QUANDO COMEÇAMOS A ERRAR?
Transcrevemos abaixo esclarecido artigo de Leonardo Boff, publicado nos jornais em outubro de 2008.
“Sentimos hoje a urgência de estabelecermos uma paz perene com a Terra. Há séculos estamos em guerra contra ela. Enfrentamo-la de mil formas no intento de dominar suas forças e de aproveitar ao máximo seus serviços. Temos conseguido vitórias, mas a um preço tão alto que agora a Terra parece se voltar contra nós. Não temos nenhuma chance de ganhar dela. Ao contrário, os sinais nos dizem que devemos mudar, senão ela poderá continuar sob a luz benfazeja do Sol, mas sem a nossa presença.
É tempo de fazermos um balanço e nos perguntarmos: quando começou o nosso erro? A maioria dos analistas diz que tudo começou há cerca de 10 mil anos com a revolução do neolítico, quando os seres humanos se tornaram sedentários, projetaram vilas e cidades, inventaram a agricultura, começaram com as irrigações e a domesticação dos animais. Isso lhes permitiu sair da situação de penúria de, dia após dia, garantir a alimentação necessária através e da recolheção de frutos. Com a nova forma de produção, criou-se o estoque de alimentos que serviu de base para montar exércitos, fazer guerras e criar impérios. Mas se desarticulou a relação de equilíbrio entre natureza e ser humano. Começou o processo de conquista do planeta que culminou, em nossos tempos, com a tecnificação e artificialização de praticamente todas as nossas relações com o meio ambiente.
Estimo, entretanto, que esse processo começou muito antes, no seio mesmo da antropogênese. Desde os seus albores, cabe distinguir três etapas na relação de ser humano com a natureza. A primeira era de interação. O ser humano interagia com o meio, sem interferir nele, aproveitando de tudo o que ele abundantemente lhe oferecia. Prevalecia o equilíbrio entre ambos. A segunda etapa foi a da intervenção. Corresponde à época em que surgiu, há cerca de 2,4 milhões de anos, o homo habilis. Este nosso ancestral começou a intervir na natureza ao usar instrumentos rudimentares como um pedaço de pau ou uma pedra para melhor se assenhorear das coisas ao seu redor. Inicia-se o rompimento do equilíbrio original. O ser humano se sobrepõe à natureza. Esse processo se complexifica até surgir a terceira etapa, que é a da agressão. Coincide com a revolução do neolítico. Aqui se abre um caminho de aceleração na conquista da natureza. Após a revolução do neolítico, sucederam-se as várias revoluções, a industrial, a nuclear, a biotecnológica, a da informática, ao da automação e a da nanotecnologia. Sofisticaram-se cada vez mais os instrumentos de agressão, até penetrar nas partículas subatômicas (topquarks, hadrions) e no código genético dos seres vivos.
Em todo esse processo se operou um profundo deslocamento na relação. De ser inserido na natureza como parte dele, o ser humano transformou-se num ser fora e acima da natureza. Seu propósito é dominá-la e tratá-la, na expressão de Francis Bacon, o formulador do método científico, como o inquisidor trata o inquirido: tortura-lo até que entregue todos os seus segredos. Esse método é vastamente imperante nas universidades e nos laboratórios.
Entretanto, a Terra é um planeta pequeno, velho e com limitados recursos. Sozinha, não consegue mais se auto-regular. O estresse pode se generalizar e assumir formas catastróficas. Temos que reconhecer nosso erro: o de termo-nos afastado dela, esquecendo que somos Terra, que ela é o único lar que possuímos e que nossa missão é cuidar dela. Devemos fazê-lo com a tecnologia que desenvolvemos, mas assimilada dentro de um paradigma de sinergia e benevolência, base da paz perpétua tão sonhada por Kant.”
5 Comentários:
Caro Mauricio: enquanto a humanidade continuar procriando da maneira atual. não haverá sistema algum que a salve.
A China teve que tomar medidas drásticas e dolorosas,o mundo terá que fazer o mesmo, porque o desenmprego trará o desespero às familias, o aumento de violência, etc... O que fazer ?Instruir a mulher mundial a ter apenas 1 filho, assim mesmo, levarão 200 anos para que a POPULAÇÃO ESTACIONE. oS RECURSOS NATURAIS DA TERRA AGUENTARÃO ATÉ LÁ ?
Prezada Neyde,
O problema populacional é a causa, e a degradação ambiental a consequência. Esse é o ponto nevrálgico de toda a problemática. No entanto, há agravantes sérias no enfoque desta questão. Leia, por favor, nosso artigo "A população mundial" e ficará sabendo que o excesso demográfico não é tão grave; é muito mais grave, gravíssimo!
Eu encaro com realismo essa situação e a abordo por inteiro no meu livro "Agora ou Nunca Mais". Procure adquiri-lo. Se não o encontrar, avise-me, por favor.
Se você é realmente uma pessoa que tem consciência da enrrascada em que se encontra a humanidade, não pode deixar de ler o livro.
Se for o caso, forneça-me seu endereço e lhe presentearei com o citado livro.
Agradeço sua presença neste blog e fico à sua disposição para dialogar sobre meio ambiente no meu e-mail: mgomide2@gmail.com
Caro Mauricio, nas últimas semanas a mídia só fala sobre "o dia da terra", o quanto é importante a data devido aos problemas que o meio ambiente vem sofrendo. Por isso, lhe dou os meus mais sinceros parabéns. É a primeira vez que leio um livro que não foca só os problemas ambientais e sim enaltece o amor pela terra, o amor que é desconhecido por muitos. Você mostra para onde estamos caminhando por falta de não ter tido "amor ao planeta" no passado. Hoje infelizmente só vemos nossas consequencias. Obrigado por abrir meus olhos para o fim esperado que as pessoas insistem em não acreditar. Seu livro AGORA OU NUNCA MAIS, assim como seu blog são excelentes. A matéria publicada no site Portal Literal ressalta a importância que você dá ao nosso planeta, tenho certeza que é essa importância que toda a humanidade devería dar e ao mesmo tempo ficar alerta aos sinais que o meio ambiente está nos apresentando todos os dias. Me tornei um admirador de sua obra literaria. Parabéns, Carlos Vinicius.
Prezado Carlos Vinícius,
Seja bem-vindo a esta página.
Os males ambientais praticados pelo homem já não são notícias, são confissões de auto-extermínio numa demonstração do quanto é irracional e predadora a estrutura da sociedade humana. Fundamenta-se ela numa construção de objetivos econômicos que geram tecnologias contrárias aos interesses de vivência. Dizemos vivência em sentido universal e não na visão exclusivamente antropocêntrica, recheada de perversões e materialismo inglório. De nada vale o “dia da terra” quando, na verdade, seus interesses não são atendidos nem por um minuto. As programações midiáticas são balelas, em ações do “faz-de-conta”.
Notei ,pelo comentário, que você absorveu com inteireza a mensagem contida no livro “Agora ou Nunca Mais”. Além do que está ali textualizado, sua sagacidade conseguiu tirar as conclusões subjacentes, e que são muitas. O título do livro nunca se ajustou tão fielmente à tese como o fez, pois o alerta ali exposto adquire o sentido histórico de um ultimato aos que têm o poder de decisão, mas permanecem inertes.
O livro foi escrito – num desespero crescente - como ato de consciência; como se a Terra buscasse em mim um porta-voz. Espero que todos os leitores tenham a mesma percepção de beira de abismo em que se encontram todos os seres viventes.
Agradeço seu valioso comentário aqui e no “portal literal”, o que demonstra que não estamos lançando semente em solo árido.
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