A CRESCENTE E PERIGOSA "ONDA" DE INTOLERÂNCIA E OBSCURATISMO
Autor: Henrique Cortez
[Ecodebate] O noticiário, seguidamente, informa os mais
variados atos de intolerância, no Brasil e no mundo, no que parece ser uma
perigosa e crescente ‘onda’ de ódio e preconceitos. Uma ‘onda’ assustadora, que
pode por em risco nosso futuro comum, ou pelo menos, a convivência pacífica
entre uns e outros.
Seria de se esperar que,
com o advento de um novo século, fosse iniciado um novo período de tolerância e
de respeito ao outro, quem quer que seja. No entanto, lamentavelmente, não é
isto que se observa. Na prática, está evidente o crescimento de uma onda global
de intolerância, de preconceitos e de absoluta rejeição aos que, de algum modo,
são diferentes. Esta ‘onda’ de intolerância é crescente na Europa, no Oriente
Médio, na Ásia e também Brasil.
A cada dia vemos novos e,
cada vez mais, raivosos discursos, textos, artigos, declarações e etc, que são
evidentemente racistas, preconceituosos e intolerantes.
No Brasil, aparentemente,
crescem as posições hostis aos indígenas e quilombolas, aos movimentos sociais
e populares. Não são poucos os que defendem a “erradicação” das favelas, do
controle de natalidade (dos pobres evidentemente) e da criminalização dos
movimentos sociais.
Nas escolas públicas
brasileiras, 87% da comunidade – sejam alunos, pais, professores ou servidores
– têm algum grau de preconceito contra homossexuais. O dado faz parte de
pesquisa divulgada recentemente pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Uma pesquisa feita pelo
Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, em São Paulo, mostrou que 70%
dos homossexuais entrevistados já sofreram algum tipo de agressão. Destaque-se
que, em 2011, foram constatados ao menos 278 assassinatos relacionados à
homofobia.
Mascaramos o nosso racismo
fazendo de conta que somos um país que se orgulha da miscigenação, mas de cada
dez pobres, sete são negros. Uma pesquisa do instituto Datafolha , de nov/2008,
identificou que 93% dos entrevistados reconheciam que existia racismo no
Brasil, mas apenas 3% declararam seu preconceito contra negros. Ou seja, apenas
os outros são racistas…
Ninguém nasce intolerante,
preconceituoso, racista, homofóbico, misógino supremacista, antisemita,
islamofóbico, etc. Estas são atitudes que aprendemos desde o berço, herdadas da
intolerância, aberta ou camuflada, de nossos antepassados. Se não tivermos
capacidade crítica de compreender nossos próprios preconceitos e superá-los,
iremos, certamente, reproduzir o modelo, também contaminando o berço de nossos
descendentes.
Mesmo a intolerância
religiosa está em franco crescimento, sabotando todos os esforços em prol do
ecumenismo e do diálogo interigrejas.
E, aproveitando-se do
ultraconservadorismo religioso, também cresce a homofobia e a misoginia. A
homofobia é óbvia e pública, mas a misoginia é mais mascarada e hipócrita.
Muitas vezes ao destacar a ‘importância’ da mulher no estrito papel de filha,
esposa e mãe, expõe o subtexto patriarcal da manutenção das mulheres em
posições subordinadas ao homem, quer seja esposo, pai ou, até mesmo, sacerdote.
Neste mesmo sentido, como
‘fruto’ da violência machista, mais da metade das jovens entre 16 e 20 anos já
sofreu algum tipo de agressão física ou moral pelos namorados.
Todo intolerante, de
qualquer tipo, é alguém que acredita estar absolutamente certo, do que quer que
seja e, portanto, todos os que pensam ou são diferentes estão absolutamente errados.
Simples assim.
Intolerância e violência
caminham juntos e, por isto, muito sangue já foi derramado a partir desta
lógica perversa e, infelizmente, tudo indica que muito sangue ainda irá correr.
Muitos desafios se
apresentam neste novo século, com destaque para as mudanças climáticas,
aquecimento global, hiperconsumo, esgotamento de recursos naturais, crise
alimentar, refugiados ambientais, etc.
São desafios globais, que
devem ser enfrentados por todos indistintamente e, mais do que nunca,
precisamos uns dos outros, valorizando o que nos une e desprezando o que nos
distancia. É preciso, mais do que nunca, romper com a visão maniqueísta do nós
versus os outros.
Se não nos esforçarmos para
sermos melhores do que nossos antepassados, os novos desafios deste século
serão muitos maiores e mais poderosos do que todos nós.
Fonte: Ecodebate
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