A POPULAÇÃO DO JAPÃO EM 2100
Autor: José Eustaquio
Diniz Alves
A divisão de
população da ONU estima, para o ano de 2050, uma população de 121,5 milhões na
hipótese alta, de 108,5 milhões na hipótese média e de apenas 96,7 milhões na
hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 141,7 milhões de
habitantes, na hipótese alta, de 91,3 milhões, na média, e somente 55,2 milhões
na hipótese baixa. Ou seja, o Japão pode ter uma população em 2100 menor do que
aquela de 1950.
O Japão que
tinha a quinta maior população do mundo, quando o globo tinha cerca de 2,5
bilhões de habitantes (cerca de 3% dos habitantes do mundo em 1950), deve
passar para cerca de 0,5% dos habitantes do mundo no final do século XXI. A
densidade demográfica do Japão era de 218 habitantes por km2, passou para 335
hab/km2 em 2010 e deve cair para 242 hab/km2 na projeção média para 2100.
O declínio da
população japonesa decorre das baixas taxas de fecundidade total (TFT). Durante
a Segunda Guerra, o militarismo japonês incentivou o aumento da fecundidade,
mas depois da derrota, o tamanho das famílias caiu e as mulheres já apesentavam
uma média de somente 3 filhos no quinquênio 1950-55. Dez anos depois a
fecundidade já estava abaixo do nível de reposição e continuou caindo até o
limite inferior de 1,3 filhos por mulher no quinquênio 2000-05. A divisão de
população da ONU acredita que as taxas de fecundidade vão aumentar até atingir
o nível de reposição (2,1 filhos por mulher) no final do atual século. Mas
mesmo com as taxas de fecundidade voltando a subir, a população vai continuar
caindo, porém, pode cair em ritmo maior ou menor dependendo da recuperação do
número de filhos das famílias.
O Japão foi
um dos países que apresentou uma das maiores taxas de crescimento econômico e
social entre 1950 e 1990, aproveitando de forma exemplar a fase propícia da
estrutura etária que, em geral, fornece um bônus demográfico, quando há
investimentos corretos em educação, saúde e mercado de trabalho. Foi o primeiro
país oriental a entrar no clube dos países desenvolvidos.
O Japão tinha
uma taxa de mortalidade infantil de 50 por mil no quinquênio 1950-55 e
conseguiu fazer um feito histórico com a redução para 2,6 mortes para cada mil
nascimentos, uma das mais baixas do mundo e quase chegando nos limites
biológicos de baixa. Para o quinquênio 2045-50 estima-se uma taxa de 2,3 por
mil. Esta espetacular queda da mortalidade infantil teve papel fundamental para
tornar a esperança de vida da população japonesa a maior do mundo. No
quinquênio 1950-55 os japoneses viviam em média 62,2 anos e atingiram uma
esperança de vida de 82,7 anos no quinquênio 2005-10, sendo que as mulheres
japonesas estavam na liderança mundial vivendo 87,4 anos em média.
O Japão –
único país do mundo a sofrer ataques atômicos (em Hiroshima e Nagasaki) –
conseguiu uma grande recuperação após a Segunda Guerra Mundial e se tornou a
terceira economia do mundo, garantindo um grande padrão de vida para a sua
população. Mas o país depende dos recursos naturais do restante do mundo.
Segundo o
relatório Planeta Vivo de 2012, da WWF, a população japonesa tinha uma pegada
ecológica de 4,17 hectares globais (gha) em 2008, para uma biocapacidade de
somente 0,59 gha. Isto quer dizer que o país do sol nascente tem um déficit
ambiental de cerca de 600%, embora seja um dos países que apresente grande
cobertura florestal em seu montanhoso território.
Uma
diminuição da população japonesa nas próximas décadas pode ser muito positivo
para a redução do déficit ambiental do país. Mas apenas a diminuição do número
de habitantes não resolve o problema da pegada ecológica. Depois desastre
ocorrido na usina nuclear de Fukushima, o Japão vai precisar investir bastante
em energias renováveis (eólica, solar, das ondas, geotérmica, etc.) para
reduzir a dependência da energia nuclear e dos combustíveis fósseis, diminuindo
subtancialmente a emissão de gazes de efeito estufa.
Talvez a
terra dos Samurais seja o primeiro país a apresentar decrescimento populacional
e econômico, nesta primeira metade do século XXI, mas sem prejudicar
significativamente a qualidade de vida de seus cidadãos. O Japão pode se tornar
um bom laboratório para a perspectiva da “prosperidade sem crescimento” ou até
mesmo da “prosperidade com decrescimento”.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal Ecodebate, é Doutor em demografia
e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da
Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de
vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 21/09/2012
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