiados ambientais, etc.

São desafios globais, que devem ser enfrentados por todos indistintamente e, mais do que nunca, precisamos uns dos outros, valorizando o que nos une e desprezando o que nos distancia. É preciso, mais do que nunca, romper com a visão maniqueísta do nós versus os outros.

Se não nos esforçarmos para sermos melhores do que nossos antepassados, os novos desafios deste século serão muitos maiores e mais poderosos do que todos nós.

Fonte: Ecodebate