segunda-feira, 1 de março de 2010

AVATAR - 1a. parte

Transcrevemos, a seguir, o excelente artigo lavrado pelo ambientalista Antonio Radi, publicado no blog Novosmaias.
AVATAR - 1a. parte.


Deixe-me começar traquilizando aqueles que não assistiram ao filme de James Cameron. . . não vou contar o final não, ok? Longe disso, usarei o longa metragem Avatar como um gancho para algumas reflexões, as quais gostaria de compartilhar com eventuais leitores.

Bem, o roteiro de Avatar não tem lá muita originalidade; humanos, movidos pela cobiça, vão atrás de um valioso minério existente no subsolo de um planeta belo e rico em biodiversidade: Pandora. Há, porém, um problema para os gananciosos exploradores; um povo alienígena denominado Na’vi, que habita Pandora e convive em admirável equilíbrio com o meio que os cerca.

Têm-se a nítida impressão de que Avatar inspirou-se em episódios da História das Américas, quando povos vindos do além mar depararam-se com terras exuberantes e com os nativos que as ocupavam. Os Na’vi parecem-se com nossos índios e os humanos agem como os navegantes europeus que aqui chegaram. . . e, do ponto de vista histórico, conhecemos bastante bem as consequências deste encontro. Sobre o assunto, Darci Ribeiro, em seu livro O povo brasileiro, escreve:

“Os índios perceberam a chegada do europeu como um acontecimento espantoso, só assimilável em sua visão mítica do mundo. Seriam gente de seu deus sol, o criador – Maíra – que vinha milagrosamente sobre as ondas do mar grosso.

Pouco mais tarde esta visão idílica se dissipa. Nos anos seguintes se anula e reverte-se no seu contrário: os índios começam a ver a hecatombe que caíra sobre eles.”

Porém, aqueles que ainda não viram o filme não precisam se preocupar. . . Cameron constrói um desfecho bastante comercial; afinal o filme precisa vender, não é mesmo? E olha que já vendeu pacas!!!

Mais do que as belas imagens e os efeitos especiais computadorizados, chamou-me a atenção no filme o modo de vida do povo Na’vi. Eles estavam, literalmente, conectados com a Natureza que os rodeava e nutriam um respeito sagrado para com cada ser vivo daquele lugar. Isto fica bem explicitado em uma cena onde uma nativa sacrifica um animal ferido e agonizante; antes de desferir o golpe de misericórdia, ela faz uma espécie de prece. Gibran, em seu livro intitulado O Profeta sugere uma atitude semelhante:

“Quando matardes um animal, dizei-lhe no vosso coração: Pelo mesmo poder que te imola, eu também serei imolado, e eu servirei de alimento para outros;

Pois a lei que te entregou às minhas mãos me entregará a mãos mais poderosas.

Teu sangue e meu sangue nada são senão a seiva que nutre a árvore do céu.”

Deixemos agora a ficção e falemos um pouco de História. Quando aportou por aqui, Cabral e os seus toparam com uma terra de Natureza deslumbrante; nela viviam à época, estima-se, entre 6 e 7 milhões de nativos.

Observem, então, que a população humana dispersa naquele território que se chamaria Brasil era muito, muito pequena. Ora, só a cidade de São Paulo tem hoje mais de 10 milhões de pessoas. Assim, não é de se espantar que os recursos naturais de nosso país estivessem praticamente intactos por ocasião da chegada dos primeiros europeus.

Bom, agora vou dar início a alguns questionamentos, ok?

Bem, se a baixa população de pessoas à época do descobrimento permitiu aos portugueses encontrarem aqui uma Natureza preservada, podemos perguntar: Por que a população indígena era pequena? Ora, existem registros da presença de grupos humanos em nosso país datados de 40.000 anos ou mais. Tempo não faltou para o homem (super) povoar todo o atual território brasileiro. . . mas isto não ocorreu. E, pelo que se sabe, não vigorava entre os nativos nenhuma campanha em prol de métodos contraceptivos.

Penso que uma palavra é fundamental para respondermos a questão acima: Tecnologia. Os índios possuíam uma tecnologia, digamos, “rudimentar” que pouco dano causava ao meio em que viviam. Esta mesma tecnologia, digamos, “primitiva” também não lhes possibilitava uma longa expectativa de vida (a idade média não ultrapassava os 40 anos, segundo o professor Paulo Jobim, do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia). Assim, a população mantinha-se, de forma natural, relativamente estável. Ah!!! Aqui vai mais uma informação pertinente: a despeito de toda a Hi-Tech hoje disponível, nosso índio vive, em média, apenas 48 anos, segundo o IBGE.

Neste ponto, atrevo-me a propor uma situação hipotética. Imaginemos que nossos índios dominassem uma tecnologia que poderíamos entender por “avançada”. Neste caso, será que sua população ficaria estacionada em apenas alguns milhões de pessoas? Se nossos indígenas dispusessem de “alta” tecnologia, o que os lusitanos encontrariam por aqui? Uma terra bela e preservada ou um território sujo e devastado?

Se quisermos exercitar um pouco mais a imaginação, podemos ainda especular sobre o seguinte: Por que, em milhares e milhares de anos, os índios não desenvolveram uma tecnologia que pudesse ser chamada de “avançada” pelo modelo civilizacional vigente?

Bem, imagino que não exista uma só resposta para estas questões. Mas, deixando o passado e voltando ao presente, pretendo, na Parte 2, elaborar e comentar questionamentos, digamos, mais oportunos. . .então, até lá!

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