quarta-feira, 6 de maio de 2009

DE ONDE VEM MEU SALÁRIO

Suponhamos, numa demonstração teórica, que sou uma secretária executiva. Pelo trabalho de 8 horas que executo – digitação, relatórios, traduções, atendimento a diretores, telefonemas – recebo o ordenado de 2.000,00 mensais. Até aí, tudo bem; estou inserida na estrutura social vigente, baseada em atividades econômicas, o que é considerado normal pela cultura vigente. Deixemos para lá diversas considerações que poderíamos tirar dessa situação, sob os aspectos políticos, sociais, econômicos. Vamos analisá-la em foco diferente, para onde nos conduz a curiosidade.
De onde vêm os 2.000 reais? Dirão alguns que a origem é a Casa da Moeda, órgão governamental encarregado de imprimir as cédulas do país. Não. Não me refiro ao seu aspecto material, mas à sua representatividade. O dinheiro nada mais é do que um material representativo de bens Que bens são esses? Todos os produzidos pelo país: panela, relógio, feijão, etc. Uns são produtos extraídos da terra (mineradoras) e transformados em bens acabados; outros são produtos primários, básicos, dados de graça diretamente pela terra para sustentação da vida.
No raciocínio que se segue, não podemos equiparar os 2.000 reais a 50 quilos de óxido de alumínio ou 200 gramas de ouro. Simplesmente porque, na essência, esses bens não são comestíveis; não são básicos. Por isso, para melhor entendimento do verdadeiro valor do ordenado da secretária, devemos representá-lo por algo real, básico, essencial, vital, comestível, com avaliação universal. Por escolha, vamos dizer que a secretária recebe por mês 40 sacos de feijão. E, na realidade, ela recebe seu ordenado em feijão. Nessa mesma equivalência, todos nós recebemos nosso salário em feijão. Só que não temos consciência disso; nem a secretária. No correr do mês, ela faz, inconscientemente, um escambo. Troca parte do feijão por frações de arroz, molho, carne, trigo, óleo, etc. E, no final, sobra muito feijão. O que ela costuma fazer? Troca essa sobra por sapato, baton, brinco, gasolina, diversão, conforto, e demais produtos transformados. Serviços de terceiros também. Mas considere-se que tal item nada mais é do que energia de terceiros, tais como manicura, condução, empregada doméstica. O patrão dessa secretária está lhe pagando com o feijão que ele também recebe. Quando se compra a prazo, promete-se pagar com feijão que ainda vai ser produzido. É o muito usado e prejudicial saque sobre o futuro. Compra-se um sapato fiado, baseado na confiança de que o feijão será plantado e colhido, desviando assim para nosso proveito presente os recursos essenciais pertencentes às gerações vindouras.
Em resumo: todos recebem feijão e o trocam por mercadorias que lhes são necessárias e ainda sobra muito feijão. Essa sobra toda – excesso – é trocada por bens criados pela cultura civilizacional, tais como produtos industrializados em geral, componentes de moda, supérfluos variados, etc. Por quê? Simplesmente porque o consumidor é impelido pelo sistema a satisfazer, compulsivamente, essas “necessidades”, criadas pela mídia em suas diversas facetas. E o crescendo de tais necessidades chegou a um patamar tremendamente absurdo. Há mulheres que compram tanto sapato, bolsa, cremes e outros produtos da espécie que não têm tempo para usá-los. Há homens que possuem vários telefones celulares, gravatas, tênis, coleções de carrinhos e outras quinquilharias, orgulhando-se disso num simples comportamento narcisístico. De tempos em tempos, tais possessivos jogam no lixo uma boa quantidade desses objetos para conseguirem lugar onde pôr novas aquisições. Grande parte da população tem esse vício da cocaína, digo, do consumismo, e não tem a exata percepção de seus maléficos atos. A sobra acima de que falamos, corresponde a uma dilapidação dos recursos planetários, pois são feijões sagrados sugados da terra, exaurindo-a e deixando-a cada vez mais anêmica, de uma forma criminosa e desnecessária.
Dessa digressão sobre a origem de nosso salário, deduzimos que ele é, de modo geral, excessivo demais, pois parte pequena atenderá nossas legítimas e básicas necessidades e a sobra terá destino inglório, prejudicial, criminoso, cuja etapa final é o lixo. É por isso que a humanidade já alcançou 20% além dos recursos máximos proporcionados pela dinâmica de reposição natural do sistema ambiental.
Todos os demais seres vivos da Terra vivem apenas com a parte essencial desse feijão e estabelecem um equilíbrio ambiental sábio e admirável. Por que só o homem é agente de um desequilíbrio ambiental suicida? Muitos dirão: mas o homem não é um animal selvagem; ele tem inteligência e não pode viver só com o essencial. Dizemos: antes de ser inteligente, ele é animal tanto quanto os outros. A única diferença é a posse da inteligência que o torna egoísta, exclusivista e altamente prejudicial aos recursos gerais de subsistência. Entendemos que o instinto é superior à inteligência humana. Porque ele é lógico, justo, equilibrado, universal e advém de uma Inteligência superior à nossa. Com o abandono de quase todos os instintos e a adoção da capacidade intelectual, o homem tornou-se um animal mentalmente doente. E aí, no mundo, pela incoerência de seus atos, está a prova. A inteligência humana nos foi dada para uso correto e não para ser desviado para a adoração de bens exclusivamente materiais e maléficos a todo o sistema natural.
Sabemos que o discurso acima é teórico, filosófico e idealista, mas constitui uma forma diferente de demonstrar o malefício gravíssimo do consumismo.
Nosso salário vem da “carne” de nossa mãe Terra. A continuar assim, breve estaremos roendo seus ossos.

2 Comentários:

Às 20 de junho de 2009 às 09:37 , Anonymous Anônimo disse...

Concordo plenamente breve nossos
ossos estarão sobre a TERRA

 
Às 2 de julho de 2009 às 16:07 , Anonymous Anônimo disse...

É dramático, mas a pura verdade. Já reduzi meu lixo, minha pegada está ficando mais leve. Não como carne, nem peixe, nem frango. Agora vou deixar o leite, o queijo e a manteiga. O lixo já é predominantemente orgânico e biodegradável. Restam ainda algumas embalagens, mas vou nos livrar delas. Caminhando...

 

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