sexta-feira, 11 de novembro de 2011

AS CRISES FINANCEIRA E AMBIENTAL

 
Autor: Mauro Velado Neto

  Estamos assistindo, nessa vertente de 2011, as ocorrências de desajustes sociais provindos de excrescências econômicas do sistema imperante no globo. As manifestações das camadas inferiores do povo se generalizaram e são mais significativas na Grécia, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos da América, que vêm tomando vulto crescente.

  É de se admirar que haja uma ira comum a diversas pessoas prejudicadas pelas incoerências do sistema capitalista. Elas, agora – somente agora – estão percebendo que o sistema em que vivem é injusto. Por que só agora estão enxergando o óbvio? Porque as conseqüências negativas do arranjo econômico estão batendo diretamente em seus confortos e necessidades vitais. É o egoísmo ferido; é o individualismo prejudicado. Quando tal situação se apresentava apenas aos povos da África, aos subjugados pelas ditaduras “amigas” e aos miseráveis e incultos esparramados pelos diversos países, essas injustiças alheias e distantes não lhes afetavam a sensibilidade. Conviviam tranquilamente com as injustiças e crimes do sistema, imperturbáveis em seus privilégios econômicos.

  Agora as benesses próprias do sistema distributivo injusto estão se contrapondo à lógica de que não existem milagres. Esperava-se essa etapa, pois a ganância individual é infinita e, sob pena de se contradizer, não pode ser distribuída a todos. Se alguns têm mais, alguém tem que ter menos. Nem que seja o prejudicado e exaurido  planeta. Daí a gravidade da espoliação ao planeta em seus recursos e meios ambientais.

 Chamamos a atenção do leitor para o fato de que o momento da verdade ambiental ainda não chegou, sob o aspecto da evidência. Haverá um momento, no entanto, que os abusos e irracionalidades praticados pelo atual civilização contra sua mãe-Terra, afetarão concretamente os interesses e confortos de todos nós. Nessa etapa não poderemos fazer greves, arruaças, movimentos contra nós mesmos, pois somos os causadores malignos de nossa própria desgraça. Mas há um último recurso: chorar, chorar e chorar.  

  É preciso que o povo de um país tome consciência de que todo o dinheiro (riqueza) nacional pertence aos seus habitantes. Quando um governo dá certa quantia inteiramente de graça a um banco, está desviando um bem que pertence ao povo para uma entidade (ferramenta) dirigida por privilegiados banqueiros que nunca choram; sempre sorriem.

Por que os governos fazem isso? Porque o sistema econômico é assim, injusto, criminoso, maléfico. Mas, como e por quê? Os bancos são o instrumento ou a ferramenta cuja função é, sem o povo perceber, arrecadar o dinheiro social e transferi-lo, “emprestado” ao governo.

 Recentemente, os países fortes da Europa acertaram um acordo financeiro para pôr fim à crise do euro. Por esse ajuste, os bancos credores da Grécia aceitaram reduzir a dívida da espécie em 50%. Isso, em outras palavras mais claras, significa que a aceitaram parcialmente o calote grego. Aceitaram porque não havia outra saída para a situação. Com isso, na verdade eles apenas adiaram o desfecho caótico de seu sistema financeiro.

 Mais tempo à frente e vamos ver que aquele país insolvente só tem uma solução: calote total e, como conseqüência, a bancarrota do euro, o que arrastará consigo todo o sistema financeiro mundial, inclusive o dólar. Isso é simplesmente o caos de um arranjo mundial baseado em que seu funcionamento se assenta no crescimento perpétuo.

 Como funciona o sistema financeiro capitalista? Resumidamente, a mágica se baseia na existência de bancos. Estes são a ferramenta   que engraxa a máquina e sustenta o funcionamento dos governos. Concretamente, o procedimento segue a receita mestre. Consiste em que os bancos, mediante diversos artifícios, sugam do povo todo o seu dinheiro e o “emprestam” a juros baixos ao governo. Os artifícios são os seguintes: poupança, depósitos diversos, transferências, aplicações financeiras, cheques, cartões de crédito, e qualquer ato que implique em recolhimento de dinheiro.

 Esse dinheiro todo é “emprestado” ao governo, a baixos juros e por prazo geralmente longo. Quando a dívida vence, o governo faz outro “empréstimo” no valor do anterior, acrescido dos juros, e, dessa forma, paga o anterior. E assim procede sempre. Já dizia o antigo Ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen que “dívida do governo não se paga; rola-se”. Quer dizer: o banco empresta um tanto uma vez só. Depois, o banco finge que torna a emprestar, e o governo finge que paga. Quando um banco, por qualquer motivo, ameaça ir à bancarrota, o governo dá-lhe dinheiro de graça para evitar que ele quebre.  Note-se que, a rigor esse dinheiro doado não é do governo; é do povo. Claro que é assim. O governo iria deixar morrer suas galinhas de ovos de ouro?

 Na Grécia, Itália, Espanha e Portugal gastou-se com futilidades, acima do razoável, e as dívidas alcançaram níveis adequados à cabeça de um louco. Como, na Europa, o dinheiro é comum a diversos países, a situação saiu fora de controle. Só há um caminho para a regularização desse caos:  deixar o país quebrar. De quem é o prejuízo? De todos, proporcionalmente às suas riquezas. Quem tem mais, perde mais. Quem tinha mais que o necessário para viver (os investidores) irá perder o que não lhe fazia falta.  É um desiderato lógico: só perde quem tem. 

 Os atuais governantes não têm competência e coragem para enxergar que o planeta é um sistema fechado. Isso é condição suficiente para que essa imensa sociedade humana de 7 bilhões produza um efeito fermentativo e gasoso que redunda mais adiante em explosão vivencial.
Fonte: Folha Brasil Central


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