CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA IMPUNIDADE
Autor: Rubem
Penz
De nada
adianta remediar as consequências sem, antes, combater suas causas. Estaríamos
diante de um argumento perfeito e acabado para priorizar políticas públicas
senão fosse um pequeno problema: em um país carente como o Brasil, causas e
consequências estão emaranhadas de tal forma que fica difícil saber onde estão
umas e outras. Assim, não tem ponta do fio que se puxe sem enforcar um laço
logo adiante. Mas, em algum momento, alguém precisará enfrentar o nó.
Por exemplo:
pichações e depredações de bens públicos são, claramente, consequências de uma
comunidade com valores deturpados, impunidade, baixa autoestima e falta de
educação. Bom, mas valores deturpados são consequência da impunidade, que é uma
das causas da baixa autoestima, que, por sua vez, é uma das consequências dos
baixos investimentos em educação causados, entre outras coisas, pelo enorme e
constante dispêndio de capital na reconstrução e limpeza de bens públicos
depredados em consequência da total impunidade causada por valores deturpados
etc.
Outro caso:
o número inacreditável de mortes no trânsito é, de forma consensual,
consequência das manobras imprudentes de motoristas despreparados, alcoolizados
ou impunes, dirigindo em vias mal sinalizadas e pouco fiscalizadas. Mas
motoristas alcoolizados são consequência de vias pouco fiscalizadas, uma das
causas da impunidade que permite aos motoristas despreparados fazerem suas
manobras imprudentes às vezes causadas por deficiência na sinalização por falta
de verbas em consequência do grande prejuízo causado por tantas mortes no
trânsito de cidadãos produtivos e por aí vamos sem parar.
Vejamos
outro problema: a corrupção. Ela só é possível graças à certeza de impunidade
de agentes públicos e privados antiéticos com livre acesso às verbas de modo
nada transparente. Acontece que a falta de transparência é consequência da ação
dos representantes públicos corruptos, que agem a serviço de empresários
antiéticos e que só existem por causa da impunidade que resulta da falta de
transparência, que nasce no rastro do livre acesso às verbas por parte de
agentes públicos mal intencionados que são resultado de um sistema corrupto
alimentado por doses absurdas de impunidade.
Eu poderia
ficar por muitas páginas elegendo um por um dos problemas brasileiros,
identificando suas causas e concluindo que elas são, também, pura consequência.
Porém, os três exemplos acima, vistos na ótica de um leigo, são mais que
suficientes para dar a idéia do emaranhado em que vivemos. Para tornar o caso
mais dramático, a cada ano o novelo cresce mais, se enreda mais, muito mais nos
confunde.
Pensando
nisso, lembrei (quisera esquecer...) do tempo de pescador: a mesma linha que
alcança grandes distâncias quando arremessada de uma carretilha, nem atinge o
chão quando forma um flash – também conhecido como cabeleira. Em outras
palavras, na mesma população reside a capacidade de avançar ou enredar-se,
bastando escolher entre a ordem ou o caos. Conforme nossos exemplos, uma cidade
bonita e limpa poderia atrair turistas, que gerariam empregos, consumo e
impostos, que aplicados em educação e infraestrutura fariam crescer a autoestima
e a consciência pública, esta última com a tendência a exigir estruturas
políticas mais transparentes para repelir os representantes desonestos e punir
quem se dispusesse a subornar o governo.
Bom, mas
então basta encontrar os pichadores, depredadores, corruptos e todos os
problemas estarão resolvidos? Não. O raciocínio é o inverso: enquanto não se prevenir
e punir sequer as pichações, depredações e corruptos (crimes ridículos), o nó
maior nunca será desatado. Causas e consequências, ações e reações, são as duas
pontas da mesma linha.
Fonte: Fábio
Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
fabioxoliveira.blog.uol.com.br/
1 Comentários:
é isso aí
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