quarta-feira, 8 de outubro de 2008

UMA VISÃO DA CRISE ECONÔMICA

Nesses últimos dias, temos tido conhecimento do pânico global dos encarregados de manter a lona do circo econômico em pé. Essa situação de derrapagem, em que as bolsas de valores mostram índices negativos, isto é, perda de dinheiro por parte dos investidores, indica apenas a conseqüência de atitudes irracionais e maléficas. É uma espécie de estado febril do mundo materialista, indicando que o conjunto estrutural, com base exclusiva em objetivos de lucro, não se sustenta por incompatibilidade de meios e objetivos.
Tal situação não é de alarmar. Afinal, só perde quem tem sobrando. Perde também quem não tem dinheiro, mas tem ambição de sobra. É sempre sobra; raramente afeta quem tem apenas o essencial.
Isso tudo começou quando, na ânsia desmedida e irresponsável de apossamento de bens, - dos que existiam e dos que não existiam – indivíduos inventaram de sacar sobre o futuro. Para ganhar mais, é claro. Crédito significa confiança; confiança no futuro. O crédito é altamente prejudicial para o sadio andamento dos meios de troca, o dinheiro, quando este é representativo de bens existentes. Por quê? Simplesmente porque antecipa para hoje o valor de bens que ainda vão ser produzidos, aí incluídos os essenciais (poucos) e os supérfluos (muitos). Em palavras simples: é um roubo ao futuro. O sistema mundial funciona nessa base. Significa diminuir as possibilidades do futuro (meio ambiente) em benefício da realização agora de lucros. Na verdade, isso tudo advém da adoração irracional, sob estado compulsivo, do deus dinheiro.
Vejam só a mentalidade deformada dos homens que governam o mundo. Em comentários recentes, informaram os economistas de governo que, ante o horizonte global recessivo, o PIB (ah, PIB!) médio geral para 2009 previsto em 5% deverá ser recalculado para “apenas” 2%. Em outras palavras, o punhal da ganância rumo ao coração do meio ambiente deverá ser empurrado “apenas” 2%.
Mas há um consolo. E importante. A roda produtiva de bens não essenciais (lixo) gira agora com menos velocidade. O ideal, seria que ela parasse por longo tempo. Com o funcionamento lento da máquina econômica, produzem-se menos bens de consumo espoliativo. O planeta, ainda não agonizante, terá pelo menos 3% de tempo para um suspiro. É um bem maior que o dinheiro todo do mundo, pois é um bem à Vida.

2 Comentários:

Às 10 de outubro de 2008 às 10:04 , Anonymous Anônimo disse...

OUTRA VISÃO DA CRISE ECONÔMICA

Antídio S.P. Teixeira
O mundo capitalista se debate na primeira e, provavelmente, a última grande crise “sócio-econômica-financeira-ambiental”. Muitos mestres em economia ou em comunicação, vêm a público prestar esclarecimentos sobre o acontecimento e apontar caminhos para restabelecer a confiança no sistema e levar investidores de volta a aplicação de seus recursos nas bolsas de valores, um jogo de azar, o que na verdade, só faria retardar o estouro para uma deflagração mais estrondosa amanhã. O fato é que o sistema financeiro mundialmente adotado como econômico é deficitário porque consome mais do que produz e o pouco que produz é mal distribuído e termina por ficar em poder de menores parcelas da população mundial. Por isso, para sobreviver ele necessita de um aumento contínuo de consumo a fim de obter, cada vez mais lucros para poucos. Como a maior fatia da humanidade é despojada de recursos para consumir o indispensável para ter uma condição de vida digna, a produção vai se restringindo cada vez mais e sendo sofisticada para satisfazer os desejos mais extravagantes das minorias que conseguem auferir maiores rendimentos. Esta inviabilidade foi prevista por Marx e, no entanto, ela tornou-se viável até o momento, porque contou com fontes energéticas como hulha e petróleo, assim como jazidas de matérias prima aflorando no solo e, por isso, baratas; a atmosfera, os mares e as florestas com suas faunas se renovavam naturalmente mantendo a pureza necessária à vida. Nessas exuberantes condições de riquezas naturais, a ambição de poder de reis e de poucos cidadãos europeus começou a implantar políticas financeiras que deram origem ao capitalismo atual e moribundo. À medida que foram sendo aplicados mais recursos que propiciaram a evolução tecnológica, homens e animais de tração foram sendo excluídos do trabalho, deixados sem meios de subsistência em todo o mundo e, hoje, afeta até as classes de profissionais liberais. Estas começaram, exatamente, no momento em que, acidentalmente, se transformou a hulha em coque, e, com este, fundiu-se o ferro o que, até então, o faziam num processo penoso e limitado, por ocupar muita mão-de-obra de lenhadores, carvoeiros e transportadores que alimentavam as empíricas siderúrgicas, razão do seu elevado custo e aplicação limitada à fabricação de armas, ferramentas e artefatos de maiores necessidades. Passando o ferro a ser fundido em grande escala e com um combustível altamente concentrado e barato por nenhum trabalho ter custado ao homem para fabricá-lo e concentrá-lo através de milhões de anos, novas aplicações modificaram o comportamento social da humanidade. Trefilados permitiram as construções de elevados prédios, superpovoando, deste modo, as áreas urbanas; tubos de ferro fundido resolveram problemas de abastecimento de água; trilhos, máquinas a vapor e motores a explosão que impulsionaram vagãos e navios para abastecerem as novas cidades que cresceram mais para o alto, o que fez com que o homem dependesse, cada vez mais, de energia elétrica para bombear água, acionar elevadores e ventiladores etc. Assim, também, para transportar passageiros, sendo hoje o avião, o mais rápido, preferido e o maior consumidor de energia por unidade de massa transportada. Só que, as minas de hulha mais próximas foram se esgotando, outras ficando cada vez mais profundas e/ou distantes; o petróleo que, inicialmente, em algumas regiões, chegava a esguichar do solo, quando se escavavam poços para água, hoje ele é extraído de poços cuja profundidade já não se medem mais em metros, mas em quilômetros. A disputa pelas jazidas destes combustíveis tem sido motivos de caríssimas guerras fazendo milhares de mortos deixando crianças órfãs. Os custos para obtenção desses combustíveis e de outras riquezas minerais se elevaram consideravelmente durante estes dois últimos séculos, transferindo para as planilhas de custo de produção e de vendas das mercadorias produzidas com eles. O desastre começou a ser apontado na consciência de ambientalistas na década de 1970 quando observaram, pela primeira vez, o “buraco” na camada de ozônio sobre o Pólo Sul e foram despertados para o fato de que os gases emanados pela queima de combustíveis fósseis, predominantemente os óxidos de carbono, não dispondo de meios para se reciclarem, vinham se acumulando na atmosfera e causando alterações climáticas precursoras de intempéries com sérias implicações na produtividade agropecuária e danos imobiliários, tanto nas áreas urbanas como, também nas rurais. Resumindo: os custos operacionais da produção mundial já superam em muitas vezes os recursos financeiros globais obtidos para suas aquisições, o que não deixa mais margens para os lucros fáceis de outrora. Esta é a causa; o desfecho dependerá das atitudes que serão tomadas pelos governantes do mundo.

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Às 2 de novembro de 2008 às 10:22 , Blogger Maurício disse...

Caro Antídio, grato pela atenção de seu comentário.
Suas ponderações são compatíveis com a realidade existente no mundo de negócios. A literatura corporativista e os próprios dicionários definem o capitalismo como uma forma SOCIAL sob o MANDO do capital, orientada para os interesses individuais. Deduz-se que, em qualquer circunstância, o ato de capitalizar, isto é, acumular riqueza em benefício próprio, vem em primeiro lugar. Num exame mais acurado de tal sistema, tendo presente a história das civilizações, verifica-se que esse procedimento passou de consciente para inconsciente e dai sedimentou-se como senso cultural. É lógico, dentro desse contexto, o individuo cercar-se de todos (em quantidade máxima possível) os meios materiais indispensáveis para as seguintes necessidades básicas: segurança para si e seus familiares; educação para os filhos; garantia de assistência médica; amparo na velhice; habitação condigna; código social universal; e outras que possam ser classificadas como de necessidade pública. Como está arraigada na cultura e como fazem EU, TU, ELE, NÓS, VÓS, ELES. Se o governo garantir todas essas condições básicas, eu não preciso me entesourar, porque o meu entesouramento prejudica aos outros. Conclusão: o capitalismo advém de uma óptica essencialmente individual. “Eu tenho é que ter; não importando o meio. Os outros é que se virem”. Quer dizer: pobreza, miséria, desamparo, etc. são consequências NATURAIS do sistema capitalista e são justificados pelos abastados, tanto sob o ponto de vista político como religioso. Nosso comentário tendeu para o enfoque social, sob uma visão filosófica. Mas isso não é o importante no momento histórico em que nos encontramos. O meio ambiente abarca todas as considerações possíveis; que é o assunto maior. Porque é básico, essencial, vital. Finalmente, uma última observação: esse abalo financeiro e econômico atual é simplesmente uma pequeníssima fração de microscópica amostra do que nos espera mais adiante, quando o hábitat começar a produzir os seus estertores ambientais diretamente nas funções econômicas, com consequências profundas na estrutura social.

 

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