JOSÉ PEPE MUJICA
Discurso do presidente do
Uruguai, José Pepe Mujica (citado em 30 de agosto de 2012, no incrível blog
“Hora de Mudar” da Ziulia Sbroglio, sobre o minimalismo e novos comportamentos
para combater o consumismo).
"Autoridades presentes, de as latitudes
e organizações, muito obrigado. Meus agradecimentos
ao povo do
Brasil e a sua senhora Presidente. Muito obrigado
à boa fé,
que certamente todos os oradores que me antecederam demonstraram.
Expressamos a íntima vontade, como governantes, de acompanhar todos os acordos, que esta nossa pobre humanidade pode assinar.
Expressamos a íntima vontade, como governantes, de acompanhar todos os acordos, que esta nossa pobre humanidade pode assinar.
No entanto, deixem-me fazer algumas perguntas em voz alta.
Durante a tarde toda, falamos sobre desenvolvimento
sustentável. De como eliminar o imenso
problema da pobreza.
Que se passa em nossas cabeças? Qual o modelo de desenvolvimento e consumo que atualmente vivem as sociedades ricas?
Que se passa em nossas cabeças? Qual o modelo de desenvolvimento e consumo que atualmente vivem as sociedades ricas?
Faço
esta pergunta: o que aconteceria com este planeta se os habitantes da Índia
tivessem a mesma proporção de carros por família que os alemães possuem? Quanto
oxigênio teríamos para respirar? O mundo de hoje teria os elementos materiais
para que 7 a 9 bilhões de pessoas possam desfrutar de mesmo nível de consumo e
desperdício que têm as sociedades mais ricas do Ocidente? Isto é possível? Ou
será que teremos que ter um dia um outro tipo de discussão?
Porque
nós criamos esta civilização em que estamos: filha do mercado, filha da
competição, que se deparou com o progresso material enfático e explosivo. A
economia de mercado criou sociedades de mercado.
E nos deparamos com esta globalização, que significa olhar por todo o planeta. Estamos governando a globalização ou é a ela que nos governa?
E nos deparamos com esta globalização, que significa olhar por todo o planeta. Estamos governando a globalização ou é a ela que nos governa?
Possível
falar de solidariedade e que estamos "todos juntos" em uma economia
baseada na concorrência impiedosa? Até onde chega nossa fraternidade?
E não digo nada disso para negar a importância deste evento. Pelo contrário, o desafio que temos pela frente é de uma grandiosidade colossal.
E não digo nada disso para negar a importância deste evento. Pelo contrário, o desafio que temos pela frente é de uma grandiosidade colossal.
A
grande crise não é ecológica, é política. O homem não governa hoje! Não há
forças envolvidas, senão as forças que governam o homem e a vida.
Porque
não viemos ao planeta para nos desenvolvermos, em termos gerais. Nós viemos ao
planeta para sermos felizes. Porque a vida é curta, e rapidamente se vai. E
nenhum bem vale mais que a vida, isto é claro! Mas a vida vai se passando, e
nós trabalhando e trabalhando para consumir sempre mais e a sociedade de
consumo é o motor, porque, em última análise, se o consumo está paralisado, a
economia para, e se parar a economia, o fantasma da estagnação econômica
aparece para cada um de nós.
Mas
este hiper consumo, este que está agredindo o planeta. E eles têm que acelerar
este hiper consumo, fazendo coisas que durem pouco, porque é preciso vender
muito.
E
uma lâmpada elétrica, então, não pode durar mais de 1000 horas. Mas existem
lâmpadas que podem durar 100 mil, 200 mil horas! Contudo estas não podem ser
feitas porque o problema é o mercado, porque temos que trabalhar e temos de
sustentar uma sociedade que "usa e joga fora", e por isso estamos em
um círculo vicioso.
Estes
são problemas de caráter político, que estão dizendo que está na hora de
começar a lutar por outra cultura.
Não
se trata de retornar para os dias do homem das cavernas, ou ter um
"monumento ao atraso". Não podemos continuar indefinidamente sendo
governados pelo mercado, e sim, temos que governar o mercado.
Então
eu digo, na minha humilde forma de pensar que o problema que temos é político.
Os
antigos pensadores - Epicuro, Sêneca, incluindo os Aymaras, definiam:
"Pobre não é aquele que tem pouco, mas sim aquele que necessita
infinitamente de muito, e deseja, e deseja, mais e mais!" Isto é
crucialmente de caráter cultural.
Então,
eu saúdo os esforços e acordos que estão sendo feitos. E eu vou segui-los, como
governante.
Sei
que algumas coisas que estou dizendo "perturbam". Mas devemos
perceber que a crise da água e a agressão ao meio ambiente não são a causa. A causa
é o modelo de civilização que nós construímos. E nós temos que rever nosso modo
de vida.
Eu
pertenço a um país pequeno e bem dotado de recursos naturais para viver. No meu
país há 3 milhões, pouco mais, 3 milhões e 200 mil habitantes. Mas há cerca de
13 milhões de vacas, das melhores do mundo. E cerca de 8 a 10 milhões de
excelentes ovelhas. O meu país é um exportador de alimentos, laticínios e
carne. É uma planície onde quase 90% da terra é aproveitável.
Meus
amigos trabalhadores lutaram arduamente para conquistar as máximas 8 horas de
trabalho. E agora eles estão conseguindo o direito as 6 horas. Mas aqueles que
conseguiram as 6 horas, precisam agora ter dois empregos, portanto, trabalham
mais do que antes. Por quê?
Porque
eles têm uma infinidade de despesas: a motocicleta que comprou, o automóvel, e
pagar as contas, e contas. E quando você acordar perceberá que é um velho
reumático como eu e se passou toda a vida. E fará esta pergunta: este é o
sentido da vida humana?
Essas
coisas que eu digo são elementares: o desenvolvimento não pode ir contra a
felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana, do amor à Terra, às
relações humanas, do amor aos filhos, de ter amigos, ter somente a necessário.
Precisamente, porque este é o tesouro mais valioso que temos.
Quando lutamos pelo meio ambiente, devemos lembrar
que o primeiro elemento do meio ambiente se chama FELICIDADE HUMANA. Muito
Obrigado!"
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