segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O EXCLUSIVISMO HUMANO E A ECOLOGIA

Para melhor entendimento do assunto, julgamos necessário fazer ligeira digressão sobre o instinto animal. A natureza toda está inserida no planeta de uma forma perfeita, harmoniosa e sábia. Não somente isso. A natureza é bela, pura, justa e irradia, permanentemente, mensagens sublimes que, captadas pela sensibilidade espiritual, põem-nos em comunhão com as energias cósmicas.

Aos seres vivos tais forças outorgaram o instinto, agregado à genética, que lhes guia o comportamento na dinâmica da vida por meio de um código que se inscreve em todas as células.

Face aos fatores de evolução das espécies, por ação de algum agente de mutação, o homem ficou provido de uma prega na laringe, capacitando-se a modular sons guturais primários. No ponto em que o homem primitivo, ou hominídeo, começou a usar palavras articuladas, as coisas concretas de seu meio passaram a ter presença através de símbolos sonoros, ocasionando a entrada do homem no campo da imagem mental, detonando uma rápida evolução do cérebro.

O exercício da inteligência determinava as ações. E os instintos correspondentes foram sendo relegados à atrofia pelo não uso até a extinção de uns ou a latência de outros, atuantes sob a forma de subconsciência. Daí em diante, o que era feito sem conhecimento de causa e efeito, foi substituído pelo pensamento racional.

Ocorre que alguns instintos permanecem no comando de certas ações do homem. Dentre eles, destacamos o de agregação – por necessidade de segurança –, que se desdobra sob as formas de companheirismo, solidariedade, corporativismo, filantropia, compaixão. Sintetizados em linguagem mais espiritual, fixam-se na expressão “amor ao próximo”, bastante divulgada pelas religiões, cujos objetivos nos Planos Superiores, é ser complementar aos cuidados convergentes na preservação da espécie.

Esse instinto sobrepõe-se à razão. É por esse motivo que estamos sempre agindo e reagindo em função dos interesses do homem, obscurecendo uma percepção mais ampla do meio vital. Até o raciocínio superficial é enublado por ele, tornando-se responsável direto pelo antropocentrismo, instinto natural no homem biológico, mas altamente prejudicial aos interesses do meio ambiente, conforme deduz o homem pensante. O antropocentrismo é atributo natural e já foi muito útil para o homem primitivo que lutava para sobreviver. Mas hoje? Quando dispomos de todos os recursos proporcionados pelo progresso material?

Devemos adotar uma visão participativa na Natureza, a fim de evitar atitudes egoísticas. Nota-se que somente agora, quando o homem se vê ameaçado pelos atos danosos de sua obra, é que corre para defender a biodiversidade. É uma atitude interesseira e vergonhosa. Ainda não nos conseguimos libertar do antropocentrismo, que nos impede de perceber o panorama do biocomplexo.

Matam-se milhões de criaturas co-habitantes do planeta, em função dos interesses lucrativos humanos que não perguntam se tal procedimento condiz com o respeito à Vida.

Sob certos aspectos, o homem é um animal inferior, pois não possui a orientação do instinto pleno, um mecanismo muito mais eficiente, porque concebido pela Inteligência Superior e que sempre deu certo.

Dizem as religiões que o homem é pecador. Esclarecemos que é ele o único ser vivo pecador – porque o único a dispor do livre arbítrio, voltado para o egoísmo de espécie – e que deveria usar tal atributo com o máximo cuidado e humildade, pondo-o a serviço do respeito e preservação do biossistema.

Mas assim não age. Destrói tudo. Viola todas as leis naturais tais como:

1) Impede que o mecanismo seletivo e criador da genética se exerça segundo as leis da Natureza;

2) Vai até ao âmago sagrado e, com fúria incontida, profana e macula o “Mistério Divino”, resguardado no íntimo do átomo;

3) Destrói comunidades indígenas que vivem em total harmonia com as leis naturais.

Tudo isso em nome do chamado desenvolvimento. Ouvimos várias vezes a palavra “desenvolvimento” ser pronunciada como premissa maior. Ela justifica a quebra da harmonia de qualquer bioma ou patrimônio natural.

A espécie humana atualmente é o bandido da História.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A DIFÍCIL PASSAGEM DO TECNOZÓICO AO ECOZÓICO

Leonardo Boff – Filósofo e Teólogo

As grandes crises comportam grandes decisões. Há decisões que significam vida ou morte para certas sociedades, para uma instituição ou para uma pessoa.

A situação atual é a de um doente ao qual o médico diz: ou você controla suas altas taxas de colesterol e sua pressão ou vai enfrentar o pior. Você escolhe.

A humanidade como um todo está com febre e doente e deve decidir: ou continuar com seu ritmo alucinado de produção e consumo, sempre garantindo a subida do PIB nacional e mundial, ritmo altamente hostil à vida, ou enfrentar dentro de pouco as reações do sistema-Terra que já deu sinais claros de estresse global. Não tememos um cataclisma nuclear, não impossível mas improvável, o que significaria o fim da espécie humana. Receamos isto sim, como muitos cientistas advertem, por uma mudança repentina, abrupta e dramática do clima que, rapidamente, dizimaria muitíssimas espécies e colocaria sob grande risco a nossa civilização.

Isso não é uma fantasia sinistra. Já o relatório do IPPC de 2001 acenava para esta eventualidade. O relatório da U.S. National Academy of Sciences de 2002 afirmava “que recentes evidências científicas apontam para a presença de uma acelerada e vasta mudança climática; o novo paradigma de uma abrupta mudança no sistema climático está bem estabelecida pela pesquisa já há 10 anos, no entanto, este conhecimento é pouco difundido e parcamente tomado em conta pelos analistas sociais”. Richard Alley, presidente da U.S. National Academy of Sciences Committee on Abrupt Climate Change com seu grupo comprovou que, ao sair da última idade do gelo, há 11 mil anos, o clima da Terra subiu 9 graus em apenas 10 anos (dados em R.W.Miller, Global Climate Disruption and Social Justice, N.Y 2010). Se isso ocorrer consosco estaríamos enfrentando uma hecatombe ambiental e social de conseqüências dramáticas.

O que está, finalmente, em jogo com a questão climática? Estão em jogo duas práticas em relação à Terra e a seus recursos limitados. Elas fundam duas eras de nossa história: a tecnozóica e a ecozóica.

Na tecnozóica se utiliza um potente instrumental, inventado nos últimos séculos, a tecno-ciência, com a qual se explora de forma sistemática e com cada vez mais rapidez todos os recursos, especialmente em benefício para as minorias mundiais, deixando à margem grande parte da humanidade. Praticamente toda a Terra foi ocupada e explorada. Ela ficou saturada de toxinas, elementos químicos e gases de efeito estufa a ponto de perder sua capacidade de metabolizá-los. O sintoma mais claro desta sua incapacidade é a febre que tomou conta do Planeta.

Na ecozóica se considera a Terra dentro da evolução. Por mais de 13,7 bilhões de anos o universo existe e está em expansão, empurrado pela insondável energia de fundo e pelas quatro interações que sustentam e alimentam cada coisa. Ele constitui um processo unitário, diverso e complexo que produziu as grandes estrelas vermelhas, as galáxias, o nosso Sol, os planetas e nossa Terra. Gerou também as primeiras células vivas, os organismos multicelulares, a proliferação da fauna e da flora, a autoconsciência humana pela qual nos sentimos parte do Todo e responsáveis pelo Planeta. Todo este processo envolve a Terra até o momento atual. Respeitado em sua dinâmica, ele permite a Terra manter sua vitalidade e seu equilíbrio.

O futuro se joga entre aqueles comprometidos com a era tecnozóica com os riscos que encerra e aqueles que assumiram a ecozóica, lutam para manter os ritmos da Terra, produzem e consomem dentro de seus limites e que colocam a perpetuidade e o bem-estar humano e da comunidade terrestre como seu principal interesse.

Se não fizermos esta passagem dificilmente escaparemos do abismo, já cavado lá na frente.

Fonte: – fabioxoliveira2007@gmail.com
              Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

AS UVAS CONTINUAM VERDES

Já que não conseguimos alterar as ações irracionais da atual civilização, em sua sanha de crescimento material e concomitante destruição dos valores espirituais, vamos procurar um caminho que nos traga compensação, tirando por um momento nosso olhar do parreiral ecológico, donde pendem as uvas a que tanto desejamos.

Vamos acomodar nossos ideais e gritos de vida em pontos suaves e tranqüilos – enganando-nos por esforço de auto-anestesia mental –, num mundo heterogêneo em que os insensíveis e impensantes se entregam aos atrativos da frivolidade. Será uma reflexão lenitiva para descanso de mentes ingloriamente preocupadas em preservação do paraíso herdado.

E os frágeis ecologistas, como as conchas da caudal oceânica que são jogadas aleatoriamente para um ambiente bruto e primário, ficam atordoados e obedientes ao balanço dos impulsos rumo à modernidade louca. É mais cômodo deixar-se jogar de um lado para outro do que despender esforços para seguir um rumo ditado pela razão. É mais confortável adotar a opinião pragmática do caldo cultural, sustentado pela mídia insidiosa, do que construir seu próprio pensamento, puro, sedimentado pelo raciocínio e mais próximo da verdade.

Arremessadas a esmo e sem voz nesse turbilhão de interesses individualistas, ninguém ouve nossas mensagens, nem percebe que esses movimentos adversos cavam o túmulo para todos, indistintamente. A vida humana se esvairá nessa insanidade mental, e o planeta enfim ficará livre para cumprir seu misterioso destino cósmico.

Sim, é mais cômodo viver usufruindo de todas as conquistas tecnológicas, economizando energias que são transformadas em tecido adiposo. Está na moda ser obeso! Para que cobiçar as uvas maduras se elas são inalcançáveis? Deixemos que os alimentos oferecidos pelos parreirais astutos pereçam em holocausto ao nada, pois a humanidade não tem como se justificar pelo insucesso em alcançá-los. Afinal, construir uma escada ecológica requereria um esforço mental tão grande!

Melhor os ecologistas anularem sua capacidade cerebral, misturando-se ao torvelinho inculto e feliz da plebe, que desconhece as potencialidades cerebrais e vive feliz, fervendo de satisfação apenas com a vivência mundana, regada por festas, drogas e cabrestos midiáticos. Isso lhe basta, pois têm a cabeça moldada pelas conveniências do sistema, que os tornam simples consumidores frívolos, incapazes de sentir sua própria existência, facultada pelo simples uso da síntese “cogito, ergo sum”.

Tornam-se eles unicamente em buscadores de recursos aptos a lhes satisfazer os desejos do nada. A busca de irrealidades passa a ser o objetivo de vida. Assim, a vivência ficará mais simples e sem preocupações: a terra ficará mais bonita, ainda que lhe faltem os elementos produtivos; o mar mais explorável, ainda que sem peixe; o céu mais róseo, ainda que prenúncio de tempestade.

Os valores, as ânsias e sentimentos da alma onde e como ficam? Ora, vida espiritual... Para quê? Podemos muito bem viver sem essas coisas incômodas. O animal humano já se livrou de grande parte dessas inconveniências e está vencendo a luta contra os diversos tipos de emoções, inclusive o básico amor. Hoje, a moda é o consumo da redentora droga viciante que supre todas as necessidades do espírito e resolve todos os problemas existenciais. São as delícias da irresponsabilidade. Ela também possui suas vantagens individuais.

O planeta, depois de livre da praga humana que lhe frustrou o privilégio e honra de abrigar a inteligência – essa apurada forma energética – encontrará finalmente as condições propícias para acolher em seu âmbito respeitosos filhos instintivos, seguidores sem pecado do roteiro estabelecido pela Natureza.

Para aplacar o pensamento ecológico que teima em alcançar as uvas só nos resta resmungar, com fingido desdém e lânguida angústia, que as uvas continuam verdes.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

UMA REVOLUÇÃO AINDA POR FAZER

Não podemos privar os distintos leitores de artigos esclarecedores vindos ao nosso conhecimento. Sentimo-nos orgulhosos de fazer modesta contribuição à divulgação do pensamento ambiental. Leonardo Boff é um desses pensadores que está em sintonia com o raciocínio lógico dos percalços por que passa a atual civilização. Publicamos abaixo mais um de seus valiosos artigos.



"UMA REVOLUÇÃO AINDA POR FAZER

Leonardo Boff

Toda mudança de paradigma civilizatório é precedido por uma revolução na cosmologia (visão do universo e da vida). O mundo atual surgiu com a extraordinária revolução que Copérnico e Galileo Galilei introduziram ao comprovarem que a Terra não era um centro estável mas que girava ao redor do sol. Isso gerou enorme crise nas mentes e na Igreja, pois parecia que tudo perdia centralidade e valor. Mas lentamente impôs-se a nova cosmologia que fundamentalmente perdura até hoje nas escolas, nos negócios e na leitura do curso geral das coisas. Manteve-se, porém, o antropocentrismo, a idéia de que o ser humano continua sendo o centro de tudo e as coisas são destinadas a seu bel-prazer.

Se a Terra não é estável –pensava-se – o universo, pelo menos, é estável. Seria como uma incomensurável bolha dentro da qual se moveriam os astros celestes e todas as demais coisas.

Eis que esta cosmologia começou a ser superada quando em 1924 um astrônomo amador Edwin Hubble comprovou que o universo não é estável. Constatou que todas as galáxias bem como todos os corpos celestes estão se afastando uns dos outros. O universo, portanto, não é estacionário como ainda acreditava Einstein. Está se expandindo em todas as direções. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade.

Esta constatação sugere que tudo tenha começado a partir de um ponto extremamente denso de matéria e energia que, de repente, explodiu (big bang) dando origem ao atual universo em expansão. Isso foi proposto em 1927 pelo padre belga, o astrônomo George Lemaître o que foi considerado esclarecedor por Einstein e assumido como teoria comum. Em 1965 Arno Penzias e Robert Wilson demonstraram que, de todas as partes do universo, nos chega uma radiação mínima, três graus Kelvin, que seria o derradeiro eco da explosão inicial. Analisando o espectro da luz das estrelas mais distantes, a comunidade científica concluiu que esta explosão teria ocorrido há 13,7 bilhões de anos. Eis a idade do universo e a nossa própria, pois um dia estávamos, virtualmente, todos juntos lá naquele ínfimo ponto flamejante.

Ao expandir-se, o universo se auto-organiza, se auto-cria e gera complexidades cada vez maiores e ordens cada vez mais altas. É convicção de notáveis dos cientistas que, alcançado certo grau de complexidade, em qualquer parte, a vida emerge como imperativo cósmico. Assim também a consciência e a inteligência. Todos nós, nossa capacidade de amar e de inventar, não estamos fora da dinâmica geral do universo em cosmogênese. Somos partes deste imenso todo.

Uma energia de fundo insondável e sem margens – abismo alimentador de tudo - sustenta e perpassa todas as coisas ativando as energias fundamentais sem as quais nada existe do que existe.

A partir desta nova cosmologia, nossa vida, a Terra e todos os seres, nossas instituições, a ciência, a técnica, a educação, as artes, as filosofias e as religiões devem ser resignificadas. Tudo e tudo são emergências deste universo em evolução, dependem de suas condições iniciais e devem ser compreendidas no interior deste universo vivo, inteligente, auto-organizativo e ascendente rumo a ordens ainda mais altas.

Esta revolução não provocou ainda uma crise semelhante a do século XVI, pois não penetrou suficientemente nas mentes da maioria da humanidade, nem da inteligentzia, muito menos nos empresários e nos governantes. Mas ela está presente no pensamento ecológico, sistêmico, holístico e em muitos educadores, fundando o paradigma da nova era, o ecozóico.

Por que é urgente que se incorpore esta revolução paradigmática? Porque é ela que nos fornecerá a base teórica necessária para resolvermos os atuais problemas do sistema-Terra em processo acelerado de degradação. Ela nos permite ver nossa interdependência e mutualidade com todos os seres. Formamos junto com a Terra viva a grande comunidade cósmica e vital. Somos a expressão consciente do processo cósmico e responsáveis por esta porção dele, a Terra, sem a qual tudo o que estamos dizendo seria impossível. Porque não nos sentimos parte da Terra, a estamos destruindo. O futuro do século XXI e de todas as COPs dependerá da assunção ou não desta nova cosmologia. Na verdade só ela nos poderá salvar."

Leonardo Boff com Mark Hathway escreveram The Tao of Liberation: exploring the ecology os
transformation,N.Y.2010.


Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com


Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

SÍNTESE DA SITUAÇÃO AMBIENTAL NO MUNDO

SÍNTESE DA SITUAÇÃO AMBIENTAL NO MUNDO


MINHAS OBSERVAÇÕES E CONCLUSÕES

(Recado aos Ambientalistas)

Por Antídio S. P. Teixeira

A quase totalidade das pessoas que se dedicam às causas de preservação ambiental e social, o fazem movidas mais por amor (paixões) do que por razões compreensíveis; e os seus trabalhos são direcionados à neutralização de ações diretas que põem em risco imediato a existência de espécies da vida terrestre e marinha; assim como outros que defendem o bem-estar e a segurança social dos povos. Elas não se aprofundam nas causas antecedentes para, daí, acompanhar as suas sucessões e identificar o leque de consequências que cada uma delas vem gerar no presente e, assim, procurar soluções para “um todo”, em vez de, cada um trabalhar isolada e infrutiferamente para as partes que abraçaram. Alguns ambientalistas mais iluminados chegam a citar entre as causas da degradação ambiental, a corrupção reinante nos poderes públicos em que leis preservacionistas são aprovadas e sancionadas, usadas mais como forma de valorizar as negociatas para relaxamento das suas aplicações e fiscalização, do que mesmo para cumprir os objetivos para as quais foram criadas. De nada adianta os esforços dispersos destes heróis fadados à derrota, se não procurarem identificar e entender a causa fundamental do desequilíbrio e a sua evolução até o comprometimento de toda a estrutura social, econômica e ambiental no nosso planeta. E a semente destas catástrofes já iniciadas em várias partes do mundo teve origem há pouco mais de duzentos anos com a utilização da matéria orgânica fossilizada como fonte de energia e de matéria prima para as mais variadas indústrias e utilizações sociais, e veio evoluindo sorrateiramente em nossa direção; hoje, sua erradicação, se chegar a ser feita, custará devastação incalculável no ecossistema e a vida da maior parte da humanidade, tanto entre ricos como entre pobres.

Em tese: os padrões de vida estabelecidos para as minorias que conseguiram possuir algum poder econômico são insustentáveis por faltar recursos suficientes para mantê-los. Entenda-se que as riquezas naturais que deram sustentabilidade à sua adoção estão cada vez mais escassas e, consequentemente, caras, o que vem levando o mundo à instabilidade financeira; e os resíduos poluentes produzidos pelo beneficiamento, embalagens, transporte e uso, já comprometem o meio ambiente em todo o mundo, causando os mais inesperados desastres ambientais.



VAMOS ENTENDER O POR QUE DO DESVIO:

Toda a evolução científica e tecnológica, promotoras do desenvolvimento de novos estilos de vidas de quase toda a humanidade, teve como base a Revolução Industrial; e esta teve origem na oferta a baixíssimos custos, do ferro fundido com a hulha depois desta ser convertida em coque, lá pelos meados do século 18.

Se tais recursos não tivessem sido utilizados, a fundição do ferro teria continuado sendo feita da forma primitiva e penosa como era até aquela época, com carvão vegetal, forma que tornavam caros os produtos finais de ferro, e que fazia com que seu uso se restringisse apenas à produção de armas e instrumentos cortantes; este custo elevado era determinado pela grande incorporação de mão-de-obra no fornecimento do carvão que ia desde o corte de árvores, carbonização da madeira, transporte do carvão até às siderúrgicas e o exaustivo trabalho de fundição que só podia ser feito em diminuta escala (até 15 K.), dada a baixa resistência física do carvão vegetal para suportar o peso do minério de ferro nos fornos. No entanto, era um excelente fator de ocupação social e de distribuição de renda. Em alguns países dedicados à fundição de ferro já se praticava o reflorestamento para produção de carvão para suprimento das siderúrgicas e outros fins, preservando assim as matas nativas e absorvendo mais mão-de-obra de baixa qualificação para o plantio.

Sem o ferro barato, não teríamos as vigas de aço que permitiram e incentivaram as construções verticais e a consequente concentração popular em pequenas áreas que se tornaram urbanas; não teríamos trilhos nem locomotivas para alimentar o crescente consumo das cidades; não teríamos os gigantescos e rápidos navios transferindo as riquezas, tanto as naturais, assim como as manufaturadas e/ou industrializadas de um continente para outro; não teríamos usado o petróleo como propulsor para pequenos veículos de utilização em atividades dispensáveis em sua maioria. Não teríamos satélites no espaço espionando os países e não teríamos viajado até a Lua. Teríamos padrões sócio-econômicos semelhantes aos que tivemos no meado do século 19; bem rudimentar, portanto.

A natalidade, em proporção ao contingente populacional do mundo, assim como a mortalidade, eram muito altas e se compensavam; e a expectativa de vida, na mesma época, era em torno de 30 anos para homens, mantendo o contingente humano em um bilhão de habitantes, estimados, no ano de 1800. O ideal na época era se ter muitos filhos para que os sobreviventes constituíssem a força de trabalho para o progresso e, naturalmente, o enriquecimento das famílias, especialmente na Europa, que se dedicava a explorar suas colônias. Os indivíduos tinham valor como força de trabalho. D. João III de Portugal, promovia união de seus súditos com as nativas nas colônias como forma de povoamento de seus vastos domínios com sangue português. Os habitantes destas eram proibidos de industrializar o que consumiam, se limitando a fornecer para suas metrópoles as matérias primas, e de lá receberem os produtos manufaturados, ocupando assim, com atividades mais nobres os reinóis, deixando para os colonos, as tarefas rurais mais árduas. Mais tarde, com o desenvolvimento da tecnologia, mesmo as atividades industriais mais especializadas, passaram a ser realizadas por máquinas fabricadas e movidas com energia liberada da hulha; tudo isso, graças aos transportes que, também, se tornaram mais rápidos e baratos proporcionados pelo carvão mineral e o petróleo, uma vez que os custos das agressões ao meio ambiente nunca foram incorporados aos custos dos produtos e cobrados dos consumidores de então, razão da rápida expansão do sistema, e cuja conta está chegando agora para seus descendentes, na forma de elevados prejuízos materiais e sociais causados pelas intempéries do clima.



COMO VEM OCORRENDO O DESEQUILÍBRIO

(Para sua reflexão)

No Universo toda a matéria transformada em luz ou outras formas de energia, está permanente evadindo-se de um corpo celeste para se agregar a outro. A nossa Terra, está em constante recepção de luz do Sol que é incorporada diretamente ao solo ou através da fotossíntese dos vegetais que, sepultados e fossilizados durante bilhões de anos continuamente vem aumentando o volume e o peso do planeta. Este processo implica numa redução paulatina da velocidade de rotação terrestre e, por conseguinte, também no movimento de translação.

VAMOS RACIOCINAR

Tenha em mente a ação das forças centrípeta (gravidade) e a centrifuga, e como elas se equilibram ou se desequilibram.

Entendemos que o primeiro núcleo do planeta no começo de suas agregações energéticas, recebeu uma vertiginosa velocidade de rotação que vinha se reduzindo à medida que ia agregando mais energia recebida do Sol. A maior parte dessa energia materializada pelo mundo vegetal na forma de biomassa, foi sendo sepultada e fossilizada durante bilhões de anos. Em determinado momento da redução de sua velocidade nosso planeta ofereceu condições que geraram a sequência de vidas vegetais e depois as animadas, todas evoluindo de seres mais simples para outros mais complexos ou se extinguindo através de multigerações, por não conseguirem acompanhar as alterações mais bruscas na força de gravidade terrestre. A evolução das características físicas e intelectuais humanas acompanhava o ritmo lento e normal de desaceleração do movimento de rotação terrestre até meados do século 18, quando se começou a queimar a matéria fossilizada. A partir daí, começa a saturação da atmosfera com os gases carbonados mais densos, fazendo com que esta se tornasse mais pesada na periferia equatorial e, sob a influência da força centrífuga, se acumular sobre as regiões intertropicais, passando a frear o movimento de rotação com maior intensidade do que seria natural. Porém, com o espessamento dessa cinta, grande parte da atmosfera foi sugada das regiões polares, onde as coberturas ficaram rebaixadas e desprotegidas contra a ação dos raios cósmicos, especialmente os ultravioletas. Aí o degelo excessivo, correntes marítimas com direções e temperaturas alteradas, peixes de todos os portes e aves marinhas desnorteados, muitos morrendo de formas inexplicáveis pela ciência, por estar esta engessada em busca de explicações infalíveis, para fenômenos há muito tempo passados. Com maior massa atmosférica girando sobre as regiões intertropicais e a redução na velocidade de rotação, a pressão atmosférica, assim como de todos os corpos sobre o solo aumentou e as pessoas sofrem com dificuldades respiratórias, palpitações cardíacas, dores lombares e ciáticas, etc. Os ventos mudam de rotas e as nuvens chuvosas passam a se condensar em patamares mais baixos do que antes, não havendo tempo nem distância suficiente para espargirem a massa líquida sobre áreas mais amplas beneficiando mais as rurais e evitando os graves problemas urbanos que assistimos no momento. Outro grave problema imprevisível que ronda o mundo é que este aumento da força de gravidade global pressiona com maior intensidade as massas continentais sobre o magma terrestre, e este, no esforço interior de expansão, pode causar surpreendentes terremotos, novos vulcões e, quem sabe, rachaduras e afundamentos de continentes.

Não percebemos diretamente estes fatos porque tudo se modifica simultaneamente e na mesma proporção. Assim, o dia continua tendo 24 horas, porém mais longas; também os anos, os minutos, os segundos estão se tornando mais extensos. Consequentemente, a força de gravidade igualmente é aumentada, assim como o peso de todos os corpos e a pressão atmosférica sobre as terras e mares, embora os barômetros continuem marcando 760m/m de mercúrio ao nível dos mares. Todas as medições científicas se alteram proporcionalmente tornando-se imperceptíveis as diferenças, já que os parâmetros de referência também se alteraram; Se, por exemplo, temos um peso de um quilo no prato de uma balança e no outro igual peso de açúcar, farinha, ou qualquer outro produto, o fiel da balança não se altera, seja qual for a pressão atmosférica exercida sobre o conjunto. Porém os seres vivos, estruturados geneticamente num tempo em que a pressão atmosférica era menor, sofreriam estas alterações de forma quase imperceptíveis, se acompanhando as lentas alterações climáticas do planeta. Porém, com as anormais desacelerações da rotação terrestre dos últimos 200 anos, organismos animados menos preparados como aves e peixes se desnorteiam em suas rotas migratórias e até muitos deles sucumbem. Os cidadãos mais idosos de hoje, cujos organismos foram estruturados num clima de pressão atmosférica pouco menor do que a atual, melhor percebem estas alterações que se manifestam como dores de coluna, lombares, ciáticas, dificuldade para respirar em determinados momentos e etc. sem saber explicar a causa. Tomemos como exemplo mergulhar a 100 metros de profundidade peixes de superfícies como as tainhas. Elas ficariam esmagadas, pois seus organismos não foram programados para receber aquela nova pressão ambiental. Também, as pessoas sentem a sensação de rapidez com que parece o tempo passar, o que é explicado pela Teoria da Relatividade: “a velocidade do tempo está na razão inversa da velocidade de deslocamento dos corpos”. Tanto mais lento é o deslocamento de um corpo no espaço, maior é a sensação de velocidade da passagem do tempo.) Nós nos deslocamos em torno do eixo terrestre com uma velocidade supersônica, aproximada, de 1.600k/h. sem que percebamos. Se a Terra diminui esta velocidade, os organismos que foram estruturados em um movimento mais acelerado, passam a observar o tempo passando em maior velocidade.

Alguns fatos que fazem evidenciar este processo de desaceleração podem ser citados, como p.ex. a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos que deve ter sido causado por uma perda brusca de velocidade rotativa do planeta após o choque com um corpo celeste, talvez um meteorito de grandes proporções. Consequentemente, uma brusca redução na força centrífuga e proporcional aumento na gravidade e pressão atmosférica. E o resultado foi a extinção de animais de grande porte então existentes, com muitas toneladas de peso e apoiados sobre quatro patas de tamanhos inadequados para maior força de gravidade; logo perderam a facilidade de locomoção visto o afundamento das mesmas no solo, especialmente nos terrenos pantanosos que habitavam; em pouco tempo, se extinguiram. Diferentemente foram seres marinhos de grande tonelagem, como as baleias que, por flutuarem nas águas, sobreviveram. Mesmo depois desses eventos, já com o aparecimento humano e com uma gravidade muito menor do que a atual, grandes obras foram realizadas pelo homem sem auxílio dos equipamentos modernos, como foram as pirâmides do Egito com seus imensos blocos de pedra, ou os gigantescos totens da Ilha de Páscoa, contando apenas, com uma gravidade menor e a tecnologia rudimentar então existente, já que parte deste peso era neutralizado por uma força centrífuga maior. O planeta continuou declinando sua velocidade no seu ritmo natural, materializando luz e fossilizando matéria orgânica, até o evento da Revolução Industrial, daí passando a aumentar o ritmo de desaceleração proporcionalmente ao lançamento de gases pesados na atmosfera.

O PONTO DE VISTA ECONÔMICO

O mundo ocidental, alvo de intensa ação publicitária apoiada pelos regimes políticos democráticos, se vergou sob um sistema financeiro como sendo econômico, mesmo seguindo a filosofia de destruir valiosos bens úteis às pessoas e aos povos para que alguns poucos possam ganhar dinheiro fabricando ou reconstruindo com recursos saqueados do patrimônio natural da humanidade. Em nome da modernidade, destroem-se imóveis com previsão de extenso tempo de utilização social para construir outros novos com mais requintes. Põe-se no lixo veículos e aparelhos diversos capacitados para funcionar por bom tempo, apenas para substituí-los por outros mais sofisticados. Bombardeiam cidades para que os vencedores possam reconstruí-las a peso de ouro. Portanto, não é um sistema econômico, e sim espoliativo dos recursos naturais. Acrescente-se, ainda que os dois regimes são antagônicos entre si. Enquanto a democracia, como regime político, prega a igualdade de direitos individuais, o capitalismo, mascarado como sendo econômico, condiciona o mesmo princípio às posses individuais de cada cidadão. “Você pode fazer o que quiser, desde que disponha dos recursos necessários”. E como tais recursos não estão ao alcance de todos aqueles que estão subordinados ao mesmo sistema, faz com que ele seja discriminatório. Em 1858, Marx demonstrou o porque da inviabilidade econômica do mesmo; porém este se tornou viável graças à abundância de recursos naturais, as facilidades para serem explorados, e pela pureza ambiental mundial quase imaculada, não se tendo ainda, consciência de limites para esgotamento dos primeiros e nem da capacidade de regeneração da segunda; e, depois destes últimos duzentos anos, ambos os limites já estão sendo alcançados a passos largos. O meio ambiente, que é da humanidade e dos seres naturais, vem pagando um alto preço por esta aventura irresponsável dos dirigentes do mundo; inicialmente, por ignorância, mas, agora que conhecem os males causados e insistem no crescimento do consumo supérfluo a título de gerarem empregos, são criminosos porque, na realidade, o que tira empregos humanos e animais são os avanços científicos tecnológicos que os substituem por máquinas e aparelhos eletrônicos movidos por energia gerada por fontes poluentes; e o preço vem sendo pago por toda a humanidade através de desastres ambientais inéditos.

Todo esse progresso científico, tecnológico e social que conhecemos foi fruto da Revolução Industrial; e esta, para promover o consumo necessário ao crescimento do sistema, terminou induzindo a humanidade a crescer e trilhar por caminhos economicamente inviáveis a longo prazo e estranhos às suas necessidades naturais.

Inviáveis porque, tudo que consumimos, ou usamos, para ser produzido, conservado, condicionado, embalado e transportado, foi disponibilizado grande potencial de energia em diversas formas, especialmente eletricidade e calor; e muitos de tais bens como automóveis, navios, aviões, máquinas, eletrodomésticos e eletrônicos, etc. continuam exigindo mais energia para serem utilizados. Hoje, quando os potenciais hidrelétricos economicamente mais viáveis estão esgotados no mundo, o consumo de energia, de um modo geral, é suplementado pela queima de materiais fósseis ou por usinas nucleares, ambas as formas, poluentes. As primeiras pela saturação de carbono na atmosfera, cujas consequências ambientais acabamos de explicar; e as seguintes, pelo acúmulo de lixos radiativos altamente tóxicos que, até o momento, não se sabe o que fazer para livrar o planeta, deles.

O prejuízo econômico e social crescentes causado pelos desequilíbrios climáticos já se faz sentir na instabilidade econômica de todo o mundo, em especial aqueles países que mais usam tecnologias avançadas na produção de bens, e sofrem mais com o desemprego.

CONCLUSÃO

Pelo que acabo de expor, prevejo o seguimento da humanidade pelos caminhos que lhes foram impostos pelos poderes dominantes, na seguinte forma: em busca de recursos para obter o reequilíbrio econômico perdido na última década, os países ricos continuarão incentivando o consumo supérfluo das minorias menos pobres e, portanto, aumentando a carga poluente da atmosfera. Logicamente, o planeta reagirá de formas cada vez mais contundentes com imprevisíveis distúrbios climáticos, não só com maior frequência dos de menor porte comprometendo a produtividade agropecuária e expandindo a pobreza, assim como a intensidade de outras grandes catástrofes causadoras de danos nas áreas urbanas e nas malhas viárias em todas as partes do mundo. O aumento das despesas causadas pelas perdas degradará, ainda mais, a economia mundial já fragilizada, aumentando o contingente de famintos, e arrastando os países para convulsões sociais e guerras de conquista. A mortalidade pela violência aumentada cada vez mais, gradativamente conduzirá a humanidade ao equilíbrio sustentável, ou seja: melhores condições de vida para os habitantes que sobreviverem depois da eliminação dos excedentes.

O MILAGRE

O milagre seria a mobilização dos ambientalistas de todas as áreas em todo o mundo, para realização de um esforço conjunto contra todos os governantes para criarem elevadas taxas pelo consumo de energia oriunda da queima de combustíveis fósseis como forma de compensação pelos danos já causados ao meio ambiente e como forma de desestimular o consumo supérfluo das minorias; e, assim estabelecerem novos parâmetros para o que deverá ser considerado consumo essencial e o desnecessário; e com o produto dessas taxas, subvencionar programas de conscientização das massas populares da necessidade de controlarem a natalidade e buscarem um equilíbrio entre o contingente populacional do mundo e os recursos disponíveis no planeta para sua sustentação.
 Rio de Janeiro, 04/02/2.011. antidio28@yahoo.com.br

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MINHA MÃE, MINHA VIDA

Minha vida não é de curta existência. Teve tempo para acumular muita experiência, traduzida em enriquecimento da alma pela observação, conhecimento e compreensões. Deduzo, no entanto, que esse período temporal é insuficiente para perceber todos os mistérios que ainda existem e que ficam fora do alcance humano. Esse desconhecimento consciente é a fonte energética que robustece e mantém a fascinação pela Vida.

Mas há um momento em que me paro no tempo e dirijo minhas atenções para as lembranças do passado. Mergulho no nebuloso e rico mundo das recordações. O vulto que primeiro vem à lembrança é sempre o de minha mãe, figura extraordinária que marcou indelevelmente a existência da alma que meu corpo carrega. Não podia ser de outra forma, pois biologicamente todo meu ser é um prolongamento da existência dela, complementado pelo amor de meu pai.

Somos todos apenas elos existenciais de um imenso encadeamento que constrói um ciclo misterioso da Vida. Mas o corpo e a alma têm um cultivo maternal posterior ao nascimento, ocasião em que se completam os alicerces vitais de um novo ser. É o período conhecido por infância, interregno em que as almas de mãe e filho ainda estão ligadas. Tendem a ser separadas, gradativamente, por um laborioso e paciente processo que somente o amor materno conhece e é capaz de fazer.

Confesso que, de todas as sensações que tive no correr da vida, a melhor, a mais sublime, confortante, tranquila, total mesmo, foi a que me proporcionou minha mãe quando eu, infante ainda, passava pelos dois ou três anos de idade. A fotografia espiritual desse momento, em tão pouca e frágil idade, ficou gravada integralmente em minha recém-formada memória de longo prazo. Indelével de tal forma que até hoje minha alma consegue sentir a mesma sensação, trazendo-me o mesmo conforto e prazer proporcionados por aquelas mãos angelicais e um agradecimento todo especial pelo desvelo de minha adorável mãe.

Eu me lembro, e ainda sinto. Tarde da noite, dormindo descoberto e contraído pelo frio em meu berço, recebi do anjo materno a ação de amor, puxando sobre meu corpinho encolhido o cobertor que meus pés haviam empurrado inadvertidamente para o canto da cama. Ao receber aquele manto de calor amoroso, senti-me na melhor das situações possíveis que se possa imaginar para um ser vivente: abrigo, segurança, conforto, e retorno imediato à cândida paz reinante no mistério do sono.

Minha mãe sempre esteve junto aos filhos. Em tempo integral até aos 7 anos, quando se inicia contato com a realidade por meio dessa monstruosa “sociedade”, representada pelo conjunto de alunos na primeira escola da vida, a da cartilha. Posteriormente, minha mãe me acompanhava suplementarmente com seus ensinamentos e orientações.

Nessa fase infantil, parece que não, mas é o período em que, inconscientemente, sentimos que nossa mãe é parte de nós. Ela está sempre presente, supre a ausência do pai que está na labuta do trabalho destinado a prover as necessidades básicas da família. Se não entendia essa hierarquia, pelo menos a aceitava como natural, amparado na presença materna. Ela era minha segurança, meu abrigo, meu alimento, meu tudo. E essa situação de tranquilidade emocional, com a convivência do dia-a-dia, formou e consolidou meu espírito, que completou o corpo, e constitui até hoje um guia de vida.

Marcante nas minhas saudades infantis é a lembrança doce e emotiva de quando eu e meu irmão pedíamos para mamãe que nos contasse história. Quase sempre escolhíamos aquela do “palhaço” de circo. Era uma história que minha mãe inventava no momento, contando sempre as mesmas coisas. Só de ela nos atender e se preparar, já nos fazia os olhos brilharem de satisfação, e o riso espontâneo surgia. No correr da história do palhaço, víamos pela imaginação todo o palco, a lona, a arquibancada, tudo enfim que existe em um circo. Gargalhávamos com imensa satisfação, e nossa mãe também ria – um riso franco e sincero – pleno de prazer materno. Hoje eu sei e sinto aquele valor. A satisfação dela, dando risos não era da história, mas ao sentir nossa alegria e felicidade contagiantes; daquele milagre maravilhoso que ela produzia com apenas seu amor.

Eu sei da história do palhaço até hoje. É sempre a mesma, simples, de poucas palavras, mas tinha um encanto na época da inocência, que só a alma de filho pode sentir e entender. É um sentir intransferível por palavras. Foi um momento que se tornou eterno. Não podemos negar que exista um misterioso e sagrado vínculo entre mãe e filho.

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A ânsia pela aquisição e posse de bens materiais – estimulada pela atual civilização da economia anti-social – acabou por destruir os valores espirituais, os sustentáculos de uma espécie animal inteligente que se organiza em sociedade. O sistema econômico vigente, tão danoso ao todo do meio ambiente, envolve-se dentro desse manto social. Suas ações solapam toda a estrutura básica, com alcance e violação até nas divinas energias do amor materno.

Com foco nas crianças e rapazes de hoje, lamento profundamente as falhas de formação, produzidas – insisto em repisar – por um sistema distributivo voltado para privilégios individualistas. Trazem, como conseqüência perversa, a competição vivencial a qualquer preço em vez da natural cooperação instintiva da espécie humana.

Hoje, às crianças são negados os alimentos da alma; as relações de afeto, segurança existencial e ligação sublime. Inocentes, elas sofrem no íntimo essa carência, mas só sabem se manifestar com atitudes inadequadas e esdrúxulas. Os anjos de 4 meses são aprisionados em estabelecimentos chamados de “berçários”. Depois de certo tempo, são jogados nos que se denominam “maternais”. Posteriormente, são condenados a permanecer nos “pré-primários”.

Quando esse roteiro de “vida em formação” não é adotado, dão-se aos imaturos uma “babá” (mãe artificial) e os inúmeros recursos da avançada tecnologia disponível (meios enganosos e distorcidos). São as muletas que o sistema oferece na perpetração de tão maléfico procedimento. Nessas fases, é bom lembrar que os “anjos” ainda não são humanos prontos; são apenas um projeto de seres.

Por que os infantes desde os 4 meses ingressam no esquema econômico? Porque as mães “têm” que ganhar dinheiro em atividades profissionais que lhes assegurem maior renda. Os proventos do marido não bastam; é preciso mais e mais para as compras cada vez mais supérfluas.

Por que o tempo delas não pertence aos filhos? Porque o sistema econômico implantou uma psicose de consumo e alienação que só pode ser atendida pela venda de tão precioso bem espiritual, caindo as cândidas mães no torvelinho do consumismo, vício embriagador que sustenta o moto-contínuo da engrenagem econômica.

A sábia Natureza construiu uma harmonia. Fez a mãe para os filhos. Mas os tentáculos econômicos furtaram essas ingênuas mães de seus indefesos filhos, para seus próprios interesses, quebrando aquela beleza vivencial.

Hoje, o que vemos? Rapazes e moças sentindo um vazio em suas vidas. Vazio de formação, de consolidação de sua própria espécie animal, de objetivo espiritual de vida. É um vácuo mental acompanhado de uma torrente de energias biológicas. E sabemos das conseqüências. Para preencher essa lacuna, irrecuperável, passam a vida buscando algo que não sabem o que seja. Assim, buscam esse algo indefinido nas drogas; nas clínicas psiquiátricas; na TV alienante; na violência gratuita; no sexo-coisa; no prazer de incendiar índios e indigentes que dormem; na incapacidade de entender a arte; em assassinar pais; nas ações que corrompem a própria estrutura social. Enfim, transformam-se em um subproduto humano que turva os melhores ideais.

Triste sina da mulher moderna: renunciar a ser mãe – missão divina – para se transformar em ferramenta de interesses antinaturais e destrutivos.