quinta-feira, 17 de junho de 2010

AINDA MARINA SILVA

Este texto constitui um comentário às observações de alguns ambientalistas a propósito do nosso manifesto “Por que votarei em Marina Silva”, publicado em 4.6.2010.

Considerando que, afinal, nosso trabalho ficou um tanto extenso e que contém argumentações que podem ser dirigidas a um leque muito grande de outros ambientalistas, resolvemos publicá-lo como artigo. Assim, serve melhor à causa ecológica.

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A boa conversa é aquela que é franca e honesta. Primeiramente, um esclarecimento de nosso ânimo na abertura ao público do meu voto para as próximas eleições. Abri meu voto não porque ele pareceria político, mas simplesmente por mostrar um voto totalmente ambientalista.

No texto ora comentado, procuramos firmar e justificar uma posição pela qual vamos brevemente outorgar poder a uma pessoa. Foi uma manifestação clara, definida, de caráter pessoal, na qual não empregamos nenhuma palavra visando o proselitismo. Foi uma tomada de posição não política, mas de escolha. Naturalmente que, antes, ponderamos todos os fatores favoráveis e contrários.

O aspecto religioso foi analisado e, na ocasião, procuramos nos esclarecer a respeito. Entre as diversas religiões que se propagam pelo mundo, todas são boas e louvam o mesmo Deus. Agora o importante: não estamos nos referindo a essas centenas de empresas ditas religiosas, cujo objetivo é apenas o negócio de ganhar dinheiro, tais como “Igreja Universal do Reino de Deus”, “Igreja Internacional da Graça de Deus”, “Deus é Amado” e outras.

A Assembléia de Deus é produto de cisão da Igreja Batista que, por sua vez, advém da Igreja Católica Apostólica Romana. Adota a mesma doutrina cristã, com algumas alterações provenientes de interpretações da mesma bíblia. É classificada corretamente como religião, tal como a Presbiteriana, a Batista, a Luterana. São cristãs, provindas de cisões ou adventismos. Nada tem a ver com essas igrejas empresariais e oportunistas que brotam por aí todos os dias, como cogumelos.

Ademais, como exemplo de correção mental, é oportuno lembrarmos que Fernando Henrique é ateu declarado e nunca misturou esse caráter às ações administrativas ou políticas. Deixar o raciocínio levar-se pela crença religiosa de uma pessoa para aquilatar suas qualidades humanísticas é ingressar num labirinto ilógico. É o mesmo que excluir Marina na escolha porque “tem cara de fome”, como declarou conhecida cantora. Não há condições para refugar nomes de pessoas honestas, competentes, abnegadas só por causa de suas escolhas de fé religiosa. O atributo genético da Fé, todos os humanos possuem. Todos. Fé religiosa é outra coisa. É apenas uma conseqüência daquela herança genética.

A prevalecer esse critério exclusivista e subjetivo, teremos razões para alijá-las da convivência social, exclusivamente por serem adeptas de crenças ou ensinamentos de hinduísmo, confucionismo, taoísmo, cristianismo, e suas inúmeras variações. Isso acontece com a falsa democracia argentina (não representativa, exclusivista, mascarada), cuja constituição veda o cargo de Presidente a quem não for católico.

Elencamos também os que se posicionam como ateus, agnósticos e livre-pensadores que, injustamente, são discriminados por serem os errados. Onde nossa capacidade para julgar o certo e o errado? Nesta oportunidade, eu me classifico como livre-pensador eclético. Mas tenho dúvidas sobre a exatidão dessa classificação.

Fundamentar-se em aspectos advindos da subjetividade, como as deduções apressadas e distorcidas – sem análise racional isenta – de algumas pessoas ou como prever suas possíveis ações administrativas são produto de um ato falho do poder racional ou falha manifesta de origem pré-conceitual. Acresce ainda o fato de que a bancada evangelista no Congresso é formada, na sua maioria, pelas citadas organizações empresariais que têm como objetivo, além do lucro, o poder político como suporte. Pelo exercício pleno dos poderes da razão, distingue-se, perfeitamente, a religião e o negócio. Suposições não podem se contrapor a fatos.

Ateus, agnósticos e católicos de aparência ou conveniência têm governado nosso país sem terem – nem tentado – impingir às suas funções soberanas as próprias crenças, de natureza íntima.

Nos programas de entrevistas na mídia, os jornalistas – por uma questão de estratégia do ramo – sempre procuram fazer perguntas de repercussão, procurando atingir o entrevistado em seu lado mais íntimo e sensível. Ademais, em política, o que deve prevalecer são as qualidades morais, já provadas pela vivência dos anos recentes, e sanidade de propósitos e coerência da ação pública. O bom administrador tem que estabelecer um objetivo sadio e dirigido ao todo social. Quando inteligente, não se apega ao seu partido, porque isso representa a divisão social e necessidade de fazer alianças espúrias. Se Marina Silva não for uma boa presidenta, não a será pelas suas convicções religiosas e, sim, por outras circunstâncias que estão longe de ser adivinhadas.

Na luta insana que nós os ambientalistas temos que travar para simplesmente conscientizar as pessoas dos perigos da degradação ambiental, ainda se soma o esforço para convencer a diversos ambientalistas que o assunto básico para a vida é único e excludente. Sem o meio ambiente para se respirar e se alimentar, eliminam-se todos os temas, assuntos, objetivos, teses, modas, belezas, certeza, amor, Deus, religiões. Tudo. Tudo, mesmo. O assunto “Ecologia” é básico, único, essencial, soberano e listado como “sine qua non”. Se conversarmos sobre festas, modas, perfumes, eleições, e demais temas, é porque AINDA há ar para ser respirado. A mortificação das nossas condições de vida é um fato muito sério. É real e não está sendo crido sob esse aspecto.

Já temos provas das conseqüências de nossas ações de ganâncias materialistas. Os pólos e cumes já estão se derretendo; o nível dos oceanos já está subindo; os desastres irreversíveis estão acontecendo; a eliminação do equilíbrio natural está se acelerando com a visibilidade de aquecimento global e extinção de nossos irmãos da fauna e flora. /\Meu consolo é que, no dia em que o mundo acabar, o governo abrirá rigoroso inquérito para identificar e punir os responsáveis./\

Evidentemente, não podemos nos desviar para a discussão sobre o sexo dos anjos, quando prossegue aceleradamente a degradação ambiental, cujo final é a eliminação de qualquer possibilidade de estarmos vivos para ficar fazendo suposições de atitudes provindas de conceitos equivocados.

Seria o mesmo que pautar uma conduta de outorga de poder pelos acessórios, quando o principal é a oportunidade, o motor, a alma, o sacrifício de uma vida. Estivemos sempre nesta trincheira, procurando conscientizar a humanidade de que, a continuar assim, estamos nos suicidando. Mas que ainda há um pequeno período de tempo para retorno à situação ideal e salvarmos os elementos de subsistência da Vida no planeta. Não é de hoje que estamos clamando, gritando e gritando, até à rouquidão: salvemos a Vida.

O assunto pede uma análise de consciência por parte dos verdadeiros ecologistas. Procurem desvencilhar-se dos atavios culturais que deformam as justas visões. Se formos firmar nossas escolhas por nuanças de um todo, nunca teremos condições de uma decisão no mínimo razoável. “Não escolho fulano porque tem olhos grandes; beltrano, porque tem olhos pequenos; antrano, porque usa sapato marrom; sicrano, porque é aficionado por rock.” E assim, por diante. Onde estarão a isenção, a serenidade, o poder racional e a visão sensata?

O idealismo ecológico de Marina Silva, nascido junto com as matas e esplendores da Natureza, se robusteceu no correr dos anos pelas circunstâncias favoráveis do momento, propiciando-nos a oportunidade única de elevar a importância da linguagem ambientalista. E essa consciência e denodo com que ela batalha em favor do equilíbrio ambiental ofusca ou anula qualquer aspecto pessoal que possa ser visto como negativo num primeiro olhar.

Todas as qualificações, boas ou más, que atribuirmos a um candidato à presidência do país, são apenas suposições. A única certeza que temos, no cenário político atual, é a de que Marina Silva tem consciência ecológica verdadeira, forte, honesta, adquirida desde quando era criança e pelas quais dedicou sua vida pública. É um sentimento que está arraigado em sua alma.

Só o fato de Marina Silva se dedicar à ecologia, isso anima os ambientalistas para exercer os melhores de seus esforços na obtenção de um dirigente à altura do perigo ambiental que ameaça a Vida. A Vida, senhores!

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