ESTAMOS REGREDINDO
Autor:
Danilo Pretti Di Giorgi
[Correio da Cidadania] Eu e meus colegas de
coluna escrevemos aqui há mais de dez anos. Neste período, mais de 200 mil km²
de floresta amazônica foram devastados, o equivalente ao território da
Grã-Bretanha. Testemunhei todas as cúpulas sobre Meio Ambiente enroscadas
porque os países nunca estiveram dispostos a abrir mão de seus interesses. Vi
tentativas de acordos mundiais, como o Protocolo de Kyoto, serem ignoradas por
países-chave. Mas também vi esses acordos serem sistematicamente descumpridos
por nações signatárias. No plano nacional, presenciei mudanças nefastas nas
leis para beneficiar setores altamente poluidores, fui testemunha da implosão
do Ibama em nome do seu enfraquecimento e vi ministros e presidentes pisoteando
a Lei em nome do crescimento econômico a qualquer custo.
A consciência ambiental
parece ter regredido neste início de milênio, se é que ela de fato existe. E
não apenas no nível de lideranças e governos, mas também no âmbito do
indivíduo: para ficar em um exemplo, a porcentagem de pessoas que separam seu
lixo e o enviam para reciclagem no Brasil continua ínfima, abaixo de 1%, após
tantos anos de campanhas e esclarecimentos.
Para a maioria, a questão
ambiental parece não passar de mais uma brincadeira, uma ilusão a mais no jogo
de manipulação de ideias e ideais no qual estamos imersos. Um entre tantos
joguinhos de marketing no qual tanto empresas como governos investem migalhas
de tempo e dinheiro apenas para estarem em dia com o que o comportamento
politicamente correto do momento exige.
Mas essa brincadeira só é
considerada até começar a atrapalhar a marcha do progresso. Quando essa
conversa de bicho-grilo atrapalha o caminho de grandes projetos econômicos,
ninguém pensa duas vezes: leis, normas, ecossistemas complexos, aldeias
indígenas e animais em extinção são atropelados sem a menor sutileza. E
tocam-se adiante Belos Montes, Jiraus e Santo Antônios, a despeito das
intermináveis listas de irregularidades associadas a estes, entre tantos outros
megaprojetos atualmente em execução.
Quando a crise conceitual
chega neste ponto, fica difícil construir um artigo sobre “perspectivas para o
meio ambiente”, quando a própria ideia do que seria meio ambiente está
desestruturada dentro e fora de mim. Talvez sejam os ecos desse recém-ocorrido
fim do mundo.
Farei apenas uma previsão:
no Brasil, em 2013, nada que seja fundamental ao desenvolvimentismo sob a
perspectiva de seus leais defensores terá seu caminho interrompido por nenhuma
lei ambiental, clamor popular ou por algum surto de bom senso de alguma
autoridade. Porque não parece haver nada que possa se colocar no caminho desse
grande deus da atualidade, o crescimento econômico.
Mas essa previsão era
fácil, você e todo mundo também já sabiam. O certo é que cada vez fica mais
claro que qualquer ideal ambientalista, por mais bem situado que seja, por mais
que esteja amparado na lei e no bom senso, sempre acaba perdendo a luta quando
atrapalha o caminho daquilo que se convencionou chamar de progresso. O grande
pecado hoje, afinal, é interromper o processo de produção. Se há minérios
valiosos na Amazônia, tem que tirar, e ponto final. Se para tirar esses
minérios precisa de muita energia elétrica, tem que fazer hidrelétrica em Belo
Monte. E se tem aldeias indígenas ou espécies ameaçadas de extinção no caminho
da hidrelétrica, azar delas. A marcha de destruição não pode ser interrompida
por um bando de índios falando no celular que têm perfil no Facebook, ou por
bichos e plantas que a gente mal conhece, afinal.
E aqueles que têm coragem
de defender a floresta, os rios e mares, são acusados de inimigos do progresso.
Os novos inimigos, aqueles que ocuparam o vácuo deixado pelos comunistas.
Afinal, o que incomoda os ex-caçadores de comunistas não é o princípio da
distribuição de renda. O lulismo dizimou qualquer dúvida sobre o quanto é bom
para o capitalismo erguer os miseráveis à classe média. O que incomoda mesmo é
interromper a marcha da destruição.
Fonte: EcoDebate,
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