DINHEIRO SERÁ JUIZ EM COPENHAGUE
Como sempre, o dinheiro é o pomo da discórdia. Segundo as informações chegadas até agora, os países ditos pobres estão interessados é no dinheiro que podem obter dos chamados países ricos por compensação a medidas ambientalistas nacionais. Estes prometem, sob diversas condições maleáveis, valores monetários considerados ridículos. É a fome dos que querem aproveitar o pretexto para receber muito, e a ganância ilimitada dos que se agarram às riquezas acumuladas. Parece que o dinheiro é que está em discussão e não as opções de viver ou morrer. O material sonante será o juiz apaziguador nessa arena de cegos, néscios e irresponsáveis, que deixará todos satisfeitos no final. A COP 15 se transformou numa grande mesa de negócios, em obediência ao impulso estabelecido pela cultura econômica.
Não há visão de conjunto, de âmbito coletivo, nem ouvidos atentos para ouvir os gemidos desesperados da mãe Terra. Pelo progresso materialista, que rende lucros, sacrifica-se tudo; até a vida coletiva. O certo é que, pelo andar da carruagem e pela experiência de outras mil reuniões ambientais realizadas no mundo, os encarregados pela condução dos destinos da biodiversidade chegarão ao final com um acordo faz-de-conta, longo, retórico, ambíguo, equivalente a nada.
E o caminho do suicídio coletivo terá sido decretado. Porque entendemos que já estamos muito avançados no tempo, restando pouco mais de 10 anos para entrarmos em um quarto escuro inclinado que não possui porta de saída. O meio vital de que precisamos até lá estará tão envenenado e degradado que não haverá condições de retorno. O momento de decisões corajosas, alteração de percurso civilizacional é agora. Agora ou nunca mais.
Uma amostra da realidade que nenhum dinheiro compra vem da nação chamada Tuvalu, na Polinésia, formada por atóis que somam 26 Km², abrigando uma população de 10.000 habitantes. Seu clamor é sintetizado pela informação de que a subida média do oceano de 30 centímetros está submergindo suas áreas e que o vislumbre aponta para seu total desaparecimento em breve. E não é somente esse país que está sofrendo na pele as conseqüências da tragédia ambiental. O Japão, por ser insular, também acusa fatos reais dessa espécie. A Austrália pressente risco maior porque está passando por situações também reais de desequilíbrio ambiental. Nesse último verão, registrou temperaturas estabilizadas de 44º C. e vê o maior recife de coral do mundo ser progressivamente destruído. São pequenos casos localizados. O caos geral, completo, absoluto está programado para todo o planeta.
De certo modo, os países ricos têm razão em sua negaça de dinheiro. Consideram que as imposições não passam de chantagem e que suas próprias medidas administrativas nacionais, advindas de posições favoráveis ao ambiente, produzirão prejuízos internos às suas corporações, os quais serão cobertos pelos próprios governos. Essas corporações, representadas pelos governos nacionais, concordam com qualquer coisa, desde que não prejudiquem suas ambições materiais. Mas, no momento do caos global, os ricos perecerão abraçados a seus dólares e bens fúteis que, na hora, de nada lhes valerão.
Diz um ditado antigo que “em casa em que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”. O mundo ainda não está com falta de pão, mas o exemplo de Tuvalu indica que essa possibilidade é bem visível.
A torre de Babel montada em Copenhague , onde reina um vozerio dissonante de 192 países – cada um com sua proposta –, põe à mostra a urgência de uma governança mundial para que decisões concretas sejam imediatamente tomadas em função do interesse ambiental. Mas essa oportunidade será levada para o infinito pela sedução refrescante do dinheiro. Tempo perdido é tempo que nunca será recuperado. Nem com dólares.
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