O CRESCIMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE CO²
Autor: José
Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate]
Em 2008, o ambientalista Bill McKibben fundou a 350.org, um movimento
internacional para unir o mundo em torno de soluções para a crise climática. A
ideia da 350.org é estimular um conjunto de ações coordenadas que possa
pressionar as autoridades mundiais sobre a necessidade do comprometimento
político com a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE). A cifra 350
é uma referência a 350 ppm (partes por milhão) de CO2. O número é
considerado o limiar de segurança para a quantidade de dióxido de carbono na
atmosfera, um índice capaz de evitar uma mudança climática galopante.
As Conferências Internacionais
sobre mudanças climáticas (as COPs) chegaram ao consenso de que 2o C
(dois graus centígrados) é o nível de aquecimento global considerado
“suportável”, segundo análises científicas. Para tanto, seria necessário
reduzir os níveis de emissão de GEE e reduzir a concentração de CO2
na atmosfera para 350 ppm.
Porém, não é isto que está
acontecendo. Segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration
(NOAA), dos Estados Unidos, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera
saltaram 2,67 partes por milhão (ppm) em 2012, para o montante recorde de 395
ppm. O registro do ano passado só ficou atrás do aumento de 2,93 ppm ocorrido
em 1998. Tudo indica que chegaremos a 400 ppm até 2015, o que é um número
extremamente crítico.
O principal fator para o crescimento
da concentração de CO2 na biosfera foi o aumento do uso de
combustíveis fósseis, especialmente nos países em desenvolvimento, como a China
e a Índia. As queimadas na Amazônia também contribuíram. Desta forma, as
perspectivas da 350.org e as possibilidades de manter o aquecimento
global abaixo de 2º C estão desaparecendo.
Um trabalho publicado na
revista Science estimou a temperatura global no período geológico
chamado de Holoceno, que teve início há cerca de 11 mil anos. Neste período de
estabilidade do clima a população mundial passou de menos de 5 milhões de
habitantes, no começo do Holoceno, para 1 bilhão de habitantes por volta de
1800. Todavia, o impacto das atividades antrópicas foi pequeno nestes milênios.
Segundo o estudo, a Terra
passou por um período de aquecimento que começou há cerca de 11 mil anos e
durante 1,5 mil anos, o planeta esquentou cerca de 0,6º C, para se estabilizar
durante cerca de 5.000 anos. Todavia, 5,5 mil anos atrás, começou um novo
processo de esfriamento, o que ficou conhecido como a “pequena era do gelo”,
quando o Planeta ficou 0,7º C mais frio.
Contudo, as tendências se
inverteram há 200 anos, com o início da Revolução Industrial e Energética (uso
de combustíveis fósseis). O aumento da emissão de GEE fez o Planeta se
esquentar nos últimos 200 anos, quando a população passou de 1 bilhão para mais
de 7 bilhões de habitantes e a economia cresceu cerca de 90 vezes neste
período. Por conta disto, já existem cientistas dizendo que começamos uma nova
era geológica, chamada de Antropoceno, ou seja, uma época em que o ser humano
passou a influir na composição química da atmosfera e dos oceanos,
consequentemente, alterando o equilíbrio dos ecossistemas da Terra.
Há muitas incertezas sobre
a magnitude das projeções das mudanças climáticas. De qualquer forma, se nada
for feito e se as COPs (Conferências das Partes) não chegarem a um acordo
viável, o aquecimento global vai continuar nas próximas décadas, elevando a
probabilidade de atingiremos, até 2100, o período mais quente dos últimos 11
mil anos. As consequências podem ser catastróficas. Segundo o princípio da
precaução é melhor prevenir do que remediar no futuro. As futuras gerações e a
biodiversidade não vão perdoar os erros e o egoísmo das gerações atuais.
The Guardian. Large rise in
CO2 emissions sounds climate change alarm, 08/03/2013.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em
demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas
Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
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