terça-feira, 26 de maio de 2009

O BURACO PERFEITO

Transcrevemos abaixo artigo do eminente pensador e ambientalista Leonardo Boff, publicado originalmente em sua página "www. leonardoboff.com", cujas opiniões são fonte para análise e reflexão.

"Ignace Ramonet, diretor do Lê Monde Diplomatique e um dos agudos analistas da situação mundial, chamou a atual crise econômico-financeira de “a crise perfeita”. Putin, em Davos, a chamou de “a tempestade pefeita’. Eu, de minha parte, a chamaria de “o buraco perfeito”. O grupo que compõe a Iniciativa Carta da Terra (M. Gorbachev, S. Rockfeller, M.Strong e eu mesmo, entre outros) há anos advertia: “não podemos continuar pelo caminho já andado, por mais plano que se apresente, pois lá na frente ele encontra um buraco abissal”. Como um ritornello o repetia também o Fórum Social Mundial, desde a sua primeira edição em Porto Alegre em 2001. Pois chegou o momento em que o buraco apareceu. Lá para dentro caíram grandes bancos, tradicionais fábricas, imensas corporações transnacionais e US$50 trilhões de fortunas pessoais se uniram ao pó do fundo do buraco. Stephen Roach, do banco Morgan Stanley, também afetado, confessou: “Errou Wall Street. Erraram os reguladores. Erraram as Agências de Avaliação de risco. Erramos todos nós”. Mas não teve a humildade de reconhecer:” Acertou o Fórum Social Mundial. Acertaram os ambientalistas. Acertaram grandes nomes do pensamento ecológico como J. Lovelock, E. Wilson e E. Morin”.
Em outras palavras, os que se imaginavam senhores do mundo a ponto de alguns deles decretarem o fim da história, que sustentavam a impossibilidade de qualquer alternativa e que em seus concílios ecumênicos-econômicos promulgaram dogmas da perfeita autoregulação dos mercados e da única via, aquela do capitalismo globalizado, agora perderam todo o seu latim. Andam confusos e perplexos como um bêbado em beco escuro. O Fórum Social Mundial, sem orgulho, mas sinceramente pode dizer: “nosso diagnóstico estava correto. Não temos a alternativa ainda mas uma certeza se impõe: este tipo de mundo não tem mais condiçãoes de continuar e de projetar um futuro de inclusão e de esperança para a humanidade e para toda a comunidade de vida”. Se prosseguir, ele pode pôr fim a vida humana e ferir gravemente a Pacha Mama, a Mãe Terra.
Seus ideólogos talvez não creiam mais em dogmas e se contentem ainda com o catecismo neoliberal. Mas procuram um bode expiatório. Dizem: “Não é o capitalismo em si que está em crise. É o capitalismo de viés norteamericano que gasta um dinheiro que não tem em coisas que o povo não precisa”. Um de seus sacerdotes, Ken Rosen, da Universidade de Berkeley, pelo menos, reconheceu:”O modelo dos Estados Unidos está errado. Se o mundo todo utilizasse o mesmo modelo, nós não existiríamos mais”.
Há aqui palmar engano. A razão da crise não está apenas no capitalismo norte-americano como se outro capitalismo fosse o correto e humano. A razão está na lógica mesma do capitalismo. Já foi reconhecido por políticos como J. Chirac e por uma gama consideravel de cientistas que se os paises opulentos, situados no Norte, quisessem generalizar seu bem estar para toda a humanidade, precisaríamos pelo menos de três Terras iguais a atual. O capitalismo em sua natureza é voraz, acumulador, depredador da natureza, criador de desigualdades e sem sentido de solidariedade para com as gerações atuais e muito menos para com as futuras. Não se tira a ferocidade do lobo fazendo-lhe alguns afagos ou limando-lhes os dentes. Ele é feroz por natureza. Assim o capitalismo, pouco importa o lugar de sua realização, se nos EUA, na Europa, no Japão ou mesmo no Brasil, coisifica todas as coisas, a Terra, a natureza, os seres vivos e também os humanos. Tudo está no mercado e de tudo se pode fazer negócio. Esse modo de habitar o mundo regido apenas pela razão utilitarista e egocêntrica cavou o buraco perfeito. E nele caiu.
A questão não é econômica. É moral e espiritual. Só sairemos a partir de uma outra relação para com a natureza, sentindo-nos parte dela e vivendo a inteligência do coração que nos faz amar e respeitar a vida e a cada ser. Caso contrário continuaremos no buraco a que o capitalismo nos jogou."

segunda-feira, 18 de maio de 2009

APOCALÍPSE

Publicamos a seguir valioso artigo do grande ambientalista Antídio S. P. Teixeira:

APOCALIPSE
à vista
Entenda como está se formando e
o que se pode fazer para detê-lo.
Antídio S.P. Teixeira


A fome já se manifesta em todo o mundo

PARA SUA REFLEXÃO:
“Já que semeamos ventos, preparemo-
nos para colher as tempestades.”
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PORQUE O DESASTRE
A sociedade tornou-se altamente dependente de energia. Não, apenas, a elétrica, mas de todas as outras formas, principalmente calor, luz e movimento. Umas transformáveis em outras para melhor servir aos fins sociais aos quais se destinam, sendo a combustão de matéria orgânica sua principal fonte. Quando: acendemos uma lâmpada ou vela; um fogão à lenha, a carvão ou a gás; ou viajamos de automóvel, ônibus, navio ou avião; utilizamo-nos de algum bem como casa, móveis, utensílios e roupas; ou consumimos algum alimento ou qualquer um outro produto, estamos, direta ou indiretamente, consumindo diversas formas de energia e contribuindo para liberar o calor da luz solar que foi captada e armazenada pelo mundo vegetal em diversas épocas, remotas ou contemporâneas; e, ao mesmo tempo, devolvemos ao meio ambiente os gases poluentes que, anteriormente, foram recolhidos pelo mundo vegetativo e sepultados no subsolo, o que deixou a atmosfera oxigenada, e possibilitou a formação do mundo animado, do qual somos, nós, os mais expressivos representantes. As captações remotas deram origem aos combustíveis fósseis (hulha, petróleo e gás natural), formados pelas massas residuais de milhares de florestas que vegetaram, sucessivamente, num mesmo espaço de solo durante milhões de anos e que, sepultadas pelas intempéries, se fossilizaram, deixando em liberdade o oxigênio que produziram quando vivas. E foi este gás que estimulou a formação da vida animada da qual somos nós os mais expressivos representantes. Já as contemporâneas, são representadas pelos bens derivados das florestas ou da agricultura e pelos biocombustíveis. Distinguem-se dos fósseis porque, para formação de sua massa orgânica, absorvem da atmosfera o mesmo volume de poluentes que virão liberar na sua combustão posterior; e ainda, deixam o espaço do solo em que viveram, livre para o desenvolvimento de novas culturas. Por isso, são renováveis.
As combustões são o inverso da fotossíntese: enquanto esta capta energia luminosa do Sol para concentrá-la na formação da matéria orgânica, a outra decompõe a matéria orgânica para liberar o calor nela contido e também, o oxigênio, agora combinado com o carbono, na forma de óxidos, (CO e/ou CO2).
O que prenuncia o desastre é que, há mais de 250 anos, se vem obtendo calor para implementar o progresso mundial, justamente dos materiais fossilizados cujos poluentes liberados nas suas combustões, não tendo meios naturais para se reciclarem rapidamente, vêm se acumulando no meio ambiente. A saturação já dá mostras com as mudanças climáticas promovendo o aquecimento global e causando grandes prejuízos nos setores de produção agropecuários, industriais e à sociedade como um todo, através de chuvas torrenciais, tornados, secas prolongadas e incêndios incontroláveis. Não podemos descartar a hipótese de que uma conflagração atômica mundial na disputa por alimentos e de outros bens necessários à sobrevivência, venha encerrar os nossos sonhos de dar continuidade à vida. A mídia, a serviço dos poderes econômicos e dos governantes, dissocia a crise econômica que estamos assistindo da degradação ambiental. Por isso, pregam a aceleração do consumo como forma de gerar empregos agrícolas e industriais impulsionados por forças energéticas poluentes, com intenção de salvar o sistema monetário, ou financeiro, adotado por eles como sendo “econômico” e que promoveu o desastre que presenciamos. Pelo contrário, o que necessitamos é economizar e/ou reciclar tudo que for possível porque “tudo que se utiliza, ou se consome, gerou, ou gera mais poluição ambiental e mais nos aproxima do APOCALIPSE GLOBAL.” Isso porque, tanto mais energia for liberada de combustíveis fósseis, mais poluentes serão lançados na atmosfera e maiores serão os desastres ambientais; e os prejuízos causados por eles irão corroer a economia globalizada.
COMO O FENÔMENO NOS AFETARÁ
Os países intertropicais, entre os quais a maior parte de nosso território, já sofrem algumas alterações climáticas motivadas por maior concentração de carbono na atmosfera e o consequente aquecimento global, inclusive dos mares. No entanto, calor e umidade são benéficos para a agricultura e silvicultura. Os perigos que o Brasil enfrentará são indiretos, causados pela baixa produtividade agrícola e a fome que grassará nos países situados acima do Trópico de Câncer e abaixo do de Capricórnio, entre os quais, os países mais ricos e, militarmente, mais poderosos. É aí que mora o perigo da nossa soberania.
COMO FAZER A NOSSA PARTE?
Para controlar a dengue ou a degradação ambiental, somente através da conscientização de cada cidadão de como se desenvolveu o mal e o que fazer para contê-lo. Desejamos que sejam criados núcleos de debates populares em cidades, vilas, bairros, etc., liderados por ambientalisatas esclarecidos quanto a extensão do problema e dar partida a um movimento para “Reconstrução Ambiento-Global”. Você poderá ser um desses lideres e é nosso convidado. A equipe deste blog prestará todas as informações necessárias. Consulte-nos.
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Iniciativas imediatas sugeridas:
1º) – Evitar o desperdício, o uso e o
consumo de tudo que não for
essencialmente necessário;
2º) – Incentivar o reflorestamento e a
cultura agrícola nos espaços degradados
para fins energéticos, para substituição
dos combustíveis fósseis.
3º) - Propagar a idéia mundial de redução
gradativa da carga populacional
humana.
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quarta-feira, 6 de maio de 2009

DE ONDE VEM MEU SALÁRIO

Suponhamos, numa demonstração teórica, que sou uma secretária executiva. Pelo trabalho de 8 horas que executo – digitação, relatórios, traduções, atendimento a diretores, telefonemas – recebo o ordenado de 2.000,00 mensais. Até aí, tudo bem; estou inserida na estrutura social vigente, baseada em atividades econômicas, o que é considerado normal pela cultura vigente. Deixemos para lá diversas considerações que poderíamos tirar dessa situação, sob os aspectos políticos, sociais, econômicos. Vamos analisá-la em foco diferente, para onde nos conduz a curiosidade.
De onde vêm os 2.000 reais? Dirão alguns que a origem é a Casa da Moeda, órgão governamental encarregado de imprimir as cédulas do país. Não. Não me refiro ao seu aspecto material, mas à sua representatividade. O dinheiro nada mais é do que um material representativo de bens Que bens são esses? Todos os produzidos pelo país: panela, relógio, feijão, etc. Uns são produtos extraídos da terra (mineradoras) e transformados em bens acabados; outros são produtos primários, básicos, dados de graça diretamente pela terra para sustentação da vida.
No raciocínio que se segue, não podemos equiparar os 2.000 reais a 50 quilos de óxido de alumínio ou 200 gramas de ouro. Simplesmente porque, na essência, esses bens não são comestíveis; não são básicos. Por isso, para melhor entendimento do verdadeiro valor do ordenado da secretária, devemos representá-lo por algo real, básico, essencial, vital, comestível, com avaliação universal. Por escolha, vamos dizer que a secretária recebe por mês 40 sacos de feijão. E, na realidade, ela recebe seu ordenado em feijão. Nessa mesma equivalência, todos nós recebemos nosso salário em feijão. Só que não temos consciência disso; nem a secretária. No correr do mês, ela faz, inconscientemente, um escambo. Troca parte do feijão por frações de arroz, molho, carne, trigo, óleo, etc. E, no final, sobra muito feijão. O que ela costuma fazer? Troca essa sobra por sapato, baton, brinco, gasolina, diversão, conforto, e demais produtos transformados. Serviços de terceiros também. Mas considere-se que tal item nada mais é do que energia de terceiros, tais como manicura, condução, empregada doméstica. O patrão dessa secretária está lhe pagando com o feijão que ele também recebe. Quando se compra a prazo, promete-se pagar com feijão que ainda vai ser produzido. É o muito usado e prejudicial saque sobre o futuro. Compra-se um sapato fiado, baseado na confiança de que o feijão será plantado e colhido, desviando assim para nosso proveito presente os recursos essenciais pertencentes às gerações vindouras.
Em resumo: todos recebem feijão e o trocam por mercadorias que lhes são necessárias e ainda sobra muito feijão. Essa sobra toda – excesso – é trocada por bens criados pela cultura civilizacional, tais como produtos industrializados em geral, componentes de moda, supérfluos variados, etc. Por quê? Simplesmente porque o consumidor é impelido pelo sistema a satisfazer, compulsivamente, essas “necessidades”, criadas pela mídia em suas diversas facetas. E o crescendo de tais necessidades chegou a um patamar tremendamente absurdo. Há mulheres que compram tanto sapato, bolsa, cremes e outros produtos da espécie que não têm tempo para usá-los. Há homens que possuem vários telefones celulares, gravatas, tênis, coleções de carrinhos e outras quinquilharias, orgulhando-se disso num simples comportamento narcisístico. De tempos em tempos, tais possessivos jogam no lixo uma boa quantidade desses objetos para conseguirem lugar onde pôr novas aquisições. Grande parte da população tem esse vício da cocaína, digo, do consumismo, e não tem a exata percepção de seus maléficos atos. A sobra acima de que falamos, corresponde a uma dilapidação dos recursos planetários, pois são feijões sagrados sugados da terra, exaurindo-a e deixando-a cada vez mais anêmica, de uma forma criminosa e desnecessária.
Dessa digressão sobre a origem de nosso salário, deduzimos que ele é, de modo geral, excessivo demais, pois parte pequena atenderá nossas legítimas e básicas necessidades e a sobra terá destino inglório, prejudicial, criminoso, cuja etapa final é o lixo. É por isso que a humanidade já alcançou 20% além dos recursos máximos proporcionados pela dinâmica de reposição natural do sistema ambiental.
Todos os demais seres vivos da Terra vivem apenas com a parte essencial desse feijão e estabelecem um equilíbrio ambiental sábio e admirável. Por que só o homem é agente de um desequilíbrio ambiental suicida? Muitos dirão: mas o homem não é um animal selvagem; ele tem inteligência e não pode viver só com o essencial. Dizemos: antes de ser inteligente, ele é animal tanto quanto os outros. A única diferença é a posse da inteligência que o torna egoísta, exclusivista e altamente prejudicial aos recursos gerais de subsistência. Entendemos que o instinto é superior à inteligência humana. Porque ele é lógico, justo, equilibrado, universal e advém de uma Inteligência superior à nossa. Com o abandono de quase todos os instintos e a adoção da capacidade intelectual, o homem tornou-se um animal mentalmente doente. E aí, no mundo, pela incoerência de seus atos, está a prova. A inteligência humana nos foi dada para uso correto e não para ser desviado para a adoração de bens exclusivamente materiais e maléficos a todo o sistema natural.
Sabemos que o discurso acima é teórico, filosófico e idealista, mas constitui uma forma diferente de demonstrar o malefício gravíssimo do consumismo.
Nosso salário vem da “carne” de nossa mãe Terra. A continuar assim, breve estaremos roendo seus ossos.