domingo, 19 de julho de 2009

SOMOS IGNORANTES

Por ser esclarecedor e se coadunar com as idéias de Carlos Gabaglia Penna, anteriormente aqui publicadas sob o título “Economistas clássicos e o meio ambiente”, damos a seguir divulgação a um artigo lavrado por Leonardo Boff (www.leonardoboff.com), eminente pensador e assessor da presidência da ONU. O administrador deste blog não endossa inteiramente as considerações do digno articulista, mas considera benéfica e esclarecedora a difusão do foco do artigo: o divórcio entre as teorias econômicas pregadas pelos profissionais da área e as realidades ambientais. Divulgar ao máximo argumentações realistas e inteligentes sobre o meio ambiente é obrigação de consciência de todos os ambientalistas.

Eis o texto:
“Quem teve o privilégio de acompanhar a cúpula dos povos na ONU, de 24 a 26.6, para encontrar saídas includentes para a crise econômico-financeira, vivenciou dupla perplexidade. A primeira, o fato de se ter chegado a um surpreendente consenso acerca de medidas a serem implementadas a curto e médio prazos. A segunda, verificar que tudo se concentrou apenas no aspecto econômico-financeiro, sem qualquer referência aos limites da biosfera e à devastação da natureza que o tipo de desenvolvimento vigente implica. Quer dizer, a economia virou um conjunto de teorias e fórmulas que expertos dominam e aplicam, esquecendo-se de que ele é parte da sociedade e da política, algo, portanto, ligado à vida das pessoas. Era como se os políticos e expertos não respirassem, não comessem, não se vestissem e andassem nas nuvens, e não no solo. Mas, para eles, tais coisas são meras externalidades que não contam.”
“Ao ouvi-los, pensava eu lá com meus botões: quão inconscientes e irresponsáveis são esses políticos, representantes de seus povos, que não se dão conta de que a verdadeira crise não é essa que discutem, a da insustentabilidade da biosfera e a incapacidade de a mãe Terra repor os recursos e serviços necessários para a humanidade. Bem advertiu o ex-secretário da ONU Kofi Annan: essa insustentabilidade não apenas impede a produção e a reprodução, senão põe em risco a sobrevivência da espécie humana.”
“Todos são reféns da economia-zumbi do desenvolvimento, entendido como puro crescimento econômico (PIB). Ora, exatamente esse paradigma do desenvolvimento mentirosamente sustentável do atual modo de acumulação mundial está levando a humanidade e a Terra à ruína. As pessoas são as últimas a contar. Primeiro, vêm os mercados, os bancos, o sistema financeiro. Com apenas 1% do que se aplicou para salvar os bancos da falência, poder-se-ia resolver toda a fome do planeta, atesta a FAO. A mesma FAO advertiu: existem 40 países com reserva alimentar de apenas três meses. Sem uma articulada cooperação mundial, grassará fome e morte de milhões de pessoas.”
“Discutir a crise econômico-financeira sem incluir as demais crises – o aquecimento global, a alimentária, a energética e a humanitária – é mentir aos povos sobre a real situação da humanidade.”
“Temo que nossos filhos e netos, daqui a alguns anos, olhando para o nosso tempo, tenham motivos de nos amaldiçoar e de nos devotar um soberano desprezo, porque não fizemos o que devíamos fazer. Sabíamos dos riscos e preferimos salvar as moedas e garantir os bônus quando poderíamos salvar o Titanic que estava afundando.”
“O Brasil, nesse sentido, é uma lástima. Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo, esse seria o Brasil. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta e as maiores florestas tropicais, tem possibilidade de criar uma matriz energética limpa, mas não acordou ainda. Nos fóruns mundiais, vive em permanente sesta política. Não despertou para suas possibilidades e responsabilidades face à preservação da Terra e da vida.”
“Ao contrário, na contramão da história, estamos construindo usinas à base de carvão. Desmatamos a Amazônia em 1.084 quilômetros quadrados entre agosto de 2008 a maio de 2009. E somos o quinto maior poluidor do mundo. O fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, faltos de senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum.”

3 Comentários:

Às 24 de julho de 2009 às 16:42 , Anonymous Anônimo disse...

Na cidade de
Coronel Murta,MG,não respeitam as árvores típicas como:barriguda,mulungu,cedro,imbura-na,aroeira,gameleira,jatobá...des-matam o "pé" DAS serras e margens
do Rio Jequitinhonha.A CEMIG comprometeu-se a recuperar a mata ciliar e nãocompriu .enquanto isso o rio está sendo asoreado,poluido ainda tem o tratamento de esgoto que não funciona.A usina Irapé é um escândalo!
A exploração minerária segue des-
truindo "sob os olhos" do IBAMA
(Araçuaí e Diamantina).Os responsá-veis?Ajudem!Não deixem que destruam
a vegetação natural!
Proteja nossas árvores centenárias
Nossos animais (parte antiga da Ve-reda).
Ajudem-nos (estamos nas mãos de políticos locais até mesmo do prefeito corrupto ).
Não ás carvoeiras e mineradoras ilegais.
Por favor nos ajude nossa fauna e flora pede socorro.

 
Às 24 de julho de 2009 às 18:57 , Blogger Maurício disse...

O discurso do governo, inclusive de seu ministério específico sobre meio ambiente, é feito para enganar o povo. Na prática, esses ditos poderes estão subordinados ao poder maior e que domina todo o planeta: o poder econômico. O interesse econômico é que decide todas as ações, inclusive as de âmbito estadual.

 
Às 6 de dezembro de 2009 às 17:35 , Anonymous Anônimo disse...

É de se perder o fôlego, de tanto "martelar" em nossos esforços, para tentar conscientizar o mundo sobre a conservação do Planeta.
A revista Superinteressante de Dezembro, pg.23, traz um pequeno anúncio sobre a China,dizendo que desde 1979 o país conseguiu evitar 400 milhões de nascimentos, mas agora o governo resolveu afrouxar essa restrição, em Xangai pode-se ter 2 filhos.
A China não vai mesmo "abrir os olhos"?
Neyde De Martino

 

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