domingo, 30 de dezembro de 2012

A FILOSOFIA COMO OBJETIVO DE VIDA

Autora:  Magui Guimarães
Filosofia é o estudo que leva aprender a pensar. Refletindo de forma estruturada há mais chances de encontrar as respostas essenciais a respeito da vida: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que estamos fazendo aqui?
 
Ser filosofo é uma atitude natural do ser humano. O espírito humano quando se manifesta, busca naturalmente um conhecimento. Quem tem criança em casa sabe disso. Pai de onde vem a galinha? De onde vem o ovo?
 
A maioria acha que a filosofia não presta para nada. Quando queremos conhecer, na verdade queremos organizar. A filosofia está intimamente ligada com a organização e ordenação das coisas, em função da funcionalidade ou em função da beleza. Beleza que a natureza expressa por estar organizada com a lógica estética.
 
O verdadeiro conhecimento estabelece uma relação harmônica entre as coisas. O mecânico do carro conhece a estrutura do carro, mas ainda não é um filósofo, pois só tem a relação funcional das coisas. A compreensão de como funciona traz o aspecto relacional da interconexão das peças, assim como a compreensão de como o ser humano funciona traz sincronização com os fenômenos da natureza.
 
A partir da capacidade de observação das leis da natureza, o homem pode entender todo o universo. Assim como irá dominar a si mesmo através da observação dos seus movimentos subjetivos.
 
A Filosofia tem a capacidade de relacionar as coisas, e conectar o homem com o divino, o que é o objetivo da vida humana.
 
Fonte: Fábio Oliveira

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A VIDA É SIMPLES

 
Autora: Eloína Ariana
Por que é tão difícil encontrar uma maneira para o mundo mudar? Por que é tão confuso os direitos e deveres de um cidadão, onde só se faz cidadania quando se tem uma posição social alta? Às vezes fico me perguntando até onde o homem irá chegar com suas invenções, com seu egoísmo, com sua ganância de querer sempre mais. A vida é tão simples, o homem é quem complica e dificulta a maneira de viver.
Fico pensando o que será desses pobres anjinhos que nascem, das criancinhas que vivem o conto de fadas, que sonham além do possível. O que será que vai acontecer quando esses pequeninos despertarem desse sonho, para viver o pesadelo desse mundo tão injusto e cruel? Onde muitos morrem por apenas dizer a verdade, onde muitos morrem antes de ver e apreciar a luz do sol e onde muitos lutam para conseguir sobreviver.
Como será daqui dez anos? Rios poluídos, florestas desmatadas, animais extintos tudo e mais um pouco do que hoje aterroriza nossas vidas. Eu espero que até lá muitos façam sua parte, contribuindo para um mundo melhor. Não custa nada, só basta um gesto de humildade, um pouquinho de amor, de simplicidade, de respeito, deixando os preconceitos, as maldades que não levam a lugar nenhum, respeitando todos, independente da sua situação, aceitando as diferenças do outro, ajudando, contribuindo.
Nós somos o presente, o futuro de um amanhã bem próspero, de um amanhã que pode ser diferente e só depende de nós. Vamos batalhar, unir nossas forças. Sou apenas uma estrela no céu, mas unidos podemos ser uma verdadeira constelação! Vale à pena tentar!
Tudo é tão lindo, tão perfeito. As rosas com seu perfume, o sol com seu brilho intenso. Vamos dar valor às mínimas coisas. Tire um minutinho do seu tempo e analise o que você tem feito para que essa beleza incomparável continue. Pense se você realmente está na luta, se você está batalhando e contribuindo para um mundo melhor, analise!
Será que seus netos terão o prazer de respirar o ar puro? Deitar debaixo da sombra? Contemplar a beleza da vida e da natureza? Dê essa oportunidade para eles e fará um bem sem tamanho. Vamos aprender a viver, aprender a ser justo, digno, e tudo mudará. Entre na luta e não no buraco e na tristeza!O mundo tem tudo para melhorar. Pense nos outros que necessitam de sua ajuda, pense na felicidade que poderá transmitir com um simples carinho. A natureza te recompensará e desde já, agradece
Fonte: Fábio Oliveira

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O MUNDO NÃO ACABOU, POR ENQUANTO

 
Autor: José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] Algumas interpretações do calendário Maia diziam que o mundo vai acabar no dia 21/12/2012, uma sexta-feira. Estou escrevendo na véspera e não sei o que vai acontecer. Mas não existem sinais evidentes de que haja algum meteoro ou alguma atividade solar extrema que vá destruir a Terra, de supetão.

Provavelmente, o mundo vai acordar no mesmo ritmo atual, no dia 22/12/2012. Mas isto não quer dizer que o mundo, tal como conhecemos, não vá acabar, pois, se depender do ser humano, a natureza e os ecossistemas estão com os “dias contados”. As ameaças ao Planeta não devem vir do espaço ou da invasão de alienígena, mas sim das atividades endógenas de um “câncer” que consome e destrói a diversidade da vida na Terra.

O prêmio Nobel de Química de 1995, o holandês Paul Crutzen, avaliando o grau do impacto ambientalmente destruidor das atividades humanas afirmou que o mundo entrou em uma nova era geológica: a do ANTROPOCENO. Este termo, que tem antigas raízes etimológicas gregas significa “época da dominação humana” e representa um novo período da história da Terra em que o ser humano se tornou a causa da escalada global da mudança ambiental.

A humanidade tem afetado não só o clima da Terra, mas também química dos oceanos, os habitats terrestres e marinhos, a qualidade do ar e da água, os ciclos de água, nitrogênio e fósforo, alterando os diversos componentes essenciais que sustentam a vida no planeta. Cerca de 30 mil espécies são extintas a cada ano. A humanidade está provocando a redução da biodiversidade da Terra.

O biólogo E. Wilson considera que a humanidade é a primeira espécie na história da vida na Terra a se tornar numa força geofísica destruidora. Nas últimas seis décadas, na medida em que o PIB mundial crescia e os recursos naturais eram canalizados para o desfrute do consumo e do bem-estar humanos, houve uma investida exponencial sobre todos os ecossistemas do Planeta. O progresso humano tem significado regresso ambiental e extinção de inúmeras espécies.

Portanto, talvez o Antropoceno seja a última Era geológica/antropológica do Planeta Azul. Mesmo acordando felizes em 22/12/2012, com os nossos direitos humanos mais ou menos respeitados, os rumos da economia, provavelmente, vão continuar enfrentando em choque com a biodiversidade, ao mesmo tempo em que provocam a redução ou a extinção de várias espécies, vítimas da fúria antropocêntrica

Fonte: Ecodebate, 26.12.12


sábado, 22 de dezembro de 2012

PIB - PRODUTO INTERNO BRUTO

Autor: Mauro Velado Neto
   Ultimamente, os economistas e governos têm-se preocupado muito com o PIB do país. Vemos os governantes festejarem sorridentes ao falarem sobre o crescimento desse índice. Outros deploram que a previsão do ano “infelizmente” não será alcançada.
   O PIB, produto interno bruto, é a soma do valor de todos os bens e serviços internos em um determinado período, geralmente de um ano. É um indicador do crescimento das atividades comerciais de um país ou região.
   Atualmente, todos os dirigentes do planeta estão lamentando que em 2012 os índices previstos não serão alcançados. A média global está estimada em 2,5 de crescimento, enquanto aqui no Brasil o ministro Mântega deplorou que a projeção do PIB para este ano aponta para apenas 1,0, não obstante os malabarismos artificiais do governo, o que representa a construção de uma bolha econômica destinada a arrebentar em cima da sociedade num futuro próximo.  
   “Até quando, ó Catilina” destruirás a Terra que te abrigou?
   Os governos provam, com isso, que enxergam apenas a materialidade de suas ações. Isto é, são instrumentos econômicos que se preocupam com as materialidades da vida. Não têm a menor capacidade para se orientarem para os valores espirituais da vivência, bens que constituem, sustentam e engrandecem a própria vida.
   Observemos que o aumento do PIB corresponde a igual aumento do índice do lixo. Corresponde ao aumento do CO2 que envenena o ar que respiramos, minguando os recursos naturais limitados do planeta que já está desfalcado em 30% de sua capacidade.
   O índice do PIB em um ano é, na verdade, o acréscimo ou crescimento material por atividades econômicas. Não dão importância à melhoria ou qualidade de instrução de um povo, pois o povo nada mais é que um caldo inculto onde proliferam os vírus sociais, geralmente chamados políticos.
   Não se aquilatam o desenvolvimento intelectual e libertação mental desse povo. Isso por que têm medo de um povo mentalmente independente que recusaria ser conduzido pelo cabresto da mídia criminosa.
  Os governantes contam como grande vantagem o valor do PIB, louvando o seu aumento e lamentando a sua diminuição.
  Com o exercício do consumismo desenfreado - principalmente sem limite na área feminina -, estamos caminhando célere para a extinção da vida animada em tão belo Paraíso.
  A palavra solução é uma só: juízo. Juízo para aprender a não possuir materialidades; juízo para conhecer-se, usando a própria mente; juízo para limitar a procriação, pois o mundo já tem população superior a sete bilhões; juízo para não servir de joguete comercial; juízo para digerir com sabedoria o que acaba de ler.
 
 
 
 
 
  
 
  

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A POPULAÇÃO DO BRASIL EM 2100

Autor: José Eustáquio Diniz Alves
 [EcoDebate] A população do Brasil girava em torno de 3,4 milhões de habitantes em 1800, chegou a 17,4 milhões em 1900 e a 170 milhões no ano 2000. Ou seja, pouco antes da chegada da família real portuguesa, a população brasileira, que era cerca da metade do tamanho atual do número de habitantes da cidade do Rio de Janeiro, se multilplicou por 5 vezes no século XIX e por 10 vezes no século XX. Em 200 anos, o número de pessoas vivendo no território brasileiro aumentou 50 vezes.
Foi um dos maiores crescimentos demográficos do mundo. Mas o montante inicial era muito pequeno e a densidade demográfica brasileira chegou apenas a 23 habitantes por km2, em 2010. É uma densidade maior do que a da Austrália (3 hab/km2), do Canadá (3 hab/km2) e da Rússia (8 hab/km2), mas muito menor do que a densidade da China (140 hab/km2) e da Índia (373 hab/km2).
Com certeza, o alto crescimento populacional do Brasil no período 1800 a 2000 não vai se repetir no século XXI. A projeção média da ONU indica que o número de brasileiros deve atingir um pico máximo de 224 milhões no final da década de 2030 e depois iniciar um declínio para 223 milhões em 2050 e 177 milhões em 2100. As projeções do IBGE, feitas em 2008, também indicam números parecidos com estes da ONU (mesmo porque a ONU se baseia nos dados do IBGE para as projeções do Brasil). Mas uma projeção do IPEA de 2009 indica que o pico populacional não deve ultrapassar 210 milhões de habitantes por volta de 2030, iniciando em seguida o processo de declínio.
Para se fazer projeções é preciso considerar a mortalidade, a migração e a fecundidade. Na primeira variável, as projeções indicam que a mortalidade infantil vai continuar caindo e a esperança de vida subindo. Na segunda variável não se espera grandes saldos migratórios que influenciem o tamanho da população. Portanto, a variável chave para determinar o futuro da população brasileira é a fecundidade.
A taxa de fecundidade total (TFT) no Brasil caiu de pouco mais de 6 filhos por mulher que prevalecia até 1960, para 1,9 filhos por mulher em 2010. Isto quer dizer que o Brasil já entrou na fase de fecundidade abaixo do nível de reposição (que é de 2,1 filhos por mulher). Se esta taxa se mantiver nas próximas décadas a população brasileira vai decrescer depois que passar o efeito da inércia demográfica, fruto da estrutura etária jovem.
A projeção média da ONU indica uma TFT de 1,7 filho por mulher em 2045-50 e uma recuperação para 2 filhos por mulher até 2100. Nas projeções alta e baixa se adiciona ou subtrai meio filho (0,5) na taxa média. O resultado é que a população brasileira poderia chegar em 2050 com um montante de 259 milhões na hipótes alta, de 223 milhões na hipótese média e de 191 milhões na hipótese baixa. Para 2100 os números são: 314 milhões de habitantes na alta, 177 milhões na média e somente 93 milhões na hipótese baixa. Ou seja, a população brasileira no final do século XXI pode variar de 93 milhões a 313 milhões. Mas nas condições atuais, o mais provável é que fique em torno dos mesmos 170 milhões de habitantes do ano 2000, indicando um crescimento próximo de zero no século XXI.
A transição da fecundidade no Brasil aconteceu mesmo sem haver políticas explícitas de controle da natalidade. Ao contrário, o que havia era uma coalizão de forças contrárias ao chamado planejamento familiar. Nas décadas de 1960 e 1970, os militares, a igreja católica, a esquerda e o movimento feminista se opunham ao pensamento neomalthusiano que via a redução do número médio de filhos das famílias como um fator positivo para a redução da pobreza e o avanço da renda nacional e familiar.
Porém, a despeito de tudo e de todos, as taxas de fecundidade cairam rapidamente, pois houve uma reversão do fluxo intergeracional de riquezas. Ou seja, houve um aumento do custo e uma redução dos benefícios dos filhos. Com o processo de urbanização, industrialização e secularização do país, as famílias passaram a limitar o tamanho da prole, reduzindo a quantidade de crianças e investindo na qualidade (educação, etc.) dos filhos. Atualmente, as taxas de fecundidade no Brasil já estão abaixo do nível de reposição e a perspectiva é que continuem caindo nas próximas décadas. Até quando vão cair ninguém sabe e é com grande curiosidade que os demógrafos estudam esta questão.
O fato é que as taxas de fecundidade no Brasil já estão em declínio há 50 anos. Isto significa que o país está em pleno processo de mudança da estrutura etária, deixando de ser um país predominantemente de jovens para se tornar um país com forte presença de idosos. Atualmente as pessoas com 60 anos ou mais de idade representam 12% da população total, mas deve chegar a 30% em 2050. Os desafios do aumento da razão de dependência demográfica serão enormes. É preciso que as políticas públicas começem a tratar destes assuntos desde já, para que o futuro da população grisalha não seja cinzento e opaco.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate
 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

17 FEVEREIRO DE 1.600

Autor: Jorge Angel Livraga Rizzi, Filósofo
Talvez ao leitor não lhe diga nada esta data, mas é, na verdade, uma das mais representativas da presente civilização. No final do século XVI da Era Cristã, vivia um estranho filósofo que, como os seus antigos colegas da Grécia Clássica, dominava quase todo o conhecimento religioso, científico e artístico da sua época.
Durante os primeiros anos da sua vida destacou-se pela sua clara inteligência e espírito meditativo, e entrou num convento movido por uma fome mística, a mesma que lhe rodearia durante toda a sua vida tão inexoravelmente como as ondas rodeiam uma ilha. Mas, na verdade estava só… Ele pertencia a um futuro que mesmo os homens atuais, com todos os seus avanços técnicos, não puderam realizar plenamente.
Rebelou-se contra o obscurantismo medieval que, no seu fim, agonizante e enlouquecido, pretendia desbaratar a chamada da razão e da ciência investigadora. Renunciou aos hábitos e começou uma longa peregrinação que o levou ao Oriente e, talvez, até às portas do próprio Tibete Sagrado. No seu regresso, já dono de um rigor cultural extraordinário, começou a rebater com as mais originais teorias as superstições dos «Doutos» dessa Europa sumida na violenta comoção do Renascimento italiano.
Esse sábio chamou-se Giordano Bruno. Expôs em quase todas as principais Universidades a sua teoria sobre «A Pluralidade dos Mundos Habitados», quer dizer, que as estrelas não eram buracos na tela do céu, nem faróis sustentados por um Deus antropomórfico para iluminar a sua criação, mas sistemas solares como o nosso, rodeados de Planetas como a Terra e que, por lei de analogia, deveriam estar habitados por seres mais ou menos inteligentes.
Afirmou a Onipotência real de uma Lei-Natureza ou Divindade Imanente que estava em todos os seres sem diferenciação alguma e que iluminava a alma de cada homem sem distinção de posição social, credo religioso ou lugar geográfico. Ensinou aos seus discípulos que a Lei da Evolução, que desde sempre se sustentou no Oriente, estava complementada por outra de Correlação entre Causa e Efeito e a capacidade da Alma de tomar novos corpos periodicamente, ou seja, de reencarnar.
Tudo foi visto com maus olhos e começaram a perseguir-lhe e a destruir os seus escritos, invocando uma obediência inverossímil ao diabo-entidade que, por outro lado, segundo Giordano, só existia como forma mental, criada pelo temor ou ignorância dos homens.
Finalmente, devido à traição de um dos seus discípulos, foi preso em Veneza e encerrado na prisão de «I Piombi», na qual foi alojado, numa das celas submarinas, durante sete anos, ou seja, 2.555 dias com as suas 2.555 noites, sem ver outra luz do que a que se infiltrava por baixo da porta e tomando o mais pobre dos alimentos sobre os seus próprios desperdícios.
Tão miserável vida, somada ao fragor enlouquecedor e contínuo das ondas a romper sobre a sua encanecida cabeça, converteram-no em um dos cérebros mais brilhantes da sua época numa besta com forma humana, incapaz nos últimos tempos de emitir outra coisa que não fossem rugidos.
O Tribunal do «Santo» Ofício trasladou-o para Roma e foi julgado no convento de Santa Maria de Minerva, onde foi condenado a morrer na fogueira, depois de lhe ser arrancada a língua em pedaços. Mas ao ser-lhe lida a sentença, este Iniciado dos Mistérios Eternos reviveu de entre as cinzas do seu corpo e erguendo-se, envergonhou os seus juízes com esta frase:
«Tremeis mais vocês ao lerem-me esta sentença do que eu a escutá-la». Como que por milagre explicou com voz firme e enérgica os fundamentos científicos e filosóficos das suas teorias e a não agressão que tinha caracterizado todas as suas manifestações. Esta última fase do processo foi silenciada para o mundo, pois os seus captores tratavam de o fazer parecer um louco e ignorante feiticeiro. Mas, no século XX descobriram-se documentos (Strumenti e sentence ad anno 1580 al ano 1600, pág. 1379 à 1381) que puseram a claro para sempre tão lamentável episódio da história.
Sete dias permaneceu Giordano na cova inquisitorial e, ao amanhecer do dia 17 de Fevereiro de 1600, foi arrastado até um Funcionário Eclesiástico que lhe leu a fórmula: «Será castigado com clemência e sem derramamento de sangue». Poucas horas mais tarde foi vestido com o infamante uniforme dos condenados, mal pintado com cabeças de diabos e figuras geométricas e conduzido ao «Campo dei Fiori».
Depois da execução deste Benfeitor da Humanidade, as suas cinzas foram espalhadas ao vento, mas também outros homens mais inteligentes espalharam os seus ensinamentos que são, na sua maioria, do domínio público nas casas de estudo de todo o Mundo Civilizado. Nesta oportunidade em que o homem tenta conhecer a vida em outros mundos longínquos, recordemos com reverência a quem, pressentindo o futuro, foi assassinado por anunciá-lo.
Fonte: Fábio Oliveira

domingo, 16 de dezembro de 2012

OBESIDADE MENTAL


Autor: João César das Neves
O prof. Andrew Oitke, publicou o seu polêmico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.  Nessa obra, o catedrático de Antropologia em  Harvard,  introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
                               
Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.
Segundo o autor, a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.
Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema.
Os telejornais são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.
O problema central está na família e na escola. Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.
Com uma “alimentação intelectual” tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.
Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas.
A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.
O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante. “Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.”
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Cistina tem teto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandela é bom, mas nem desconfiam do porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto.
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.

Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.

O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa, sobretudo, de dieta mental.
Fonte: Fábio Oliveira
 
 
 
 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O COMUNISMO ÉTICO DE OSCAR NIEMEYER

 
Autor: Leonardo Boff

Não tive muitos encontros com Oscar Niemeyer. Mas os que tive foram longos e densos. Que falaria um arquiteto com um teólogo senão sobre Deus, sobre religião, sobre a injustiça dos pobres e sobre o sentido da vida?
 

Nas nossas conversas, sentia alguém com uma profunda saudade de Deus. Invejava-me que, me tendo por inteligente (na opinião dele), ainda assim acreditava em Deus, coisa que ele não conseguia. Mas eu o tranquilizava ao dizer: o importante não é crer ou não crer em Deus.
 
Mas viver com ética, amor, solidariedade e compaixão pelos que mais sofrem. Pois, na tarde da vida, o que conta mesmo são tais coisas. E nesse ponto ele estava muito bem colocado. Seu olhar se perdia ao longe, com leve brilho.
 
Impressionou-se sobremaneira, certa feita, quando lhe disse a frase de um teólogo medieval: “Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”. E ele retrucou: “Mas que significa isso?” Eu respondi: “Deus não é um objeto que pode ser encontrado por ai; se assim fosse, ele seria uma parte do mundo e não Deus”. Mas então, perguntou ele: “Que raio é esse Deus?” E eu, quase sussurrando, disse-lhe: “É uma espécie de Energia poderosa e amorosa, que cria as condições para que as coisas possam existir; é mais ou menos como o olho: ele vê tudo mas não pode ver a si mesmo; ou como o pensamento: a força pela qual o pensamento pensa não pode ser pensada”.
 
E ele ficou pensativo. Mas continuou: “A teologia cristã diz isso?” Eu respondi: “Diz, mas tem vergonha de dizê-lo, porque então deveria antes calar que falar; e vive falando, especialmente os papas”. Mas consolei-o com uma frase atribuída a Jorge Luis Borges, o grande argentino: ”A teologia é uma ciência curiosa: nela tudo é verdadeiro, porque tudo é inventado”. Achou muita graça. Mais graça achou com uma bela trouvaille de um gari do Rio, o famoso Gari Sorriso: “Deus é o vento e a lua; é a dinâmica do crescer; é aplaudir quem sobe e aparar quem desce”. Desconfio que Oscar não teria dificuldade de aceitar esse Deus tão humano e tão próximo a nós.
 
Mas sorriu com suavidade. E eu aproveitei para dizer: “Não é a mesma coisa com sua arquitetura? Nela tudo é bonito e simples, não porque é racional, mas porque tudo é inventado e fruto da imaginação”. Nisso ele concordou adiantando que na arquitetura se inspira mais lendo poesia, romance e ficção do que se entregando a elucubrações intelectuais. E eu ponderei: “Na religião é mais ou menos a mesma coisa: a grandeza da religião é a fantasia, a capacidade utópica de projetar reinos de justiça e céus de felicidade. E grandes pensadores modernos da religião como Bloch, Goldman, Durkheim, Rubem Alves e outros não dizem outra coisa: o nosso equívoco foi colocar a religião na razão quando o seu nicho natural se encontra no imaginário e no princípio esperança. Aí ela mostra a sua verdade. E nos pode inspirar um sentido de vida”.
 
Para mim, a grandeza de Oscar Niemeyer não reside apenas na sua genialidade, reconhecida e louvada no mundo inteiro. Mas na sua concepção da vida e da profundidade de seu comunismo. Para ele, “a vida é um sopro”, leve e passageiro. Mas um sopro vivido com plena inteireza. Antes de mais nada, a vida para ele não era puro desfrute, mas criatividade e trabalho. Trabalhou até o fim, como Picasso, produzindo mais de 600 obras. Mas como era inteiro, cultivava as artes, a literatura e as ciências. Ultimamente, se pôs a estudar cosmologia e física quântica. Enchia-se de admiração e de espanto diante da grandeza do universo.
 
Mas mais que tudo cultivou a amizade, a solidariedade e a benquerença para com todos. “O importante não é a arquitetura” repetia muitas vezes; “O importante é a vida”. Mas não qualquer vida; a vida vivida na busca da transformação necessária que supere as injustiças contra os pobres, que melhore esse mundo perverso, vida que se traduz em solidariedade e amizade. No JB de 21/04/2007 confessou: ”O fundamental é reconhecer que a vida é injusta, e só de mãos dadas, como irmãos e irmãs, podemos vivê-la melhor”.
 
Seu comunismo está muito próximo daquele dos primeiros cristãos, referido nos Atos dos Apóstolos nos capítulos 2 e 4. Aí se diz que “os cristãos colocavam tudo em comum" e que "não havia pobres entre eles”. Portanto, não era um comunismo ideológico mas ético e humanitário: compartilhar, viver com sobriedade, como sempre viveu, despojar-se do dinheiro e ajudar a quem precisasse. Tudo deveria ser comum. Perguntado por um jornalista se aceitaria a pílula da eterna juventude, respondeu coerentemente: “Aceitaria se fosse para todo mundo; não quero a imortalidade só para mim”.
 
Um fato ficou-me inesquecível. Ocorreu nos inícios dos anos 80 do século passado. Estando Oscar em Petrópolis, me convidou para almoçar com ele. Eu havia chegado naquele dia de Cuba, onde, com Frei Betto, durante anos dialogávamos com os vários escalões do governo (sempre vigiados pelo SNI), a pedido de Fidel Castro, para ver se os tirávamos da concepção dogmática e rígida do marxismo soviético. Eram tempos tranquilos em Cuba que, com o apoio da União Soviética, podia levar avante seus esplêndidos projetos de saúde, de educação e de cultura. Contei que, por todos os lados aonde tinha ido em Cuba, nunca encontrei favelas mas uma pobreza digna e operosa. Contei mil coisas de Cuba que, segundo Frei Betto, na época era “uma Bahia que deu certo”. Seus olhos brilhavam. Quase não comia. Enchia-se de entusiasmo ao ver que, em algum lugar do mundo, seu sonho de comunismo poderia, pelo menos em parte, ganhar corpo e ser bom para as maiorias.
 
Qual não foi o meu espanto quando, dois dias após, apareceu na Folha de S. Paulo um artigo dele com um belo desenho de três montanhas, com uma cruz em cima. Em certa altura dizia: “Descendo a Serra de Petrópolis ao Rio, eu, que sou ateu, rezava para o Deus de Frei Boff para que aquela situação do povo cubano pudesse um dia se realizar no Brasil”.
 

Essa era a generosidade cálida, suave e radicalmente humana de Oscar Niemeyer.
 
Guardo uma memória perene dele. Adquiri de Darcy Ribeiro, de quem Oscar era amigo-irmão, um pequeno apartamento no bairro do Alto da Boa Vista, no Vale Encantando. De lá se avista toda a Barra da Tijuca até o fim do Recreio dos Bandeirantes. Oscar reformou aquele apartamento para o seu amigo, de tal forma que de qualquer lugar que estivesse, Darcy (que era pequeno de estatura), pudesse ver sempre o mar. Fez um estrado de uns 50 centímetros de altura e como não podia deixar de ser, com uma bela curva de canto, qual onda do mar ou corpo da mulher amada.
 
Aí me recolho quando quero escrever e meditar um pouco, pois um teólogo deve cuidar também de salvar a sua alma.
 
Por duas vezes se ofereceu para fazer uma maquete de igrejinha para o sítio onde moro em Araras, em Petrópolis. Relutei, pois considerava injusto valorizar minha propriedade com uma peça de um gênio como Oscar. Finalmente, Deus não está nem no céu nem na terra, está lá onde as portas da casa estão abertas.
 
A vida não está destinada a desaparecer na morte mas a se transfigurar alquimicamente através da morte. Oscar Niemeyer apenas passou para o outro lado da vida, para o lado invisível. Mas o invisível faz parte do visível. Por isso ele não está ausente, mas está presente, apenas invisível. Mas sempre com a mesma doçura, suavidade, amizade, solidariedade e amorosidade que permanentemente o caracterizaram. E de lá onde estiver, estará fantasiando, projetando e criando mundos belos, curvos e cheios de leveza.
Fonte: Fábio Oliveira, 12.12.12
 
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O SUICÍDIO DOS ESPANHÓIS

 
Autor:  Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] No ano de 2010 estive na Catalunha com grupos solidários que apóiam a Prelazia de São Félix do Araguaia. Era um pedido do bispo Pedro Casaldáliga. A temática era a Agenda Latinoamericana daquele ano, questão das mudanças climáticas, a defesa da mãe Terra.
Um dos lugares que estive foi a Universidade de Barcelona, conversando com alunos do Professor Arcadis Oliveris. Ele é o parceiro de Juan Martinez Alier, um dos pensadores da ecologia dos pobres.
Após a conversa com seus alunos, ele nos convidou – estava com Josephina, uma das militantes do grupo Araguaia – para irmos assistir uma palestra sua para jovens espanhóis desempregados. O lugar do evento era um prédio ocupado por “jovens sem teto”.
Mas, logo na saída, próximos à Universidade, ele nos mostrou um prédio e disse: “esses prédios estão vazios. Pertencem a uma empresa cujo os donos são a família Bush e família Bin Laden”.
Soltou uma gargalhada e complementou: ”guerra é guerra, negócios à parte. O problema imobiliário na Espanha vai ter as mesmas conseqüências da bolha dos Estados Unidos”.
O assunto da palestra com os jovens foi o mesmo da viagem. Mais de 200 jovens desempregados, ocupando um prédio público, ouvindo suas previsões sobre o futuro da Espanha.
Hoje, lendo os jornais, vendo o suicídio de pessoas por estarem sendo despejadas na Espanha, relembro o acerto mortal do economista, mas, vejo o quanto o capitalismo é cruel. Um país que tem um milhão de unidades habitacionais desocupadas, opta por jogar o povo na rua, mesmo diante da onda de suicídio. Agora, até o bancos estão reticentes em executar os despejos. Há algo de irracional nesses fatos, embora para o capital isso faça sentido.
Assim é com a fome de 900 milhões de pessoas no mundo mesmo havendo comida; assim é com 1,4 bilhão que não tem água potável, mesmo consumindo 70% da água doce do mundo na irrigação; assim é com o saneamento, habitação, ao infinito.
O mundo atual não vislumbra novas e imediatas saídas. A crise civilizacional é mais profunda, mais longa, até que a humanidade, ainda que seja pelos paradoxos e sofrimentos indizíveis, encontre outra forma de viver sobre a Terra.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
EcoDebate, 16/11/2012
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

ARÁBIA SAUDITA, CRESCIMENTO POPULACIONAL


Autor: José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] A Arábia Saudita é o único território do mundo onde o nome do país é baseado no sobrenome de uma família. A família saudita manda e desmanda em toda a nação, que tem instituições democráticas frágeis e uma sociedade civil desempoderada e praticamente sem nenhuma liberdade de expressão, organização e manifestação. As mulheres sauditas carecem totalmente de autonomia e só participaram, pela primeira vez, das Olimpíadas de Londres porque o Comitê Internacional ameaçou excluir o país dos jogos de 2012. A peninsula arábica apresenta uma das maiores desigualdades de gênero do mundo.

Embora a Arábia Saudita tenha uma densidade demográfica muito baixa é um dos países com menor biodiversidade e biocapacidade, tendo poucas áreas agricultáveis e pouca água, mas muito deserto no solo e muito petróleo no subsolo. Aproveitando a riqueza gerada pela exportação da energia fóssil acumulada durante milhões de anos, o país apresentou o maior crescimento demográfico relativo do mundo nos últimos 60 anos. A população era de 3,1 milhões de habitantes em 1950 e passou para 27,5 milhões de habitantes em 2010. Um crescimento de 9 vezes em 60 anos. A divisão de população da ONU estima um volume populacional, em 2050, de 51 milhões na hipótese alta, 45 milhões na média e 39 milhões na hipótese baixa. Para 2100, as 3 hipóteses são: 68 milhões, 42 milhões e 25 milhões de habitantes.

A taxa de fecundidade total (TFT) saudita, no quinquênio 1950-55, era extremamente alta, estando em 7,2 filhos por mulher e ficou neste patamar até 1980-85. Da segunda metade dos anos noventa houve uma queda rápida da fecundidade e a TFT caiu para 3 filhos por mulher no quinquênio 2005-10. A ONU estima que as taxas de fecundidade vão ficar abaixo do nível de reposição no quinquênio 2045-50, devendo chegar a 1,7 filhos por mulher, podendo subir ligeiramente para 1,9 filhos por mulher em 2095-00.

A redução da fecundidade contribui para a redução das taxas de mortalidade infantil e de mortalidade materna. As taxas de mortalidade infantil estavam em elevados 204 mil mortes para cada mil nascimentos no quinquênio 1950-55, passou para 19 por mil no quinquênio 2005-10 e deve atingir 9 por mil no quinquênio 2045-50 e 5 por em 2095-00. Já a esperança de vida subiu de 40 anos, para 73 anos, devendo atingir 79 anos e 83 anos, nos mesmos quinquênios.

A queda da fecundidade leva a um rápido processo de envelhecimento. A idade mediana da população era de 19 anos em 1950, passou para 26 anos em 2010 e deve chegar a 39 anos em 2050 e a 49 anos em 2100.

A pegada ecológica per capita do país era de 3,39 hectares globais (gha) em 2008, para uma biocapacidade per capita de apenas 0,65 gha, de acordo com o relatório Planeta Vivo, da WWF. Portanto, o país possui um dos maiores déficits ambientais do mundo. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) passou de 0,65 em 1980 para 0,77 em 2010.

Portanto, os dados mostram que a Arabia Saudita teve um grande crescimento demográfico, mas também um grande crescimento econômico, pois houve grande queda da mortalidade infantil, rápido aumento da esperança de vida e melhoria geral do padrão de vida da população.

Porém, este alto crescimento demográfico e econômico (demo-econômico) teve como base a riqueza acumulada no sub-solo durante milhões de anos, tanto em termos de petróleo, quanto de água acumulada nos aquíferos fósseis. Esta riqueza, contudo, é finita e já tem prazo para acabar. A sobreutilização dos aquíferos esgotou os estoques de água e a Arábia Saudita vai ter que abandonar seus projetos de irrigação, passando a comprar quase todo o alimento necessário do resto do mundo.

Enquanto o país tiver riquezas advindas do petróleo a balança comercial pode ser negativa no item alimentos. Mas acontece que já existe uma previsão de que a Arábia Saudita deixe de exportar petróleo até 2030. O pico das exportações aconteceu em 2011 e nos próximos anos o volume exportado será ainda menor. Isto acontece porque as reservas e a exploração do óleo estão diminuindo e porque a demanda interna está aumentando.

O governo utilizou a riqueza da exportação de petróleo para construir cidades altamente dependentes dos combustíveis fósseis. Por exemplo, a Cidade Econômica King Abdullah (nome inspirado no rei saudita) pretende abarcar 2 milhões de pessoas e tem conclusão prevista para 2020. Esta e outras cidades são totalmente dependentes do petróleo, do automóvel, do ar condicionado, etc. Quando o petróleo acabar vai ser dificil sustentar o padrão atual das cidades sauditas. É certo que o país está investindo em energia eólica e solar (com utilização de tecnologia chinesa), especialmente para as usinas de dessalinização da água do mar. Resta saber se as energias renováveis vão conseguir suprir as demandas internas de uma população e uma economia crescendo em ritmo acelerado.

O mais provável é que a Arábia Saudita passe por enormes dificuldades quando a riqueza fóssil se esgotar, especialmente se não fizer os investimentos necessários para mudar sua base produtiva e educacional para uma situação pós-petróleo. Noventa por cento das exportações sauditas são de petróleo e produtos derivados e o país é totalmente dependente destas exportações fósseis para importar a maior parte dos alimentos e bens de consumo. Sem ter uma base produtiva eficiente e competitiva, como vão fazer quando for zerado as exportações de combustíveis fósseis?

Em livro recente, On Saudi Arabia: Its People, Past, Religion, Fault Lines and Future, Karen Elliot House apresenta um quadro de crise econômica e política da monarquia absolutista da Arábia Saudita, com crescimento das tensões e frustações internas de uma população jovem que não encontra empregos e de uma país que depende da força de trabalho de imigrantes. A combinação do fim das exportações de petróleo com crise política pode ser um barril de pólvora para a Arábia Saudita e todo o Oriente Médio, com consequências imprevisíveis para o resto do mundo.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate, 09/11/2012