segunda-feira, 26 de abril de 2010

USINA DE BELO MONTE

Ouvimos comentário de um economista a soldo do governo federal, a propósito das manifestações contrárias dos ambientalistas, dizendo textualmente que “o empreendimento de Belo Monte representa de fato um pequeno prejuízo para o meio ambiente, mas, em compensação, um grande progresso para a nação. Este lucro é muito mais importante do que aquele prejuízo”.

Outro economista, em artigo publicado em importante revista nacional sobre o mesmo assunto, diz que “o Brasil precisa dessa energia.” Alega ainda que a usina tem capacidade para gerar 11.000 MW em 2015, força necessária para manter o crescimento do PIB brasileiro em 5% ao ano, acrescentando que o empreendimento “vai produzir enormes benefícios e melhorar a qualidade do desenvolvimento brasileiro.”

Só enxergam resultados econômicos lucrativos, nunca as conseqüências. Não percebem que tais ações se apóiam em recursos naturais finitos, componentes do nosso meio vital, base e sustentáculo de toda ação humana. Nosso propósito é fazer uma análise de tais afirmações e da teimosia política governamental de levar avante a desastrosa construção da usina hidroelétrica referida.

Os técnicos em economia, na ânsia equivocada ou tendenciosa de convencer ingênuos e preguiçosos cérebros não pensantes, fizeram um cotejo irracional, confrontando grandezas diferentes e defendendo o desenvolvimento do PIB. Como podemos comparar tamanho de um brinco de ouro com a capacidade torácica de um enfermo? A perda de um brinco não afeta a vivência; a falta de ar mata o vivente. Em certas circunstâncias, a perda de uma fatia de pão de um miserável mendigo é maior que a perda de 50 toneladas de farinha de trigo de um rico empresário. Vemos perfeitamente que tais comentaristas têm uma visão dirigida a um único objetivo: crescimento. É isso! Vamos crescer, crescer, crescer, até que alguma coisa se estoure. Porque nada no universo cresce sem parar. Nem a torre de Babel, que queria atingir o céu. A própria Natureza nos ensina: tudo tem um limite de crescimento.

Os esforçados formadores de opinião, pelo visto, ainda não têm noção do que seja meio ambiente. Não sabem que a perda de meio ambiente é morte. Que sua preservação faz parte da Vida. Vida com V maiúsculo, referida pelos antigos pensadores gregos pela palavra “Zoé”, significando a vida permanente, universal, energética, ampla. Ao contrário de “Bios”, atinente à vida individual de um ser, com existência limitada, cíclica, restrita no tempo.

Interpretando aquelas argumentações, com vistas à realidade planetária, na verdade o “pequeno prejuízo do meio ambiente” é grande prejuízo para o todo (Zoé). E o “grande progresso, desenvolvimento, PIB da nação”, e outras mazelas, são visões estreitas e materialistas de bens supérfluos, destinados a atender vaidades e vícios de consumo e conforto corporal (Bios). Teria apenas o objetivo de ampliação e fortalecimento transitório de ilusões egoísticas e passageiras de alguns poucos indivíduos que ressumem a vida em apenas ações de ganha-ganha. Essa teimosia política e irracional nada mais é que um ato injusto de transformação das poucas reservas da Vida universal em satisfação irresponsável de sonhos megalomaníacos de entesouramento. Seria o mesmo que tirar o pouco do pobre para dar ao abastado rico.

Entendemos que falta a significativa parte da humanidade consciência do que seja “meio ambiente”. Exprime, simplesmente, “condição essencial de manutenção de um processo”. No caso de que tratamos, o “meio ambiente” é “o conjunto básico para a manutenção da Vida no planeta Terra”.

A sábia Natureza levou milhões de anos para estabelecer o necessário equilíbrio ambiental para a manutenção da biodiversidade. Agora, um governo irresponsável e em final de mandato, que declarou “realizarei esse projeto de qualquer jeito”, insiste em comprometer as gerações futuras com seus caprichos infantis, na intenção de prolongar eternamente sua autoridade temporal, à moda dos antigos visionários faraós egípcios.

Evidentemente, esse presidente está possuído pelos espíritos faraônicos e se afasta mais do bom senso cada vez que percebe escapar-lhe das mãos o poder terreno. É a ganância exacerbada pelo poder, objetivo de todo político profissional. Seus atos insensíveis para com a Natureza, incluídos os indígenas que ali habitam, demonstram a mesma índole destruidora que dominava a mente dos antigos portugueses quando invadiram o Brasil.

E esse prejudicial projeto tecnológico de transformar parte do meio ambiente em lucros – em evidente contradição às palavras insinceras proferidas no Fórum de Copenhague – está clamando aos céus para que “algum sábio ou uma inteligência superior desça sobre nossas cabeças”.

3 Comentários:

Às 27 de abril de 2010 às 14:51 , Anonymous Anônimo disse...

Migo Mide:

Dois olhos de um mesmo ser não conseguem ver um mesmo objeto por um mesmo ângulo. Dentro da sua perspectiva de visão e dos ambientalistas, a construção da U.B.M. é uma afronta ao equilíbrio ecológico local com reflexos na biodiversidade de vasta região. Curtíssimo. No entanto, um grave aspecto geopolítico tem que ser levado em conta: sabemos que as reservas de bens naturais do Planeta já não suportam mais as necessidades extravagantes dos ricos nas suas marchas em busca de lucro; e sabemos que a exploração da Amazônia nos seus projetos alternativos sempre esteve em evidência. Se ela não for ocupada agora pelo nosso povo, dentro de dez ou quinze anos, será por outros povos detentores de maior poder militar. E aí sim; virão construir a hidrelétrica para suprir as suas necessidades extrativistas e produtoras. A construção, agora, dessa usina, mesmo subsidiada pelo governo, proporcionará uma oferta de energia barata e não poluente em toda a região, e será um atrativo para promover a ocupação e desenvolvimento da mesma pelos povos nativos, inclusive nos países vizinhos, antes que a fome energética dos países ricos a usurpe de nós, a exemplo do que sempre ocorre com os povos ricos em bens naturais e pobres em discernimento.
Fraternal abraço,
Antídio

 
Às 3 de maio de 2010 às 18:51 , Blogger ira disse...

Maurício,voce postou e eu copiei as últimas palavras,ou seja;

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E esse prejudicial projeto tecnológico de transformar parte do meio ambiente em lucros – em evidente contradição às palavras insinceras proferidas no Fórum de Copenhague – está clamando aos céus para que “algum sábio ou uma inteligência superior desça sobre nossas cabeças”.
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Apos a destruição da última arvore
saberemos o gosto amargo das cédulas de dinheiro.

 
Às 20 de junho de 2010 às 12:03 , Anonymous Anônimo disse...

é essa a minha maior preocupação o ser humano so esta pensando nos ganhos financeiros e nao tem noçao dos danos ao meio ambiente. eu sou contra a construçao de belo monte.aqui onde moro nao axiste nem 20% das matas nativas que e do bioma cerrado.e tudo se deve ao grande produtor e pecuarista que destruiu tudo. vamos cuidar do planetra.

 

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