BERTRAND RUSSELL
“O homem,
sem rudimentos de filosofia, passa pela vida preso a preconceitos derivados do
senso comum, a crenças costumeiras da sua época ou da sua nação, e a convicções
que cresceram na sua mente sem a cooperação ou o consentimento da sua razão
deliberativa. Para tal homem o mundo tende a tornar-se definitivo, finito,
óbvio; os objetos comuns não levantam questões, e as possibilidades incomuns
são rejeitadas com desdém.
Pelo contrário, mal começamos a filosofar,
descobrimos (…) que mesmo as coisas mais quotidianas levam a problemas aos
quais só se podem dar respostas muito incompletas. A filosofia, apesar de não
poder dizer-nos com certeza qual é a resposta verdadeira às dúvidas que
levanta, é capaz de sugerir muitas possibilidades que alargam os nossos pensamentos
e os libertam da tirania do costume.
Assim, apesar de diminuir a nossa sensação de
certeza quanto ao que as coisas são, aumenta em muito o nosso conhecimento
quanto ao que podem ser; remove o dogmatismo algo arrogante de quem nunca
viajou pela região da dúvida libertadora, e mantém vivo o nosso sentido de
admiração ao mostrar coisas comuns a uma luz incomum.”
Bertrand
Russell (1912) Problemas da Filosofia. Trad. de Desidério Murcho.
Lisboa: Edições 70, 2008, pp. 216-217.
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