domingo, 28 de fevereiro de 2010

HORA DO PLANETA

MOVIMENTO MUNDIAL EM DEFESA DE NOSSO MEIO AMBIENTE.

Abrimos um espaço neste blog para comunicar que a hora do planeta está marcada, neste ano, para o dia 27.3.2010, de 20,30 às 21,30 h, momento em que todos deverão apagar as lâmpadas, um ato simbólico de afirmação de que o mundo está ficando consciente das atitudes degradantes do planeta pelas ações econômicas dos humanos.
Para melhores esclarecimentos, visite http://www.horadoplaneta.org.br/  

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

AGORA OU NUNCA MAIS



Para ler ou  copiar o livro, clique no link abaixo.


http://www.ecodebate.com.br/pdf/agora_ou_nunca_mais.pdf   


1) APRESENTAÇÃO. Sempre tive muita atração e sintonia com a Natureza. Quando me aposentei, comprei um imóvel rural e por 20 anos ali morei e laborei nesse ambiente que me proporcionava saúde corporal e espiritual, com a prática de exercícios físicos e meditações. Se aprendi coisas na escola, na profissão, na vivência comum, aprendi algo mais rico na convivência com a Natureza. As pessoas que vivem no meio urbano, em geral somente têm contato com outros humanos, seres da mesma espécie biológica, ou com suas obras materiais e desenvolvem o hábito do consumismo. Dessa forma, elas ficam isoladas do convívio com outros seres vivos e não aprendem ou não sentem que todos nós somos filhos de uma mesma origem, o Todo, que alguns conhecem como Deus. A Natureza, riquíssima em sua diversidade, está constantemente se manifestando; ela tem sua linguagem e sua lógica. Esforcei-me em aprender tal linguagem, traduzindo-a para a usual dos humanos e percebi que a Natureza clamava por socorro, pois estava sendo espoliada e enfraquecida pelos seus próprios filhos humanos. Foi daí, por perceber as agruras, tristezas e apelo dessa nossa magna mãe é que me senti tocado em minhas emoções para acudir em sua ajuda, ocasião em que comecei a idear o esboço do livro, único recurso ao meu alcance.
No princípio, considerei fazê-lo sob a forma de ensaio. Posteriormente, levando em conta que o assunto deveria ser acessível a todos, optei por um gênero mais leve. O assunto seria abordado de uma forma mais atrativa, com uso de linguagem simples e didática, motivo por que o tema foi romanceado. Criei uma trama em cima de fatos reais, concretos, que lhe dão o suporte da seriedade e verossimilhança. Para não ficarem dúvidas sobre isso, redigi um posfácio, onde fica claro o seu caráter documental.

Levei cinco anos na elaboração do livro. Depois de pronto, algumas pessoas da área editorial opinavam que o livro era uma ficção científica. Entretanto, depois que o Painel Intergovernamental da ONU, composto por mais de 2.500 cientistas, publicou em fevereiro/2007 o 1° relatório climático, com grande repercussão na mídia e no povo, o livro se tornou realista, verdadeira fotografia do destino da humanidade. Desde então, apareceram vários interessados na sua publicação, considerando-o documentário de uma época e útil no esclarecimento do destino ambiental da humanidade.

2) – EXPLICAÇÃO – Agora uma explicação sobre a tônica usada na divulgação deste livro. Porque é o livro mais importante do momento? Porque, no meu entender, se trata de um documento histórico que lança um aviso de alerta à humanidade e que servirá de referência nos acontecimentos mundiais dos próximos anos. Entendemos que a humanidade vive atualmente uma civilização equivocada. É preciso que alguém desperte para a realidade dos fatos, principalmente os governantes, e saiam dessa ilusão modernista e tecnológica que levou a chamada civilização industrial para a escuridão.

Um fato é claro para todos. A geração humana deste tempo está vivendo exclusivamente para si, sem levar em conta a segurança e futuro das gerações vindouras. Que planeta vamos entregar aos nossos filhos? Já não basta o assassinato das demais espécies vivas, também criadas pelo mesmo Deus? Os homens responsáveis de hoje estão trabalhando para o assassínio também da humanidade? Não enxergam que é hora de parar com a ganância e se voltar para a razão?

3) MINHA VIVÊNCIA. Minha vivência deve servir para alguma referência. Com 82 anos, já sou bastante vivido. Sou testemunha de tempos que muitos não conheceram. Acompanhei, dia após dia, ano após ano, as imperceptíveis mudanças das condições de vivência e presenciei os acontecimentos marcantes de nossa história, pelo menos no correr do século XX.

Poderão confirmar o que vou dizer os companheiros de mesma idade. Eles também são testemunhas vivas do passar dos tempos, e que hoje os mais jovens consideram apenas registros históricos, sem muita importância. Posso dizer: nós, os mais vividos, sabemos e enxergamos o que vocês não vêem. Adiante, vocês dirão: hoje sabemos o que nem suspeitávamos.

Bem, nessa condição posso revelar que lá pelos anos de 1940, as condições de vida eram bem diferentes das de hoje. Em apenas 70 anos decorridos percebi, como fato concreto, que a degradação do nosso ambiente foi enorme. E o que será nos próximos 70 anos?

Comparando as duas épocas, testemunho que, nos aspectos materiais de tecnologia, saúde corporal, conforto, comunicação e poder de decisão, com referência ao indivíduo, houve um enorme avanço para melhor. Repito: com referência ao INDIVÍDUO. Mas à custa de quem? Alguém paga todos esses confortos e excessos que são retirados do nosso meio ambiente. O planeta Terra, cheio de chagas cada vez mais profundas, geme de sofrimento em suas perdas. Até quando?

Já com as condições do coletivo e aos recursos naturais, houve um retrocesso imenso. Antigamente, os rios e ribeirões eram fartos. As águas eram limpas e havia peixes. Hoje, eles se acham minguados, enfraquecidos, insalubres e quase sem fauna, caminhando para a exaustão. Hoje os rios são riachos; riachos, regatos; regatos, filetes; filetes, nascentes; nascentes, tumbas. Isso acontece hoje em todos os elementos do nosso ambiente, no ar, nos mares, no solo.

4) – LIVRO SÉRIO. Este não é um livro água-com-açúcar. É um livro sério. Posso adiantar que ali não exploro emoções vulgares, de fácil apelo comercial com passagens eróticas. É romanceado para melhor assimilação da mensagem. Mas não fala de amor? Fala, sim. Mas de um amor muito maior do que o de dois amantes. Maior que o amor de mãe. Maior que o “ama a teu próximo”. Maior que o amor de toda a humanidade. Tão grande que abarca todos os seres vivos. Mais ainda. É um grito de socorro pelo amor ao planeta Terra. Enfim, é o amor à própria Vida.

5) FIDELIDADE – Na elaboração da história, não fiz concessões de espécie alguma que me tirassem da fidelidade às teses oferecidas ao juízo do leitor. As descrições mais fortes não cederam aos cânones morais ou éticos. Porque o assunto é importante e deve ser tratado com realismo. E realismo se descreve com realidades.

O livro é um documento do século XXI. Nele mostro a insensibilidade dos governantes. Faço uma denúncia e um alerta. Jovens, principalmente aos jovens, conclamo a se conscientizarem, mobilizando-se na defesa do ambiente em que vão viver. Defendam o único planeta que os pode abrigar e alimentar e que será o lar de seus descendentes.

Para esclarecer melhor a razoabilidade da mensagem romanceada, informo os pontos reais destes últimos tempos em que me baseie para formular a obra, isso antes da publicação do 1º relatório do Painel da ONU.

a) denúncias esparsas de degradação ambiental feitas por diversos cientistas desde meados do século XX.
b) medidas governamentais restritivas à procriação na China e na Índia;
c) movimentos políticos com a criação de Partidos Verdes;
d) campanhas e ações efetivas do Greenpeace;
e) mobilização mundial na Eco Rio 92;
f) posicionamentos relativos ao Protocolo de Kyoto;
g) criação na França da Associação contra o Progresso;
h) uso cotidiano nas grandes cidades da China e Japão de máscara filtrante;
i) relatório ambiental da ONU em 1986.
j) relatório científico do Clube de Roma, estudo-projeção ambiental feito em 1971 (www.unicamp.br/nipe/fkurtz1htm);
k) início em 2005 de um programa computacional de projeção ambiental pela universidade de Tóquio, ainda não concluído;
l) relatório secreto do Pentágono prevendo catástrofes climáticas para 2020 (revista Carta Capital, ano 2004, citando como fonte as publicações inglesas, revista Fortune e o jornal The Observer, além da edição especial na internet da Scientific American, que apresentaram farta documentação;

Posteriormente, os fatos vêem confirmando a visão revolucionária do livro, principalmente no que diz respeito à necessidade de o mundo ser gerido por um órgão global.

6) LIMITAÇÕES – Eu não posso contar a história do livro. Mas posso abordar alguns aspectos relevantes. O verdadeiro protagonista nessa história é o tempo. No correr da leitura, o leitor vai notar que ele se encontra oculto. Não é um personagem fantasma, uma criação imaginária ou um ente fantástico com aparência deformada, mas está presente em todo o desenrolar da narração. Comparece no livro tal como o ponteiro das horas de um relógio tradicional. Vejam que o ponteiro dos segundos faz um movimento cíclico e todos notam. O ponteiro dos minutos, para quem tem vista muito boa, se move com muita lentidão, mas dá pra ver. Mas – e aí é que está o perigo – no ponteiro das horas, ninguém percebe o seu movimento e, como diria o celebre cientista Galileu Galilei, “no entanto, ele se move”. Ninguém vê, mas ele dá uma volta completa em 12 horas, fechando um ciclo do tempo e pontuando o ciclo maior chamado dia, que também registra o enigmático tempo. Quem pode negar isso? Pois bem: é esse personagem, agindo às ocultas, que pauta todo o desenrolar da trama e a realidade do nosso destino. E o tempo é terrível, inexorável, cruel e não volta atrás. Que o digam os mais vividos.

7) ESTILO – Este livro quase não tem metáforas. Geralmente, elas são figuras de estilo que servem para embelezar os textos, torná-los poéticos, para embalar em sonhos as almas dos leitores. Neste livro não cabem tais artifícios literários, pois aqui tratamos de fatos reais, assuntos muito sérios, concretos, graves, que destroem prejudiciais ilusões. No entanto, está recheado de reflexões filosóficas pertinentes ao tema. O leitor poderá meditar sobre diversas questões propostas no correr dos diálogos.

8) COERÊNCIA – O escritor deve ser coerente e honesto consigo mesmo ao registrar seu pensamento. Ele não finge; escreve o que sente, sob pena de ser acusado pela própria consciência. É diferente do escriba, que produz texto com o objetivo de atender a interesses. Aquele não se preocupa em agradar ou desagradar. Este sempre agrada aos seus patrões, aos interesses de época, às ideologias, a interesses econômicos. Estou dando essas explicações para justificar porque, em alguns momentos, a abordagem se mostra politicamente incorreta e antiética. Vejam que a Natureza desconhece inteiramente tais conceitos sócio-culturais quando se manifesta sob a forma de tsunamis, vulcões, terremotos e epidemias, matando milhares de pessoas. A verdade deve ser apresentada como é: nua, sem maquiagem.

Foi coragem e honestidade, mesmo. Entendo que não poderia ser de outra forma ao fazer uma descrição com a fidelidade que se espera de um documento histórico. Neste livro eu pus o dedo na ferida. Ferida, no caso, é simplesmente a realidade, tal como ela é. Pôr o dedo na ferida dói. E como dói!

Temos visto, ultimamente, pessoas bem intencionadas se apresentarem na televisão, sugerindo medidas suaves, superficiais, inócuas. Falam também em “desenvolvimento sustentado”. É puro jogo de palavras. Isso não existe. Isso devia ter sido observado no início da revolução industrial, no século 18. Agora é tarde. Temos é que recuperar o estrago feito. Temos é que iniciar o desenvolvimento ao contrário, isto é, o desdesenvolvimento. Ainda há tempo, mas tem que ser com urgência. Falam também em crédito-carbono. É outra enganação. Na verdade é até um acinte à nossa inteligência, se não for uma piada. Uma indústria na Holanda pode poluir desde que uma empresa brasileira deixe de poluir. É o vício da cultura comercial. Até com a desgraça do caos eles pretendem extrair lucros. Evidente que não vêem, não enxergam, não sentem, não percebem a claridade solar. Até quando, ó autoridades?

Como reflexo dessa onda ecológica, foi aprovada uma lei num Estado americano que torna obrigatório o uso de sacolas de papel no lugar dessas de plástico. Não deixa de ser um retorno civilizacional. Contudo, tal medida é inócua – se não for pior – pois a fabricação de sacolas da espécie implica aumento da atividade da indústria do papel, altamente poluidora e devoradora de cadáveres de árvores.

Tais medidas saneadoras, tão insignificantes e ingênuas, nada representam ante a gigantesca dilapidação que a civilização moderna produziu no planeta. A situação exige a exata conscientização do problema ambiental. E este livro mostra tudo, sem meias-palavras, sem hipocrisia. Este livro põe em evidência a gravidade do assunto, que requer medidas radicais e urgentes. A solução básica está num tripé. Um é a urgência de se tomar decisões, exigidas pelo senhor tempo. Os outros dois estão no livro.

9) DESTINAÇÃO – Os editores geralmente perguntam ao autor a que faixa de leitores se destina o livro a ser apreciado. Porque, segundo o assunto, esse ou aquele livro se destina aos interesses de ou de jovens, ou de professores, ou de mulheres, ou de empresários, ou distintas classes sociais ou profissionais. O livro ora apresentado se destina a todas as pessoas capazes de ler e que ainda estejam vivas. Não só as vivas. Imaginem que até os mortos, em seus túmulos, devem estar se inquietando de ansiedade pelo destino trágico de seus entes queridos, ainda vivos.

10) ARTIFÍCIOS – Após a leitura, os leitores terão condições de entender as verdadeiras dimensões dos alertas contidos nos relatórios do Painel Intergovernamental da ONU, de 2.500 cientistas, que tem sido largamente difundido pelos usuais meios de comunicação. Despachos da BBC, no entanto, informam que:
“A apresentação da segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, em Bruxelas, ocorre após uma noite inteira de negociações sobre os termos do documento, entre cientistas e representantes governamentais de todo o mundo”. Alguns países, como Estados Unidos, China, Índia e Arábia Saudita, fizeram objeções a capítulos importantes do relatório. Eles teriam pedido que a versão final fosse menos categórica do que os rascunhos apresentados.”

Vê-se que o relatório sofreu pressão política por parte dos paises interessados em preservar a dilapidação do planeta, com medo das conseqüências econômicas. Isso se chama irresponsabilidade. Se as artimanhas políticas conseguiram suavizar as palavras, não significa suavizar a realidade. Este livro não suaviza a realidade.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

LINGUAGEM DO SISTEMA EM QUE VIVEMOS

Eu sou bancário. Eu sou motorista. Eu sou balconista. Eu sou jornalista. Eu sou estoquista. Eu sou comerciante. Eu sou industrial. Eu sou.... e assim por diante.
Todos estão integrados a um sistema social que, atualmente, é o econômico. Sem perceberem, estão condicionados à linguagem comportamental vigente. Tal como nos comunicamos pela linguagem oral materna. Sem examinarem a questão a fundo, raciocinam, agem, e vivem ao compasso desse sistema. É como se houvesse uma linguagem social sedimentada desde o nascimento. É a linguagem cultural, que guia nossos passos, comanda nossas aspirações, marca o ritmo social. São essas condicionantes que constroem as leis e dizem o que é normal ou marginal. A preservação dos recursos naturais não consta do rol de suas preocupações.

Essa linguagem é tida como tão natural que não se dão conta de que podem existir outras condutoras estruturais para a sociedade. Espantam-se e não compreendem as ações de outrem, tal como ocorre a uma criança quando ouve diálogo em língua diferente da que usa. Ninguém se questiona sobre a possibilidade da existência de outra linguagem vivencial. Espanta-me quando leio alguma crítica sobre os procedimentos sociais de alguma teocracia ou de povos aborígines. Culturas diferentes não podem ser mutuamente criticadas. É preciso que cada lado leve em consideração esse caldo de linguagem em que os povos vivem. Muitas dessas culturas giram em torno de uma cosmovisão antropocêntrica.

A palavra linguagem, aqui, é inadequada no seu verdadeiro significado. Empregamo-la, figurativamente, para destacar que o sistema econômico em que todos estamos inseridos funciona como um se fosse um referencial único e correto. É o paradigma da vida em sociedade. Passa a ser um estado de consciência permanente, em função do qual o homem pensa e age. Seria como a água para os peixes. Fica sendo tão natural para eles respirarem o oxigênio da água que ficam incapacitados de entender como podem viver seres fora desse meio.

Existem outros sistemas, fora dessa linguagem dominante, a que não damos a devida atenção, mas que servem perfeitamente de exemplo e indicação de que é possível alterar o sistema vigente:

a) a linguagem social imperante dentro da família, formada pelo pai, a mãe e filhos. Esse ambiente propicia condições para que os relacionamentos se façam de forma própria, exclusiva, sem a pressão dos esquemas sociais egoísticos. As individualidades agem e se condicionam em função do todo familiar;

b) a que prevalece numa comunidade religiosa, seja num mosteiro, num convento, ou numa coletividade ideológica. Ali vivem segundo um código próprio, particular, exclusivo. E se entendem muito bem, pois suas mentes são equalizadas pela crença ou ideologia com vistas a um bem uno;

d) a usada em reuniões de dirigentes corporativos ao tratar de seus procedimentos ou objetivos econômicos. Esclarecendo melhor esse aspecto, além de servir de exemplo, eles decidem implantar uma revolta militar sangrenta para derrubar um governo e saem candidamente da reunião para o convívio amoroso da família. Esse caldo de vivência lhes parece tão normal que eles próprios, identificados como os agentes da destruição dos recursos naturais, não conseguem entender as motivações ambientalistas. Eles têm uma fé inabalável na perenidade da riqueza individual e só conhecem essa linguagem. No âmbito da vida humana, isso tudo não é mais do que o objetivo sem objetivo.

Mesmo alguns ambientalistas, tal como os fanáticos de todas as espécies, ainda não foram capazes de perceber que os humanos estão aprisionados mentalmente a um contexto, a uma linguagem civilizacional. Não conseguem enxergar a amplidão da liberdade vivencial e se vêm aprisionados pelas condicionantes da cultura e do antropocentrismo.

Há outras linguagens, outros viveres. Basta citar os silvícolas não contatados, ainda não impregnados pela modernidade desagregadora. Eles, na vivência simples, natural, têm o conjunto ambiental como parte integrante das concessões que lhes fazem o criador, em suas crenças cosmogônicas.

A alteração para uma linguagem compatível com o meio ambiente somente se dará com uma revolução mental de todo o sistema civilizacional vigente. Pontos fundamentais dessa mudança: abandono do egoísmo humano, visão ecológica, governo mundial e afrontamento demográfico.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O PROBLEMA DA TERRA

Damos a seguir divulgação de importante artigo do geógrafo Ricardo Honório, publicado pelo Correio Braziliense e republicado por EcoDebate em 9.1.10.

A ciência nos ensina que a Terra precisou de alguns bilhões de anos até que fosse possível a existência de vida em sua superfície. Apesar de todo esse tempo, as primeiras espécies mais vegetavam que viviam. Eram mônadas, celenterados e espécies afins que serviam, ao que parece, de cobaias que testavam, para Alguém, a viabilidade da existência de vida no orbe recém-criado.
Com o passar do tempo, o planeta se resfriou e criou as condições para o recebimento de espécies mais complexas. Vieram os grandes animais aquáticos, os anfíbios, até que o orbe se tornou habitável. Quando tudo pareceu pronto, chegou a espécie mais complexa: o homem. E põe complexidade nisso!
No início, o homem vivia para se alimentar e se alimentava para viver. Depois, ele passou a viver para se alimentar e alimentar a sua prole. Quando a prole também começou a buscar alimentos para o grupo familiar, o homem passou a viver para se alimentar, alimentar a prole e armazenar o que não era consumido de imediato. Começava aqui a geração do que seria chamado de excedente de produção.
Com o excedente de produção, o homem percebeu que poderia diminuir o seu trabalho na busca de alimentos, haja vista que a prole se mostrara capaz de conseguir alimentos para todos. Em pouco tempo, se fez necessária a administração do excedente. Começa aqui a divisão de tarefas e de classes.
Com o aumento da população humana sobre a Terra, aumentou a demanda por alimentos. Os núcleos familiares, divididos em gestores do excedente e a prole produtora de alimentos, sentiram a necessidade de preservar os nichos que garantiam o fornecimento dos bens necessários. Iniciava-se, assim, a reserva estratégica das fontes de recursos que garantiam a produção, o consumo e o excedente.
Para garantir a apropriação dos nichos, foi preciso dividir a prole em administradores, produtores de alimentos e os defensores dos nichos. Para tanto, desenvolveram-se métodos e técnicas de defesa dos interesses individuais e grupais. Assim se iniciara a arte bélica como ferramenta de defesa desses interesses.
A vida espalhou-se pela Terra e o homem complexo disseminou a sua complexidade em todos os quadrantes do planeta. A forma de produzir, administrar e defender seus interesses foi difundida e copiada por todos os núcleos familiares. Quanto mais o homem complexo se desenvolvia, mais complexidade imprimia à sua forma de ver e viver a vida. A busca pelo excedente tornou-se tão importante que o foco deixou de ser a produção para a manutenção da vida e passou a ser a produção para a manutenção do excedente.
O tempo passou e os núcleos familiares se tornaram clãs, os clãs se tornaram castas, as castas se tornaram feudos, dos feudos surgiram as divisões territoriais e das divisões territoriais surgiram os países. Tudo muito complexo, conforme as complexidades do homem complexo.
Os métodos e técnicas para consecução de bens se aperfeiçoaram, mas mantiveram a mesma filosofia de criação de excedente, sem se preocuparem com detalhes importantes, como: até que ponto a Terra suportará a extração dos recursos naturais para a produção de excedentes? A fonte desses recursos é inesgotável? A acirrada e belicosa metodologia de defesa dos nichos de extração, produção e comercialização de produtos mais auxilia ou mais complica a complexa vida do homem complexo?
Algumas dessas perguntas já têm resposta. No entanto, surgem outras: quando Alguém utilizava as mônadas, os celenterados para testar a viabilidade de vida no planeta, será que imaginava uma Terra fragmentária e contenciosa, habitada por criaturas com tão alto poder de destruição e tão baixa capacidade de conciliação? Criaturas que aprenderam tanto a somar e tão pouco a dividir? Será que a complexidade do homem representada, sobretudo, pela sua capacidade de raciocinar, refletir, pensar não é capaz de fazê-lo ver que a exacerbada utilização dos recursos naturais e a implacável defesa de interesses individuais e de grupos levados ao extremo poderão conduzi-lo, inexoravelmente, à autodestruição da espécie?
O homem está vivendo seu grande paradoxo. Enquanto a sua inteligência lhe favorece a consecução de vários estilos de vida, alguns altamente danosos à estabilidade da vida no planeta, vícios morais como a insensatez, o orgulho, a vaidade, a intolerância, a avareza… o impedem de encontrar alternativas que corrijam a trajetória de equívocos seculares.
O que Alguém levou bilhões de anos para construir, o Homem, pela sua incúria, poderá destruir em poucos séculos!
Talvez, este texto, como tantos outros, não mudará nada nos destinos do nosso planeta; quiçá, quando muito, levará você, leitor, a refletir por alguns minutos, até que sua reflexão seja interrompida por uma nova necessidade supérflua, garantindo a manutenção do nosso estilo de vida (ou de morte?). Isso porque a produção de excedentes supérfluos não pode parar; porque a concorrência interpessoal, interorganizacional e internacional que dita o ritmo da nossa vida, não pode ser perdida; porque mais vale morrer agarrado ao lucro, do que viver para ver o outro lucrar!
Enfim, a Terra tem um grande e complexo problema: o homem! Eis aqui o grande e complexo desafio: o problema resolver-se a si próprio.