O SUICÍDIO DOS ESPANHÓIS
Autor:
Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] No ano de 2010 estive na
Catalunha com grupos solidários que apóiam a Prelazia de São Félix do Araguaia.
Era um pedido do bispo Pedro Casaldáliga. A temática era a Agenda
Latinoamericana daquele ano, questão das mudanças climáticas, a defesa da mãe
Terra.
Um dos lugares que estive
foi a Universidade de Barcelona, conversando com alunos do Professor Arcadis
Oliveris. Ele é o parceiro de Juan Martinez Alier, um dos pensadores da
ecologia dos pobres.
Após a conversa com seus
alunos, ele nos convidou – estava com Josephina, uma das militantes do grupo
Araguaia – para irmos assistir uma palestra sua para jovens espanhóis
desempregados. O lugar do evento era um prédio ocupado por “jovens sem teto”.
Mas, logo na saída,
próximos à Universidade, ele nos mostrou um prédio e disse: “esses prédios
estão vazios. Pertencem a uma empresa cujo os donos são a família Bush e
família Bin Laden”.
Soltou uma gargalhada e
complementou: ”guerra é guerra, negócios à parte. O problema imobiliário na
Espanha vai ter as mesmas conseqüências da bolha dos Estados Unidos”.
O assunto da palestra com
os jovens foi o mesmo da viagem. Mais de 200 jovens desempregados, ocupando um
prédio público, ouvindo suas previsões sobre o futuro da Espanha.
Hoje, lendo os jornais,
vendo o suicídio de pessoas por estarem sendo despejadas na Espanha, relembro o
acerto mortal do economista, mas, vejo o quanto o capitalismo é cruel. Um país que
tem um milhão de unidades habitacionais desocupadas, opta por jogar o povo na
rua, mesmo diante da onda de suicídio. Agora, até o bancos estão reticentes em
executar os despejos. Há algo de irracional nesses fatos, embora para o capital
isso faça sentido.
Assim é com a fome de 900
milhões de pessoas no mundo mesmo havendo comida; assim é com 1,4 bilhão que
não tem água potável, mesmo consumindo 70% da água doce do mundo na irrigação;
assim é com o saneamento, habitação, ao infinito.
O mundo atual não vislumbra
novas e imediatas saídas. A crise civilizacional é mais profunda, mais longa,
até que a humanidade, ainda que seja pelos paradoxos e sofrimentos indizíveis,
encontre outra forma de viver sobre a Terra.
Roberto
Malvezzi (Gogó), Articulista
do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais.
Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
EcoDebate, 16/11/2012
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