USINA DE BELO MONTE
Ouvimos comentário de um economista a soldo do governo federal, a propósito das manifestações contrárias dos ambientalistas, dizendo textualmente que “o empreendimento de Belo Monte representa de fato um pequeno prejuízo para o meio ambiente, mas, em compensação, um grande progresso para a nação. Este lucro é muito mais importante do que aquele prejuízo”.
Outro economista, em artigo publicado em importante revista nacional sobre o mesmo assunto, diz que “o Brasil precisa dessa energia.” Alega ainda que a usina tem capacidade para gerar 11.000 MW em 2015, força necessária para manter o crescimento do PIB brasileiro em 5% ao ano, acrescentando que o empreendimento “vai produzir enormes benefícios e melhorar a qualidade do desenvolvimento brasileiro.”
Só enxergam resultados econômicos lucrativos, nunca as conseqüências. Não percebem que tais ações se apóiam em recursos naturais finitos, componentes do nosso meio vital, base e sustentáculo de toda ação humana. Nosso propósito é fazer uma análise de tais afirmações e da teimosia política governamental de levar avante a desastrosa construção da usina hidroelétrica referida.
Os técnicos em economia, na ânsia equivocada ou tendenciosa de convencer ingênuos e preguiçosos cérebros não pensantes, fizeram um cotejo irracional, confrontando grandezas diferentes e defendendo o desenvolvimento do PIB. Como podemos comparar tamanho de um brinco de ouro com a capacidade torácica de um enfermo? A perda de um brinco não afeta a vivência; a falta de ar mata o vivente. Em certas circunstâncias, a perda de uma fatia de pão de um miserável mendigo é maior que a perda de 50 toneladas de farinha de trigo de um rico empresário. Vemos perfeitamente que tais comentaristas têm uma visão dirigida a um único objetivo: crescimento. É isso! Vamos crescer, crescer, crescer, até que alguma coisa se estoure. Porque nada no universo cresce sem parar. Nem a torre de Babel, que queria atingir o céu. A própria Natureza nos ensina: tudo tem um limite de crescimento.
Os esforçados formadores de opinião, pelo visto, ainda não têm noção do que seja meio ambiente. Não sabem que a perda de meio ambiente é morte. Que sua preservação faz parte da Vida. Vida com V maiúsculo, referida pelos antigos pensadores gregos pela palavra “Zoé”, significando a vida permanente, universal, energética, ampla. Ao contrário de “Bios”, atinente à vida individual de um ser, com existência limitada, cíclica, restrita no tempo.
Interpretando aquelas argumentações, com vistas à realidade planetária, na verdade o “pequeno prejuízo do meio ambiente” é grande prejuízo para o todo (Zoé). E o “grande progresso, desenvolvimento, PIB da nação”, e outras mazelas, são visões estreitas e materialistas de bens supérfluos, destinados a atender vaidades e vícios de consumo e conforto corporal (Bios). Teria apenas o objetivo de ampliação e fortalecimento transitório de ilusões egoísticas e passageiras de alguns poucos indivíduos que ressumem a vida em apenas ações de ganha-ganha. Essa teimosia política e irracional nada mais é que um ato injusto de transformação das poucas reservas da Vida universal em satisfação irresponsável de sonhos megalomaníacos de entesouramento. Seria o mesmo que tirar o pouco do pobre para dar ao abastado rico.
Entendemos que falta a significativa parte da humanidade consciência do que seja “meio ambiente”. Exprime, simplesmente, “condição essencial de manutenção de um processo”. No caso de que tratamos, o “meio ambiente” é “o conjunto básico para a manutenção da Vida no planeta Terra”.
A sábia Natureza levou milhões de anos para estabelecer o necessário equilíbrio ambiental para a manutenção da biodiversidade. Agora, um governo irresponsável e em final de mandato, que declarou “realizarei esse projeto de qualquer jeito”, insiste em comprometer as gerações futuras com seus caprichos infantis, na intenção de prolongar eternamente sua autoridade temporal, à moda dos antigos visionários faraós egípcios.
Evidentemente, esse presidente está possuído pelos espíritos faraônicos e se afasta mais do bom senso cada vez que percebe escapar-lhe das mãos o poder terreno. É a ganância exacerbada pelo poder, objetivo de todo político profissional. Seus atos insensíveis para com a Natureza, incluídos os indígenas que ali habitam, demonstram a mesma índole destruidora que dominava a mente dos antigos portugueses quando invadiram o Brasil.
E esse prejudicial projeto tecnológico de transformar parte do meio ambiente em lucros – em evidente contradição às palavras insinceras proferidas no Fórum de Copenhague – está clamando aos céus para que “algum sábio ou uma inteligência superior desça sobre nossas cabeças”.