quarta-feira, 24 de outubro de 2012

JOSÉ PEPE MUJICA


Discurso do presidente do Uruguai, José Pepe Mujica (citado em 30 de agosto de 2012, no incrível blog “Hora de Mudar” da Ziulia Sbroglio, sobre o minimalismo e novos comportamentos para combater o consumismo).

"Autoridades  presentes, de  as  latitudes e  organizações,  muito obrigado.  Meus  agradecimentos  ao  povo  do  Brasil  e  a  sua  senhora Presidente.  Muito  obrigado  à  boa  fé,  que  certamente  todos os  oradores que  me antecederam demonstraram.

Expressamos a íntima vontade, como governantes, de acompanhar todos os acordos, que esta nossa pobre humanidade pode assinar.

No entanto, deixem-me fazer algumas perguntas em voz alta.

Durante a tarde toda, falamos sobre desenvolvimento sustentável. De  como eliminar o imenso problema da pobreza.

Que se passa em nossas cabeças? Qual o modelo de desenvolvimento e consumo que atualmente vivem as sociedades ricas?

Faço esta pergunta: o que aconteceria com este planeta se os habitantes da Índia tivessem a mesma proporção de carros por família que os alemães possuem? Quanto oxigênio teríamos para respirar? O mundo de hoje teria os elementos materiais para que 7 a 9 bilhões de pessoas possam desfrutar de mesmo nível de consumo e desperdício que têm as sociedades mais ricas do Ocidente? Isto é possível? Ou será que teremos que ter um dia um outro tipo de discussão?

Porque nós criamos esta civilização em que estamos: filha do mercado, filha da competição, que se deparou com o progresso material enfático e explosivo. A economia de mercado criou sociedades de mercado.

E nos deparamos com esta globalização, que significa olhar por todo o planeta. Estamos governando a globalização ou é a ela que nos governa?

Possível falar de solidariedade e que estamos "todos juntos" em uma economia baseada na concorrência impiedosa? Até onde chega nossa fraternidade?

E não digo nada disso para negar a importância deste evento. Pelo contrário, o desafio que temos pela frente é de uma grandiosidade colossal.

A grande crise não é ecológica, é política. O homem não governa hoje! Não há forças envolvidas, senão as forças que governam o homem e a vida.

Porque não viemos ao planeta para nos desenvolvermos, em termos gerais. Nós viemos ao planeta para sermos felizes. Porque a vida é curta, e rapidamente se vai. E nenhum bem vale mais que a vida, isto é claro! Mas a vida vai se passando, e nós trabalhando e trabalhando para consumir sempre mais e a sociedade de consumo é o motor, porque, em última análise, se o consumo está paralisado, a economia para, e se parar a economia, o fantasma da estagnação econômica aparece para cada um de nós.

Mas este hiper consumo, este que está agredindo o planeta. E eles têm que acelerar este hiper consumo, fazendo coisas que durem pouco, porque é preciso vender muito.

E uma lâmpada elétrica, então, não pode durar mais de 1000 horas. Mas existem lâmpadas que podem durar 100 mil, 200 mil horas! Contudo estas não podem ser feitas porque o problema é o mercado, porque temos que trabalhar e temos de sustentar uma sociedade que "usa e joga fora", e por isso estamos em um círculo vicioso.

Estes são problemas de caráter político, que estão dizendo que está na hora de começar a lutar por outra cultura.

Não se trata de retornar para os dias do homem das cavernas, ou ter um "monumento ao atraso". Não podemos continuar indefinidamente sendo governados pelo mercado, e sim, temos que governar o mercado.

Então eu digo, na minha humilde forma de pensar que o problema que temos é político.

Os antigos pensadores - Epicuro, Sêneca, incluindo os Aymaras, definiam: "Pobre não é aquele que tem pouco, mas sim aquele que necessita infinitamente de muito, e deseja, e deseja, mais e mais!" Isto é crucialmente de caráter cultural.

Então, eu saúdo os esforços e acordos que estão sendo feitos. E eu vou segui-los, como governante.

Sei que algumas coisas que estou dizendo "perturbam". Mas devemos perceber que a crise da água e a agressão ao meio ambiente não são a causa. A causa é o modelo de civilização que nós construímos. E nós temos que rever nosso modo de vida.

Eu pertenço a um país pequeno e bem dotado de recursos naturais para viver. No meu país há 3 milhões, pouco mais, 3 milhões e 200 mil habitantes. Mas há cerca de 13 milhões de vacas, das melhores do mundo. E cerca de 8 a 10 milhões de excelentes ovelhas. O meu país é um exportador de alimentos, laticínios e carne. É uma planície onde quase 90% da terra é aproveitável.

Meus amigos trabalhadores lutaram arduamente para conquistar as máximas 8 horas de trabalho. E agora eles estão conseguindo o direito as 6 horas. Mas aqueles que conseguiram as 6 horas, precisam agora ter dois empregos, portanto, trabalham mais do que antes. Por quê?

Porque eles têm uma infinidade de despesas: a motocicleta que comprou, o automóvel, e pagar as contas, e contas. E quando você acordar perceberá que é um velho reumático como eu e se passou toda a vida. E fará esta pergunta: este é o sentido da vida humana?

Essas coisas que eu digo são elementares: o desenvolvimento não pode ir contra a felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana, do amor à Terra, às relações humanas, do amor aos filhos, de ter amigos, ter somente a necessário. Precisamente, porque este é o tesouro mais valioso que temos.

Quando lutamos pelo meio ambiente, devemos lembrar que o primeiro elemento do meio ambiente se chama FELICIDADE HUMANA. Muito Obrigado!"

 

 

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