domingo, 26 de outubro de 2008

O BIG BANG FINANCEIRO

Publicamos abaixo artigo do proeminente ambientalista Antídio S. P. Teixeira, colaborador deste blog, abordando com maestria a crise capitalista, por que passa atualmente em sua conjuntura econômico-social, e a conseqüente influência nos procedimentos ecológicos.


“O mundo capitalista se debate na primeira e, provavelmente, a última grande crise “sócio-econômica-financeira-ambiental“. Muitos mestres em economia ou em comunicação, vêm a público prestar esclarecimentos sobre o acontecimento e apontar caminhos para restabelecer a confiança no sistema e levar investidores de volta a aplicação de seus recursos nas bolsas de valores, um jogo de azar, o que na verdade, só faria retardar o estouro para uma deflagração mais estrondosa amanhã.
“O fato é que o sistema financeiro mundialmente adotado como econômico é deficitário porque consome mais do que produz e o pouco que produz é mal distribuído e termina por ficar em poder de menores parcelas da população mundial. Por isso, para sobreviver ele necessita de um aumento contínuo de consumo a fim de obter, cada vez mais lucros para poucos. Como a maior fatia da humanidade é despojada de recursos para consumir o indispensável para ter uma condição de vida digna, a produção vai se restringindo cada vez mais e sendo sofisticada para satisfazer os desejos mais extravagantes das minorias que conseguem auferir maiores rendimentos.
“Esta inviabilidade foi prevista por Marx e, no entanto, ela tornou-se viável até o momento, porque contou com fontes energéticas como hulha e petróleo, assim como jazidas de matérias-primas aflorando no solo e, por isso, baratas; a atmosfera, os mares e as florestas com suas faunas se renovavam naturalmente mantendo a pureza necessária à vida.
“Nessas exuberantes condições de riquezas naturais, a ambição de poder de reis e de poucos cidadãos europeus começou a implantar políticas financeiras que deram origem ao capitalismo atual e moribundo. À medida que foram sendo aplicados mais recursos que propiciaram a evolução tecnológica, homens e animais de tração foram sendo excluídos do trabalho, deixados sem meios de subsistência em todo o mundo e, hoje, afeta até as classes de profissionais liberais.
“O desvio da evolução social natural começou, exatamente, no momento em que, acidentalmente, se transformou a hulha em coque, e, com este, fundiu-se o ferro o que, até então, o faziam num processo penoso e limitado, por ocupar muita mão-de-obra de lenhadores, carvoeiros e transportadores que alimentavam as empíricas siderúrgicas, razão do seu elevado custo e aplicação limitada à fabricação de armas, ferramentas e artefatos de maiores necessidades. Passando o ferro a ser fundido em grande escala e com um combustível altamente concentrado e barato por nenhum trabalho ter custado ao homem para fabricá-lo e concentrá-lo através de milhões de anos, novas aplicações modificaram o comportamento social da humanidade.
“Trefilados permitiram as construções de elevados prédios, superpovoando, deste modo, as áreas urbanas; tubos de ferro fundido resolveram problemas de abastecimento de água; trilhos, máquinas a vapor e motores a explosão que impulsionaram vagãos e navios para abastecerem as novas cidades que cresceram mais para o alto, o que fez com que o homem dependesse, cada vez mais, de energia elétrica para bombear água, acionar elevadores e ventiladores etc.
“Assim, também, para transportar passageiros, sendo hoje o avião, o mais rápido, preferido e o maior consumidor de energia por unidade de massa transportada. Só que, as minas de hulha mais próximas foram se esgotando, outras ficando cada vez mais profundas e/ou distantes; o petróleo que, inicialmente, em algumas regiões, chegava a esguichar do solo, quando se escavavam poços para água, hoje ele é extraído de poços cuja profundidade já não se medem mais em metros, mas em quilômetros.
“A disputa pelas jazidas destes combustíveis tem sido motivos de caríssimas guerras fazendo milhares de mortos deixando crianças órfãs. Os custos para obtenção desses combustíveis e de outras riquezas minerais se elevaram consideravelmente durante estes dois últimos séculos, transferindo para as planilhas de custo de produção e de vendas das mercadorias produzidas com eles.
“O desastre começou a ser apontado na consciência de ambientalistas na década de 1970 quando observaram, pela primeira vez, o “buraco” na camada de ozônio sobre o Pólo Sul e foram despertados para o fato de que os gases emanados pela queima de combustíveis fósseis, predominantemente os óxidos de carbono, não dispondo de meios para se reciclarem, vinham se acumulando na atmosfera e causando alterações climáticas precursoras de intempéries com sérias implicações na produtividade agropecuária e danos imobiliários, tanto nas áreas urbanas como, também nas rurais.
“Resumindo: os custos operacionais da produção mundial já superam em muitas vezes os recursos financeiros globais obtidos para suas aquisições, o que não deixa mais margens para os lucros fáceis de outrora. Esta é a causa; o desfecho dependerá das atitudes que serão tomadas pelos governantes do mundo.”

2 Comentários:

Às 2 de novembro de 2008 às 09:36 , Blogger Maurício disse...

A visão do distinto comentarista que complementa nossa abordagem, vale por uma aula para uma melhor compreensão do momento histórico por que passa o mundo capitalista.
Acrescentamos que, (numa transcrição sintética) quando ele diz que "os custos de produção superam os recursos financeiros", até há pouco tais recursos, conhecidos por ativos financeiros, eram suficientes e abundantes. Sim, eram suficientes porque, tal como no milagre de multiplicação dos pães, os recursos reais - dinheiro - (representativo de bens) foram ficticiamente mil vezes multiplicados pelo "sabidos" capitalistas. Agora, o que há é apenas uma caida na real... Aquela abundância de ativos na realidade não existia.
O interessante dessa tragédia é que ela se transformou em comédia. Ora vejam, o governo dos paises capitalistas estão comprando as empresas privadas e, com isso, caminhando para o socialismo, o mesmo socialismo soviético, onde o Estado era dono de tudo.

 
Às 2 de novembro de 2008 às 15:23 , Anonymous Anônimo disse...

Obrigado pelo seu valioso apoio.
Antídio

 

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