terça-feira, 23 de dezembro de 2008

CACHO DE UVA

O Nordeste do Estado de Minas Gerais, na bacia do Rio São Francisco, região pobre, possui ótimas terras para a fruticultura, cuja prática vem sendo feita ultimamente. Tal atividade produtiva, preferentemente com o cultivo de uvas de mesa das variedades Rubi e Itália, vem ganhando expressão econômica na região, trazendo positivos reflexos sociais. São produtos de ótima qualidade e boa apresentação.
Quando você, leitor, pousar um belo cacho de uva daquela origem sobre o prato e começar a saboreá-la, apreciando as suas excelências de sabor e perfume, tão características dos produtos daquelas terras, deverá saber que alguns passarinhos morreram em holocausto para que você pudesse usufruir desse sublime momento de prazer.
O custo de produção dessas uvas é um pouco mais elevado naquela região porque figuram investimentos dos fazendeiros em compras de espingardas, cartuchos e atiradores. A contratação de caçadores de passarinhos é necessária para que se possa preservar a incolumidade dos cachos de uva. Os extensos parreirais ficam, desde cedinho, sob a vigilância de devotados vigias armados para que os malditos passarinhos não se vejam atraídos para tais frutos. Não sabemos se é por puro capricho de prejudicar a atividade econômica ou se é por fome mesmo. No início era mais fácil abater esses intrusos porque existiam em bandos compactos. Hoje, isso se tornou mais difícil porque os passarinhos, por serem menos, atacam mais dispersos.
Mas o custeio dessa fruta vem dando bons resultados porque as despesas de abatimento das aves daninhas diminuíram, pois agora são raros os passarinhos ainda existentes. O ideal econômico é quando não existirem mais pássaros tão prejudiciais. Nesse caso, eliminam-se gastos e baixam-se os custos o que, no objetivo salutar da estratégia econômica, redunda em melhor comercialização, trazendo progresso para a região e benefícios para todos: produtores, comerciantes, transportadoras, governos, país, sociedade, em harmonia com os objetivos do desenvolvimento sustentável.
Na região paulista produtora de uvas de mesa, os fazendeiros não têm esses inconvenientes, pois se trata é um território evoluído, adiantado, progressista, rico, porquanto ali não mais existem passarinhos. Aliás, nem árvores onde poderiam construir seus ninhos para procriar.

É assim que o planeta vem sendo destruído. Cada um fazendo a sua parte. Primeiro o homem elimina os danosos passarinhos; depois o desequilíbrio ambiental elimina os superdanosos homens. Segundo informações dos cientistas, há atualmente 15.501 espécies vivas em perigo de extinção. Esses dados não são corretos. Esqueceram de incluir a espécie humana. Somos 15.502 espécies vivas em perigo de extinção.
Bom proveito na degustação desse cacho de uva. Que ele lhe faça bem à sua saúde corporal e ao seu espírito.

3 Comentários:

Às 27 de dezembro de 2008 às 14:40 , Anonymous Anônimo disse...

Meu admirado amigo Gomide:
Em comum, temos idades em que pouco ou nada temos a perder além da aspiração de ver alicerçado o caminho da vida em segurança para aqueles que darão continuidade à nossa espécie e das demais que a ela sustentam. Esse é o nosso ideal comum, porém o contemplamos por pontos de vista distantes e identificamos caminhos diferentes. Não podemos precisar qual dos dois é mais curto e eficiente. Diante do holocausto dos passarinhos mineiros, não posso deixar de ressuscitar o triste fim de uma espécie de macacos baianos em nome do progresso:

“CACAU DE MACACO”
Quem já visitou a região cacaueira do sul da Bahia não pode ter deixado de ouvir a expressão “cacau de macaco” que, a fundo, conta a seguinte história: “o cacaueiro é de origem mexicana e, transplantada para o Pará não fez grande sucesso. Daí, trazida por migrante para Ilhéus e plantada em quintal, surpreendeu a pujança de sua “produtividade” e a boa qualidade dos frutos. Ocorre que a região era habitada por uma espécie de macacos, cujo nome não consigo me recordar, que adorou os frutos e os roubavam para saborear o néctar que envolve as bagas, nas áreas mais ermas das florestas virgens. Os caroços eram atirados aleatoriamente por toda parte à sombra de árvores seculares que haviam testemunhado a chegada dos portugueses descobridores do país. Note-se que o cacau é uma planta sombreada, extremamente exigente quanto à qualidade do solo e, principalmente, a climática.
Com a expansão do consumo o chocolate na Europa e nos Estados Unidos, a procura pelo cacau fez valorizar as terras onde os macacos haviam plantado seus cacauais; e a disputa entre grileiros, posseiros e fazendeiros tornou-se acirrada, emoldurando com sangue a história da região. As terras deixaram de ser vendidas por extensão territorial em hectares, alqueirões ou tarefas, mas pela capacidade de arrobas de cacau produzida anualmente. Não eram mais fazendas com 100,200,1.000 hectares; mas com 1.000, 5.000, 10.000 arrobas. (de cacau anuais).
Mais vermelha, ainda, foi a história dos macacos cacauicultores que, com a expansão de suas atividades agrícolas e a fartura alimentar, super populacionaram a região e o seu consumo fazia diminuir o botim dos conquistadores humanos que, como os caçadores do norte de Minas eliminam os passarinhos comedores de uvas, no sul da Bahia, extinguiram a espécie dos macacos plantadores de cacau; e, o governo criou uma instituição (CEPLAC) para ensinar os novos agricultores a plantar o cacau ordenadamente, de formas mais lucrativas, sombreando-os com bananeiras, que oferecem subprodutos comerciáveis, liberando para o abate as tradicionais florestas compostas de valiosas madeiras.
A história comercial do mundo está repleta de histórias como a dos passarinhos mineiros e dos macaquinhos baianos. Vejam a história dos borracheiros na Amazônia e tantas outras no mundo. Todas elas estão entrelaçadas a uma sub causa: o crescimento populacional do mundo; porquê: incentivado por interesse do aumento de consumo de bens produzidos com formas de energia concentradas pela natureza durante muitos milhões de anos (combustíveis fósseis) e cuja dinamização custou um mínimo de esforço humano dos poucos agraciados pelo sistema. Se não tivesse havido a expansão dos mercados, alicerçados pelas facilidades de condicionamento, conservação e transportes, ainda mesmo que alguém tivesse introduzido o plantio de uvas em Minas, os danos causados pelos passarinhos representariam poucos prejuízos; os macaquinhos baianos extintos, teriam continuado a saborear os frutos de seus trabalhos naturais balouçando-se na galharia da Mata Atlântica preservada.
Todos nós, nos habituamos a comentar fatos reais, presentes, vistos, sentidos e ouvidos; mas, poucos são os que se detêm para investigar as causas dos fatos em profundidade. Levar em consideração que as causas dos fenômenos de hoje, foram fenômenos de outras causas anteriores; e que estes causaram, também, outros fenômenos correlatos que têm que ser considerados. É esta curiosidade que sinto ausente dentro da formação cultural de hoje. Cada indivíduo procura olhar para frente em busca de melhores oportunidades para ganhar mais, seja dinheiro, poder, prestígio, etc.. Poucos são capazes de olhar o retrovisor “do tempo” em busca do entendimento do porque somos o que somos, e porque estamos onde estamos.
Considerem que “o que somos, o que temos, o que sentimos, o que vemos e ouvimos são formas de energia em diferentes velocidades, intensidades e freqüências combinadas entre si.”. Matéria é energia concentrada, assim como energia é matéria dispersa em variados níveis de vibração”. Tudo que consumimos ou usamos, consumiu diversas e variadas formas de energia luminosa, elétrica, calorífica, dinâmica, etc. para produzi-los, condicioná-los, embalá-los, transportá-los, conservá-los, etc. e, ainda, nos casos de eletrônicos, eletrodomésticos, máquinas e veículos, continuamos consumindo várias formas de energia para fazê-los funcionar. Como a principal fonte de energia limpa, a hidráulica, está, praticamente esgotada no mundo, a eólia e a solar ainda, têm custos de instalação muito elevados, assim como as renováveis, biocombustíveis, e a maior parte da energia, em todas as suas formas, derivam da queima de combustíveis fósseis cujos poluentes liberados na atmosfera em mais de duzentos anos, desequilibrou o clima e efeitos negativos já comprometem a nossa própria existência. A humanidade para preservar a vida como um todo, tem que reduzir o seu consumo supérfluo global e, para tanto, é necessário que os mais esclarecidos deixem de se preocupar com o destino dos macaquinhos baianos, os passarinhos mineiros, com a desertificação de determinadas regiões, com as alterações das correntes aéreas e marinhas, a sobrevivência de ursos polares e tantas outras estórias que, apenas servem para distrair os incautos na contemplação dos problemas-efeitos, o que lhes inibe o interesse para identificar e remover os problemas-causa, ainda atuante sobre seus efeitos atuais. É como fazer volumosas transfusões de sangue em paciente no qual não se estancou a hemorragia.
No meu ponto de vista a saída para a sobrevivência da humanidade é evitar o consumo supérfluo, que disponibiliza de variadas formas de energia, já que o consumo necessário para atender a demanda atual, excede, em muito a capacidade de dinamização das limpas e renováveis.
Minha eterna admiração e forte abraço do amigo,
Antídio

 
Às 28 de dezembro de 2008 às 07:27 , Blogger Maurício disse...

Valioso Antídio,
A história dos passarinhos (que é História), é apenas um pequeníssimo fragmento de uma fração de uma microscópica amostra de um grão de areia, para que o leitor, na sua capacidade mental de relacionar causa-efeito, tenha uma visão de como se forma uma praia oceânica. Îsso você comprendeu e acrescentou outra amostra, a dos inocentes macacos. Como você bem disse, há uma infindável correlação de causa-efeito histórica que atualmente se apresenta no palco real da vida, ascendendo ao consumo frívolo e irracional.
Tal consumo - termo da equação civilizacional - não é manifestação expontânea e natural, mas representa ação do conjunto de humanos. Imaginariamente, podemos reduzir tal dispêndio em 50%. Basta reduzir em 50% o agente gerador desse descalabro. Esse é um raciocínio simplista; apenas para dizer que “tem gente demais neste planeta”.

 
Às 28 de dezembro de 2008 às 08:34 , Anonymous Anônimo disse...

Caríssimo Gomide:
Tanto o caso dos passarinhos mineiros, como a dos macaquinhos baianos e dos borracheiros da Amazônia, são histórias; no entanto, classifico como estórias estas contadas e ampliadas pela mídia como sensacionalismo e por ambientalistas exagerados para ressaltar o perigo que ronda suas metas.
Que “tem gente demais no planeta”, sabemos nós; no entanto, como descartar uma parte da humanidade, em nome da sobrevivência da outra? Deixando que o poder dominante provoque uma guerra nuclear destruindo, indiscriminadamente, uma parte dela, ficando a sobrevivente comprometida física e mentalmente por radiações e outras graves conseqüências? – ou tentar a introdução de um amplo processo de conscientização da realidade entre os ambientalistas, para que estes estendam aos demais membros da sociedade humana e, daí, a adoção de programas de controle e de “seletividade” da natalidade para ajustar as populações aos recursos naturais disponíveis?
Espero que outros leitores opinem.
Receba meu fraternal abraço,
Antídio

 

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