quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A PRIMEIRA REVOLUÇÃO AMBIENTAL

Nenhum ambientalista que se diga tal pode desconhecer a história recente da ilha de Bougainville, cujo resumo registramos abaixo.
Bougainville é uma ilha no oeste do Oceano Pacífico, com população autóctone de 180.000 habitantes, vinculada outrora ao país Papua-Nova Guiné como província, hoje politicamente autônoma.
Nas décadas de l970 e l980, a maior mineradora do mundo, de capital inglês, chamada Rio Tinto, explorou desbragadamente uma mina de cobre na ilha e que recebeu o nome de Panguna. Entre os problemas ambientais que a mineração normalmente ocasiona, destaca-se o desmatamento, poluição dos rios com os rejeitos e produtos químicos tóxicos produzidos no processamento, além de infectarem também os córregos e lençóis freáticos.
Todos os interessados na mina se beneficiavam, inclusive o governo de Papua-Nova Guiné, menos os habitantes da ilha que viam apenas a destruição de seus bens essenciais à vida, pois esse povo mantinha uma existência simples, harmonizada com os recursos naturais, sem se sentirem atraídos pela materialidade do progresso.
Os ilhéus se organizaram e pediram à diretoria que encerrassem a atividade e os indenizassem pelas destruições causadas. Ante tamanha ingenuidade, a mineradora deu de ombros, sabendo que os habitantes eram pobres, desaparelhados e sem poder de força. Além disso, contava a empresa com a cobertura dos governantes a quem pagavam regiamente. O povo, sentindo-se consciente da origem da destruição de seu ambiente, organizou-se e reagiu com ações sabotadoras dos interesses mineiros. Destruíram as redes elétricas, paióis de explosivos, máquinas, veículos e tudo o mais que representasse a mina. A reação foi violenta. O governo de Papu-Nova Guiné mobilizou seu exército contra a população, incendiando aldeias e assassinando os moradores, o que deu origem a uma revolução ampliada, estruturada, vindicatória, na qual as armas dos ilhéus foram a astúcia, heroísmo e finalmente a guerrilha.
Percebendo o governo que não tinha condições de vencer a luta, lançou mão, com ajuda dos governos da Inglaterra e Austrália, de um rigoroso bloqueio de toda a ilha, impedindo a entrada de alimentos e remédios. Esse recurso causou muitas mortes, mas fortaleceu ainda mais os ideais de luta. Nessa situação, os líderes locais se conscientizaram que havia apenas uma saída: uma vivência de interação do homem com o meio ambiente, tornando-se auto-suficientes, com a obtenção na Natureza do mínimo e básico à vida.
Essa luta sacrificante e gloriosa durou 10 anos, de 1989 a 1997. Com a obtenção da autonomia da ilha de Bougainville, mostrou-se ao mundo que não é suave a prevalência dos atos de viver à ganância materialista do poderoso sistema econômico, ao qual os chamados “governantes” lhe emprestam os ares de legitimidade e dignidade, termos absolutamente abstratos frente à realidade dos fatos.
Essa epopéia, única na história mundial recente, dá o exemplo a ser seguido pelo povo do mundo para evitar a desconstrução da Natureza e o conseqüente suicídio coletivo.
Registramos aqui que a multinacional Rio Tinto tem permissão para explorar a mineração na Amazônia brasileira, o que indica claramente a quem os governos representam.
Destacamos que tais fatos, relativamente recentes, não tiveram por parte da mídia a necessária e suficiente divulgação. Ocultar notícias é uma forma de mentir. Que fique o exemplo da “liberdade de imprensa” para quem ainda acredita piamente na candura do diabo travestido de publicidade.
O que relatamos é História real. Fato importantíssimo, havendo desconhecimento geral. Entendo que a luta dos nativos da ilha de Bougainville deve ser divulgada ao máximo entre os ambientalistas, pois ela configura perfeitamente o que nos aguarda no futuro se não houver uma potente e rápida reação.

2 Comentários:

Às 10 de dezembro de 2008 às 21:48 , Anonymous Anônimo disse...

Todo cidadão deve se tornar ambientalista; estudar a fundo estas questões para entender que este é o unico caminho para preservar a vida animada na Terra; especialmente os jóvens.O que vemos e ouvimos nos meios de comunicação, podemos dizer que é canto de sereia.

 
Às 12 de dezembro de 2008 às 03:03 , Blogger Ivo S. G. Reis disse...

Gomide:

já comentei este seu excelente e elucidativo em meu blog, mas vou fazê-lo novamente aqui, porque nunca sabemos por onde o novo visitante vai entrar. Por aqui ou por lá, o importante é que leiam matérias como essa e ACORDEM.

Vou comentar com um exemplo: entre meados da semana anterior e o princípio desta duas ikmportantes matérias foram discutidas em Brasília: Uma, a redação do novo CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO; a outra, a DEMARCAÇÃO DAS RESERVAS INDÍGENAS DA RAPOSA SERRA DO SOL, em Roraima. Em amabas, as decisões parecem caminhar contrariamente aos interesses nacionais e do povo, inclusive, envolvendo, além das questões ambientais, questões de soberania e segurança nacional.

Pois bem, afora as ONGs ambientalistas, onde está a participação do povo e a sua representatividade no acompanhamento da votação dessas matérias? Será que sabem da sua importância? Será que sabem das conseüências no caso de uma decisão errada?

Isto é o povo brasileiro e por isso, estamos nessa situação de descrédito internacional. A ONU não confia na capacidade do Brasil para gerir essas questões. Enquanto isso, o brasileiro mais se preocupava em acompanhgar a final do campeonato brasileiro de futebol. Nesse mesmo tempo, os donos do poder, as raposas e hienas políticas urdem os seus planos de ataques.

No final dessa história voltaremos a comentar. Quanto à reserva raposa do Sol, já são 8 os ministros que se manifestaram favoráveis à demarcação contínua. Não deveriam também os Ministros do STF entender questões de estratégia política e até de segurança nacional?

Vamos ver no que vai dar, mas acho que vai ser contra nós, povo e ambientalistas.

 

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