AVATAR - 2a. parte
AVATAR - 2ª parte
Quem conseguiu ler até o fim a primeira parte deste artigo talvez esteja se perguntando: Onde o Antonio quer chegar com essas elucubrações? Minha resposta a esta pergunta será feita com outra pergunta: É possível conciliar desenvolvimento tecnológico com preservação ambiental? Diferentemente das questões apresentadas na parte 1, esta eu vou tentar responder, ok?
Antes, porém, definamos a palavra “tecnologia”. O termo vem do grego tékhne (arte, habilidade, método) + logos (palavra, argumento, discurso e também razão). Portanto, pelo menos do ponto de vista etimológico, podemos dizer que tecnologia é uma exclusividade humana, correto? Discordo!!! Ela foi “inventada” muito antes do Homo sapiens ter surgido por aqui; mais precisamente há (estima-se) cerca de dois milhões de anos, quando um hominídeo metido chamado Homo habilis começou a fabricar e utilizar ferramentas feitas de pau e pedra; e deve ter dado muito certo, pois este quase parente nosso durou mais de um milhão de anos. Para deixar bem claro o que significa este período de existência, posso dizer-lhes que no fascinante “jogo da vida” os habilis estão ganhando de 10 x 2 de nós, os sapiens. . . alguém aí aposta que vamos virar este jogo, hein?
Claro, claro, como atualmente somos os únicos representantes do gênero Homo – será mesmo? – podemos estufar o peito e dizer: Nós temos a Tecnologia!!! É isso aí, parabéns, muito bom, mas. . . e agora? O que a tecnologia tornou-se para nós? Muitos responderiam que ela é uma dádiva. . . mas há também quem afirme que ela é uma maldição. Eu aqui, no meu quase anonimato, digo que a tecnologia pode ser tanto uma coisa quanto outra; algo assim como uma moça volúvel, que acorda abraçada com a vida para depois ir passear de mãos dadas com a morte. E como poderia ser diferente? Afinal a tecnologia é cria da inventividade humana; fecundada, gestada e gerada pelo homem, acaba ficando muito parecida com ele.
Assim sendo, o que devemos fazer então? Vestir tanga e voltar para o mato? Ora, definitivamente esta não é uma saída viável; até porque não haveria mato para todo mundo. James Lovelock começa a responder a questão em seu livro intitulado A Vingança de Gaia:
“Somos uma espécie equivalente àquela dupla esquizóide do romance de Stevenson O Médico e o Monstro. Temos a capacidade de destruição desastrosa, mas também o potencial de edificar uma civilização magnífica. O monstro nos levou a usar mal a tecnologia; abusamos da energia e superpovoamos a Terra, mas não é abandonando a tecnologia que sustentaremos a civilização. Pelo contrário, temos de usá-la sabiamente, como faria o médico, tendo em mira a saúde da Terra, não a das pessoas.”
Bingo!!! Tecnologia combinada com Sabedoria pode sim nos levar bem longe. Porém, frequentemente, a Tecnologia tem sido seduzida por outra companheira: a Economia. E neste triângulo amoroso, a Sabedoria, muitas vezes, vai dormir no sofá.
Respondendo à minha questão inicial digo que SIM, desenvolvimento tecnológico e preservação ambiental são perfeitamente conciliáveis. . . desde que a Tecnologia esteja conectada com a Natureza. Como escreve Fritjof Capra:
“Precisamos aplicar nossos conhecimentos ecológicos à redefinição fundamental das nossas tecnologias e instituições sociais, de modo a transpor o abismo que atualmente separa os projetos humanos dos sistemas ecologicamente sustentáveis da natureza. A prática do desenho industrial num contexto como esse exige uma mudança fundamental da nossa atitude em relação à natureza: deixar de pensar no que podemos extrair da natureza e começar a pensar no que podemos aprender com ela.”
Imaginem quantas boas tecnologias, do ponto de vista ambiental, estão engavetadas por terem sido julgadas inviáveis economicamente. Ora, se não são lucrativas, que sejam então subsidiadas! Um conjunto de países enfiou, recentemente, trilhões de dólares em seus mercados na tentativa de amenizar os efeitos da crise econômica global; por que então não gastar alguns bilhõezinhos para salvar a humanidade do colapso? Pois é. . . carecemos, entre outras coisas, de visão de longo prazo e de uma boa dose de consideração para com as gerações futuras.
Felizmente, há cada vez mais pessoas preocupadas com o futuro de nossa civilização; mas, penso eu, as mudanças não estão ocorrendo na velocidade e na profundidade necessárias. Porém, mantenho-me otimista quanto ao futuro e acredito que ainda podemos virar aquele jogo com os habilis pelo “Campeonato Mundial de Longevidade das Espécies”. Só que, como faltam ainda 800 mil anos para esta façanha, temos que mudar de tática e começar a jogar limpo imediatamente. . . ou a Grande Juíza vai acabar expulsando o nosso time de campo.
1 Comentários:
Maurício:
Parabéns pela bela exposição desta verdade incompreensível para a mente empedernida da maior parte da massa humana que vegeta sobre nosso Planeta.
No meu entender, na vida como um processo seletivo das espécies, somente os mais fortes e aptos chegariam à idade reprodutiva em condições de melhorar as mesmas. Deste modo, o processo evolutivo seria tão lento, na mesma sintonia de desenvolvimento das alterações ambientais. Pela lógica, a natalidade humana seria intensa para compensar a mortalidade precoce dos menos capazes. Teríamos, então menos habitantes na Terra; porém, dotados de um potencial médio de inteligência bem superior ao atual, reinando sobre um meio ambiente natural e mais preservado.
Observe que, nos quinhentos anos que precederam ao nascimento de Cristo, a humanidade com, aproximadamente, trezentos milhões de representantes, proporcionalmente, teve o maior desenvolvimento intelectual de todos os tempos. Filosofia, ciência, política, artes, etc.
Hoje, passados 2.000 anos, com um banco de dados de experimentos científicos e tecnológicos acumulados neste período, uma população de mais de 6.000.000 de seres, podemos observar por toda parte, legiões de indivíduos incapazes de desenvolver seus próprios raciocínios, e os poucos que conseguem fazer é calcado em modelos preestabelecidos pelos sistemas socioeconômicos dominantes, atendendo aos seus interesses.
Todos estes desequilíbrios que hoje sofremos, nasceram com a utilização dos combustíveis fósseis como fonte de energia abundante e muito barata, uma vez que, não se previa os danos ambientais que só se manifestariam num futuro mais distante. Assim, não se incluía nas planilhas de custo de produtos e serviços os prejuízo cumulativos sofridos pelo meio ambiente. Sem a formação desta consciência, além da satisfação das necessidades reais, promoveu-se o consumo supérfluo como forma de obtenção de lucros mais fáceis cujos valores têm sido debitados à Natureza.
Fraternal abraço.
Antídio
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