quinta-feira, 26 de agosto de 2010

AUMENTA ONDA DE REFUGIADOS AMBIENTAIS

Transcrevemos a seguir importante artigo de Lester R. Brown:


"A civilização do início do século XXI está encurralada entre o avanço dos desertos e a elevação do nível do mar. Se considerarmos a superfície de terras biologicamente produtivas habitáveis por comunidades humanas, a Terra está encolhendo. O aumento da densidade demográfica, antes causada apenas pelo crescimento da população, agora também é alimentado pelo implacável avanço dos desertos, e logo poderá ser afetado pelo aumento previsto do nível do mar. Na medida em que a extração excessiva esgota as reservas aquíferas, milhões mais se veem forçados a se reassentar em busca de água.

A expansão do deserto na África subsaariana, principalmente nos países do Sahel, causa o deslocamento de milhões de pessoas, obrigando-as a seguirem para o sul ou emigrarem para a África do norte. Já em 2006, uma conferência da Organização das Nações Unidas sobre desertificação realizada em Túnis estimou que para 2020 até 60 milhões de pessoas poderão emigrar da África subsaariana para a África setentrional e a Europa. Este fluxo está em curso há muitos anos.

Em meados de outubro de 2003, as autoridades da Itália descobriram um barco que se dirigia a esse país transportando refugiados procedentes da África. A embarcação esteve à deriva mais de duas semanas, ficou sem combustível, alimentos e água. Muitos dos passageiros morreram. No começo, os cadáveres foram jogados na água. Mas, após algum tempo, os sobreviventes ficaram sem forças para levantar os corpos. Deste modo, vivos e mortos compartilharam o bote. Um socorrista descreveu o que viu como “uma cena do inferno de Dante” Alighieri.

Acredita-se que os refugiados eram somalianos embarcados na Líbia. Mas os sobreviventes não revelaram seu país de origem para não serem enviados de volta. Ignora-se se eram refugiados políticos, econômicos ou ambientais. Estados falidos como a Somália expulsão sua população por causa desses três fatores. Ali há um desastre ecológico, com excesso de população, excesso de pastoreio e, como consequência, uma desertificação que destrói sua economia pastoril. Talvez o maior fluxo de emigrantes somalianos se dirija para o Iêmen, outro Estado falido. Estima-se que em2008 foram 50 mil os migrantes e solicitantes de asilo que chegaram a esse país, 70% mais do que em 2007.

E durante os primeiros três meses de 2009, o fluxo migratório foi até 30% superior ao de igual período do ano passado. Estes números simplesmente se somam às pressões já insustentáveis sobre a terra e os recursos hídricos do Iêmen, acelerando seu declive. No dia 30 de abril de 2006, um homem que pescava nas águas de Barbados descobriu um bote à deriva com os cadáveres de 11 homens jovens “Praticamente mumificados” pelo sol e pelo sal do oceano Atlântico.

Ao aproximar-se o fim, um passageiro deixou um bilhete entre os corpos: “Gostaria de enviar dinheiro para minha família em Basada (Senegal). Por favor, me perdoem e adeus”. Aparentemente, seu autor integrava um grupo de 52 pessoas que partiram desse país africano às vésperas do Natal em um bote com destino às ilhas Canárias, ponto usado como trampolim para a Europa. Devem ter viajado cerca de 3.200 quilômetros. A travessia terminou no mar do Caribe. Este barco não foi o único, durante o primeiro fim de semana de setembro de 2006, a polícia interceptou botes da Mauritânia com quase 1.200 pessoas a bordo.

Para muitos moradores de países da América Central, incluídos Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador, o México costuma ser a porta de entrada para os Estados Unidos. Em 2008, as autoridades mexicanas de imigração registraram 39 mil detenções e 89 mil deportações. Na cidade de Tapachula, na fronteira entre Guatemala e México, homens jovens em busca de trabalho esperam ao longo das vias férreas um lento trem de carga que atravessa a cidade em sua rota para o norte. Alguns conseguem subir, outros não.

O abrigo Jesus, o Bom Pastor abriga 25 amputados que perderam o equilíbrio e caíram sob um trem quando tentavam abordá-lo. Para esses jovens, “este é o fim de seu sonho americano”, disse a diretora do abrigo, Olga Sánchez Martinez. Outra voluntária dessa instituição, Flor Maria Rigoni, qualificou os emigrantes que tentam subir nos três de “kamikazes da pobreza”. Hoje é comum encontrar cadáveres nos litorais de Itália, Espanha e Turquia. São cadáveres de migrantes desesperados.

A cada dia, muitos mexicanos arriscam a vida no deserto do Arizona, tentando conseguir trabalho nos Estados Unidos. Em média, cerca de cem mil, ou mais, abandonam anualmente suas áreas rurais, onde aram terras muito pequenas ou muito afetadas pela erosão para que possam obter seu sustento. Dirigem-se a cidades mexicanas ou tentam cruzar ilegalmente a fronteira para os Estados Unidos. Muitos dos que tentam atravessar o deserto do Arizona morrem sob o sol abrasador. Desde 2001, a cada ano são encontrados, em média, 200 cadáveres ao longo da fronteira do Estado do Arizona.

Com a vasta maioria dos 2,4 bilhões de pessoas que se somarão ao mundo até 2050 nascendo em países onde os lençóis freáticos já estão diminuindo, é provável que os refugiados hídricos se tornem um fenômeno comum. Serão encontrados mais comumente em regiões áridas e semi-áridas, cuja população esgota o fornecimento de água e afunda na pobreza hidrológica. As aldeias do noroeste da Índia são abandonadas na medida em que esses lençóis de água se esgotam e a população já não tem como se abastecer milhões de moradores do norte e do ocidente da China e de certas áreas do México podem ter de se deslocar devido à falta desse líquido.

O avanço dos desertos encurrala as populações em expansão em uma área geográfica menor do que nunca. Nos anos 30, as tempestades de areia deslocaram três milhões de pessoas nos Estados Unidos. Agora, o deserto que avança nas províncias chinesas afetadas por um fenômeno semelhante pode expulsar dezenas de milhões. A África também sofre este problema. O deserto do Saara empurra as populações de Marrocos, Túnis e Argélia para o norte, em direção ao mar Mediterrâneo. Em um esforço desesperado para adaptar a agricultura à seca e à desertificação, o Marrocos reestrutura o setor com base em estudos geográficos, substituindo os cultivos de cereais por vinhas e hortas que usam menos água.

No Irã, as aldeias despovoadas por culpa do avanço dos desertos ou pela falta de água já são milhares. Nas proximidades de Damavand, pequeno povoado a uma hora de carro de Teerã, 88 aldeias foram abandonadas. E na medida em que o deserto se apodera do território da Nigéria, os produtores agropecuários se veem obrigados a se mudar, apertados em uma área cada vez menor de terra produtiva. Os refugiados devido à desertificação costumam acabar em cidades, e muitos em assentamentos ilegais. Outros emigram.

Na América Latina, os desertos se expandem e obrigam as pessoas a se instalar no Brasil e no México. O fenômeno no Brasil afeta 66 milhões de hectares de terras, em boa parte concentradas no noroeste do país. No México, com uma cota muito maior de terras áridas e semi-áridas, a degradação da terra agrícola agora se estende a 59 milhões de hectares. A expansão do deserto e a escassez de água causam o deslocamento de milhões de pessoas, mas a elevação dos mares promete expulsar muitas mais no futuro, devido à concentração da população mundial em cidades costeiras e em deltas de rios onde se cultiva arroz.

Os números podem chegar a centenas de milhões, oferecendo outra poderosa razão para estabilizar tanto o clima quanto a população. No final, a dúvida que desperta a elevação do nível do mar é se os governos são suficientemente fortes para suportar a pressão política e econômica de reassentar contingentes de população na medida em que os países sofrem fortes perdas de casas e fábricas no litoral. A opção parece simples: reverter estes problemas ou deixar-se superar por eles."
IPS/Envolverde.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
Fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

sábado, 21 de agosto de 2010

É FÁCIL SER ECOCÉTICO, DIFÍCIL É ASSUMIR AS RESPONSABILIDADES

Autor: Henrique Cortez
[EcoDebate] Aos menos desatentos não é difícil perceber que passamos por momentos difíceis e delicados, não apenas em termos ambientais como também em termos humanitários.

No entanto, não são poucos que se sentem confortáveis e seguros no papel de ecocéticos, ora negando a crise ambiental, ora ‘duvidando’ do aquecimento global e, muitas vezes, até fazendo de conta que a grave crise alimentar que assolou o planeta entre 2007 e 2008 não aconteceu e não acontece.

É fácil ser cético porque basta negar e nada mais. Quem nega a priori nada precisa provar ou demonstrar. A simples negativa se justifica por si mesma. Simples assim.

Ao contrário, os mais de 2500 pesquisadores do IPCC e mais de 500 trabalhos científicos publicados nos últimos dois anos demonstram à exaustão os fatos comprováveis do aquecimento global e das mudanças climáticas.

O conhecimento científico sobre as mudanças climáticas já é tão forte e avassalador que nem mesmo o governo dos EUA foge das evidencias.

O conhecimento científico relativo ao aquecimento global e as mudanças climáticas vem, ao longo dos últimos 10 anos, tornando-se cada vez mais consistente exatamente em razão deste processo de desenvolvimento do conhecimento.

Existem opiniões céticas em relação ao aquecimento, mas elas são isoladas e com grandes diferenças de conceitos e métodos de pesquisa e documentação científica.

Os estudos do IPCC, com a efetiva participação de mais de 2500 cientistas e mais de 600 instituições (universidades e centros de pesquisa) utilizam modelos matemáticos com quase mil variáveis e fatores de análise.

Além disto, nos últimos 5 anos, foram publicados mais de 500 trabalhos científicos, efetivamente documentados, com resultados, métodos e instrumental revisados por pares.

Os modelos matemáticos estão em permanente evolução, incorporando novos dados e fatores de análise. É uma excelente demonstração do conhecimento em construção.

Assim estamos falando de um enorme e e cientificamente consistente resultado demonstrável e comprovável.

Os céticos do aquecimento possuem pouquíssimos trabalhos publicados e, em geral, sem revisão por pares (peer review, em inglês) . Podem até acreditar duvidar que o aquecimento global e as mudanças climáticas não são devidas aos fatores antropogênicos, mas não conseguem provar que não é.

Além do mais, utilizam fatores isolados ou poucas variáveis, o que permite concentrar os resultados em direção ao foco desejado.

No fundo, a questão essencial é: vale a pena correr o risco?

Aos que acham que tudo isto é bobagem sugerimos que acessem as nossas tags “aquecimento global”, “mudanças climáticas” e “pesquisa” .

As fontes de informação, descritas nas tags citadas, são mais do que suficientes para oferecer uma detalhada visão destas crises, que se agravam a cada dia. Os ecocéticos podem não aceitar quaisquer informações contrárias à sua posição cômoda e sem sustentação científica, mas não podem negar que as informações existem à exaustão.

Respeito o direito de opinião e o direito de questionar o aquecimento, mas, na minha opinião, negar as evidencias cientificas do aquecimento global, a partir de fatores ou eventos isolados e não apresentar estudos e pesquisas com o volume, densidade e abrangência relativamente proporcional ao apresentado pela comunidade científica internacional é uma grosseria e um desrespeito para com a ciência e para com a sociedade.

Negar o aquecimento é fácil, difícil é documentar e comprovar cientificamente as bases da negativa.

Não que faça alguma diferença, porque os ecocéticos já acharam o seu ‘nicho ecológico’, na confortável opção pelo comodismo e pela alienação.

Henrique Cortez, henriquecortez{at}ecodebate.com.br

coordenador do EcoDebate.



Fonte: EcoDebate, 18/08/2010

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CHINA MOSTRA HOJE CAOS MUNDIAL DE AMANHÃ

Vamos expor a seguir uma situação em que o raciocínio lógico vem facilmente à nossa razão. É uma circunstância que se mostra tão clara e evidente que não precisa de extensas argumentações. Todas as pessoas que possuem em plena atividade os cinco sentidos básicos são capazes de perceber o momento histórico por que passa o ambiente em que vivemos.

Nossas observações não passam de pontos óbvios. Mas abordamos esses pontos porque sentimos a necessidade de fazê-lo, pois é atributo humano gritar um aviso sobre a aproximação de qualquer perigo à vida. O que nos implica é que grande parte da população ainda não enxergou, não percebeu, não sentiu a obviedade do que vamos tratar.

Se estivermos caminhando numa estrada rumo a um ponto pré-estabelecido, estamos num processo dinâmico de deslocamento e, se não surgir fato novo que nos impeça de continuar ou mudar de rumo, chegaremos afinal àquele destino. Isso é conseqüência do fator tempo, que não pára e segue sempre em frente, imperturbável, produzindo as conseqüências das ações causais, boas ou más, dos fatores de um sistema. Está fora do poder humano parar o tempo. Eis ai um fato a que devemos dar o devido respeito e consideração.

Diz o ditado popular que “pelo dedo se conhece o gigante”. Em outras palavras: pela amostra se conhece o todo. Desprezando-se outros fatos de conhecimento geral, pelos quais fica clara a ação predadora da modernidade, está à mostra, hoje, mais uma evidência: o futuro caótico desta civilização mostrado no exemplo modernista da China.

Aquele país oferece ao mundo um espelho perfeito que reflete o futuro do planeta. Aquela nação tem todos os ingredientes necessários para empreender a viagem pioneira à modernidade materialista, cujo objetivo é a ilusão do nada, conseguida pela destruição do meio ambiente da vida.

A China, com ações desvairadas de progresso material, estimuladas pelos interesses lucrativos do capital internacional, vem mostrando ao mundo aonde leva esse insano procedimento. Com a intenção de realizar em 20 anos o que levou 300 anos na América do Norte, suas ações aceleradas forçaram o tempo natural, ultrapassando as fronteiras do porvir. Isso vem propiciar ao restante do mundo o privilégio de antever as conseqüências de um viver unívoco assentado na ganância individual. Aquele país se esquece que o objetivo da vida é viver. Para isso, basta preservar as fontes que a sustentam, como o bom senso indica. O resto vem de graça, que a Natureza é pródiga.

Estamos assistindo naquele país e regiões adjacentes ocorrências naturais excepcionais cuja gravidade e importância não deveriam ser ignoradas, mas divulgadas ao máximo. Infelizmente, são desprezadas pelo governo chinês e pela mídia mundial. Citamos, a seguir, alguns eventos mais conhecidos:



a) avanços, por fortes ventos, dos desertos do oeste para leste, impedindo o normal funcionamento urbano e diminuindo a área cultivável;

b) desequilíbrio no micro-clima, causando secas severas e chuvas torrenciais, em locais diversos, com as conseqüências adversas tais como desmoronamentos, inundações, frustração de colheitas;

c) envenenamento permanente do ar, obrigando a população das grandes cidades a usarem máscaras paliativas, subvertendo as condições mínimas da vida;

d) aumento abrupto da pegada ecológica;

e) devido ao excesso populacional – 1,3 bilhões, equivalentes a 20% da mundial –, conjugado com as adversidades mencionadas, a terra produtiva tem sido cultivada até ao máximo de sua capacidade, ocasionando seu esgotamento;

f) os reflexos negativos das atividades progressistas da China têm alcançado as regiões próximas, mostrando que, para a Natureza, não existem países, pois todas as partes da esfera terrestre são interdependentes;

g) a água potável já está faltando em diversos locais, ocasionando intervenção radical do governo na sua distribuição. As águas contaminadas vêm provocando problemas de saúde naquele formigueiro humano.



Que a pequena amostra da ganância materialista chinesa sirva para retirar dos cegos a venda que os impede de enxergar a realidade que o progresso provoca. Fica evidente que as ações humanas da atual civilização seguem rumo equivocado.

Mostra o exemplo chinês que desenvolvimento e progresso são objetivos egoísticos e desestabelizantes do frágil ambiente vital. São incompatíveis com a preservação ambiental. As transformações que a atual civilização tecnológica faz na Natureza nunca permanecem impunes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

GERAÇÃO AZUL

Temos o prazer de divulgar o esclarecido artigo do emiente professor José Eustáquio Diniz Alves.

Re-ge(ne)ração: a geração azul,
 artigo de José Eustáquio Diniz Alves


[EcoDebate] As gerações passadas – nossos ascendentes – ajudaram a construir o mundo atual. Muitas conquistas se devem ao esforço de nossos antepassados, não só em termos de linguagem, cultura, grandes monumentos, infraestrutura, etc. Por exemplo, a mortalidade infantil, no mundo, atingia 152 crianças que morriam antes de completar um ano, para cada mil nascidos vivos, em 1950. Em 2010, a mortalidade infantil mundial tinha caído para 47 por mil e para menos de 20 por mil (2%) no Brasil. No planeta, a esperança de vida ao nascer estava abaixo de 30 anos, em 1900, passou para 46 anos, em 1950, e chegou a 68 anos, em 2010. No Brasil, as pessoas chegam, em média, a mais de 70 anos. De modo geral, as pessoas vivem mais e melhor, atualmente, do que no passado.

Contudo, as gerações passadas deixaram uma “herança maldita” em termos ambientais, pois, para melhorar as condições sociais e fazer a economia crescer, destruíram as florestas, poluíram o ar, os rios, os lagos e os oceanos e aqueceram o planeta ameaçando a biodiversidade e a sobrevivência de todas as espécies de seres vivos.

A pegada ecológica global já ultrapassa 30% a capacidade de autoregeneração da Terra.



Desta forma, o desafio das novas gerações é aumentar a qualidade de vida do ser humano, ao mesmo tempo em que garante a sobrevivência dos demais seres vivos e implemente uma faxina no planeta para garantir a recuperação do que foi destruído e depauperado. A palavra chave é regeneração, que possui as seguintes acepções, segundo o Houaiss:

1)Formação ou produção, em segunda instância, do que estava parcial ou totalmente destruído; reconstituição, restauração;

2)Modo de reprodução das árvores da floresta;

3)Reconstituição, por um organismo vivo, das partes de que foi acidentalmente amputado;

4)Segunda vida, segundo nascimento; revivificação, refortalecimento.

As gerações atuais e os jovens vão ter que cuidar da regeneração do meio ambiente. Vão ter que lutar contra os interesses econômicos de corporações que não respeitam a natureza e contra as elites que possuem um consumo desregrado. Evidentemente, as novas gerações vão ter que cuidar do verde, pois a destruição do verde e a acidez da água está tornando o Planeta desbotado e marrom. Se nada for feito, o nosso futuro será o mesmo de Marte, o planeta vermelho.

Para manter a Terra azul é preciso salvar o oxigênio e reduzir o gás carbônico. É preciso cuidar da água, evitando o desperdício e mudando o estilo de vida. A água não é para usar e sujar, mas sim para conservar e garantir a vida. Os rios, os lagos, as fontes e os aquíferos não podem ser tratados como uma grande cisterna que podemos sacar do seu conteúdo à vontade. A água potável precisa ser preservada e cultivada como um tesouro, pois sem ela não há biodiversidade. É no azul da água em geral e nos oceanos que está a última fronteira da vida e a maior diversidade de espécies do planeta.

A biosfera – e a biodiversidade existente nela – possibilita a vida de todos os seres. A biosfera é uma aguarela, com predominância do azul, tendo o oxigênio como matéria-prima. As novas gerações humanas – para sobreviverem – precisam ter a nobreza de cuidar deste azul, em todas as suas tonalidades: azul-celeste, azul-marinho, azul-esverdeado, azul-claro, azul-escuro, etc. A palavra-de-ordem do século XXI é REGENERAÇÃO e a sua implementação, no presente e no futuro, está nas mãos da daqueles que, além de descarbonizar, deve contribuir para oxigenar o Planeta: a geração azul.

José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate, 13/08/2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

LUCRO, SEU VERDADEIRO SIGNIFICADO

Inicialmente, devemos deixar claro que essa palavra implica entendimento de duas acepções na atividade comercial. O que o padeiro, pipoqueiro, lavrador, cabeleireiro e pequenos comerciantes obtêm na sua atividade, legitimamente não pode ser chamado de lucro. É apenas uma conversão de trabalho em dinheiro necessário à sua sobrevivência. É uma paga pelo seu trabalho individual. É o mesmo que um ordenado. Não é lucro; é uma remuneração.

O arrazoado de que tratamos a seguir se refere ao que conduz nossa vida, embalado pelo sistema econômico, constituindo uma aferição final das atividades corporativas da grande indústria, dos cartéis e o deus a que veneram: o sagrado lucro.

Os acadêmicos de economia ensinam que a avaliação do grau de eficiência de administração de uma empresa é medida pelo resultado financeiro, isto é, o lucro. Só isso. Tudo o mais são considerados “meios” necessários à obtenção daquele objetivo. Isso é o que importa numa empresa comercial. De nada adianta, no âmbito administrativo, pôr-se em relevo outras considerações tais como benefício social, perfeição, utilidade, educativo, ambiental e o que mais se imaginar. Se no balanço não aparecer o lucro, todos os fatores são tidos como supérfluos, inócuos ou prejudiciais aos interesses da empresa.

Na análise de um empreendimento, o que conta mesmo é o seu potencial de lucro. Se o produto tem todos ou alguns aspectos prejudiciais à saúde, ao ambiente, à virtude ou o que mais for, mas produz lucro, esse é o caminho em que a administração vai prosseguir e investir mais. Ele gera, pela sua capacidade de capitalização, a posse de bens, riqueza e poder que, por sua vez, produz mais lucro e todas as vantagens consequentes. Em última análise, essa engrenagem injusta retira da comunidade social recursos básicos de sobrevivência. Se assim não fosse, se todos pudessem igualmente usufruir os recursos que a Natureza nos fornece gratuitamente, não haveria as qualificações de rico e pobre na sociedade humana.

As atividades econômicas que, na atual civilização se constituem como um esqueleto social de suporte e linguagem de relacionamento dos indivíduos, são como antolhos que impedem a visão ampla e total dos olhos e da mente, dirigindo-a para um único e estreito ângulo que aponta para um só rumo, o lucro.

Mas o que é o lucro afinal? Em outras palavras, podemos dizer que, em entendimento mais palpável, é um papel (cédula, promissória, título participativo, nota de crédito, direitos documentados) representativo de bens materiais. A abundância desses bens traz consigo a capacidade para uma casta especial tomar decisões para o mundo, objetivando exclusivamente a ampliação de seus próprios poderes. Esse grupo internacional é exclusivamente materialista, não se submetendo – por anestesia mental provocada pela ambição ilimitada – a qualquer assunto de natureza espiritual. Negócios, negócios; sentimentos à parte. Dinheiro, dinheiro; vida à parte.

Para bem raciocinar sobre o tema, temos que pedir auxílio às ciências, principalmente à Física. Diz a lei básica da ciência que nada se destrói e nada se cria; tudo se transforma. Ora, o lucro é a obtenção de um bem. Se alguém se apossou dele, outro perdeu o mesmo bem ou valor correspondente.

Conclusão: lucro é a transferência de bens. Alguém poderá perfeitamente discorrer sobre a legitimidade do lucro, argumentando que ninguém perde, mas não se consegue fugir do entendimento de que ele constitui uma simples transferência. Aí está situado o calcanhar de Aquiles. Se incluirmos nessa equação os bens do planeta Terra – o que é razoável e matematicamente correto – vamos concluir, depois de percorrer toda a escala produtiva, que é ela a verdadeira espoliada em seus recursos que são transformados em lucro.

Tudo no mundo tem custo. E aquele é o custo que geralmente não é computado nos planejamentos econômicos. Em outras palavras, o planeta Terra está sendo sugado além de suas possibilidades de regeneração. Podemos dizer, em síntese, que o lucro é a resultante do saque irracional dos bens necessários à vivência da biosfera. Isso, sob qualquer grau de ajuizamento, se constitui em um crime. E, nesse caso específico, crime ambiental, crime global, crime absoluto.

Sabe-se que o planeta recebe do Sol as energias que se transformam em bens pelos diversos processos vitais, mas a atividade gananciosa que objetiva o lucro está num processo de desgaste desses meios superior a 30% da capacidade de recomposição.

A Economia não pode agir impunemente se não levar em consideração os custos dos bens que lhe são postos à disposição pela Natureza. Ir além desse limite passa a ser um processo lento de suicídio. Sob esse enfoque, passaria a valer a definição clássica de Economia: é “a administração da escassez”. Se a população mundial não fosse tão volumosa, fútil e inconseqüente.

O primeiro economista a enxergar essa situação foi o romeno Nicholas Georgescu-Roegen, falecido em 1994, que lutou em vão para que a Economia se inserisse nas considerações maiores da Natureza. Ficou tido entre seus pares como um visionário e tratado como cultivador de ciência esotérica. É sempre assim nas ciências: os primeiros a perceber a visão fora dos cânones em moda são desconsiderados ou implacavelmente combatidos.

O economista americano Herman Daiy foi tido como um obtuso porque pregava que o desenvolvimento deveria parar a fim de que a Natureza tivesse tempo para se recompor. Em nosso meio, o preclaro economista Marcus Eduardo de Oliveira, com seu excelente trabalho, tem batido incessantemente nessa tecla.

Hoje, são muitos os economistas que se conscientizaram dos ensinamentos de que a Economia deve se submeter à lógica ambientalista por ser parte dela. E vem ganhando corpo tal entendimento.

Essa nuvem de economistas de visão vem tomando espaço dos tradicionais e acadêmicos profissionais da área, mostrando-nos que, em breve, será maioria, pois se apóiam na lógica da Natureza.

Deixamos claro que essa pequenina e despojada palavra – lucro – com aparência angelical, benéfica, saudável, construtiva, carrega, no seu verdadeiro significado, um imenso poder destrutivo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DESASTRES AMBIENTAIS AGRAVAM CRISE DE ÁGUA NA CHINA

Autor: Guillem Martinez Pujol

A sucessão de acidentes ambientais nas águas da China está agravando o problema de abastecimento no país, que sustenta 20% da população mundial com apenas 7% dos recursos hídricos disponíveis no planeta.

Com estes dados, segundo as Nações Unidas, cada cidadão chinês dispõe de 2.138 metros cúbicos de água por ano, quatro vezes menos que a média dos países desenvolvidos.

Por sua distribuição geográfica e os diferentes climas no país, a distribuição interna de água na China também não é equilibrada, com um norte árido e frequentemente semidesértico e um sul tropical e sujeito a chuvas de monção.

Trabalhadores chineses coletam lixo trazido pelas águas próximas à represa de Três Gargantas

O gigante asiático vive suas piores enchentes em 12 anos, que já deixaram mais de 1.500 mortos e desaparecidos no país, mas não pode garantir a provisão de água em todo seu território.

O governo chinês se mostra incapaz de ordenar seu mapa hidrográfico e realiza obras faraônicas, como a represa das Três Gargantas, no rio Yang-Tsé, ou o futuro Eixo de Desvio de Águas Sul-Norte, previsto para 2014, e vê uma proliferação, sem remédio, dos acidentes.

Nas últimas semanas, marés negras chegaram ao litoral, além de pragas de algas, que cobriram milhares de quilômetros quadrados e mataram toneladas de peixes, entre outros fatos.

A China é um dos países mais poluídos do mundo, devido em grande parte à acelerada industrialização vivida no país, cuja riqueza foi construída com uma exploração dos recursos com pouco controle e supervisão.

As últimas estatísticas oficiais apontam que os acidentes ambientais duplicaram em relação ao ano passado, com 102 incidentes apenas nos seis primeiros meses de 2010.

O Ministério de Proteção Ambiental chinês apresentou na semana passada os negativos resultados de um estudo oficial realizado este ano em milhares de amostras de águas da superfície do país.

Segundo a avaliação oficial, apenas 49,7% das águas estão aptas para o consumo e 26,4% são destinados à indústria, por não serem adequadas. De fato, mais de 100 das 600 maiores cidades da China sofrem cortes regulares e outras 400 vivem problemas temporários de abastecimento dependendo da temporada.

A indústria pesada e a atividade agrícola, que abusa de pesticidas e adubos industriais, são as principais causas da deterioração da água, além das pobres medidas de aproveitamento, já que apenas 38% da água é tratada para poder ser reutilizada.

O Greenpeace estima que cerca de 100 milhões de chineses - um em cada 14 - realiza suas atividades cotidianas, como cozinhar, beber, tomar banho, com águas poluídas que afetam diretamente sua saúde.

Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) cifrou em 100 mil as mortes anuais que a China sofre por doenças diretamente ligadas à poluição da água.

Em 2007, o governo chinês assumiu que foram lançadas 30,3 milhões de toneladas métricas de resíduos nas águas do país, que deixaram 70% dos rios, lagos e reservas "gravemente contaminados", incluindo fontes importantes como os rios Yang-Tsé e Amarelo, além de lagos como o Taihu e o Chaohu, terceiro e quinto de maior capacidade, respectivamente.

"A crise ambiental, particularmente para a água, está chegando à China antes do esperado", reconheceu Pan Yue, vice-ministro de Proteção Ambiental.
O Banco Mundial (BM) elaborou um relatório no qual considerava que a poluição do ar e das águas na China são problemas com "consequências catastróficas para gerações futuras", que custam mais de US$ 100 bilhões anualmente, superiores a 5% de seu Produtor Interno Bruto (PIB).

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

POR ONDE IRÁ O CLIMA?

Reproduzimos abaixo esclarecedor artigo do eminente ambientalista Washington Novaes


Autor: Washington Novaes

"Com representantes de 182 países, nesta semana começou em Bonn, Alemanha, mais uma etapa de negociações preparatórias da reunião da Convenção do Clima, programada para fim de novembro, em Cancún, México. Haverá outras etapas preparatórias, mas já não se espera que no México se chegue a um acordo que leve a uma redução global de emissões de gases poluentes que aumentam a temperatura da Terra e contribuem para mudanças climáticas.

O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já disse isso, assim como o secretário da convenção, Yvo De Boer, que vai deixar o cargo em julho e será substituído pela costa-riquenha Christiana Figueres. Ban Ki-moon tem advertido: o fracasso da última reunião da convenção, em Copenhague, retardou as decisões, mas não reduziu os impactos do clima; por isso, “é preciso agir agora – ou enfrentar o pior”. Na capital da Dinamarca, o máximo a que se chegou foi uma declaração (não um compromisso) de que é preciso reduzir as emissões para evitar que a temperatura da Terra suba além de 2 graus Celsius até 2050; e que até 2012 os países industrializados destinem US$ 30 bilhões em ajuda financeira e tecnológica aos demais países, para ajudá-los a conter as emissões.

A crise financeira global trouxe novos obstáculos, mas o tempo é curto: se não houver acordo, deixará de vigir o único instrumento aprovado até aqui, o Protocolo de Kyoto, pelo qual os países industrializados devem reduzir no conjunto suas emissões em 5,2% (calculados sobre as de 1990) – e que não foi ainda cumprido. Também deixará de existir o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual uma empresa de país industrializado pode financiar em outros países projetos que reduzam emissões e contabilizar essa redução em suas próprias emissões. É um mercado que tem movimentado dezenas de bilhões de dólares por ano. Outra razão para urgência é a necessidade de um acordo mundial para financiar ações contra o desmatamento (chamado de REDD), que responde por fração importante das emissões globais.

Brasil, China e Índia continuam contra assumirem, eles mesmos, compromissos de redução, embora já estejam entre os maiores emissores (e os países fora do bloco dos industrializados já emitam mais que estes). Mas querem um acordo, que só a China considera possível para este ano. Os Estados Unidos continuam à espera de que o Congresso aprove – ou não – o projeto do presidente Obama, de reduzir as emissões em 17% (calculadas sobre as de 2005) em 2020 e até 83% em 2050. A Europa, que já propôs redução de 20% até 2020, agora pensa em 30%, mas esbarra na crise financeira, já que em sua área seriam necessários mais 48 bilhões de euros, além dos 30 bilhões calculados antes.

Enquanto isso, a Agência Internacional de Energia dos Estados Unidos calcula que as emissões globais crescerão 43% até 2035, mantido o ritmo atual. E que o carvão, a fonte mais poluidora, aumentará suas emissões em 56% no mesmo período – mesmo com os EUA tendo conseguido no ano passado baixar em 7% suas emissões. Não foi suficiente para contrapor ao resto do mundo. E o aquecimento das águas dos oceanos, diz a revista Nature, aumentou 0,16 grau Celsius – mais que a previsão do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico da Convenção do Clima. Já a Agência Americana para Oceanos e Atmosfera (NOAA) afirmou que abril de 2010 foi o mais quente desde que se registram temperaturas (1880), quase 0,7 acima da média. Na mesma direção, 255 cientistas da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos publicaram na revista Science relatório no qual afirmam haver “provas consistentes de que as atividades humanas estão mudando o clima de forma que ameaça nossas sociedades”. Segundo esses cientistas, muitos ataques a conclusões como esta se devem a “interesses específicos ou dogma, e não a um esforço honesto de oferecer uma teoria alternativa”.

Por aqui, as informações continuam preocupantes, como a de dois ciclones extratropicais em uma semana em Santa Catarina, com chuvas de 253 milímetros em 24 horas em Florianópolis, 130 milímetros em 3 horas em Tramandaí, ventos de até 100 quilômetros por hora, 102 municípios em estado de emergência. Em vários outros pontos do País os dramas climáticos também continuaram. Por isso mesmo, bem faz a prefeitura de Belo Horizonte que, depois de muitas calamidades, anunciou a criação de um sistema de alarme, com radar meteorológico e pluviômetros, capaz de avisar com antecedência da chegada de “eventos extremos” e permitir providências prévias. Todas as cidades, inclusive goianas, deveriam imitar os mineiros.

Fora desse noticiário cada vez mais preocupante, destacam-se as decisões da Cúpula Climática Mundial realizada em abril, na Bolívia. Ela aprovou: 1. outorgar à natureza direitos que a protejam (uma Declaração Universal de Direitos da Mãe Terra); 2. a criação de um tribunal internacional de justiça climática e ambiental, para julgar quem viole esses direitos; 3. o direito de os países mais pobres serem compensados dos danos climáticos pelos países mais ricos, responsáveis pela maior parte das emissões e há mais tempo; 4. a realização de um referendo mundial para ouvir a população sobre o clima. Essas conclusões serão levadas à assembleia geral da ONU e à reunião de Cancún. E a Bolívia criará o Ministério da Mãe Terra. Mas o Brasil não mandou representante à reunião.

Por onde seguirá o mundo? Pela rota de Cancún ou pelas sendas bolivianas?"

Fonte : http://www.washingtonnovaes.com.br/