domingo, 2 de março de 2008

O INDIVIDUAL E O COLETIVO

O eminente ambientalista Santaum expôs em seu blog uma situação paradoxal que é a constituída pelo que os ambientalistas pregam e pelo que praticam. Aventa ele que o raciocínio do ambientalista se dirige sempre ao coletivo, fazendo recomendações ecológicas que não são seguidas pelo próprio. Notamos que se louva ele na pessoa do ambientalista atualmente em evidência, o Sr. All Gore que, pessoalmente, despende uma soma considerável de recursos naturais para manter uma vida plena de confortos e esbanjamento.
Fica ele na dúvida: “Como o individual vai conscientizar outro individual se um outro individual consome um absurdo? De que adianta para aquele individual abdicar do seu conforto material e terreno se outro individual pouco se importa com isso? Gasta, consome e consome?”
É procedente e altamente lógica sua pergunta. Fizemos uma análise dessa situação incoerente e, depois de longa reflexão, encontramos uma explicação. Baseei minha pesquisa em meu próprio procedimento. Coloquei-me na mente do Santaum e analisei com isenção o paradoxo da situação. Tenho apresentado fartamente argumentos, indicando que a vida superior do planeta está na iminência de entrar em colapso por culpa das atividades econômicas do homem (inclusive eu). Já medi minha pegada ecológica, que deu 2,8 ha./pessoa, ante a média mundial de 1,8 ha./p. A média dos EE.UU., a maior apurada entre os 192 paises, é de 10,4 ha./p. Esclareço que “pegada ecológica” é o resultado de um cálculo matemático pelo qual se apura o espaço terrestre necessário do que se consome e os resíduos que gera.
Na análise que procedemos, verificamos que o fato de eu existir gera desgaste ao planeta acima dos recursos naturais renováveis. Num exame pessoal, confesso que contribuem para isso os seguintes fatos: possuo e uso um automóvel, uma geladeira, um liquidificador, um computador, uma lavadora e secadora de roupa, um televisor, um DVD, 2 telefones, iluminação domiciliar, móveis de madeira. São objetos de consumo para conforto, inteiramente dispensáveis numa situação emergencial como a atual. Se eu os destruir, em consonância com os interesses ecológicos, serei por todos, inclusive familiares, considerado um louco, um excêntrico, um extravagante. Nesse caso, eu teria que me isolar da sociedade e família, tornando-me um eremita, numa situação inteiramente inútil para defender a Natureza. Se esses raros ambientalistas assim procedessem, todos nós formaríamos, no conjunto social, uma classe de parias.
Seriam pensamentos, atitudes, considerações, fundamentos do individual que nada influenciariam no coletivo. Um coletivo básico – família –, digamos de 10 pessoas, recebem ordem, diretriz, coerção, exemplo, norma, mando, de um chefe, o pai de família. Nesse caso, prevalece um procedimento coletivo da família e uns indivíduos não se constrangem nem se deslocam socialmente de outros indivíduos. Há uma unanimidade de conduta.
Nessa ordem de idéias e raciocínio, eu destruiria meus bens citados ao mesmo tempo em que veria os demais individuais proceder da mesma forma. Resultado: ficaríamos todos inseridos numa sociedade sem bens, porque todos teriam o senso da identidade existencial. Mas para isso teríamos que seguir os comandos de um maestro.
Sem a existência de uma autoridade mundial, forte, incisiva, determinada, a cultura da individualidade não se desenvolve rumo à cultura da coletividade. Este o motivo por que nos batemos pela criação de um governo global, que é o primeiro passo para socorrer o planeta.
Esta é uma síntese de arrazoado, porque o assunto é suscetível de ser desenvolvido em diversos afluentes, mas sempre desaguando na necessidade de um coletivo absurdamente enorme conduzido por um único maestro. Já dizia Fayol que o princípio básico de uma administração é a unidade de comando. Isso é perfeitamente observado em assunto militares. Por que não aplicá-lo ao planeta nessa situação de emergência?

10 Comentários:

Às 2 de março de 2008 às 14:08 , Blogger Helena Rezende disse...

O que você prega é uma atitude radical. Também concordo com a possibilidade de um governante global: mas qual seria a tendência?
Progressista, retrógada ou conservadora.
Sempre fui moderada, sei que os fatos atropelam as atitudes incipientes, mas também, não temos como parar de viver, e viver significa habitar, trabalhar, estudar, vestir, comer, dormir...e tudo isto tem um custo, ambiental.
O que precisamos fazer, é reduzir drásticamente as nossas "necessidades", trabalhar os nossos municípios num sentido mais coletivo - transporte urbano, por exemplo.
Chamar as nossas indústrias para o nosso grupo e trabalharmos as possibilidades de redução, se não puder paralização do processo poluidor.
Cuidar com os nossos produtores rurais sobre os defensivos, transgênicos de toda a ordem, irrigações exageradas, desperdícios.
Cuidar do nosso povo para que tenha mais consciência ecológica e não desperdice e nem polua.
Vamos à luta!
Um abraço fraterno, Helena Rezende

 
Às 3 de março de 2008 às 07:55 , Blogger Ivo S. G. Reis disse...

Já comentei este artigo do ilustre companheiro Gomide no meu blog, o Debata, Desvende e Divulgue! ( http://debatadesvendeedivulgue.com/blog) e volto a fazê-lo aqui.

De fato, há uma grande distãncia entre o que alguns ambientalistas pregam e o que fazem, na prática. Mas isto nem sempre se dá porque eles sejam desprovidos de "consciência ecológica", e sim pela impraticabilidade de, individualmente, fazerem exatamente aquilo que apregoam, sob pena de serem considerados loucos ou excêntricos.

Entendo que determinadas medidas de preservação ambiental só são possíveis quando há uma consciência coletiva ou união de grupos, o que raramente ocorre.

O erro nosso, os ambientalistas, é o protesto diversificado, sem união. Enquanto não nos organizarmos e não nos unirmos, ficaremos recomendando, no coletivo, aquilo que, no individual, nem nós mesmos conseguimos fazer.

Pensem nisso!

 
Às 3 de março de 2008 às 10:04 , Blogger Maurício disse...

Cara Helena,
Não se trata de ser ou não radical. A ameça de caos planetário é real. Logo temos que buscar solução emergencial, isto é, solução urgente, efetiva, sem cuidados protocolares, éticos, democráticos, etc. Se sua casa estiver dando sinais de incêncio, eu a invadirei, arrombarei portas, quebrarei vidraças, num ato desesperador de combater o mal o mais rápido possivel, porque depois de certo avanço do fogo, não terei qualquer condição de agir.
Numa emergência, faz-se de tudo, até de uma loucura. Dai os casos inexplicáveis de herois.
A criação de governo mundial é apenas o primeiro passo. Tal governo não pode ser progressista nem retrógrado nem conservador. Tem que ser realista, efetivo, racional. Leve-se em conta que tal governo deverá ter um OBJETIVO que é o objetivo de defender o planeta e não os animais chamados humanos.
Em tal mister, tal governo passará por cima de qualquer consideração humana. Isso que estou falando se comporta mesmo é na área filosófica, mais especificamente no raciocínio lógico.
Minha cara Helena, o assunto é longo e requer abordagens sobre diversos temas e o nosso espaço aqui é pequeno.
Uma questão é fundamental: há males sendo causados ao habitat.
Solução: removam-se as causas. Tudo no Universo se resume a causas e efeitos.
As ações que você sugere, são apenas paliativas. Ante a imensidão do problema, elas são nada. Não leve a mal minha franqueza. Mas não posso deixar de ser autêntico, sincero, leal.
Aguardo suas noticias sobre o livro que lhe ofertei. Juntamente, enviarei outro que lhe será de muita valia na área filosófica.
Às suas ordens
Maurício

 
Às 3 de março de 2008 às 19:56 , Anonymous Anônimo disse...

Primeiramente, obrigado Mauricio por estender esse assunto.


Eu ainda continuo na minha eterna interrogação... No meu eterno paradoxo... Quero dizer, como trabalhar nessas pequenas possibilidades de "reduzir drasticamente nossas necessidades" se outros não farão isso? Como abdicar do meu conforto se ou outro não fará isso? Como subir 6 andares de escada se meu vizinho sobe de elevador no primeiro andar? E numa eventual situação contrária?

Mauricio, sua posição, na minha opinião, é bastante relevante. Não é uma atitude radical, mas é um enorme desafio para se tornar realidade um governo global. E como! Sem ser pessimista, acho difícil que isso irá acontecer, apesar de acreditar muito e defender essa possibilidade de um coletivo.

O que se torna conflitante são as diferenças individuais que citei acima.


P.S.: A Helena é quase minha vizinha aqui (moro em Campinas-SP, hehehe).

Grande abraço a todos.

 
Às 5 de março de 2008 às 22:52 , Anonymous Anônimo disse...

De Arivelto Luna
Caro Mauricio, prepare-se para a tribulação, não há como evitar.
Conscientização com atitudes é para uma minoria absoluta.
Se já é difícil buscar a conscientização de uma minoria, imaginem buscar dessa mesma minoria atitudes práticas para mudar o mundo.
É preciso conhecer melhor as atuais deficiências humanas para ampararmos nossas expectativas. Por exemplo: a maioria dos fumantes está consciente de que fumar faz mal, mas continuam fumando enquanto a saúde vai bem e só tomam uma atitude quando conscientes de que estão morrendo. Vocês poderão até conquistar a conscientização de uma boa parcela, mas será impossível obter qualquer resultado prático significativo antes do período de agonia da maioria, momento em que será tarde demais. Iremos enfrentar uma dolorosa transição para restabelecer a nossa sustentabilidade, pois jamais iremos contar com a atitude da maioria.

 
Às 5 de março de 2008 às 22:52 , Anonymous Anônimo disse...

De Arivelto Luna
Caro Mauricio, prepare-se para a tribulação, não há como evitar.
Conscientização com atitudes é para uma minoria absoluta.
Se já é difícil buscar a conscientização de uma minoria, imaginem buscar dessa mesma minoria atitudes práticas para mudar o mundo.
É preciso conhecer melhor as atuais deficiências humanas para ampararmos nossas expectativas. Por exemplo: a maioria dos fumantes está consciente de que fumar faz mal, mas continuam fumando enquanto a saúde vai bem e só tomam uma atitude quando conscientes de que estão morrendo. Vocês poderão até conquistar a conscientização de uma boa parcela, mas será impossível obter qualquer resultado prático significativo antes do período de agonia da maioria, momento em que será tarde demais. Iremos enfrentar uma dolorosa transição para restabelecer a nossa sustentabilidade, pois jamais iremos contar com a atitude da maioria.

 
Às 5 de março de 2008 às 23:07 , Anonymous Anônimo disse...

Um governate Global??? Gente voces gostam mesmo de serem governados...pelo amor de Deus! ! Imaginem só o povão mundial elegendo um populista Global!
É o Fim.. Que tal o Lula?

 
Às 6 de março de 2008 às 07:23 , Blogger Maurício disse...

Caro Erivelto,
Seu comentário é perfeito. Por ele se vê que você tem capacidade de raciocínio lógico, fundado em realidades. O exemplo citado do fumante indica que você tem visão mental independente. Nós, a minoria, ainda seremos unanimidade no futuro (como o exemplo do fumante), quando a situação do planeta de tornar irreverssível e os males forem tão evidentes que até os cegos enxergarão. Veja-se, a propósito, nosso comentário ao artigo do Ivo, no DDD, sobre a ECO 92.
Meu bom Erivelto, junte-se a nós, pois é de pessoas como você é que precisamos. Veja que somos bastante lidos: este blog começou em setembro/07 e já foi visitado mais de 2000 vezes. Grato pelo seu judicioso comentário. Seja nosso companheiro de jornada e nos conheça melhor. Temos algo em comum.

 
Às 6 de março de 2008 às 07:29 , Blogger Maurício disse...

Amigo Arivelto,

Desculpe-me pela falha em escrever seu nome. Troquei uma letra. Eh... a idade tem dessas coisas... Tenho um amigo chamado Erivelto (bahiano), daí a falha.
Peço desculpas e retifico após 1 minuto da remessa de meu comentário.

 
Às 9 de abril de 2008 às 13:51 , Anonymous Anônimo disse...

Se existe uma doença sempre letal, com certeza é chamada incoerência. Sentia meus ossos se consumirem todas as vezes que estacionava meu motor de combustão interna na escola para ministrar aulas sobre ecologia. Por isso o texto "o individual e o coletivo" foi um alento para minha consciência de grande primata consumista. Correntes invisíveis nos prendem a uma estrutura crescente de padrões de consumo, dos condicionamentos televisos do 'show da xuxa' na infãncia, as ferramentas para empregabilidade na vida adulta. Porém se eu tivesse nesses 13 anos pedalado ao encontro dos alunos teria 13Kg a menos e talvez 13 anos a mais de vida. Por isso sigo crédulo na unidade Gaya. Sobrepondo a fogueira das vaidades tecnicistas e conformistas, devemos convencer as pessoas de algo simples e óbvio; não confudam conforto com qualidade de vida, TUDO QUE FAZ BEM AO PLANETA FAZ BEM PARA VOCÊ, TUDO O QUE REALMENTE FAZ BEM PARA VOCÊ FAZ BEM AO PLANETA. Eloy,obrigado.

 

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