CHINA ULTRAPASSA ESTADOS UNIDOS
Autor: José Eustáquio
Diniz Alves
[EcoDebate]
A China era a maior economia do mundo até o início do século XIX. Foi superada
pelo Reino Unido e depois pelos Estados Unidos. A China sofreu mais de um
“século de humilhações”, como os chineses costumam se referir ao período de
invasões, guerras e declínio contínuo de sua economia e de perda de influência
política regional e internacional.
Mas a retomada do peso econômico da China e sua
influência no cenário internacional começou a mudar depois dos acordos
Mao-Nixon, de 1972, e, especialmente, depois da abertura econômica e comercial
de 1978, liderada por Deng Xiaoping. O PIB chinês cresceu cerca de 10% ao ano
nas últimas 3 décadas.
Mas a inserção da China no processo de
globalização não se deu de maneira subalterna. Ao contrário, a China soube
tirar proveito da conjuntura internacional para fortalecer um projeto de
desenvolvimento nacional soberano que fez do país a “fábrica do mundo”, ao
mesmo tempo que investia fortemente na educação dos jovens e na retirada de
centenas de milhões de pessoas da pobreza.
Os dados do comércio internacional são bastante
ilustrativos. No início da década de 1950 os Estados Unidos eram responsáveis
por quase 20% das exportações globais. Estes números caíram rapidamente para
cerca de 12% no início da década de 1970 e oscilaram neste patamar até a virada
do milênio. Porém, na primeira década do século XXI a queda foi mais intensa e chegou
ao baixo patamar de 8%.
O Brasil tinha uma participação de 2% no
comércio internacional em 1950, mas veio perdendo posição e ficou longo período
em torno de 1%. Na última década recuperou um pouco, mas não chegou nem em 1,5%
do comércio global de mercadorias. Até 1985, o Brasil exportava mais do que a
China, mas hoje em dia fica apenas aos pés do gigante asiático.
A China tinha apenas 1% das exportações mundiais
quando Deng Xiaoping chegou ao comando do país. De lá para cá, a China se
tornou a máquina mais eficiente de exportação do mundo, ultrapassando os EUA em
2009 e a Alemanha no ano seguinte, chegando a cerca de 11% do comércio
internacional em 2012. Enquanto a balança comercial chinesa foi superavitária
em 231,1 bilhões de dólares, a norte-americana foi deficitária em 727,9 bilhões
de dólares, em 2012. Mas, em termos de importação, os EUA ainda superam a
China, pois o nível de consumo dos norteamericanos é muito maior.
Contudo, quando se considera o volume de
comércio – a soma de importações e exportações – a China ultrapassou os EUA no
ano passado. Segundo reportagem do site da agência Bloomberg, o volume de
comércio dos EUA foi de US$ 3,82 trilhões, enquanto o da China foi de US$ 3,87
trilhões, em 2012. A China está se tornando o principal parceiro bilateral para
a maioria dos países do mundo.
Reportagem crítica do site Outras Palavras
mostra que a América Latina está se convertendo em uma plataforma de exportação
de produtos primários e commodities para a China, cuja função seria permitir a
esta última assegurar e ampliar suas exportações – notadamente nos setores de
eletrônica, indústria automobilística, têxtil, etc. As economias
latino-americanas recebem agora 13% do total dos investimentos diretos externos
(IDE) da China no mundo. Isso representa um montante estimado em 31 bilhões de
dólares. A Cepal indica que 24 bilhões de dólares teriam sido diretamente
investidos pelas empresas chinesas nos setores de recursos naturais, da
indústria e dos serviços na América Latina. A reportagem conclui: “Embora
participe desse importante movimento global, a América Latina continua
largamente prisioneira de uma integração à economia internacional pelo aumento
da ‘primarização’ de sua economia. Sua relação com a China confirma essa
tendência”.
O sucesso econômico e comercial da China é
inegável. Mas ao contrário dos períodos das grandes dinastias do passado, que
tinham uma economia rural, de baixo consumo e sustentada na energia física dos
músculos dos trabalhadores chineses, o atual poderio chinês é baseado em uma
economia urbana, de elevado consumo de bens duráveis e altamente dependente de
combustíveis fósseis (especialmente o carvão mineral, que é altamente
poluente). O caminho atual escolhido pela China é insustentável, mesmo
considerando que seus dirigentes façam investimentos corretos em energias
renováveis e de baixo carbono, pois o sucesso econômico pode terminar em um
grande desastre ambiental.
Portanto, a China não superou os EUA apenas no
comércio global, mas também como principal agente da degradação do meio
ambiente. Além da poluição da águas, das terras e do ar, a China se tornou o
principal emissor de gases de efeito estufa e tem provocado diversos outros
danos à natureza. Sem dúvida, a China caminha para se tornar a maior economia
do mundo e, também, de forma preocupante, a “inimiga” número um dos
ecossistemas e da biodiversidade da Terra.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em
demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas
Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial