O SILÊNCIO NADA INOCENTE DO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO
Autora: Zoraide Vilasboas
Dois acidentes, graves, em
menos de um mês, expõem, mais uma vez, as vulnerabilidades do Programa Nuclear
Brasileiro. Mas as autoridades responsáveis não saem do “sapato alto”. Vale
tudo pra tentar reforçar a cortina do silêncio, com a qual tentam blindar os
crimes ambientais (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm)
praticados a 757 km de Salvador, pela unidade de exploração de urânio da
Indústrias Nucleares do Brasil –INB, em Caetité, onde começa o ciclo de
produção da cara e perigosa energia atômica, que ameaça a sobrevivência da
humanidade, como vem alertando as várias catástrofe nucleares ocorridas no
mundo (Chernobyl, Fukushima, etc.), deixando em seu rastro a letal contaminação
radioativa.
Sexta-feira passada
(2/11/2012), os operadores da INB enfrentaram, de forma precária, como é
habitual, novo desafio. Estancar um vazamento de ácido sulfúrico que estava
sendo drenado de um tanque, que estoca 100 mil litros do produto, para uma das
bacias que armazenam licor de urânio. A tubulação do ácido furou e, com as
chuvas, a contenção não resistiu. O ácido foi parar no reservatório de água
pluvial, que é pequeno e, quando chove, costuma transbordar para o meio ambiente.
Desde o acidente, a produção está paralisada. Vazamentos de ácido sulfúrico são
corriqueiros na planta da INB.
VAZAMENTO DE URÂNIO 1 – Há
muito tempo trabalhadores e as comunidades do entorno da mina denunciam o risco
a que estão submetidos. A tubulação é velha, enferrujada e calcula-se que haja
furos em vários pontos subterrâneos (instalação obsoleta) já que existem pontos
críticos na empresa referente a este produto. Há um poço de monitoramento, por
exemplo, o PMA-18, que apresentou um vazamento de ácido sulfúrio, jamais
controlado, apesar do poço ter sido até concretado. Também comunidades do
entorno da empresa já detectaram pelo menos uma “nascente” que expele um
liquido de cor e aparência estranhas. Nesta mesma área, em outubro de 2009,
houve um vazamento, que a empresa tentou minimizar, alegando que tinha sido de
solvente, como se produtos químicos fossem inofensivos. A verdade restabelecida
informou que 30 mil litros de licor de urânio vazaram para as células da área
160, e, depois, vazou para o meio ambiente um volume proporcional de solvente
carregado de urânio.
Na unidade de extração e
beneficiamento de urânio, os recorrentes “incidentes” já entraram na rotina e a
ocorrência deles não mais surpreendem trabalhadores, nem as populações afetadas
pela mineração de urânio, que enfrentam no seu dia a dia o medo e a
desesperança com a omissão do Estado ante os problemas levados pela INB à
região. Pó de concentrado de urânio, poeira radioativa, radônio voam pelo ar,
licor de urânio e ácido sulfúrico e outros produtos químicos penetram no solo e
na água, contaminando o meio ambiente. Mas o que mais revolta e preocupa, são o
silencio obsequioso do Poder Público e a impunidade que protegem as
ilegalidades do setor nuclear no Brasil.
VAZAMENTO DE URÂNIO 2 – Em
18 de outubro deste ano, vazaram para o meio ambiente centenas de quilos de
concentrado de urânio, evidenciando, mais uma vez, a insegurança
técnico-operacional, que caracteriza o Programa Nuclear Brasileiro em Caetité e
ameaça a saúde de trabalhadores e das populações da região. (há controvérsia
sobre o quantitativo vazado. Logo depois, a Associação Movimento Paulo Jackson
– Ética,Justiça,Cidadania enviou oficio pedindo informações e providencias as
autoridades responsáveis pela fiscalização da INB, como a presidência do IBAMA,
Comissão Nacional de Energia Nuclear , Secretaria de Meio Ambiente do Estado da
Bahia (SEMA) e Ministérios Públicos Estadual e Federal.
Até hoje não se conhece nem
uma resposta, nem uma posição das autoridades competentes sobre aquele
acidente. Nem uma equipe especial de inspeção se deslocou do IBAMA, CNEN, ou
SEMA para averiguar a ocorrência. Mesmo tendo sido lembrado que aquela era a
segunda ocorrência, grave, ocorrida em cerca de um ano, na área de
entamboramento de urânio, cujas atividades foram interditadas, em julho de
2011, pela auditora do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi, pelo assessor
do Ministério Público do Rio de Janeiro, Robson Spinelli Gomes e por auditores
da SRTE/BA, durante inspeção dos Ministérios Públicos do Trabalho (Federal) e
Estadual. Naquela oportunidade, os operários enfrentaram um dos maiores riscos
de contaminação coletiva ocorrida no meio ambiente do trabalho, devido ao
episódio que ficou conhecido nacionalmente, quando uma revolta popular tentou
impedir a entrada em Caetité de 90 toneladas de material radioativo, em maio do
ano passado.
O urânio, que estava em
tambores lacrados há 30 anos, veio do Centro de Pesquisa da Marinha (Iperó/SP)
para a Bahia, onde os trabalhadores foram obrigados a manipular o produto, de
forma improvisada, sem a segurança necessária para quem trabalha com material
radioativo e alguns deles passaram mal. A preocupação é crescente, pois, mais
uma vez, foram expostos a tão alto risco de contaminação na manipulação de produto
altamente radioativo, sem que os órgãos fiscalizadores tomem as medidas
cabíveis. Além da interdição, em 2011, os auditores do MTE lavraram cinco Autos
de Infração voltados para a proteção da saúde dos trabalhadores e notificação
para a aposentadoria especial aos 20 anos de trabalho, negada pela INB.
É necessário lembrar que
por causa das ilegalidades que envolveram o transporte e a reembalagem da carga
radioativa vinda de São Paulo, também o IBAMA embargou a área, onde são feitas
atividades de precipitação, filtração, secagem e embalagem do pó de urânio, que
vai para o exterior para ser enriquecido e volta para o Brasil, onde é
transformado no combustível das usinas atômicas de Angra dos Reis (RJ). E
aplicou duas multas à INB, nos valores de R$600 mil, em junho, e R$2 milhões,
em agosto. Mais muito ágil, quando se trata de obedecer às ordens “superiores”,
a Superintendência do IBAMA no Estado da Bahia logo no início de agosto já
tinha tornado sem efeito, o embargo da área de entamboramento e a multa aplicados
por seus técnicos, alegando que medidas desta natureza, dependem de aprovação
prévia do presidente do IBAMA.
Na mesma inspeção de julho
de 2011, uma equipe técnica da Fundação Nacional de Saúde –FUNASA constatou que
o Governo da Bahia e os prefeitos de Caetité e Lagoa Real não estão cumprindo
as determinações da liminar concedida pelo juiz de Direito de Caetité a uma
Ação Civil Pública, movida pelo Ministério Público Estadual, em 2009, contra a
INB, o Estado da Bahia e os referidos municípios. A FUNASA comprovou tudo que
os movimentos sociais e populares vêm denunciando e pedindo providencias, há
anos, sem que as autoridades competentes atendam os seus reclamos. Ao que se
sabe, o relatório da FUNASA não produziu efeito.
E qual o desdobramento
disto? Nem um. Impunidade total. A sociedade da região continua deixando no ar
a resposta, que as autoridades teimam em não levar em conta. Quem vai responder
pelos prejuízos causados pela exploração de urânio na Bahia e quais
providências foram adotadas para garantir a integridade da saúde das populações
da região e dos trabalhadores, em especial aqueles que se envolveram mais
diretamente no episódio.
Por Zoraide Vilasboas,
jornalista da Coordenação de Comunicação da ASSOCIAÇÃO MOVIMENTO PAULO
JACKSON-Ética, Justiça, Cidadania.
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