sexta-feira, 25 de junho de 2010

A POSIÇÃO CORRETA DA ECONOMIA

Transcremos abaixo elucidativa aula do professor Marcus Eduardo de Oliveira sobre as legítimas idéias econômicas:


Manfred Max-Neef e Herman Daly: dois economistas alternativos. artigo de Marcus Eduardo de Oliveira


[EcoDebate] A economia só faz sentido se for usada para atender as necessidades humanas. A economia precisa respeitar os limites físicos impostos pela natureza, até porque ela é um subsistema da bioesfera finita. Urge promover a conciliação entre a economia e o meio ambiente e extirpar o pensamento econômico tradicional que recomenda o crescimento econômico infinito e exponencial. Os agentes econômicos não são os donos da Terra, e sim seus hóspedes. Não podemos mais fingir que vivemos em um ecossistema ilimitado. O crescimento econômico permanente é impossível. Há espaço para certa irracionalidade econômica, em lugar de se pensar que todas as decisões são pautadas, exclusivamente, pela mais pura racionalidade. O eixo central da economia não pode ser estritamente o mercado e, o objeto, a mercadoria, mas, sim, o indivíduo e suas necessidades elementares.

Não basta fazer a economia crescer para acabar com a pobreza. Contra o desemprego não basta apenas só intensificar a demanda por bens e serviços, baixando os juros e estimulando investimentos. O ritmo econômico atual baseado na exploração desenfreada de recursos naturais e no super-consumo é insustentável. A práxis econômica deve ser buscada no sentido de ser solidária, participativa e coletiva, trocando, assim, o atual modelo econômico baseado na competição pelo de cooperação. O objetivo primordial da atividade econômica não deve ser a produção de riqueza, mas, sim, o bem-estar das pessoas.

Todas essas afirmações, sem exceção, sopram em ventos contrários à ordotoxia econômica. Tais argumentos ferem uma espécie de pensamento único que tem dominado, sobremaneira, o cenário acadêmico das ciências econômicas.



As afirmações que fizemos acima refutam, na essência, os manuais de introdução à economia que são largamente usados nos cursos universitários. Esses manuais insistem em defender uma economia hermeticamente padronizada, além de propagarem a prática do individualismo em economias centradas apenas, e, tão somente, na valorização de ganhos máximos. Pouco, quase nada, é expresso em termos da valorização do indivíduo, do respeito aos limites físicos e naturais e de uma economia voltada ao bem-estar coletivo.

É nesse sentido, da refutação consistente e bem alinhada, que os chamados economistas alternativos (aqueles que fogem, pois, do dito padrão tradicional e fazem o vento soprar em direção contrária) se apresentam e vão, aos poucos, ganhando mais espaço no cenário acadêmico.

Relacionando temas como economia e meio ambiente, economia comportamental (ou psicologia econômica), e os mais inusitados temas e situações do coditiano, alguns desses economistas já são, hoje, vistos como referência.

A economia ecológica

No que toca, em especial, as preocupações com o meio ambiente, desde os primeiros trabalhos acadêmicos sobre essa questão, na década de 1970, defendidos por Nicholas Georgescu-Roegen, principalmente com a publicação de The Entropy Law and the Economic Process, as preocupações com o meio ambiente tem sido trazidas à tona dentro da análise econômica. É verdade que não com a intensidade que se espera, dada a gravidade do problema em se pensar, de forma tradicional, que uma economia mais produtiva e mais abundante, em matéria de bens e serviços, será a solução de todos os males que afligem o mundo.

O fato é que os economistas alternativos, ou os ecologistas da economia, têm trabalhado intensamente para propagarem suas idéias em torno da conscientização de todos para os graves problemas e conseqüências que cercam o modo de produção da atualidade.

É, pois, na mesma linha de pensamento de Roegen que, infelizmente continua sendo ignorado pela comunidade acadêmica, como ignorado também continua o prêmio Nobel de Química, Frederick Soddy (1877-1956) – um dos precursores da economia ecológica -, que o professor da Universidade de Maryland, Herman Daly, vem fazendo críticas consistentes ao atual sistema que insiste em não olhar para a questão ambiental como se deve.

Daly tem insistido, veementemente, sobre a necessidade de levar em conta os efeitos da atividade econômica sobre os recursos naturais não renováveis.

O ponto básico do pensamento de H. Daly é a idéia daquilo que ele intitulou “crescimento deseconômico”, ou seja, aquele crescimento que, pela expansão da economia, afetou (e afeta) excessivamente o ecossistema circundante sacrificando o capital natural (peixes, minerais, a água, o solo, o ar…).

Daly salienta que uma vez ultrapassado a escala de crescimento ótimo, esse crescimento torna-se custoso e estúpido no curto prazo e impossível de ser mantido no longo. A prática maciça desse “crescimento deseconômico” tem um final já vaticinado: uma catástrofe ecológica que tende a reduzir sensivelmente o padrão de vida de todos os hóspedes do planeta Terra.

É nesse pormenor que a economia tradicional (a que consta dos manuais) peca de forma considerável, pois não reconhece, ou ignora, por exemplo, que a biosfera, além de ser finita, não cresce e é fechada.

É por ir contra essa economia tradicional que cerra os olhos para essa questão, que os trabalhos dos economistas alternativos vem ganhando corpo.

No entanto, ir contra o pensamento tradicional, enraizado por longa data, não é tarefa fácil. Essa dificuldade esbarra, em grande medida, no fato de que os ditos padrões estão, há muito, bem estabelecidos. Um desses padrões mais expostos, por exemplo, recomenda que o modelo de qualidade e felicidade (utilidade) de cada um está no acúmulo de bens materiais.

Para isso, a receita econômica é simples: basta fazer a economia produzir mais, afinal, um belo dia, esse crescimento excessivo chegará a nossas mãos em termos de mais produtos disponíveis no mercado de consumo. Será? É claro que não! Para tudo há algo que a tradicional teoria econômica não percebeu: existem limites.

Percebe-se, então, que para a teoria econômica convencional o que importa são mais produtos; portanto, deve-se buscar, a qualquer custo, aumentar a quantidade (crescimento). Essa teoria ortodoxa convencional não “entende” que quantidade (crescimento) não significa qualidade (desenvolvimento).

É pela qualidade, e não pela quantidade, que o economista chileno Manfred Max-Neef vem lutando, arduamente, para implantar novos modos de produção econômica em que as pessoas sejam alçadas para o primeiro plano, em lugar dos objetos.

Para Max-Neef, o crescimento econômico está alinhado à qualidade de vida das pessoas até certo ponto. Ultrapassado esse ponto, não há ganhos, mas sim perdas; não há benefícios, mas, custos, e, o principal deles, é a deterioração da qualidade de vida.

Essa é a base teórica da “Teoria do Umbral”, propugnada por Max-Neef que aponta dedo em riste para os custos excessivos do processo produtivo a qualquer preço. Custos que, por sinal, não são quantificados, mas sentidos por todos: a poluição das águas, do ar, dos solos, a degradação ambiental, a emissão de gás carbônico para se produzir de tudo e transportar para lugares cada vez mais distantes.

Para Manfred Max-Neef, esse economista alternativo ganhador do Prêmio Nobel Alternativo de Economia, uma economia “saudável” se sustenta em seis postulados: 1. A economia está para servir as pessoas, e não as pessoas para servir a economia; 2. O desenvolvimento se refere a pessoas, e não aos objetos; 3. O crescimento não é o mesmo que desenvolvimento, e o desenvolvimento não precisa necessariamente de crescimento; 4. Nenhuma economia é possível à margem dos serviços que prestam os ecossistemas; 5. A economia é um subsistema de um sistema maior e finito, que é a biosfera, e, portanto, o crescimento permanente é impossível; e, 6. Nenhum processo ou interesse econômico, sob nenhuma circunstância, pode estar acima da referência à vida.

Dessa forma, vemos que a realidade econômica atual, avalizada pelos manuais econômicos tradicionais, está completamente oposta a esses princípios. E por serem esses princípios algo que faz a “roda da economia”, por vezes, travar, esses economistas alternativos, quase sempre, são taxados de personas non gratas.

Necessidades humanas preteridas

Assim sendo, por irem contra o tipo de economia que recomenda que tudo deva ser transformado em números e, por conseqüência, em valores, esses pensadores são postos à margem.

Ao praticarem uma economia em que tudo circula ao redor de números e valores, as necessidades humanas ficam cada vez mais preteridas na escala das preferências. Dessa forma, o modelo de economia que vigora é aquele em que o valor está nas prateleiras dos supermercados e nas vitrines das lojas, portanto, apenas nos produtos, e não nos seres humanos.

É contra esse tipo de pensamento econômico que Herman Daly, Manfred Max-Neef, Riane Eisler, Gary Backer e tantos outros estão construindo suas opiniões. Foi contra isso que Georgescu-Roegen marcou presença.

Definitivamente, a economia não está nos números, mas sim nas pessoas. Pessoas que agem, que sentem, que fazem e que pensam a economia (atividade econômica) em seu dia a dia.

Mesmo que esse pensamento esteja nos mais inusitados assuntos, nas mais interessantes situações, a economia, certamente, lá está (e estará) presente. Basta, para isso, atentar para as recentes abordagens de outros economistas que também podem ser classificados como economistas alternativos, que são capazes de observar fatos econômicos onde poucos enxergam tal ocorrência.

Outros economistas alternativos

Mas as obras que versam sobre esse olhar diferenciado da economia não param de surgir. Muitos têm sido os casos de novos autores que estão explorando esse lado “oculto” das ciências econômicas. É o caso específico de Steven Levitt e Stephen Dubner, com “Freakeconomics”, que se tornou, em pouco tempo, best-seller em vários lugares. É o caso ainda de Tim Harford, com “O Economista Clandestino”; de Diane Coyle, com “Sexo, Drogas e Economia”; de Riane Eisler, com “A Verdadeira Riqueza das Nações” e, principalmente, dos trabalhos do economista norte-americano laureado com o Nobel, Gary Becker, que levou o prêmio justamente por ter estendido o domínio da análise microeconômica para uma escala de comportamento humano e interações, incluindo o comportamento extra-mercado. Becker chega a analisar situações inusitadas como crime, divórcio e consumo de drogas à luz do comportamento econômico de cada um.

Para finalizar, cumpre ressaltar, nesse pormenor, as mais recentes abordagens sobre a Teoria da Economia Comportamental ou “psicologia econômica” que, aos poucos, vem dominando a leitura das novas gerações, à medida que incorpora em suas análises certo grau de irracionalidade econômica nas ações das pessoas, contrariando, assim, a teoria tradicional que preconiza que toda e qualquer ação do indivíduo está pautada pela mais absoluta racionalidade econômica.

Como podemos perceber, o “mundo econômico” exposto nos livros-técnico-didáticos, não é bem assim, como tenta nos fazer crer a ortodoxia econômica.

Marcus Eduardo de Oliveira, articulista do EcoDebate, é economista e professor do Depto. de Economia da FAC-FITO e do Depto de Comércio Exterior do UNIFIEO (Centro Universitário FIEO). Mestre em Integração da América Latina (USP) e Especialista em Política Internacional (FESP),com especialização pela Universidad de La Habana – Cuba.

Autor dos livros “Conversando sobre Economia” (ed. Alínea) e “Pensando como um economista” (eBookBrasil). Seu trabalho mais recente é “Provocações Econômicas” (no prelo). prof.marcuseduardo{at}bol.com.br

Fonte: EcoDebate, 18/06/2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

AINDA MARINA SILVA

Este texto constitui um comentário às observações de alguns ambientalistas a propósito do nosso manifesto “Por que votarei em Marina Silva”, publicado em 4.6.2010.

Considerando que, afinal, nosso trabalho ficou um tanto extenso e que contém argumentações que podem ser dirigidas a um leque muito grande de outros ambientalistas, resolvemos publicá-lo como artigo. Assim, serve melhor à causa ecológica.

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A boa conversa é aquela que é franca e honesta. Primeiramente, um esclarecimento de nosso ânimo na abertura ao público do meu voto para as próximas eleições. Abri meu voto não porque ele pareceria político, mas simplesmente por mostrar um voto totalmente ambientalista.

No texto ora comentado, procuramos firmar e justificar uma posição pela qual vamos brevemente outorgar poder a uma pessoa. Foi uma manifestação clara, definida, de caráter pessoal, na qual não empregamos nenhuma palavra visando o proselitismo. Foi uma tomada de posição não política, mas de escolha. Naturalmente que, antes, ponderamos todos os fatores favoráveis e contrários.

O aspecto religioso foi analisado e, na ocasião, procuramos nos esclarecer a respeito. Entre as diversas religiões que se propagam pelo mundo, todas são boas e louvam o mesmo Deus. Agora o importante: não estamos nos referindo a essas centenas de empresas ditas religiosas, cujo objetivo é apenas o negócio de ganhar dinheiro, tais como “Igreja Universal do Reino de Deus”, “Igreja Internacional da Graça de Deus”, “Deus é Amado” e outras.

A Assembléia de Deus é produto de cisão da Igreja Batista que, por sua vez, advém da Igreja Católica Apostólica Romana. Adota a mesma doutrina cristã, com algumas alterações provenientes de interpretações da mesma bíblia. É classificada corretamente como religião, tal como a Presbiteriana, a Batista, a Luterana. São cristãs, provindas de cisões ou adventismos. Nada tem a ver com essas igrejas empresariais e oportunistas que brotam por aí todos os dias, como cogumelos.

Ademais, como exemplo de correção mental, é oportuno lembrarmos que Fernando Henrique é ateu declarado e nunca misturou esse caráter às ações administrativas ou políticas. Deixar o raciocínio levar-se pela crença religiosa de uma pessoa para aquilatar suas qualidades humanísticas é ingressar num labirinto ilógico. É o mesmo que excluir Marina na escolha porque “tem cara de fome”, como declarou conhecida cantora. Não há condições para refugar nomes de pessoas honestas, competentes, abnegadas só por causa de suas escolhas de fé religiosa. O atributo genético da Fé, todos os humanos possuem. Todos. Fé religiosa é outra coisa. É apenas uma conseqüência daquela herança genética.

A prevalecer esse critério exclusivista e subjetivo, teremos razões para alijá-las da convivência social, exclusivamente por serem adeptas de crenças ou ensinamentos de hinduísmo, confucionismo, taoísmo, cristianismo, e suas inúmeras variações. Isso acontece com a falsa democracia argentina (não representativa, exclusivista, mascarada), cuja constituição veda o cargo de Presidente a quem não for católico.

Elencamos também os que se posicionam como ateus, agnósticos e livre-pensadores que, injustamente, são discriminados por serem os errados. Onde nossa capacidade para julgar o certo e o errado? Nesta oportunidade, eu me classifico como livre-pensador eclético. Mas tenho dúvidas sobre a exatidão dessa classificação.

Fundamentar-se em aspectos advindos da subjetividade, como as deduções apressadas e distorcidas – sem análise racional isenta – de algumas pessoas ou como prever suas possíveis ações administrativas são produto de um ato falho do poder racional ou falha manifesta de origem pré-conceitual. Acresce ainda o fato de que a bancada evangelista no Congresso é formada, na sua maioria, pelas citadas organizações empresariais que têm como objetivo, além do lucro, o poder político como suporte. Pelo exercício pleno dos poderes da razão, distingue-se, perfeitamente, a religião e o negócio. Suposições não podem se contrapor a fatos.

Ateus, agnósticos e católicos de aparência ou conveniência têm governado nosso país sem terem – nem tentado – impingir às suas funções soberanas as próprias crenças, de natureza íntima.

Nos programas de entrevistas na mídia, os jornalistas – por uma questão de estratégia do ramo – sempre procuram fazer perguntas de repercussão, procurando atingir o entrevistado em seu lado mais íntimo e sensível. Ademais, em política, o que deve prevalecer são as qualidades morais, já provadas pela vivência dos anos recentes, e sanidade de propósitos e coerência da ação pública. O bom administrador tem que estabelecer um objetivo sadio e dirigido ao todo social. Quando inteligente, não se apega ao seu partido, porque isso representa a divisão social e necessidade de fazer alianças espúrias. Se Marina Silva não for uma boa presidenta, não a será pelas suas convicções religiosas e, sim, por outras circunstâncias que estão longe de ser adivinhadas.

Na luta insana que nós os ambientalistas temos que travar para simplesmente conscientizar as pessoas dos perigos da degradação ambiental, ainda se soma o esforço para convencer a diversos ambientalistas que o assunto básico para a vida é único e excludente. Sem o meio ambiente para se respirar e se alimentar, eliminam-se todos os temas, assuntos, objetivos, teses, modas, belezas, certeza, amor, Deus, religiões. Tudo. Tudo, mesmo. O assunto “Ecologia” é básico, único, essencial, soberano e listado como “sine qua non”. Se conversarmos sobre festas, modas, perfumes, eleições, e demais temas, é porque AINDA há ar para ser respirado. A mortificação das nossas condições de vida é um fato muito sério. É real e não está sendo crido sob esse aspecto.

Já temos provas das conseqüências de nossas ações de ganâncias materialistas. Os pólos e cumes já estão se derretendo; o nível dos oceanos já está subindo; os desastres irreversíveis estão acontecendo; a eliminação do equilíbrio natural está se acelerando com a visibilidade de aquecimento global e extinção de nossos irmãos da fauna e flora. /\Meu consolo é que, no dia em que o mundo acabar, o governo abrirá rigoroso inquérito para identificar e punir os responsáveis./\

Evidentemente, não podemos nos desviar para a discussão sobre o sexo dos anjos, quando prossegue aceleradamente a degradação ambiental, cujo final é a eliminação de qualquer possibilidade de estarmos vivos para ficar fazendo suposições de atitudes provindas de conceitos equivocados.

Seria o mesmo que pautar uma conduta de outorga de poder pelos acessórios, quando o principal é a oportunidade, o motor, a alma, o sacrifício de uma vida. Estivemos sempre nesta trincheira, procurando conscientizar a humanidade de que, a continuar assim, estamos nos suicidando. Mas que ainda há um pequeno período de tempo para retorno à situação ideal e salvarmos os elementos de subsistência da Vida no planeta. Não é de hoje que estamos clamando, gritando e gritando, até à rouquidão: salvemos a Vida.

O assunto pede uma análise de consciência por parte dos verdadeiros ecologistas. Procurem desvencilhar-se dos atavios culturais que deformam as justas visões. Se formos firmar nossas escolhas por nuanças de um todo, nunca teremos condições de uma decisão no mínimo razoável. “Não escolho fulano porque tem olhos grandes; beltrano, porque tem olhos pequenos; antrano, porque usa sapato marrom; sicrano, porque é aficionado por rock.” E assim, por diante. Onde estarão a isenção, a serenidade, o poder racional e a visão sensata?

O idealismo ecológico de Marina Silva, nascido junto com as matas e esplendores da Natureza, se robusteceu no correr dos anos pelas circunstâncias favoráveis do momento, propiciando-nos a oportunidade única de elevar a importância da linguagem ambientalista. E essa consciência e denodo com que ela batalha em favor do equilíbrio ambiental ofusca ou anula qualquer aspecto pessoal que possa ser visto como negativo num primeiro olhar.

Todas as qualificações, boas ou más, que atribuirmos a um candidato à presidência do país, são apenas suposições. A única certeza que temos, no cenário político atual, é a de que Marina Silva tem consciência ecológica verdadeira, forte, honesta, adquirida desde quando era criança e pelas quais dedicou sua vida pública. É um sentimento que está arraigado em sua alma.

Só o fato de Marina Silva se dedicar à ecologia, isso anima os ambientalistas para exercer os melhores de seus esforços na obtenção de um dirigente à altura do perigo ambiental que ameaça a Vida. A Vida, senhores!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

EXCESSO POPULACIONAL

Os navios pesqueiros têm que aumentar sua capacidade de captura de espécies marítimas, dizimando-as, para suprir os mercados de alimentos e nutrir (produzindo lixo) o excesso populacional.

A indústria do vestuário tem que fabricar quantidades imensas de roupas, bolsas, sapatos (que se transformam em lixo) para atender ao consumo do excesso populacional.

As lojas têm que ampliar seus espaços para comportar os estoques de mercadorias (futuro lixo) para atender às ânsias de consumo do excesso populacional.

Os prefeitos têm de aprovar loteamentos residenciais para que suas cidades tenham condições de crescer (e produzir mais lixo), acolhendo novas moradias – que consomem mais materiais de construção –, para abrigar o excesso populacional.

Os veículos de carga têm que ser aumentados para distribuir a tempo os produtos básicos e os de sedução (lixo futuro) a cada vez mais gente consumista, para atender ao excesso populacional.

As matas e animais selvagens devem ser destruídos para que haja mais espaço físico (espaço estéril) para abrigar o excesso populacional.

As indústrias com processo de interferência química devem aumentar a produção de bens (que se transformam em lixo) para satisfazer às crescentes exigências das futilidades, oriundas do excesso populacional.

A produção geral de barulho, proveniente da produção maior de aparelhos sonoros potentes (lixo material e ambiental) são requeridos para atender às necessidades de consumo fabricadas pelo mercado, por conseqüência do excesso populacional.

Novas pesquisas em todas as áreas são necessárias para a produção de artigos supérfluos (lixo adicional), por imposição do sistema capitalista em cultivar o modismo, fator importante para o consumo do excesso populacional.

Interferência médica na morfologia estética dos humanos, por necessidade de rebeldia à Natureza (produzindo lixo mental), estimulada pela cumplicidade da mídia e favorecida pelo aumento do excesso populacional.

Destruição contínua e crescente do hábitat dos nossos irmãos da fauna e flora para construção do hábitat virtual humano, completamente estéril e vazio de alma (sendo lixo, portanto) para atender a construções faraônicas que acalentam caprichos irracionais de poderosos provindos do excesso populacional.

Necessário abrir novas chagas no corpo planetário a fim de buscar seu sangue negro que, virado combustível, transporta para longe e para perto, artigos e pessoas cada vez mais adiposas e materialistas (que são ou serão lixo), para atender aos confortos do excesso populacional.

Aprofundamento das conquistas tecnológicas com invasão da privacidade da Natureza em atividades nucleares e petrolíferas, com o conseqüente aumento de riscos trágicos de infestação eterna (lixo permanente) das condições ambientais, para satisfazer a ânsia de poder e riqueza do excesso populacional.

Áreas enormes devem ser sufocadas para a morte por receberem diariamente os lixões das cidades, cada vez maiores, que abrigam o incontido excesso populacional.

Lixos especiais, provenientes da ânsia de produção de mais energias petrolífera e nuclear que, por acidentes crescentes e irreparáveis, vêm envenenando oceanos, terras e atmosfera, são conseqüência das necessidades de conforto do excesso populacional.

Pelo crescimento contínuo da população, sem qualquer restrição, devemos acolher na sociedade cada vez mais pessoas violentas, desequilibradas e débeis mentais, provenientes do excesso populacional.

Esquecemo-nos de que tudo no mundo tem sua capacidade de suporte – até o próprio mundo – menos a infinita irracionalidade do excesso populacional.

Temos que conquistar a Lua, Marte e Venus para extrairmos dali seus recursos naturais, necessários à adoração incondicional do deus Lucro, advindo do consumo inconsciente de bens desnecessários (lixo) pelo cada vez maior excesso populacional.

No final, em futuro próximo, teremos no mundo uma só megalópole de pedra e cimento, diversidade imensa de tecnologias, paisagismos de plástico, corpos humanos acéfalos e sem alma. E não restará uma glebinha de terra onde possam ser consumidos pelas bactérias necrófagas os cadáveres remanescentes de uma população que pereceu pelos excessos de seus excessos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

POR QUE VOTAREI EM MARINA SILVA

Tenho uma vida quase toda de experiência política. Como eleitor, não como político. Já passei por todas as fases da motivação política: entusiasmo, engajamento, credulidade, experiência, observação, frustrações e desencantos. Ainda resta, no entanto, uma pálida folha de esperança política lá num canto quase inacessível da minha tão desiludida alma.

Em 1936, eu e os amiginhos de então já fazíamos nossas escolhas políticas. Naturalmente, por ouvirmos as conversas dos adultos daquela época sobre as preferências partidárias. Eu me recordo que me qualificava, ante os meus companheiros, como adepto do PC (partido constitucionalista), em contraposição aos que se declaravam, ou do PI (partido integralista), ou do PCB (partido comunista do Brasil), ou do PR (partido republicano), que estavam mais em evidência na ocasião.

É certo que nossas preferências de sigla eram influenciadas pelo “ouvir falar” dos fatos políticos da época, pois não tínhamos a menor consciência da identidade dessas escolhas. Nossas opções eram, na essência, guiadas pela simpatia desta ou daquela sonoridade vocal da sigla e necessidade inconsciente de afirmação no grupo. Mas esse assunto, entre nós, tinha o cunho de mais uma forma de brincadeira, um passa-tempo, uma novidade, enfim. Nem sonhávamos em conhecer a natureza de tão maldita instituição.

Diversas coisas valiosas foram aprendidas no decorrer do tempo da prática política como cidadão. O tempo se encarregou de nos ensinar. Os fatos políticos que se tornaram históricos – dos quais fui testemunha ocular –, se acumularam, mostrando suas verdades e mentiras, enriqueceram minha capacidade de discernimento e ampliaram os horizontes do conhecimento dessa linguagem, tão enganosa e tão fácil de ser manipulada pelos profissionais.

Muitas pessoas, pelo verdor da existência, ainda não sabem o que é política. A mídia, para manter o vazio do que é importante, não define seu verdadeiro significado. Pois saibam que política é poder; simplesmente isso. Portando, votar é outorgar poder. Outorgar é dar, em confiança. Votar é um ato muito perigoso. Requer muita reflexão; convicção. É o mesmo que entregar a alguém uma arma de grande potência. Não a use se não a conhece bem. Não vote se não tem perfeita consciência das conseqüências do seu ato.

Partido político no Brasil, como se apresenta ao conhecimento do povo, não existe. As siglas aí apontadas são arranjos de letras destinadas a construir falsa impressão de ambiente de competição e provocar nos eleitores ilusória liberdade de escolha. É um modo de motivar o povo a participar da encenação. O que aí existe são aglomerados de pessoas que têm interesses de poder e são obrigadas a se inscreverem em uma sigla. Esse é o primeiro grilhão fantasiado de democracia. Ninguém será candidato se o partido não aprovar. Dito com outras palavras: O apontado pelo partido será o representante dos interesses individuais ou de classe do grupo.

Pela nossa profunda e calejada análise, a cidadã Marina Silva, não política profissional, depois de ver obstáculos imensos à sua frente, a começar pela deficiente alimentação na infância, conseqüência da miséria geral em que nasceu, teve um lampejo mental que a conduziu para a luta contra as adversidades materiais e intelectuais. Adquiriu com sua própria força de vontade a virtude da persistência na linha do aprendizado.

Por ter nascido e criada em meio às matas, sentiu e percebeu a importância do meio ambiente para a sobrevivência da biodiversidade. Esse foi seu primeiro amor, o qual a encaminhou para desbravar todos os demais obstáculos que tinha à frente. Em seguida, à custa de esforço próprio, apossou-se do instrumental do conhecimento – a leitura –, instrumento de arejamento mental. Com essa porta aberta e sua determinação idealística chegou a uma posição que lhe dá respeito e consideração do mundo, na sua parcela mais responsável: os que defendem a Natureza, sustentáculo da Vida.

Mulher simples, desprendida de posses materiais, ela definitivamente tem o grande mérito de não ser uma política profissional. Pugna pela posição de mando da nação pelo amor aos seus admiráveis ideais de justiça, honestidade e defesa das vítimas inocentes que vêm perecendo em holocausto ao progresso materialista irresponsável.

Faz do recurso político um ato de doação de sua vivência em benefício da garantia de existência de toda a biosfera. Para tanto, consagra ao seu país seus ideais de amor e fé. Não votar nela nessas próximas eleições será compactuar com a manutenção da História de enganações, falcatruas e corrupções, sempre mantidos pelos vícios vergonhosos dos políticos carreiristas.

Marina Silva oferece ao povo brasileiro a oportunidade única de escolher entre as virtudes que constroem a alma de uma nação e esses outros, aventureiros, oportunistas e carreiristas que rolam por ai, profissionais da mentira e coveiros da boa-fé do povo.

Não podemos perder a última oportunidade de fazermos uma escolha justa e correta. A nossa opção hoje será a garantia de nossos filhos amanhã.