quinta-feira, 27 de agosto de 2009

CARTA ABERTA DE EMPRESÁRIOS

Em Setembro próximo será realizada em Pittsburg uma reunião do G-20, ocasião em que os principais paises da economia mundial vão discutir a estratégia a adotar na participação do impactante COP 15 – 15ª. Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – que ocorrerá em Copenhague em dezembro deste ano. Ela servirá de tomada de posição para a reunião preparatória em Bangkok, tudo como arranjos e entendimentos dos países de força econômica para que aquele fórum lavre um documento que substitua o Protocolo de Kyoto.
Já estamos vendo o caminho deslizante desses inúteis encontros, mas também notamos estarem os empresários brasileiros começando a enxergar a gravidade da situação descrita no 4° relatório do IPCC. Com a publicação da “Carta aberta ao Brasil sobre mudanças climáticas – Nossa Visão”, diversos empresários demonstram perceber que a situação histórica por que passa o planeta não é “Conto da Carochinha”, a ser usada apenas como recurso de marketing, mas um “bicho papão”, real, concreto, efetivo, trágico. Vêem também que, para a normalização climática, são necessárias medidas concretas, extensivas ao planeta, que tornariam inviável a atual estrutura econômica. Isto é: as medidas para salvar o planeta são incompatíveis com o regime econômico vigente. E esse é o “calo” dos donos do dinheiro. Alguns empresários estão enxergando, agora, o que os ambientalistas há tempos apregoam com denodo.
Está a estrutura econômica diante de um desafio no qual a Vida está em jogo. É agir – e com urgência – ou perecer juntamente com as gerações futuras, impossibilitadas até de nascer. Estamos, historicamente, encerrando uma Era – a Econômica – para entrarmos na Era da Incerteza.
Causou-nos certa emoção a carta, amplamente divulgada em 25.8.2009, por 22 importantes empresas brasileiras reconhecendo a validade das admoestações feitas pelos ambientalistas. Põem em relevo, na mencionada carta aberta, o desafio civilizatório apontado pelo IPCC ao limitar a concentração de CO2 na atmosfera, neste século, a 18 Gt CO2e/ano. No entanto, reconhecem que atualmente as atividades econômicas humanos estão produzindo ao ritmo de 40 Gt CO2e/ano (!!!), o que representa uma tragédia anunciada. A carta implica a “mea-culpa”. Tardia, porém válida.
Mas, ainda aprisionados ao amor por bens materiais, sensíveis aos valores da cultura individualista, declaram que estão dispostos a entregar à causa um ou dois anéis que ostentam nos dedos, como se isso fosse suficiente para lhes salvar o pescoço. Falam no documento em “novo modelo de desenvolvimento” (haa! Como se agarram ao desenvolvimento!), planejamentos para 2020 (é tarde!) e redução de desmate em 80% (100% é o mínimo!).
De joelhos, à frente do confessionário, fazem uma solene listagem de promessas redentoras, na suposição de que essa entrega espiritual vá suprir os desfalques planetários. Com efeito, prometem um elenco de propósitos que não constam nas leis naturais que regem a biosfera, tais como:
a – relatórios de... (bla-bla-blá);
b – adotar estratégias condizentes... (com bla-bla-blá);
c – buscar redução de emissão de CO2... (buscar não é medida efetiva);
d – tentar convencer terceiros... (tentar!!!);
e – esforçar-se para compreensão... (esforçar-se!!!).

A carta que é longa, séria e sincera, configurando a visão deles, está indicando que alguns empresários já estão conseguindo ver a uma distância de até dois metros (o ideal seria quilômetros), o que lhes permite retroceder dois passos do abismo. É uma visão reduzida, míope, mas é melhor que a cegueira. No final, demonstram a pureza de intenções e sugerem ao governo brasileiro uma série de atitudes, todas elas inócuas como temos visto através da imobilidade do ministério do Meio Ambiente.
Nos aspectos em que a carta se mostra, os comandantes de economias inseridos nos outros paises têm melhor visão. O importante economista inglês Nicholas Stern já declarava, há poucos anos, que o preço de não fazer nada, no futuro próximo, será maior do que agir agora, com urgência.
Pelo exposto, o “gigante” começa a se mover. Só isso já basta para nos causar uma tênue esperança.

sábado, 22 de agosto de 2009

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL DO CLIMA

Por ser altamente significativa, damos divulgação à reportagem abaixo. Atente-se que as manifestações dos militares americanos, em tom realista e sombrio, confere certa procedência ao raciocínio perfilado em nosso livro “Agora ou Nunca Mais”.

“O surgimento da ‘primeira guerra mundial do clima’


A reportagem é de Angelo Aquaro, publicada no jornal La Republica, 10-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Centenas de milhares de pessoas se espremem na fronteira com a Índia, em fuga das terras submersas. O Paquistão está de joelhos. E essas centenas de milhares de refugiados reacendem o conflito entre islâmicos e hindus. A violência explode. Toda a região está fora de controle…”.

O próximo apocalipse não está descrito no roteiro de um filme, mas no relatório extremamente alarmante que a National Defense University, um instituto controlado pela inteligência e pelos militares norte-americanos, escreveu no final do ano passado, com George W. Bush ainda no comando, e do qual o New York Times revela agora a existência.

Inundações, guerras, carestias. O desastre à porta tem a assinatura de um único culpado: as mudanças climáticas. Mas a extraordinária novidade do último alarme está na assinatura. Não de uma associação ambientalista, não dos ativistas do verde, mas dos militares, da Defesa, da “intelligence”. “Deveremos pagar por tudo isso de um modo ou de outro”, diz Anthony C. Zinni, ex-general da Marinha e chefe do Comando Central. “Pagaremos para reduzir as emissões de gás hoje e teremos um contragolpe econômico extremamente duros. Ou pagaremos mais tarde e em termos militares: com o custo de vidas humanas”.

Os estudos foram praticamente censurados pelo governo Bush: tem poucos dias a “redescoberta” de uma série de fotos, mantidas sob sigilo, que demonstram como as mudanças climáticas já beberam uma parte do gelo do Ártico. Mas agora, na primeira fila, estão o Pentágono e o ministério da Defesa, com a ajuda da Nasa. Nos próximos 20 ou 30 anos, preveem os estudos, a diminuição do alimento, a seca e as inundações exigirão, da África subsaariana ao sudeste asiático, a escolha entre dois caminhos: a ajuda humanitária ou a resposta militar. Mas verdadeiramente só a intervenção militar poderá gerir uma emergência dessas.

O debate surgiu nos EUA às vésperas da discussão no Senado sobre o pacote climático que, com mil dores de barriga, Barack Obama conseguiu digerir na Câmara. John Kerry, justamente o ex-concorrente de Bush, está fazendo um grande trabalho para convencer cerca de 30 senadores, sobretudo no Sul, que paguem os cortes no carvão com o aumento das tarifas.

Eis o carvão. O poderoso lobby já terminou no escândalo com a publicação das cartas falsas ao Senado, em que ambientalistas expoentes pediam que parassem a reforma. Falsidades gravíssimas, muito além do costumeiro trabalho de lobby.

Agora, a entrada em campo da inteligência e da defesa poderia ser uma arma a mais para Obama. Um desastre ambiental, revela uma pesquisa do Departamento de Estado, colocaria em risco até estruturas militares como as bases navais de Norfolk e de San Diego. Teme-se também por Diego Garcia, a pequena ilha no Oceano Índico, de onde os EUA partiram ao ataque contra o Afeganistão. A ameaça é extremamente grande: a primeira guerra mundial do clima poderia ser, verdadeiramente, a última.”

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

DESVIO DE CONDUTA SOCIAL HUMANA

(Enviado pelo ambientalista Antídio S. P. Teixeira)

O belo artigo do Frei Beto é uma pérola que nos mostra quanto a humanidade se afastou de seus caminhos naturais e, complementando, a causa do desequilíbrio socioambiental que aflige a quem os ambientalistas que já detectaram.


DO MUNDO VIRTUAL AO ESPIRITUAL
Por Frei Betto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China... Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi¬nho de prédio ou de quadra!

Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos.

A palavra hoje é 'entretenimento' ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis,¬ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba¬ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes.. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su¬gestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.. Assim, pode-se viver melhor..

Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
'Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.'

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

COLAPSO MUNDIAL ?

Damos abaixo, em cumprimento ao nosso desejo construtivo de divulgar esclarecimentos formulados pelo eminente pensador Leonardo Boff (www.leonardoboff.com), o teor de mais um brilhante artigo, versando sobre a problemática ambiental.

EXTRAPOLAÇÃO E COLAPSO DO SISTEMA MUNDIAL?

“Os formuladores da visão sistêmica chamam a este fenômeno de extrapolação e colapso. Quer dizer, extrapolamos os limites e rumamos para um colapso.
Como nunca antes, se fala hoje em todos os paises e foruns, de desenvolvimento-crescimento. É uma obsessão que nos acompanha já há pelo menos três séculos. Agora que ocorreu o colapso econômico, a idéia retornou com renovado vigor, porque a lógica do sistema não permite, sem se autonegar, de abandonar essa idéia-matriz. Ai das economias que não conseguem refazer seus níveis de desenvolvimento-crescimento. Vão simplesmente sucumbir junto com uma eventual tragédia ecológica e humanitária.

Mas precisamos dizer com todas as palavras: essa retomada é uma armadilha na qual a maioria está caindo, inclusive Bento XVI na sua recente enciclica Caristas in veritate, toda dedicada ao desenvolvimento. Isso pôde ser verificado quase unanimemente, nos discursos dos representantes dos 192 povos presentes na ONU no final de junho. A grande exceção, que causou espanto, foi a fala inicial e final do Presidente da Assembléia da ONU, Miguel d’Escoto, que pensou para frente na lógica de um outro paradigma de relação Terra-Vida-Humanidade-Economia e subordinando o desenvolvimento a serviço destas realidades axiais. De resto, não se dizia outra coisa: há que se retomar o desenvolvimento-crescimento senão a crise se pereniza.

Por que digo que é uma armadilha? Porque, para alcançar os índices mínimos de desenvolvimento-crescimento de 2% anuais previstos, precisaríamos, dentro de pouco, de duas Terras iguais a que temos. Não o digo eu, disse-o o ex-presidente francês J. Chirac por ocasião da publicação em Paris no dia 2 de fevereiro de 2007 dos resultados do aquecimento global pelo IPCC. Repete-o com frequência o renomado biólogo Edward Wilson e o formulador da teoria da Terrra como Gaia, o cientista James Lovelock, entre outros. A Terra está dando inequívocos sinais de estresse generalizado. Há limites intransponíveis.

Recentemente, o Secretário da ONU, Ban-Ki-Moon alertou os povos de que temos cerca de dez anos apenas para salvar a civilização humana de uma ecocatástrofe planetária. Num número recente da revista Nature um prestigioso grupo de cientistas publicou um relatório sobre “Os limites do Planeta” (Planetary Boundaries) onde afirmavam que em vários ecossistemas da Terra estamos chegando ao pico (tipping Point) com referência à desertificação, ao derretimento das colotas polares e do Himalaia e à crescente acidez dos oceanos. Cabe aqui citar, a meu ver, o estudo mais bem fundado dos autores do legendário Os limites do crescimento do Clube de Roma de 1972: D. Meadows e J. Randers. O livro deles de 1992 tem por título que é um alerta: Além dos limites: colapso total ou um futuro sustentável.

A tese destes autores é de que a excessiva aceleração do desenvolvimento-crescimento das últimas décadas, do consumo e do desperdício, nos fizeram conhecer os limites ecológicos da Terra. Não há técnica nem modelo econômico que garanta a sustentabilidade do atual projeto. O economista Ignacy Sachs, amigo do Brasil, um dos poucos a propor um ecosociodesenvolvimento comenta: ”Não se pode excluir a idéia de que, por excesso de aplicação da racionalidade parcial, acabemos numa linha de irracionalidade global suicida”(Forum, junho 2009 p.19). Já afirmei neste espaço que a cultura do capital tem uma tendência auto-suicida. Prefere morrer a mudar, arrastando outros consigo.

Os formuladores da visão sistêmica chamam a este fenômeno de extrapolação e colapso. Quer dizer, extrapolamos os limites e rumamos para um colapso.

Serei pessimista? Respondo com José Saramango: “não sou pessimista, a realidade é que é péssima”. Efetivamente, ou abandonamos o barco do desenvolvimento insustentável na direção daquilo que a Carta da Terra chama de “modo sustentável de viver” e os andinos de “bem viver” ou então aceitaremos o risco de sermos despedidos deste planeta.
Mas como o universo é feito de virtualidades ainda não ensaiadas, esperamos que surja uma que nos salve a todos.”

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

MÍDIA, FÔRMA MENTAL

Nós, os ambientalistas brasileiros, somos uma expressiva minoria que labuta na inglória tarefa de trombetear para a humanidade que um perigo mortal se avizinha. Nossa única arma é a palavra – preponderantemente a escrita – lançada sobre as cabeças humanas sob as formas de artigos, comentários e livros. Nosso intuito – sem influência econômica nenhuma – é esclarecer a grande massa de viventes de que urge providências urgentes em defesa da Vida no planeta. Pedimos-lhe que se incorporem ao nosso núcleo para que, com mais substância representativa, possamos sensibilizar os responsáveis pela governança social. São diversos intelectuais empenhados em tão nobre e desprendida missão. No entanto... no entanto, devemos dar uma paradinha nesse afã para melhor proceder a algumas análises e críticas dos fatores que constroem a realidade presente.
Primeiro obstáculo, a quantidade enorme de humanos a quem intentamos convencer, dizendo-lhes que as ações devem ser urgentes, porque o planeta já está mostrando sua prostração. Para isso – conscientizar as pessoas –, não há mais tempo, além de que a oportunidade fica impedida pelo motivo a seguir abordado.
Entre outras diversas barreiras, devemos salientar a maior e mais significativa delas, porque se interpõe em nosso caminho, afinada que está em sua função-cúmplice de servir exclusivamente ao seu senhor, o sistema econômico. Referimo-nos à mídia, em seu sentido geral, profissional, empresarial, representativo. Não podemos esquecer que as ações midiáticas se assentam na manipulação criminosa dos conhecimentos obtidos na área da psicologia.
Atemo-nos ao espaço em que vivemos e conhecemos: o Brasil. Só aqui, segundo informes estatísticos oficiais, 80% dos brasileiros não lêem. Mesmo sabendo, não lêem. O máximo que fazem é ler as manchetes de jornais sensacionalistas, julgando-se então aptos a opinar sobre tudo. Afinal, “ler é muito chato”, no dizer de um governante próximo de nós. Não sabe ele que ler estimula a capacidade mental; instiga o pensamento e as idéias; faz-nos enxergar, perceber, sentir, conhecer, provoca a reflexão, aclarando a distinção entre o bem e o mal.
Mas o pior é a seguinte circunstância: Os 80% que não lêem, mais uns 10% que lêem apenas o que lhes convém, no total de 90%, são diariamente informados, enformados (pôr na fôrma) e formatados – diariamente, repetimos – de tudo o que lhes é transmitida pelos veículos “informativos” servis, por meio de seus programas inteiramente deseducativos, fúteis, infantis (para crianças e adultos), imorais, tendenciosos, parciais, capciosos e, por isso mesmo, alienantes.
Só nos resta gritar, para os 10% restantes, que estamos vivendo um período histórico decisivo para a continuidade de vida no planeta, mas que ainda há tempo – muito pouco, esclareça-se – para mudarmos o rumo desta civilização suicida. Juntos, os abnegados ambientalistas, despendem seu tempo de descanso e outros afazeres para, com o poder da escrita, atenderem ao clamor íntimo de sua consciência e redigir textos esclarecedores que norteiam a todos nós para um tomada de posição correta.
A mídia, por força de seus instrumentos tecnológicos, pujança financeira e sustento logístico do sistema, se contrapõe à pregação sadia dos ambientalistas, sem despender esforços; basta arrebanhar as mentes comodistas dos 90% de espectadores. Definição de espetáculo, modo de ação preferencial das emissoras de televisão: tudo o que prende a atenção dos comodistas mentais. Em outras palavras: paralisação ou anestesia do pensamento lógico. É um outro tipo de religião. Enquanto esta se alicerça apenas na opressão da alma, aquela se firma na valorização de bens materiais Essa atividade, garantidora do êxito da máquina estrutural do sistema, envolve praticamente todos os paises. A mídia é a linha de frente do que hoje é chamado de globalização, pois seus tentáculos se estendem e envolvem percentual expressivo da população mundial.
É contra esse Golias que nós os ambientalistas temos que lutar.

domingo, 9 de agosto de 2009

MORTAL CÍRCULO VICIOSO

Prosseguindo em nosso intuito de divulgar idéias esclarecedoras sobre o meio ambiente, transcrevemos a seguir um artigo do pensador Leonardo Boff (www.leonardoboff.com) publicado no jornal “O Tempo”.


"Estamos diante de um terrível e mortal círculo vicioso

Estamos todos sentados em cima de paradigmas civilizacionais e econômicos falidos. É o que nos revela a atual crise global. Nada de consistente se apresenta como alternativa viável em curto e médio prazos. Somos passageiros de um avião em voo cego. O que se oferece é fazer correções e controles à la Keynes que, no fundo, são mudanças no sistema, mas não do sistema. Que aparece como insustentável, incapaz de oferecer um horizonte promissor à humanidade. Por isso, a demanda é por outro paradigma de habitar este pequeno, devastado e superpovoado planeta. É urgente porque o relógio corre contra nós e temos pouca sabedoria e parco sentido de cooperação.
Em razão dos interesses dos poderosos que não fazem o necessário para evitar o fatal, as soluções implementadas mundo afora vão na linha de "mais do mesmo". Isso é absolutamente irracional, pois foi esse "mesmo" que levou à crise que poderá evoluir para uma tragédia completa. Estamos, pois, enredados num círculo vicioso letal. Dois impasses estão à vista, gostem ou não os economistas, "salvadores" do mundo: um humanitário e outro ecológico.
O primeiro é de natureza ética: a consciência planetária, surgida à deriva da globalização, suscita a pergunta: quanto de inumanidade e crueldade aguenta o espírito humano, ao verificar que 20% das pessoas consomem 80% de toda a riqueza da Terra, condenando o resto ao desespero, encurralados nos limites da sobrevivência? O ideal capitalista de crescimento ilimitado num planeta limitado parece não ser mais exequível ou só sob grande violência.
O segundo é o limite ecológico. O capitalismo criou a cultura do consumo e do desperdício, cujo protótipo é a sociedade norte-americana. Para generalizar essa cultura, seriam necessárias duas ou mais Terras semelhantes à nossa, o que torna o projeto irrealizável. Por outro lado, encostamos nos limites dos recursos e serviços da Terra e os ultrapassamos em 40%. Todas as energias alternativas à fóssil, mantido o atual consumo, atenderiam somente 30% da demanda global. Como se depreende, dentro do mesmo modelo, somos um sapo sendo lentamente cozido, sem chances de saltar da panela.
Há três propostas criativas: a da economia solidária, que não mais se guia pelo objetivo capitalista da maximização do lucro e de sua apropriação individual. A do escambo, que usa as moedas regionais. A terceira é a da biocivilização e da Terra da Boa Esperança, do economista polonês que dirige um centro de pesquisa sobre o Brasil em Paris: Ignacy Sachs. Ela confere centralidade à vida e à natureza, tendo o Brasil como o lugar de sua antecipação. As três são possíveis, mas não acumularam ainda força para ganhar a hegemonia.
Talvez elas nos pudessem salvar. Mas há tempo hábil? Gramsci dizia: "o velho não acaba de morrer e o novo custa a nascer". Não se desmonta uma cultura de um dia para outro.
Meu sentimento do mundo diz que vamos ao encontro de uma crise generalizada que nos colocará nos limites da sobrevivência. Chegando a água ao nariz, faremos tudo para nos salvar. Possivelmente, seremos todos socialistas, não por ideologia, mas por necessidade: os parcos recursos naturais serão repartidos equanimemente entre os integrantes da comunidade de vida.
Santo Agostinho ensinou que dois fatores ocasionam em nós grandes transformações: o sofrimento e o amor. Devemos aprender já a amar e sofrer por esta única Casa Comum, para que possa ser uma grande Arca de Noé que albergue a todos. Então será, sim, a Terra da Boa Esperança, sinal de um Jardim do Éden ainda por vir.”

sábado, 8 de agosto de 2009

S.O.S MÃE TERRA

Temos o prazer de transcrever abaixo um comentário do ambientalista Ivo S. G. Reis, administrador do blog “Debata, Desvenda e Divulgue”, pelo qual faz a apresentação da também ambientalista Neyde de Martino.

“O texto abaixo, eivado de sensibilidade poética, foi-nos enviado pela sua autora e agora também nossa colaboradora, Neyde De Martino, e aqui está sendo publicado a pedido. A autora se autodefine como uma "jovem senhora", observadora do mundo e preocupada com os seus problemas ambientais, que a humanidade teima em não querer enxergar. Uns, não enxergam por pura alienação social ou incapacidade analítica; outros, porque "não quererem enxergar", preferindo esconder ou minimizar a dura realidade dos fatos, para não chamar a atenção para o problema e poderem, assim, continuar suas atividades criminosas contra a Mãe Terra.
Este texto, bastante verdadeiro, e que até talvez possa ser classificado como "prosa poética", alerta para um dos principais problemas sociais e ambientais da atualidade: as conseqüências danosas da superpopulação planetária. Reforça e complementa o que vimos alertando neste blog, em especial o da matéria logo abaixo "Regredir para Sobreviver", do ambientalista Antídio Teixeira. Confrontem os textos e analisem os dois argumentos em relação ao assunto:
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S.O.S. Mãe Terra
Até quando, Mãe Terra, proverás teus filhos que aumentam dia-a-dia sobre ti ? Até quando teus recursos naturais irão proporcionar vida a teus filhos ? Teus filhos ingratos extraem tudo de ti. Dizem as estatísticas que a população mundial irá diminuir. Que os casais estão preferindo menos filhos. Mas até quando a Terra aguentará com suas reservas naturais ?
Existe gente demais no mundo. A superpopulação agride o Planeta, inferniza a vida e gera problemas globais.
"Não importa saber quantos homens a Terra pode alimentar, mas a partir de qual densidade, os homens começarão a se odiar uns aos outros" - disse certa vez o etnólogo austríaco Konrad Lorentz, Premio Nobel de Medicina em 1973. Ele pensava na "inevitável deterioração da qualidade de vida e do convívio entre pessoas, obrigadas a pelejar às cotoveladas pelos seus direitos, em ajuntamentos urbanos cada vez mais inchados, onde as asperezas do dia-a-dia cobram de todos e de cada um pesados tributos emocionais, pagos geralmente na moeda da violência".
Como disse Luiz Weis, na revista Superinteressante de 1989 — "Sem dúvida, era mais fácil amar o próximo, quando ele não estava tão próximo assim".
Só uma abordagem global para o problema de excesso de população poderá resolver essa questão. Não é uma ordem oficial como aconteceu na China, mas uma tomada de consciência individual que a resolverá.
Por quanto tempo mais aguentarás, Mãe Terra? Dentro de alguns anos tua população terá duplicado ou triplicado. Onde irão buscar "leite" de uma mãe esgotada?
Não será este o momento de se repensar nos perigos da procriação sem planejamento?”
Neyde de Martino

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

REGREDIR PARA SOBREVIVER

Antídio S.P. Teixeira
Já não pairam dúvidas de que a vida animada na Terra está ameaçada de se extinguir em poucas décadas, diferentemente do que pregam muitos cientistas subvencionados pelo poder “econômico” (financeiro) dominante no mundo. Muitas espécies já se extinguiram, e a maioria ainda existente, está ameaçada, inclusive a nossa. A causa fundamental destes desastres teve início no meado do século XVIII, quando se começou a queimar a matéria fossilizada, a hulha (carvão mineral), para impulsionar o progresso mundial que começava a despontar. Empresários e governantes da época, não tinham a mínima consciência das consequências futuras, e estimularam, e continuam estimulando até hoje, o consumo de bens industrializados como forma de obtenção de maiores lucros, já que substituíam na produção a energia animal e humana, mais caras, por outra fonte que nada lhes custara senão escavá-la na terra. Preocuparam-se muito em localizar e preservar as jazidas carboníferas e, mais tarde a de petróleo; e nenhum cuidado sobre as consequências do oxigênio consumido nas combustões e os efeitos futuros dos efluentes carbonados lançados na atmosfera.

O desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia apontou meios para realização da fundição do ferro em grande escala para fabricar vigas, trilhos, tubos e chapas; daí, a construção civil desenvolveu o crescimento vertical que culminou com as megalópoles; máquinas a vapor e, posteriormente motores movidos a petróleo revolucionaram os transportes. Contando com estas fontes de energia barata, promoveram a abolição da escravatura e reduziram, gradativamente, a mão-de-obra operária, causando desemprego nos países que não dispunham de tais fontes energéticas.

O mal maior começou a dar os primeiros sinais na década de 1970, com o aparecimento do buraco na camada de ozônio sobre o Pólo Sul; e daí, com a progressão geométrica do consumo dos combustíveis fósseis, agora incluindo o gás natural, a deformação da cobertura atmosférica, proporcionou a formação do aquecimento global, e este, as mudanças climáticas que estão se processando aceleradamente. Com elas, chuvas torrenciais em regiões até então não sujeitas a elas, assim como secas prolongadas onde antes não havia, comprometendo a produtividade agropecuária e encarecimento dos produtos delas derivados. A fome cresce em vários países, muitos deles, até então, considerados ricos. Mudanças nos regimes de ventos incidentes sobre áreas em situação de secas, vêm causando incêndios florestais incontroláveis, atingindo áreas urbanas e queimando valiosas habitações e instalações comerciais; também, chuvas torrenciais vêm causando inundações, danificando cidades e devastando lavouras. Tudo isso vem comprometendo a economia globalizada, que já está quebrada, e a disputa entre países poderá arrastar o mundo a uma guerra que, se chegar às armas nucleares poderá abreviar a agonia da vida terrestre. REGREDIR em alguns hábitos de consumo e uso de produtos e serviços que careçam de maior consumo de energia é necessário como forma de sobrevivência das espécies.

É necessário que os povos se reorganizem social e culturalmente adotando costumes dentro de modelos que reduzam ao máximo o consumo de todas as formas de energia, (elétrica, calorífica, dinâmica, etc)., pois, mais de 90% delas derivam de processos poluentes, e as fontes de energia limpa disponíveis no mundo, (hidráulicas e eólias), mesmo todas aproveitadas, não serão suficientes para atender às necessidades essenciais da humanidade, e mais as supérfluas das classes privilegiadas. Tanto mais energia for consumida no mundo, maior será a carga poluente lançada no meio ambiente e maiores serão os prejuízos na economia globalizada.

Sugestão de iniciativas pessoais e sociais benéficas:
1º) – Através de debates, procurar conscientizar outras pessoas deste perigo que nos ronda;
2º) - Reduzir, ao máximo, o consumo e uso de tudo que não for realmente necessário;
3º) – Aplicar as economias que forem geradas na retração do consumo em planos agrícolas e de reflorestamento para fins energéticos e/ou para captação e retenção do carbono atmosférico; e, finalmente;
4º) – Encarar de frente preceitos religiosos e legais e incentivar a criação de programas de redução da carga populacional do mundo, até que se encontre o equilíbrio de sustentabilidade.
Rio de Janeiro, 2 de agosto de 2.009

O mínimo que você poderá fazer para começar a melhorar a segurança e o bem-estar social no mundo, assim como para o amanhã de nossos descendentes, é repassar esta nota e outras com o mesmo objetivo, para o maior número de pessoas que lhe for possível.
Antídio S. P. Teixeira

sábado, 1 de agosto de 2009

HONDURAS - OPORTUNIDADE PARA EXERCITAR O ESPÍRITO CRÍTICO

Ocupa diariamente os espaços dos jornais e noticiários a situação política em Honduras. O presidente constitucional Manuel Zelaya foi destituído pelos militares pátrios e substituído por Roberto Micheletti. Os principais governos do mundo, inclusive o Brasil, condenaram a solução de força e estão tomando medidas no sentido de que o senhor Zelaya retorne ao mandato. Para isso, além das pressões de ordem diplomática, os EE.UU e paises da Europa implementaram ações econômicas contra o país. O governo americano cancelou “ajuda” econômica de milhões de dólares e impediu o embarque de matéria prima destinada à indústria hondurenha (que pertence majoritariamente a americanos), ocasionando-lhe paralisação de atividades e a conseqüente demissão de operários hondurenhos (estes, sim, hondurenhos). A Comunidade Européia interrompeu um programa de “empréstimos”. Nenhum país reconheceu o novo governo de Honduras e todos insistem em que seja reempossado o antigo mandatário. O mundo todo contra a situação de mando desse país. E eu, sozinho, contra o mundo. Devo esclarecer logo que também sou favorável a Zelaya, mas não posso repelir minha capacidade de raciocinar, analisando sem paixão a situação desse infeliz povo que habita uma região geográfica a que chamamos Honduras.
O que estamos assistindo é simplesmente a uma ingerência aberta na soberania de um país. Ou, por outra, fica patente que não há soberania e sim tolerância. Uns e outros países poderosos toleram a existência dos mais fracos. É uma situação pacífica de guerra. A rigor, nenhum governo estrangeiro tem o direito de modificar o curso histórico de outro país. Se tal desenho hondurenho passa por essa fase, boa ou ruim, é assunto exclusivamente de competência de seu povo.
Todos os retalhos do mundo são a resultante de embate de forças políticas e militares legítimas ou ilegítimas; isso não importa, mas constitui a história de cada Estado. Se a soberania das nações é apregoada para todos os cantos – como complemento da retórica chamada democracia – perante a lógica da razão, não nos podemos servir da hipocrisia. Sabemos que estamos teorizando, pois os fatos nos indicam que sempre as nações mais fortes interferem na formação do destino das mais fracas, mas não podemos fugir de expor o resultado de nossa análise. Na estrutura mundial, feita apenas de visões econômicas, não há respeito, sinceridade, humanismo, ética; só interesses econômicos, essa força bruta, irracional que está destruindo a alma humana e o planeta.
Além das considerações acima, cabe-nos tirar a conclusão de que o processo de invasão econômica é sub-reptício, destrutivo de nacionalidades e que se mostra bem à vista nessas horas. Com fornecimento ou não de sangue monetário, os EE.UU. sufocam o povo cubano; obtêm a aquiescência da Polônia e República Tcheca para servirem de campo de guerra nuclear; estrangulam os direitos básicos dos palestinos; tentam subjugar a Coréia do Norte e Irã.
As principais empresas brasileiras pertencem ao capital internacional. Isso equivale a uma corda colocada no pescoço. É só puxar, de acordo com as conveniências do dono da corda. É a globalização econômica e política. O poder militar só é chamado se a vítima opuser resistência.
O mundo não está assentado na Justiça, mas na Força, tal como era escolhido, nos primórdios, o chefe do clã humano e o dos animais irracionais.