quarta-feira, 30 de novembro de 2011

NATUREZA E PERSPECTIVA DA BIOECONOMIA

 autor: Marcus Eduardo de Oliveira

A necessidade de vivermos de forma equilibrada, sustentada e pacificamente, faz com que lancemos um novo olhar para a questão que envolve o meio ambiente e o sistema econômico que nos regula. A razão disso? Simplesmente porque o sistema econômico que aí está, grosso modo, para atender nossas “necessidades”, opera dentro do meio ambiente.

Contudo, o que nem sempre é perceptível – ao menos para os economistas arraigados à visão tradicional dos fenômenos econômicos – é que esse sistema é apenas (e tão somente) um subsistema de algo maior: o próprio meio ambiente. Desse modo, caso essa relação entre a economia e a natureza não seja dada sob as bases do equilíbrio, o caos (em outras palavras: a degradação da qualidade de vida) certamente se aproximará.

Intrinsecamente, essa celeuma passa por evidenciar algo factual: não se pode negar que o processo econômico (produção – consumo) impacta o meio físico, a natureza. Exceto a chuva e a neve, nada mais caem feitos do céu. Com isso, para a obtenção de bens e serviços não há outro caminho: é necessário extrair recursos em estado bruto da natureza.

O que as ciências econômicas, em especial, ainda não discute com a primazia que se espera dos cientistas sociais, é o custo ecológico decorrente desse ato de “retirar recursos naturais para a transformação em bens econômicos”.

Infelizmente, as dimensões ecológicas do processo econômico têm passado distante das discussões dos economistas tidos como tradicionais. Inverter essa posição e fazer aflorar esse debate é o que de mais importante tem se inscrito, nos últimos tempos, em termos de se pensar uma nova forma de fazer economia e, ademais, lançar-se um novo jeito de lidar com a vida.

Nesse pormenor, nunca é demasiado comentar que o equilíbrio aqui mencionado entre a natureza e a economia é algo de extrema importância, para não dizer de necessidade vital. A necessidade, pois, desse contextualizado “equilíbrio” entre recursos econômicos e recursos naturais decorre, substancialmente, da conscientização de que essa relação de extração natural dispendida pela economia é pouco inteligente e muito agressiva, uma vez que envolve geração de resíduos, rejeitos e poluentes (tanto no ato da produção em si, como no descarte dos produtos após o uso). Logo, caso essa extração não seja realizada a contento (entenda-se em equilíbrio), isso apenas irá agravar e potencializar novos passivos ambientais. Nesse caso, pior será para todos uma vez que, na espaço nave Terra, todos somos passageiros.

Percebe-se assim que o propagado sistema econômico produtivo tem então uma capacidade ímpar em desequilibrar, na verdade, em poluir e degradar. Polui tanto na “entrada” (retirando recursos naturais) quanto na “saída” (no descarte). O outro nome disso é degradação ambiental; a morte, aos poucos, do ecossistema.

Enfatizando a Bioeconomia

Mas, como o Reino dos Céus é, felizmente, cercado de boas notícias, foi justamente a partir da evidência dessa relação nada amistosa e muito desequilibrada entre economia e natureza que em meados da década de 1960 surgiram as primeiras explicações técnicas que davam conta da imprescindível necessidade de mudar o rumo dessa história. Foi no calor dessas discussões que emergiu uma nova visão econômica envolvendo tanto a biologia quanto a física. E, ambas, por sinal, se “relacionavam”, cada qual à sua maneira, com as teorias econômicas até então consolidadas. Aqui cumpre destacar a ideia em torno da BIOECONOMIA que alcançou, desde o início, forte proeminência, embora, ainda hoje, permaneça um tanto quanto “apagada” dentro da abordagem feita pela tradicional teoria econômica.

Deve-se entender a Bioeconomia como um conceito de desenvolvimento que pressupõe novas relações com o meio ambiente, com o planeta Terra em si e, em especial, com as pessoas. “A bioeconomia refere-se ao processo de captura da vida e à produção da própria vida no interior das regras do discurso econômico” diz com bastante clareza Federico Chicchi, sociólogo italiano.

Para o francês René Passet a bioeconomia é o “novo paradigma da economia”. Passet argumenta que “a bioeconomia surgiu como conseqüência do alerta ecológico dos anos 1960/70, ‘descobrindo’ que o processo econômico é uma extensão da evolução biológica”.

O objetivo precípuo da Bioeconomia, diz Passet, “é integrar as atividades econômicas nos sistemas naturais porque as leis da macroeconomia não se reduzem às da microeconomia”. O interesse geral, nas palavras de Passet, “(…) é muito mais do que a soma das partes. Os mecanismos naturais (como o ar, a água) não têm que ver com as leis de mercado; por sinal, problemas com esses bens comuns e naturais transcendem a lógica das nações e dos mercados”.

Dessa forma, na visão de Passet, com a qual estamos de pleno acordo, a economia (enquanto modelo de produção e consumo) situa-se além de si mesma e vislumbra, numa perspectiva mais ampliada, um novo modelo de desenvolvimento. Esse modelo de desenvolvimento pode, perfeitamente, se encaixar dentro dos pressupostos da Bioeconomia. Conquanto, para que esse modelo se efetive, sua natureza deve ser integradora, caso contrário, malogrará. Pontua-se, igualmente, para enfatizar-se em definitivo essa questão, que esse seria um modelo capaz de conciliar os interesses públicos e privados numa amplitude mais solidária, cuja abordagem faça ressoar o interesse amplo e geral.

Definitivamente, as pessoas, a natureza e a busca pelo desenvolvimento socioeconômico precisam caminhar conjuntamente. A ciência econômica, por ser classificada como ciências humanas, têm o dever de apontar para esse objetivo e enveredar esforços para essa realização. Só haverá verdadeiro desenvolvimento quando as pessoas, sem distinção de classe e/ou posição financeira, forem contempladas. De nada adianta ocorrer desenvolvimento das instituições, por exemplo, se essas não forem colocadas à disposição de todos. São as pessoas as únicas responsáveis por fazer funcionar a economia, as instituições e o próprio mercado, e é para elas que a economia (ciência e atividade produtiva) e a natureza (o meio ambiente) estão dispostas.

Marcus Eduardo de Oliveira é Economista, professor, especialista em Política Internacional com mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É autor dos seguintes livros: “Conversando sobre Economia” (Ed. Alínea); “Pensando como um Economista” (Ed. ebookBrasil) e “Provocações Econômicas” (no prelo).

Contato:prof.marcuseduardo@bol.com.br http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot.com

Fonte: EcoDebate, 25/10/2011

sábado, 19 de novembro de 2011

ANTROPOCENTRISMO OU BIODIVERSIDADE

8,7 milhões de espécies vivas e
30 mil desaparecendo por ano.

 artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em setembro 28, 2011 por HC


Compartilhe:

[EcoDebate] A revista PLoS Biology publicou, em agosto de 2011, o resultado do censo da biodiversidade, mostrando que existem cerca de 8,7 milhões de espécies vivas no Planeta Terra. Este número não inclui os animais procariontes, como bactérias e vírus. A margem de erro do censo é de cerca de 15%, podendo existir 1,3 milhão de espécies a mais ou a menos. Do total de espécies estimadas, 6,5 milhões vivem na terra e 2,2 milhões na água. As 8,7 milhões de espécies estimadas do domínio Eucariota (organismos com membrana nuclear) estão divididas da seguinte forma:

- Animais: 7,7 milhões de espécies (953.434 descritas e catalogadas)

- Plantas: 298 mil espécies (215.644 descritas e catalogadas)

- Fungos: 611 mil espécies (43.271 descritas e catalogadas)

- Protozoários: 36,400 espécies (8.118 descritas e catalogadas)

- Cromistas: 27,500 espécies (13.033 descritas e catalogadas)

O termo utilizado para descrever toda esta diversidade biológica é BIODIVERSIDADE. As plantas, os animais e os microrganismos fazem parte de um todo vivo e o próprio Planeta Terra é considerado um ser vivo, de acordo com a Teoria de Gaia. A diversidade biológica está presente em todo lugar, enriquecendo o espetáculo da vida e, até mesmo, fornecendo alimentos, remédios e matéria-prima para o ser humano.

Estas milhões de espécies que fazem parte do ecossistema desempenham funções diferentes dentro do ciclo de vida. As plantas produzem seu próprio alimento utilizando somente a luz solar, que as tornam capazes de extrair substâncias inorgânicas, que estão no solo e na atmosfera, transformando-as em substâncias orgânicas. Os animais herbívoros alimentam-se destas plantas e são fontes de alimento dos animais carnívoros. O equilíbrio do ecossistema e o processo de polinização depende da variedade de espécies e todas possuem uma relação de interdependência, ou seja, uma depende da outra para sobreviver.

Porém, o desequilíbrio do ecossistema é um dos principais problemas ambientais da atualidade. A redução da biodiversidade coloca em risco o próprio ecossistema. A caça e a pesca predatória, a poluição das águas, do ar e do solo, a contaminação dos rios e dos oceanos, o desmatamento, as monoculturas, o uso de pesticidas e defensivos agrígolas, a falta de saneamento básico nas cidades, dentre outras ameaças ambientais, coloca em risco o equilíbrio biológico da Terra. O contínuo crescimento econômico e populacional está reduzindo o habitat das demais espécies do Planeta, pois as atividades de produção e consumo da espécie humana estão ocupando e/ou poluindo todos os espaços da terra, dos rios, lagos, oceanos e do ar.

De acordo com o World Resources Institute já houve cinco grandes extinções de espécies na Terra, todas provocadas por fenômenos naturais. Porém, estamos diante de uma sexta extinção que tem sido provocada, não por razões naturais, mas pelo antropocentrismo que tem provocado a perda de habitat, superexploração de espécies, difusão de espécies invasoras e poluição. A relação simbiótica entre as espécies está sendo alterada pela humanidade. A taxa de extinção atual é entre 1.000 e 10.000 vezes superior à taxa natural. As estimativas atuais apontam para uma taxa de extinção de espécies de cerca de 30.000 espécies por ano, ou três espécies por hora.

Neste ritmo de destruição, até o final do século XXI, um terço das espécies terrestres terão desaparecido em decorrência do egoísmo e da onipresença humana em todos os cantos do Planeta. A redução da biodiversidade, decorrente do ecocídio e do biocídio provocados pelas atividades antrópicas, tem acelerado o processo da sexta extinção e coloca em risco a vida do ser humano na Terra. Mas, antes mesmo do seu próprio suicídio, o ser humano já pode ser considerado o principal inimigo das outras espécies vivas do mundo.

José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate 28/09/2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

AS CRISES FINANCEIRA E AMBIENTAL

 
Autor: Mauro Velado Neto

  Estamos assistindo, nessa vertente de 2011, as ocorrências de desajustes sociais provindos de excrescências econômicas do sistema imperante no globo. As manifestações das camadas inferiores do povo se generalizaram e são mais significativas na Grécia, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos da América, que vêm tomando vulto crescente.

  É de se admirar que haja uma ira comum a diversas pessoas prejudicadas pelas incoerências do sistema capitalista. Elas, agora – somente agora – estão percebendo que o sistema em que vivem é injusto. Por que só agora estão enxergando o óbvio? Porque as conseqüências negativas do arranjo econômico estão batendo diretamente em seus confortos e necessidades vitais. É o egoísmo ferido; é o individualismo prejudicado. Quando tal situação se apresentava apenas aos povos da África, aos subjugados pelas ditaduras “amigas” e aos miseráveis e incultos esparramados pelos diversos países, essas injustiças alheias e distantes não lhes afetavam a sensibilidade. Conviviam tranquilamente com as injustiças e crimes do sistema, imperturbáveis em seus privilégios econômicos.

  Agora as benesses próprias do sistema distributivo injusto estão se contrapondo à lógica de que não existem milagres. Esperava-se essa etapa, pois a ganância individual é infinita e, sob pena de se contradizer, não pode ser distribuída a todos. Se alguns têm mais, alguém tem que ter menos. Nem que seja o prejudicado e exaurido  planeta. Daí a gravidade da espoliação ao planeta em seus recursos e meios ambientais.

 Chamamos a atenção do leitor para o fato de que o momento da verdade ambiental ainda não chegou, sob o aspecto da evidência. Haverá um momento, no entanto, que os abusos e irracionalidades praticados pelo atual civilização contra sua mãe-Terra, afetarão concretamente os interesses e confortos de todos nós. Nessa etapa não poderemos fazer greves, arruaças, movimentos contra nós mesmos, pois somos os causadores malignos de nossa própria desgraça. Mas há um último recurso: chorar, chorar e chorar.  

  É preciso que o povo de um país tome consciência de que todo o dinheiro (riqueza) nacional pertence aos seus habitantes. Quando um governo dá certa quantia inteiramente de graça a um banco, está desviando um bem que pertence ao povo para uma entidade (ferramenta) dirigida por privilegiados banqueiros que nunca choram; sempre sorriem.

Por que os governos fazem isso? Porque o sistema econômico é assim, injusto, criminoso, maléfico. Mas, como e por quê? Os bancos são o instrumento ou a ferramenta cuja função é, sem o povo perceber, arrecadar o dinheiro social e transferi-lo, “emprestado” ao governo.

 Recentemente, os países fortes da Europa acertaram um acordo financeiro para pôr fim à crise do euro. Por esse ajuste, os bancos credores da Grécia aceitaram reduzir a dívida da espécie em 50%. Isso, em outras palavras mais claras, significa que a aceitaram parcialmente o calote grego. Aceitaram porque não havia outra saída para a situação. Com isso, na verdade eles apenas adiaram o desfecho caótico de seu sistema financeiro.

 Mais tempo à frente e vamos ver que aquele país insolvente só tem uma solução: calote total e, como conseqüência, a bancarrota do euro, o que arrastará consigo todo o sistema financeiro mundial, inclusive o dólar. Isso é simplesmente o caos de um arranjo mundial baseado em que seu funcionamento se assenta no crescimento perpétuo.

 Como funciona o sistema financeiro capitalista? Resumidamente, a mágica se baseia na existência de bancos. Estes são a ferramenta   que engraxa a máquina e sustenta o funcionamento dos governos. Concretamente, o procedimento segue a receita mestre. Consiste em que os bancos, mediante diversos artifícios, sugam do povo todo o seu dinheiro e o “emprestam” a juros baixos ao governo. Os artifícios são os seguintes: poupança, depósitos diversos, transferências, aplicações financeiras, cheques, cartões de crédito, e qualquer ato que implique em recolhimento de dinheiro.

 Esse dinheiro todo é “emprestado” ao governo, a baixos juros e por prazo geralmente longo. Quando a dívida vence, o governo faz outro “empréstimo” no valor do anterior, acrescido dos juros, e, dessa forma, paga o anterior. E assim procede sempre. Já dizia o antigo Ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen que “dívida do governo não se paga; rola-se”. Quer dizer: o banco empresta um tanto uma vez só. Depois, o banco finge que torna a emprestar, e o governo finge que paga. Quando um banco, por qualquer motivo, ameaça ir à bancarrota, o governo dá-lhe dinheiro de graça para evitar que ele quebre.  Note-se que, a rigor esse dinheiro doado não é do governo; é do povo. Claro que é assim. O governo iria deixar morrer suas galinhas de ovos de ouro?

 Na Grécia, Itália, Espanha e Portugal gastou-se com futilidades, acima do razoável, e as dívidas alcançaram níveis adequados à cabeça de um louco. Como, na Europa, o dinheiro é comum a diversos países, a situação saiu fora de controle. Só há um caminho para a regularização desse caos:  deixar o país quebrar. De quem é o prejuízo? De todos, proporcionalmente às suas riquezas. Quem tem mais, perde mais. Quem tinha mais que o necessário para viver (os investidores) irá perder o que não lhe fazia falta.  É um desiderato lógico: só perde quem tem. 

 Os atuais governantes não têm competência e coragem para enxergar que o planeta é um sistema fechado. Isso é condição suficiente para que essa imensa sociedade humana de 7 bilhões produza um efeito fermentativo e gasoso que redunda mais adiante em explosão vivencial.
Fonte: Folha Brasil Central


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

LEVANDO VANTAGEM EM TUDO

Autor: Eduardo Gusmão Soares, Filósofo e Psicólogo

 Vivemos em uma terra de espertos. Mas isso não é bom. Não é uma esperteza solidária, em prol da comunidade ou de um projeto que trará algum progresso. E sim mesquinha, egoísta, individualista. E no meio do “salve-se-quem-puder” aqueles que tentam fazer as coisas corretamente acabam prejudicados. Num país onde todos querem levar vantagem sobre o próximo, vivemos numa eterna e feroz competição de rasteiras e poucos de nós conseguem ficar de pé.

Em um exemplo para começar, temos que boa parte de população não paga impostos. Não estou falando em atrasar. Estou falando em não pagar. Nunca. Eu e você, bons cidadãos, pagamos para compensar esta sonegação criminosa. Mas outros exemplos do dia-a-dia são ainda mais triviais e inacreditáveis.

Quantos não andam pelo acostamento? Afinal, a pressa deles é mais importante que a sua, que ficará parado no trânsito caótico das cidades. Quantos não param no meio da rua para pegar o filho na escola ou outra coisa qualquer, afinal a pessoa é mais importante que você e todos deverão aguardar que ela termine o que está fazendo para continuar. Temos, ainda, outros exemplos de espertos que arriscam até a vida! Quantos bebem e saem dirigindo, contando com dicas de amigos e de sites para evitar a fiscalização da “Lei Seca”? O “esperto” conseguirá burlar uma lei feita para protegê-lo e, de quebra, arriscará a vida de inocentes.

Apenas para citar alguns exemplos repulsivos, que nos dão vergonha de sermos brasileiros, vamos citar alguns casos.

Em um deles, alunas ricas moradoras de casas em bairros  nobres e que iam para a universidade com carro do ano, fraudaram a seleção de bolsas de estudo Pro Uni para conseguir bolsas integrais de estudo. Estas bolsas beneficiariam alunos pobres que não podem pagar uma universidade. Espertas como só elas são, as alunas usaram familiares em cargos importantes dentro da universidade para conseguirem, de maneira criminosa e desrespeitosa, uma     vantagem que destruiu a chance de alguém necessitado de cursar aquela universidade.

O comando da Polícia Militar de Alagoas informou que descobriu um esquema de fraude ao programa Bolsa Família envolvendo praças     e oficiais da corporação. Em nota oficial, a PM-AL afirma ter uma lista     com 34 nomes de militares beneficiados pelo programa federal, que deveria atender apenas às famílias de baixa renda.

Alguns vereadores e secretários espertos também recebem o Bolsa-Família! Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que, só no  ano passado, mais de 1,3 mil funcionários públicos municipais receberam o benefício destinado à população pobre.

Não bastasse a desgraça e a morte de parentes, vítimas de     catástrofes naturais ainda são assaltadas por aqueles que deveriam   ajudá-las. Sabe como é… doação, material farto e fácil para os espertos. Dois homens foram presos em flagrante sob suspeita de desviar um caminhão carregado com doações para as vítimas     das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro. As informações     foram confirmadas pela Polícia Militar.

Os exemplos não param, todos sabemos. Surge a cada dia uma lista que nos envergonha, principalmente no cenário político. Deveríamos repreender parentes e amigos que praticam este tipo de desserviço à sociedade. Levar vantagem pisando sobre os outros não nos torna boas pessoas, tampouco traz consigo a sonhada prosperidade e progresso. Muito pelo contrário. Todos perdem, todos pagam o preço dos que insistem em desviar do caminho correto.

Vivemos num país onde passar a perna, levar vantagem e conseguir privilégios graças a um “jeitinho brasileiro” são coisas louváveis. Pobres de nós, brasileiros. Mentes pequenas, atarracadas, dignas do terceiro mundo, dignas do atraso em que vivemos e que perpetuamos. Olhamos para o primeiro mundo com inveja, mas nos esquecemos de que todos os problemas daqui começam nos nossos próprios atos.

Particularmente, não acho que deveríamos ser todos totalmente corretos. Quem não tem um MP3 no computador? Quem nunca fez uma conversão ou manobra proibida no trânsito para poupar tempo? Como no mundo selvagem, tem hora que precisaremos nos virar da maneira que for para benefício próprio. Ainda assim, há deslizes graves que atravancam nossa evolução enquanto civilização e são estes que, primeiro, precisamos enfrentar. Pior é quem faz da “Lei de Gérson” um modus operandi. Pessoas que vivem em função de trapacear e levar vantagem sobre outros.

Na nossa cultura, o cara que consegue fazer uma ligação clandestina para ter TV fechada gratuitamente, não só  sente orgulho disso como expõe isso com entusiasmo para amigos e parentes e ainda é cumprimentado! “Puxa, como você fez?”, perguntam os outros admirados por não serem tão espertos. O garçom erra a conta e cobra a menos? Se você pedir para corrigir, você é rotulado como otário. “O problema é do garçom que errou!” vão reclamar raivosos aqueles que tiverem que rachar a conta com você.

Você entrou na carreira pública? Consegue comprar um atestado médico para ficar semanas ou meses sem trabalhar? Você será ovacionado por amigos e parentes como um cara esperto, que sabe aproveitar as oportunidades da vida. Você não estudou, mas conseguiu colar toda a prova daquele cara inteligente? Uau! Você será coroado como o cara mais legal e sagaz da escola! Conseguiu um cargo público? Hora de dar emprego para todos aqueles amigos e parentes, além de embolsar aquela verba que ninguém vai perceber que sumiu. Nossa... como você é bom, não é mesmo? Mas... a que preço?

Enquanto enaltecermos este tipo de conduta lesiva à comunidade, manteremos corruptos em nossos governos. Teremos policiais prevaricando. Pagaremos impostos cada vez maiores. Cobrarão de nós softwares que custam 10x o preço original. Arcaremos com um custo excessivo em serviços como televisão paga, internet, água, luz e outros. Afinal, que país queremos construir? Queremos um dia ser primeiro mundo? Precisamos nos comportar como primeiro mundo então. Isso não é uma análise apenas moral da situação. É pragmática, objetiva. Se todos trabalharem para que todos melhorem de vida, guardadas as devidas proporções dos méritos a serem concedidos a cada um, nossa tendência é subir a ladeira do progresso.

Lembro um documentário onde um estrangeiro falava que para o pedágio em seu país bastava apenas depositar uma moeda numa caixa e ir embora. Não tinha cobrador, nem guarda olhando. O brasileiro (que veio da cultura dos “mais espertos”) perguntou por que o estrangeiro não passava direto pelo posto de coleta sem pagar. O estrangeiro sequer conseguiu entender porque deveria fazer isso e perguntou incessantemente, com cara de quem não está entendendo nada: “Mas por que eu não deveria pagar se estou usando?”.

Se um dia a maioria dos brasileiros começarem a pensar como aquele estrangeiro, que entende que a coletividade precisa ser beneficiada para que ele próprio possa usufruir de um país melhor, daí então seremos primeiro mundo, ainda que muitos passem fome. Entenderemos como é fácil resolver problemas que vão desde a corrupção sistemática no governo até as grandes quadrilhas de traficantes. Veremos como nossos impostos podem sim fazer muito por nós. Poderemos pagar menos por serviços ainda melhores. Enfim, viveríamos numa sociedade civilizada, avançada, boa para todos. A mudança por um mundo melhor começa nos pequenos atos de cada um. Você, meu caro cidadão brasileiro, está fazendo sua parte?

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com

                                  Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/