domingo, 9 de novembro de 2008

AUTÓPSIA DE UMA NOTÍCIA

O governo informa que, em 2008, o Brasil produziu 150 milhões de toneladas de cereais, ai incluídos o milho, arroz, trigo, soja, feijão, equivalentes a 1.000 k para cada habitante nominal.
O Brasil não produziu isso. Quem produziu foi a terra circundada pelas fronteiras do Brasil. Melhor: foi parte da terra global que produziu. Aprofundando a análise: parte da terra não produziu, transformou-se em cereais. Como não existe milagre, sendo incontestável a lei natural de conservação das coisas, isto é, “nada se cria, nada se destrói; tudo se transforma” (Lavoisier), a ação humana, no espaço de tempo de 1 ano, retirou da terra 150 milhões de toneladas de substâncias químicas essenciais ao metabolismo vivencial para – em última análise – uso exclusivo dessa oceânica e contraproducente quantidade de animal humano. Citamos, a propósito, a expressão do eminente arqueólogo David Webster: “Agricultores demais fazem plantações demais em lugares demais.” Estamos numa situação em que víamos outrora com doçura e amor a poética chegada da cegonha trazendo no bico uma fralda contendo uma nova vida. Agora, já começamos a enxergar que as cegonhas, em maciço bando de milhões e durante 24 horas por dia, toldando a luz do sol, traz no bico bombas-relógio de efeito arrasador. Fala-se em “nuvem de gafanhoto”. No entanto, estamos vendo “nuvem de gente”. Efetivamente, chegamos àquele futuro maldito previsto pelo famoso cientista Thomas Malthus em 1798.
Devemos entender que – no caso de que tratamos – o solo terrestre se empobreceu, em apenas um ano, em 150 milhões de pura energia vital. É fácil imaginar-se que em mais alguns ciclos anuais a base, a fonte, o sustentáculo da vida estará inteiramente esgotada. Devemos enxergar que a população mundial é constituída de quantidade ilógica ante os recursos naturais limitados para sustentação das necessidades básicas de vivência. E o pior: temos quantidade sem qualidade; isso pela prevalência do instinto, gravado no ADN, de que a própria espécie deve viver. Tal assunto será desenvolvido em posterior artigo. Resumindo: a informação correta é que, só no espaço Brasil, o mundo foi dilapidado em 150 milhões de toneladas de sua escassa capacidade de transformar elementos químicos em alimentos. É uma informação para nos fazer chorar. No entanto, o governo comemora, alegre e inconsciente, pela incompetência para enxergar a realidade de que está cavando a própria sepultura de um povo. Esta autópsia se destina a mostrar aos leitores que toda informação deve passar pelo filtro da razão. Não podemos ser “Maria-vai-com-as-outras”. Massa cinzenta foi feita para ser usada.

1 Comentários:

Às 22 de novembro de 2008 às 08:17 , Anonymous Anônimo disse...

2008-11-21 às 12.02 pm
Meu caríssimo Gomide:
“Esta autópsia se destina mostrar aos leitores que toda informação deve passar pelo filtro da razão”. - Concordo e fiz a seguinte experiência para comprovar: num panelão de borda alta devidamente tarado, coloquei variada quantidade de matéria orgânica: folhas, serragem, feijão, açúcar, azeite, couro, ossos, algumas frutas e legumes. Procurei ajustar o peso do conteúdo em 10 quilos. Deixei a panela destampada ao ar livre numa época de tempo seco e, ao cabo de alguns dias, verifiquei que o conteúdo se reduziu de volume. Pesei e verifiquei que, também o peso caiu para 5,860 gr. Coloquei a panela em fogo brando e, em pouco tempo, tudo se transformou em carvão e este pegou fogo, ficando somente as cinzas. Novamente pesei a panela e só encontrei 1,925Gr. Então, concluí que este foi o peso dos minerais que foram retirados do solo para compor a matéria orgânica analisada; pois o peso da matéria volatilizada, além da água extraída do solo, mas que não faz parte dele, o carbono, nitrogênio e outras foram captadas na atmosfera, e a ela devolvidos. Comparativamente, dos 150.000.000 de toneladas da produção realizada em nosso país, a maior parte foi de água e de elementos captados na atmosfera pela fotossíntese e a ela devolvidos.
Votos de um bom fim-de-semana.
Antídio

 

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