sábado, 29 de setembro de 2012

OS DEGELOS NO ÁRTICO

Autor: José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O pior cego é o que não quer ver. Mas está ficando impossível ignorar as evidências, cada vez mais visíveis, do aquecimento global. De acordo com a National Oceanic and Atmospheric Administration o mês de julho de 2012 foi o mais quente dos últimos 100 anos nos Estados Unidos e a seca que atingiu o centro do país já provocou aumento do preço mundial dos alimentos. Segundo a NASA, o degelo na Groelândia chegou a 97%, neste verão de 2012 no hemisfério Norte. No Ártico o degelo bateu o recorde histórico, um mês antes do fim do verão. O derretimento do gêlo decorre de uma onda de calor, que difere das anteriores pela intensidade e pelos danos na camada de gelo. No semestre passado um iceberg de 119 quilômetros quadrados, duas vezes o tamanho de Manhattan, se descolou do glaciar de Petermann.
Não há certezas absolutas até que ponto o degelo tem sido resultado das mudanças climáticas, provocado pela emissão de gases de efeito estufa que geram o aquecimento global. Porém, os dados mostram que os efeitos deletérios do aumento da temperatura, pelo menos em parte, já estão provocando o derretimento das geleiras, além de espalhar secas catastróficas, queimadas, etc.
A redução da camada de gelo tem se acelerado desde os anos 1990 e muitos cientistas acreditam que o Ártico pode ficar sem gelo nos verões ainda neste século, possivelmente já na década de 2020. O climatologista do Centro Nacional de Ciências Atmosféricas da Universidade de Reading, Jonny Day, disse ao jornal The Guardian: “Desde os anos 1970, houve uma redução de 40% na extensão do gelo do Ártico”.
Há também o derretimento das geleiras do Himalaia, dos Andes, do Kilimanjaro e de outras cordilheiras do mundo. Isto tem provocado o aumento do nível dos oceanos e ameaçado os países insulares e as populações das regiões costeiras dos diversos continentes.
Evidentemente, existem dúvidas quanto deste aquecimento é devido à variabilidade natural e quanto é devido às atividades antrópicas. Mas os sinais já são suficientemente claros de que há algo de errado com o clima da Terra e também que há algo de errado com o modelo de produção e consumo que é hegemônico no mundo.
Segundo reportagem do jornal The Guardian, o professor Richard Muller, físico e ex-cético da mudança climática, que fundou o projeto Berkeley Earth Surface Temperature (Best), disse que ficou surpreso com as descobertas de que a temperatura média da superfície terrestre aumentou 1,5º ao longo dos últimos 250 anos, incluindo um aumento de 1 grau ao longo dos últimos 50 anos.
A equipe do projeto Best analisou o impacto da atividade solar no aquecimento global – uma teoria popular entre os céticos do clima – mas descobriu que, ao longo dos últimos 250 anos, a contribuição do sol foi “praticamente zero”. As erupções vulcânicas tiveram pequenos e curtos efeitos no aumento da temperatura no período 1750-1850, mas não afetaram quase nada o aquecimento global no século 20.
Segundo o professor Muller: “Embora a concentração de dióxido de carbono atmosférico não prove cabalmente que o aquecimento global é causado por gases de efeito estufa derivado das atividades antrópicas, é atualmente a melhor explicação que encontrei”. Ele disse que as descobertas de sua equipe foram mais longe e mais fortes do que o último relatório publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Portanto, não há com negar que a temperatura da Terra subiu quase 1º C. (um grau) nos últimos 50 anos. Se este ritmo continuar os cenários para o século XXI são os piores possíveis e a humanidade vai enfrentar os maiores desafios da sua história, além de colocar em risco a sobrevivênica de inúmeras espécies. As populações litorâneas vão sofrer com a elevação do nível do mar e com os ecomigrantes e ecorefugiados do clima.
A divisão de população da ONU calcula que, nesta década de 2010 a 2020, estejam nascendo cerca de 136 milhões de crianças por ano e morrendo 60 milhões de pessoas por ano. Isto quer dizer que a população mundial cresce anualmente em 76 milhões de pessoas, representando uma taxa de 1,1% ao ano. O Fundo Monetário Internacional calcula que a economia mundial deva crescer em torno de 3,6% ao ano na atual década. Portanto, a população deve crescer mais de um bilhão de habitantes nos próximos 20 anos, enquanto a economia deve dobrar de tamanho. O impacto deste crescimento demo-econômico na pegada ecológica será enorme.
O uso dos combustíveis fósseis está por trás do sucesso do “progresso civilizatório”, pois possibilitou grande crescimento da economia e da população global nos últimos 200 anos. O mundo ainda é refém do petróleo e seus devivados. Porém, o preço desta dependência (que emite gases e aquece o Planeta) já pode ser visto no derretimento das geleiras e deverá ser pago nas próximas décadas, com o encarecimento do custo da energia e o aumento do preço dos alimentos.
Muito é preciso ser feito para mudar o atual pradrão de produção e consumo e para a redução do impacto ecológico da humanidade, mas três tarefas globais urgentes são: proteger a biodiversidade, avançar na transição demográfica (da alta prole para taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição) e garantir a transição da matriz energética (do uso intenso de combustíveis fósseis para fontes renováveis. limpas e de baixo carbono). O mundo precisa romper com o mito do crescimento à qualquer custo e buscar a estabilidade dentro de suas fronteiras planetárias. Sem dúvida, esfriar um pouco as expectativas de consumo pode contribuir para amenizar o clima de aquecimento provocado pelas atividades antrópicas.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate de 11/09/2012
 

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