domingo, 9 de agosto de 2009

MORTAL CÍRCULO VICIOSO

Prosseguindo em nosso intuito de divulgar idéias esclarecedoras sobre o meio ambiente, transcrevemos a seguir um artigo do pensador Leonardo Boff (www.leonardoboff.com) publicado no jornal “O Tempo”.


"Estamos diante de um terrível e mortal círculo vicioso

Estamos todos sentados em cima de paradigmas civilizacionais e econômicos falidos. É o que nos revela a atual crise global. Nada de consistente se apresenta como alternativa viável em curto e médio prazos. Somos passageiros de um avião em voo cego. O que se oferece é fazer correções e controles à la Keynes que, no fundo, são mudanças no sistema, mas não do sistema. Que aparece como insustentável, incapaz de oferecer um horizonte promissor à humanidade. Por isso, a demanda é por outro paradigma de habitar este pequeno, devastado e superpovoado planeta. É urgente porque o relógio corre contra nós e temos pouca sabedoria e parco sentido de cooperação.
Em razão dos interesses dos poderosos que não fazem o necessário para evitar o fatal, as soluções implementadas mundo afora vão na linha de "mais do mesmo". Isso é absolutamente irracional, pois foi esse "mesmo" que levou à crise que poderá evoluir para uma tragédia completa. Estamos, pois, enredados num círculo vicioso letal. Dois impasses estão à vista, gostem ou não os economistas, "salvadores" do mundo: um humanitário e outro ecológico.
O primeiro é de natureza ética: a consciência planetária, surgida à deriva da globalização, suscita a pergunta: quanto de inumanidade e crueldade aguenta o espírito humano, ao verificar que 20% das pessoas consomem 80% de toda a riqueza da Terra, condenando o resto ao desespero, encurralados nos limites da sobrevivência? O ideal capitalista de crescimento ilimitado num planeta limitado parece não ser mais exequível ou só sob grande violência.
O segundo é o limite ecológico. O capitalismo criou a cultura do consumo e do desperdício, cujo protótipo é a sociedade norte-americana. Para generalizar essa cultura, seriam necessárias duas ou mais Terras semelhantes à nossa, o que torna o projeto irrealizável. Por outro lado, encostamos nos limites dos recursos e serviços da Terra e os ultrapassamos em 40%. Todas as energias alternativas à fóssil, mantido o atual consumo, atenderiam somente 30% da demanda global. Como se depreende, dentro do mesmo modelo, somos um sapo sendo lentamente cozido, sem chances de saltar da panela.
Há três propostas criativas: a da economia solidária, que não mais se guia pelo objetivo capitalista da maximização do lucro e de sua apropriação individual. A do escambo, que usa as moedas regionais. A terceira é a da biocivilização e da Terra da Boa Esperança, do economista polonês que dirige um centro de pesquisa sobre o Brasil em Paris: Ignacy Sachs. Ela confere centralidade à vida e à natureza, tendo o Brasil como o lugar de sua antecipação. As três são possíveis, mas não acumularam ainda força para ganhar a hegemonia.
Talvez elas nos pudessem salvar. Mas há tempo hábil? Gramsci dizia: "o velho não acaba de morrer e o novo custa a nascer". Não se desmonta uma cultura de um dia para outro.
Meu sentimento do mundo diz que vamos ao encontro de uma crise generalizada que nos colocará nos limites da sobrevivência. Chegando a água ao nariz, faremos tudo para nos salvar. Possivelmente, seremos todos socialistas, não por ideologia, mas por necessidade: os parcos recursos naturais serão repartidos equanimemente entre os integrantes da comunidade de vida.
Santo Agostinho ensinou que dois fatores ocasionam em nós grandes transformações: o sofrimento e o amor. Devemos aprender já a amar e sofrer por esta única Casa Comum, para que possa ser uma grande Arca de Noé que albergue a todos. Então será, sim, a Terra da Boa Esperança, sinal de um Jardim do Éden ainda por vir.”

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