quarta-feira, 23 de março de 2011

TRAGÉDIAS NÃO NATURAIS NO JAPÃO

É assunto atualíssimo a ampla tragédia ocorrida no Japão. Ali houve três desastres seguidos que causaram muita destruição e diversos tipos de aflição na população. Mas os acontecimentos não foram exatamente assim. Vamos ampliar um pouco o ângulo de visão para podermos clarear as condições essenciais dos fatos.

Percebemos que houve uma acomodação geológica da placa tectônica do Pacífico a 130 km da costa nipônica, com força classificada de 8,9 pontos na Escala Richter. Previsível pela ciência. Só isso. No âmbito natural, foi apenas isso, sem danos significativos à situação geológica. O mais foi apenas resultado da atuação irresponsável da atual civilização materialista, tecnológica e agressiva.

Aquela acomodação tectônica se manifesta, aleatoriamente, no correr de borda de todas as placas geodinâmicas em que o planeta é dividido. É uma conformação natural, própria e adequada de um planeta vivo. A terra pode ser comparada, para melhor entendimento, a um ovo rachado em diversas partes, no qual as inferiores são cobertas por água e as superiores são secas e chamadas de continentes. A crosta terrestre, constituída de rochas, é proporcionalmente tão fina quanto à do ovo.

Voltemos a analisar as conseqüências do maremoto. Houve, por extensão e concomitantemente, um terremoto em áreas densamente habitadas que teria causado alguns poucos danos se ali não fosse ocupado por tanta gente com seus queridos bens materiais. Esse ajustamento geológico provocou em seguida uma elevação das águas, numa altura de apenas 10 metros, que invadiu o território indevidamente ocupado pelos humanos e suas incontáveis quinquilharias. Produziu um entulho de roupas, móveis, coleções de figurinhas, taças esportivas, aparelhos tecnológicos, carros, casas, arbustos, aviões, barcos e demais invenções e artigos supérfluos, a cujo conjunto damos o nome de lixo civilizatório.

Enquanto isso, os pássaros voavam tranquilamente em seus espaços naturais sem qualquer dano. Se fossem realmente inteligentes e em quantidade muito menor – compatível com os recursos naturais – os homens deveriam alojar-se em nível superior a 100 metros, reconhecendo sua submissão e respeito às manifestações naturais.

Há lamentações por perdas humanas, como é natural nessas ocasiões. Há compaixão e solidariedade com os irmãos de mesma espécie porque tal sentimento é herdado na corrente existencial. Contudo, todos esses danos são, ou consertáveis, ou recuperáveis, ou recompostos, ou conformáveis. Não são eternos. Têm um fim em curto prazo e deixam uma lição muito grande, de ordem socio-administrativa que não cabe aqui desenvolver, mas sobre a qual cada um pode fazer suas próprias ilações.

Mas nosso objetivo central aqui é analisar um aspecto que não está na programação natural e suas conseqüências civilizacionais. O maremoto causou, sem culpa, um mal imenso, com possível extensão à própria humanidade, cuja inserção na tragédia é de responsabilidade exclusiva da ação humana que segue o compasso da atual linguagem econômica na busca insana de progresso e crescimento ilimitados.

Referimo-nos à construção de usinas nucleares para produção de energia elétrica, fator alimentador dos confortos do corpo, objetivo inglório do sistema econômico que desnatura o próprio homem – sem qualquer proveito para as ânsias espirituais. Se pensarmos racionalmente, ante a atual encruzilhada ambiental por que passamos, a energia elétrica é inteiramente dispensável para a normal movimentação dos seres viventes. A Natureza nos proveu das condições próprias de locomoção pelo sistema muscular.

A Natureza nos deu o dia para as atividades normais e simples da vida. E nos deu a noite para o descanso e recomposição das energias despendidas no dia. Viver é incorporar-se ao ciclo próprio que ela nos oferece sabiamente. Os músculos são o repositório das energias vitais necessárias para a movimentação de busca de alimentos. A vida é muito simples para ser vivida. A atual civilização é que a complicou pela corrida aos ganhos materiais e eleição de castas econômicas, valorizando culturalmente o individualismo em detrimento do conjunto de seres vivos.

A construção de uma usina nuclear fica em aproximadamente 10 bilhões de reais. Um desastre nuclear acarreta dispêndios em vidas e bens equivalentes a valor tão grande que se torna incalculável, além de destruir as condições mínimas para existência da ecologia. O desastre da espécie libera na atmosfera elementos radioativos enriquecidos como os isótopos de estrôncio, xenônio, césio, iodo, plutônio, que duram tempo imenso.

O conteúdo da usina de Chernobyl continua vivo, ativo. Só que contido num sarcófago de cimento e ferro. Mas até quando? Ninguém sabe. Não deixa de ser uma bomba com relógio incerto. Nas usinas de Fukushima, ainda não temos uma definição da radioatividade a ser liberada para o envenenamento da vida. Oxalá consigam os nipônicos estancar as fontes incontroladas.

Todos nós, quando criança, aprendemos na pele que “com o fogo não se brinca”. Devíamos saber também que “com a fissão do átomo, não se brinca”. O mundo já tem “na pele” e nos genes suas conseqüências. Qualquer das 441 usinas em atividade está sujeita a provocar a libertação de seu núcleo mortífero e incontrolável. É só entrar em ação o fator da imponderabilidade.

E o lixo proveniente das operações dessas usinas, que é todo radioativo, está sendo lacrado em tambores especiais para uma destinação a que os cientistas ainda não sabem. O lixo atômico americano, depois de encarcerado em tambores de chumbo, está (oh, quanta irresponsabilidade!) sendo lançado no Oceano Pacífico, longe da costa continental. “Longe dos olhos, longe do coração político”. Está sendo jogado dentro da “casa” (hábitat) dos nossos irmãos viventes na água.

Afinal, a força forte contida no íntimo do átomo, que aglomera forças de carga positiva e negativa, constitui um dos segredos da Natureza. A civilização famélica por lucro violou esse sacrário, acorrentando-o em seu proveito, sem o menor respeito e submissão aos mistérios da sábia Natureza. O sistema econômico vigente age e pensa exclusivamente em função do lucro imediato dos tempos presentes. O futuro, eles não conseguem enxergar. Estamos deixando para as gerações vindouras apenas lágrimas para chorar.

As ocorrências naturais do planeta são do conhecimento geral. As tragédias conseqüentes montadas pela ganância do sistema econômico também são previsíveis. A tragédia global proveniente do envenenamento do meio ambiente pelo progresso materialista deveria ser perceptível por toda a humanidade; não somente pelos ambientalistas.

Neste exemplo que estamos vendo no Japão, as pessoas estão fugindo do país. Muito bem. Quando os brinquedos nucleares do mundo – usinas, foguetes militares, submarinos – e as outras atividades irracionais que destroem nosso ar, água e solo entrarem em colapso, ocasionado por causas não previstas pelos “técnicos”, nós vamos fugir para onde?

Só há um lugar: a tumba.

1 Comentários:

Às 14 de abril de 2011 às 10:48 , Anonymous Anônimo disse...

Muito bom, adorei,
me ajudou muito a refletir e pensar no que estamos nos tornando, vou hoje mesmo apé para o srvço, rsrs, Abraçoss

 

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