A CORTESIA
Autora: Délia Staingerg
Gozmán, filósofa
Começaremos
esclarecendo que o verdadeiro sentido etimológico e ideológico da palavra
"cortesia" nos vem das antigas "cortes", lugares
habitualmente usados por filósofos, artistas, literatos, políticos,
economistas, juízes, médicos e, em geral, todos os profissionais e pessoas
distintas a quem correspondia tomar as considerações e decisões em um estado ou
reino, em uma, como dizia Platão, congregação; quem, por seus talentos, saberes
e habilidades, prestavam um serviço público à sociedade; os que estavam
encarregados do estado, palavra que, em latim, se transformou em "res
pública" (da coisa pública), de onde vem a palavra "República".
Em
todas as antigas culturas e civilizações que conhecemos, ainda que
parcialmente, existia uma forma "cortês" de relações entre as
pessoas. Na chamada idade Média do Ocidente, o cortês se configurou em círculos
mais fechados de comunicação entre damas e Cavalheiros e destes entre si, desde
a formação como pajens até a culminação como cavalheiros.
Desgraçadamente,
com o andar do tempo, muitas dessas sãs e úteis tradições caíram em desuso e
também na degeneração, promovendo costumes falsos e mentirosos. Esta última
imagem é a que nos tem chegado através da comunicação massiva. E hoje,
sobretudo entre os medianamente jovens, os que sofreram a deformação do
pós-guerra, a cortesia aparece como um sinônimo de falsidade e falta de
autenticidade.
Nós,
filósofos, queremos resgatar e gerar formas de cortesia que nos afastem da
animalidade estupidizante e do enfado do meramente instintivo.
A
cortesia é, por sua vez, uma forma de generosidade e de amor. Um reconhecimento
da fraternidade universal para além de todas as diferenças de classes, etnias,
sexos, condições sociais e econômicas. É uma maneira humilde, mas agradável de
aplicarmos nosso primeiro princípio:
Reunir
aos homens e mulheres de todas as crenças, raças e condições sociais em torno
de um ideal de fraternidade universal.
Assim
como, quando damos um presente, por pobre que este seja, costumamos cobri-lo de
papéis e fitas coloridas, de maneira que antes de chegar ao objeto em si, o
destinatário tenha a sensação de que pensamos carinhosamente nele e que nos
preocupamos em expressar-lhe nossos sentimentos afetuosos e nossos bons
desejos. Toda palavra e ação devem estar prudentemente envoltas de nossa
capacidade de dar e amar.
Não se
é menos homem ou menos mulher por superar rusticidades. Ao contrário, são o
cavalheiro e a dama mais eficazes e agradáveis se põem em tudo que fazem uma
pitada de beleza, de amor e de cortesia. Saudarmo-nos com um aperto de mãos, um
abraço ou um beijo, conforme sejam as circunstancias e os atores, e por
"ator" devemos entender o que o Imperador Augusto entendia: partícipes
ativos e eficazes da vida... O que faz algo, o verdadeiro "Ator",
segundo o teatro "Mistérico", é o que representa as coisas, o que as
apresenta de novo, mas agora com uma carga de interpretação humana que as
melhora, embeleza e enobrece, de modo que todos possam participar de alguma
maneira delas.
Deveríamos
nos esforçar em deixar fora todo gesto de ira e amargura, de ódio ou de rancor.
Esta atitude, mesmo que se comece de forma meramente externa, se se mantém com
força e perseverança, chega a atingir patamares mais profundos, e como o
palhaço dos contos, de tanto sorrir e fazer rir, acaba por contagiar-se a si
mesmo com sua alegria e encontra consolo para as desventuras da vida.
Existem
muitas "ideologias" políticas e religiosas que têm provocado
genocídios e tem feito muitas pessoas chorarem. Façamos nós o contrário;
tragamos alegria, paz, concórdia, prosperidade. Um filósofo triste por
circunstâncias banais, não é um verdadeiro filósofo; é menos ainda, se o
demonstra e anda chorando suas penas a todas as suas amizades, dando sinais de
frouxura, impotência espiritual e debilidade vampirizante.
Acostumemo-nos
a dar antes de pedir.
Evitemos
julgar os demais à luz de nosso ainda nascente discernimento, abundantemente
deformado por nossas paixões. Sejamos fortes e verticais.
No
mundo já há mendigos demais... Não sejamos um deles.
Não me
refiro tão somente ao plano econômico, mas sim ao global. Ofereçamos as mãos
cheias! Nossa energia, nossa bondade e boa vontade para todos. Trabalhemos
muito. Estudemos, pensemos e oremos o necessário..., mas, acima de todas essas
coisas, rompamos nossos modelos de egocentrismo, com Humildade de Coração, que
não é do corpo e dos trapos. Sejamos corteses... Façamos realmente e todos os
dias um mundo novo e melhor... E vivamos nele.
Fonte:
Fábio Oliveira
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