COB 15 - A VERDADEIRA DIMENSÃO
A tendência no acordo de desencontros em Copenhague está indicando a mesma solução de todas as reuniões ambientais: adiar o assunto para a COP 16, depois para a COP 17, e assim por diante, até o dia em não haverá condições de retorno. Esse o epílogo que estamos enxergando para um assunto tão sério. Aliás, esse não é assunto tão sério assim. É simplesmente um assunto vital.
Fora o desentendimento sobre dinheiro, vê-se que a desorganização da conferência é total. Como pode um país tão evoluído como a Dinamarca montar uma reunião com mais de 20.000 credenciados? A única explicação que encontramos é a de que esse estratagema foi de caso pensado. Justamente para que não houvesse entendimento das partes. Ora, como sabemos, um acerto entre duas pessoas já é difícil, imagine-se entre vinte mil. É bom lembrar que a reunião de Copenhague já vinha sendo preparada há um ano. Só do Brasil foram convidados e credenciados 725 pessoas, verdadeiros palpiteiros ou interessados em fazer daquele palco um objetivo eleitoral. Outros países enviaram uma representação bem menor, os mais importantes com 200 pessoas mais ou menos, o que já é demais.
Até governadores de Estado foram convidados. Para quê? Para ajudar a tumultuar e aparecer com fins políticos. Os gemidos do planeta, ninguém ouve. Mas isso também não é importante. O relevante é aparecer e dar palpites insinceros, hipócritas e falsos. O nosso presidente está, enganosamente, sendo ouvido por governantes importantes. Sim, ele fala, fala, mas aqui no Brasil, nós é que sabemos o ele faz, faz e faz. Legaliza o desmatamento, isenta de impostos diversos itens não essenciais para que haja incremento no consumo, última etapa de um processo industrial altamente prejudicial ao meio ambiente. Estimula os investimentos e procedimentos do desenvolvimento econômico. Tudo isso é o avesso dos objetivos da COP 15. A ministra Dilma, que não entende nada de recursos naturais, não teve momento falho quando disse que o meio ambiente é obstáculo ao desenvolvimento. Isso é exatamente o que ela pensa, pois está condicionada a que o desenvolvimento é muito mais importante que o meio ambiente. Assisti na TV um “cientista climatologista” dizer exatamente o mesmo. O Bush, quando na presidência dos EE.UU. fez a mesma afirmativa e foi honesto pela primeira vez. Não assinou o Protocolo de Kyoto dizendo que defender o ambiente é o mesmo que paralisar o desenvolvimento. Convenhamos, quando a pessoa só enxerga desenvolvimento e lucros, esse assunto de meio ambiente só serve para atrapalhar mesmo. Essas ações constituem processos antípodas. Os governantes atuais são incapazes de entender que tudo, mas tudo mesmo – até a vida humana –, no planeta Terra depende do equilíbrio ambiental, sendo este mais importante que o desenvolvimento. Pois é isso aí: há pessoas inteiramente cegas para o ecossistema. E, quando o indivíduo é cego, não pode chefiar uma delegação em reunião internacional de vesgos, principalmente quando tem objetivos eleitorais.
Pelo que estamos percebendo, a reunião de Copenhague é um circo montado para um faz-de-conta em que todos os governantes representam seus trejeitos de fantoche, presos a cordéis manejados à distância pela estrutura econômica, os verdadeiros donos do poder.
Recentemente, um diretor da Alcoa, conhecida mineradora de capital internacional, justificando as atividades de extração de bauxita em Juruti, Pará, disse que a empresa vai investir na região 80 milhões de reais que serão aplicados em saúde pública, instalações judiciárias, educação, capacitação profissional, combate a epidemias, infraestrutura urbana, saneamento básico. Isso é apresentado como benefício regional que a exploração mineradora verterá em compensação às devastações ambientais, devidamente autorizadas pelos órgãos federais, estaduais e municipais. É uma espécie de corrupção na engrenagem econômica dos governantes, pois tais vantagens são de responsabilidade constitucional dos governos. Se a entidade privada paga esses serviços, está havendo uma troca de favores em que a vítima é o indefeso meio ambiente. Este é apenas um exemplo entre diversos outros. Isso é uma ação concreta, real.
Paralelamente, os nossos governantes e ministros fazem belos discursos em Copenhague em defesa do ambiente. Como é que pode? Pode, sim. É que ação é ação e pronto. Palavras... o vento leva para bem longe. Já houve o tempo em que palavra valia muito. Hoje não vale absolutamente nada, principalmente de político.
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