quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CONFLITOS SOCIAIS

Autor: J. B. Libanio

As mudanças climáticas ameaçam, a prazo não tão longo, a vida da humanidade e da Terra. Esta, mesmo que tarde milhões de anos, se refará e ressurgirá com nova cara e quem sabe ainda mais bela e carregada de vida. Nós, porém, humanos teremos desaparecido qual poeira perdida que sobrevoou a Terra pelo curto lapso de alguns milhões de anos para a escala astronômica dos bilhões.

Outro aspecto do problema nos afetará no tempo intermédio entre hoje e a catástrofe final. O avanço da crise ecológica provocará conflitos sociais cada vez mais graves.

Com mínimo de inteligência e imaginação, prevêem-se secas prolongadas, enchentes destruidoras. Os jornais já anunciaram para o próximo ano o aumento de catástrofes climáticas. As cidades serranas do Estado do Rio ainda não se refizeram das enchentes de 2011. Há pessoas a morarem em abrigos improvisados. Depois da comoção geral, provocada pela imprensa, persiste a rotina dolorosa de carências.

Os mares subirão com o derretimento das calotas polares. Ilhas habitadas desaparecerão. Cidades litorâneas se inundarão. E que acontecerá com os milhões de pessoas afetadas? Antes do extremo do desaparecimento, se multiplicarão saques, invasões, migrações gigantescas desordenadas, repressão policial, naufrágios. Haja fantasia!

Em outros lugares, o deserto amplia os braços. As florestas incendeiam. As caatingas e cerrados secam definitivamente. Os terrenos gastos e envenenados por tanto agrotóxico geram fome com mais hordas de expatriados a invadirem o que podem.

J. Saramago, de modo genial, desenhou-nos em “Ensaio sobre a Cegueira” terrível cenário em que a cegueira desperta os instintos violentos do ser humano. Ora, a miséria e a destruição das catástrofes naturais cegam as pessoas e as entregam ao primitivo instinto de sobrevivência com terríveis gestos de violência.

Imaginemos ainda mais: o mundo com colheitas fracassadas, com a fome dominando milhões e até bilhões de pessoas, já não mais acomodadas na alienação, mas com nível maior de consciência e recursos de destruição. As nações ricas estão a temer a mobilização dessas massas pobres. Assistimos também à crise do sistema de organização mundial nos países ricos e centrais. Aí, a repressão não conseguirá os mesmos efeitos que nas massas pobres. Além disso, classes afetadas dispõem de recursos de comunicação com poderosa eficácia de mobilização. Haja vista as revoluções no Médio Oriente. E se a Europa incendeia, onde encontrar água para apagar o fogo?

Economistas sérios temem que as soluções arranjadas e confabuladas pelos chefes das nações européias não resolveram o problema. Adiaram a catástrofe.

Tudo parece escuro. Discursos meramente apocalípticos não resolvem o problema. O ser humano guarda em si o que Ernst Bloch chamou de “principio esperança”. Ele, ateu, apostava nele. Com muito mais razão, os cristãos têm por onde esperar. Para além da ganância criminosa de empresas transnacionais, de jogadas financeiras madoffmente irresponsáveis, os humanos têm inteligência, capacidade de amar e de pensar futuro melhor. Mobilizemos o melhor do ser humano em vez de apostar no espírito egoísta do “salve-se quem puder”.

Fonte: Jornal “O TEMPO’ de 18.12.11.

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