domingo, 28 de agosto de 2011

CRISE TERMINAL DO CAPITALISMO?


 Leonardo Boff, teólogo e filósofo

"Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural.  É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.

A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto dele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia em direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital,passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão:o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade.  As vítimas, entrelaçadas por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças  que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentitentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada, a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mai se mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

As ruas de vários países europeus e árabes, os “indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: “não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumo-sacerdotes do capital globalizado e explorador.

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as conseqüências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou,castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas."

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com

                                  Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/








2 Comentários:

Às 3 de setembro de 2011 às 11:31 , Blogger ira disse...

Meu caro Maurício,falando de meio ambiente,gostaria de saber porque este governo brasileiro que grita em alto e bom som que a amazonia é nossa,não faz e nem quer saber de nada sobre o desmatamento acelerado da dita amazonia brasileira
É notório que,quanto mais pastagens menos floresta.
Que me dizes a respeito ??

 
Às 3 de setembro de 2011 às 16:00 , Blogger Maurício disse...

Muito simples, caro Ira. Os chamados governos, nada são que os representantes do sistema econômico. Daí, tudo o que têm a declarar se torna uma hipocrisia. Eles não têm motivação para defender a Natureza, porque isso implica, como consequência, prejudicar os interesses econômicos. Seria um paradoxo para eles.
O mundo ainda não se conscientizou da gravidade dos tempos por que atravessamos. É um período de vida ou morte para a biosfera. Para resolver a questão ambiental de forma concreta, temos que mudar de civilização: abandonar todo o sistema econômico e ingressar no trabalho individual de produção na terra dos bens comestíveis. Porque o mais é pura ilusão. O que vale mesmo é o alimento. Ele é vida. Estamos numa encruzilhada.
Um abraço.

 

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