ALHEIAMENTO DO POVO PELA ALA DOMINANTE
Autor: André Marques
Trago aqui noções básicas sobre como funciona a alienação que tanto é citada em rodas de conversa e sites de mídia alternativa. Se você ainda está por fora de o que seja essa palavra tão comentada e repudiada, venho dar uma mão para você entendê-la.
Alienação, segundo os dicionários é o estado de separação ou alheação da pessoa de alguma coisa que lhe pertencia ou a que pertencia e a transferência dessa coisa para outra pessoa ou entidade. Se você está alienado da sociedade, é porque está separado dos problemas coletivos e transferindo sua responsabilidade sócio-política aos outros. Sendo alienado, você não participa diretamente da edificação da integridade social do país, mesmo que esteja participando da dinâmica econômico-financeira da região e do país como um empregado ou empresário e pagando impostos, formas apenas indiretas de participação social.
A alienação social, política e cultural que tenho grandes vontades de combater ocorre quando o sujeito vive alheio, na maioria das vezes por indução cultural constante, aos problemas inerentes à sociedade, à política e também aos aspectos culturais de implicações questionáveis. Um alienado não está nem aí se a violência explode no seu bairro – exceto quando é assaltado, claro –, se os ônibus da cidade estão com a passagem cara e vivem superlotados nas horas de rush, se animais e ecossistemas são trucidados com seus hábitos alimentares e consumistas ou se a corrupção está galopando em Brasília ou na assembléia legislativa de seu estado. Nada disso lhe interessa genuinamente, o que realmente vale pra ele são os últimos capítulos da novela, os momentos sensuais do reality-show, o megahit musical da moda ou, no caso do religioso, o que vale é o futuro após a morte num maravilhoso e paradisíaco mundo do além, mesmo que isso seja obtido com reclusão e auto-segregação social num ato de se auto-alienar do mundo real. Essa é a alienação.
De trás para frente, ela é cultural porque envolve essa gama de aspectos culturais em detrimento de opções, digamos, mais edificantes, como a literatura e a troca de idéias com o próximo. Política porque o alienado diz estufando o peito que odeia política e não quer se meter em nada que denote atos políticos, mesmo sendo estes os norteadores de qualquer sociedade e dos mais diferentes aspectos da vida de qualquer ser humano. E social porque há a não-preocupação, numa inválida e antiética isenção, com os problemas sociais das pessoas desde de sua comunidade até do universo populacional de seu país.
A manutenção do povo sob esse controle cultural e intelectual permite, entre outras coisas, que políticos mal-encarados continuem fazendo o que bem querem em Brasília, empresários expandam seus empreendimentos sobre espaços naturais, os 10% mais ricos da população continuem abocanhando cerca de metade das riquezas brasileiras, os bispos de pseudo-igrejas mal-intencionadas continuem acumulando fortunas com dízimos dos fiéis enganados, pecuaristas permaneçam lucrando alto sobre a morte massiva de animais sofredores e oligarquias detenham perpetuamente o tão desejado poder político. Tudo isso é muito benéfico pra manutenção do estado de riqueza e opulência dessas turmas.
A elite brasileira faz de tudo pra não perder sua hegemonia perante o povo. Posso chamar essa turma de Ala Dominante, já que exercem de fato uma dominação sobre o povo. Compreende todos aqueles que deixam evidente que se beneficiam da alienação e de suas implicações e gostam disso. Inclui políticos, megaempresários, magnatas da comunicação, bispos, latifundiários e outros poderosos. Devo relevar que não são todas as pessoas que têm esses empregos que são genuinamente interessadas na “fuleiragem”, há muitos sujeitos de bem que tanto não desejam o sustento de poder pelo controle da pirâmide sócio-econômica como manifestam consciência positiva e, por boa vontade, financiam ou tutelam atividades de responsabilidade. Só não dá pra listar com toda certeza os nomes dos verdadeiros benfeitores.
Contra o poderio da Ala Dominante, o que se pode fazer é continuar esclarecendo as pessoas, propagando a conscientização, de modo que numa época mais próxima possível haja a transformação da vontade popular de suplantar os interesses dominantes em práticas de cidadania.
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