quinta-feira, 5 de agosto de 2010

POR ONDE IRÁ O CLIMA?

Reproduzimos abaixo esclarecedor artigo do eminente ambientalista Washington Novaes


Autor: Washington Novaes

"Com representantes de 182 países, nesta semana começou em Bonn, Alemanha, mais uma etapa de negociações preparatórias da reunião da Convenção do Clima, programada para fim de novembro, em Cancún, México. Haverá outras etapas preparatórias, mas já não se espera que no México se chegue a um acordo que leve a uma redução global de emissões de gases poluentes que aumentam a temperatura da Terra e contribuem para mudanças climáticas.

O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já disse isso, assim como o secretário da convenção, Yvo De Boer, que vai deixar o cargo em julho e será substituído pela costa-riquenha Christiana Figueres. Ban Ki-moon tem advertido: o fracasso da última reunião da convenção, em Copenhague, retardou as decisões, mas não reduziu os impactos do clima; por isso, “é preciso agir agora – ou enfrentar o pior”. Na capital da Dinamarca, o máximo a que se chegou foi uma declaração (não um compromisso) de que é preciso reduzir as emissões para evitar que a temperatura da Terra suba além de 2 graus Celsius até 2050; e que até 2012 os países industrializados destinem US$ 30 bilhões em ajuda financeira e tecnológica aos demais países, para ajudá-los a conter as emissões.

A crise financeira global trouxe novos obstáculos, mas o tempo é curto: se não houver acordo, deixará de vigir o único instrumento aprovado até aqui, o Protocolo de Kyoto, pelo qual os países industrializados devem reduzir no conjunto suas emissões em 5,2% (calculados sobre as de 1990) – e que não foi ainda cumprido. Também deixará de existir o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual uma empresa de país industrializado pode financiar em outros países projetos que reduzam emissões e contabilizar essa redução em suas próprias emissões. É um mercado que tem movimentado dezenas de bilhões de dólares por ano. Outra razão para urgência é a necessidade de um acordo mundial para financiar ações contra o desmatamento (chamado de REDD), que responde por fração importante das emissões globais.

Brasil, China e Índia continuam contra assumirem, eles mesmos, compromissos de redução, embora já estejam entre os maiores emissores (e os países fora do bloco dos industrializados já emitam mais que estes). Mas querem um acordo, que só a China considera possível para este ano. Os Estados Unidos continuam à espera de que o Congresso aprove – ou não – o projeto do presidente Obama, de reduzir as emissões em 17% (calculadas sobre as de 2005) em 2020 e até 83% em 2050. A Europa, que já propôs redução de 20% até 2020, agora pensa em 30%, mas esbarra na crise financeira, já que em sua área seriam necessários mais 48 bilhões de euros, além dos 30 bilhões calculados antes.

Enquanto isso, a Agência Internacional de Energia dos Estados Unidos calcula que as emissões globais crescerão 43% até 2035, mantido o ritmo atual. E que o carvão, a fonte mais poluidora, aumentará suas emissões em 56% no mesmo período – mesmo com os EUA tendo conseguido no ano passado baixar em 7% suas emissões. Não foi suficiente para contrapor ao resto do mundo. E o aquecimento das águas dos oceanos, diz a revista Nature, aumentou 0,16 grau Celsius – mais que a previsão do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico da Convenção do Clima. Já a Agência Americana para Oceanos e Atmosfera (NOAA) afirmou que abril de 2010 foi o mais quente desde que se registram temperaturas (1880), quase 0,7 acima da média. Na mesma direção, 255 cientistas da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos publicaram na revista Science relatório no qual afirmam haver “provas consistentes de que as atividades humanas estão mudando o clima de forma que ameaça nossas sociedades”. Segundo esses cientistas, muitos ataques a conclusões como esta se devem a “interesses específicos ou dogma, e não a um esforço honesto de oferecer uma teoria alternativa”.

Por aqui, as informações continuam preocupantes, como a de dois ciclones extratropicais em uma semana em Santa Catarina, com chuvas de 253 milímetros em 24 horas em Florianópolis, 130 milímetros em 3 horas em Tramandaí, ventos de até 100 quilômetros por hora, 102 municípios em estado de emergência. Em vários outros pontos do País os dramas climáticos também continuaram. Por isso mesmo, bem faz a prefeitura de Belo Horizonte que, depois de muitas calamidades, anunciou a criação de um sistema de alarme, com radar meteorológico e pluviômetros, capaz de avisar com antecedência da chegada de “eventos extremos” e permitir providências prévias. Todas as cidades, inclusive goianas, deveriam imitar os mineiros.

Fora desse noticiário cada vez mais preocupante, destacam-se as decisões da Cúpula Climática Mundial realizada em abril, na Bolívia. Ela aprovou: 1. outorgar à natureza direitos que a protejam (uma Declaração Universal de Direitos da Mãe Terra); 2. a criação de um tribunal internacional de justiça climática e ambiental, para julgar quem viole esses direitos; 3. o direito de os países mais pobres serem compensados dos danos climáticos pelos países mais ricos, responsáveis pela maior parte das emissões e há mais tempo; 4. a realização de um referendo mundial para ouvir a população sobre o clima. Essas conclusões serão levadas à assembleia geral da ONU e à reunião de Cancún. E a Bolívia criará o Ministério da Mãe Terra. Mas o Brasil não mandou representante à reunião.

Por onde seguirá o mundo? Pela rota de Cancún ou pelas sendas bolivianas?"

Fonte : http://www.washingtonnovaes.com.br/

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