sábado, 31 de dezembro de 2011

O VELHO AGONIZA E O NOVO CUSTA A NASCER

Autor: Leonardo Boff

Entre os muitos problemas atuais, três comparecem como os mais desafiadores: a grave crise social mundial, as mudanças climáticas e a insustentabilidade do sistema-Terra.

A crise social mundial deriva diretamente do modo de produção que ainda impera em todo o mundo, o capitalista. Sua dinâmica leva a uma exacerbada acumulação de riqueza em poucas mãos à custa de uma espantosa pilhagem da natureza e do empobrecimento das grandes maiorias dos povos. Ela é crescente e os gritos caninos dos famélicos e considerados “óleo queimado” não podem mais ser silenciados. Este sistema deve ser denunciado como inumano, cruel, sem piedade e hostil à vida. Ele tem uma tendência suicida e se não for superado historicamente, poderá levar o sistema-vida a um grande impasse e até ao extermínio da espécie humana.

O segundo grave problema é constituído pelas mudanças climáticas que se revelam por eventos extremos: grandes frios de um lado e prolongadas estiagens de outro. Estas mudanças sinalizam um dado irreversível: a Terra perdeu seu equilíbrio e está buscando um ponto de estabilidade que se alcançará subindo sua temperatura. Até dois graus Celsius de aumento, o sistema-Terra é ainda administrável. Se não fizermos o suficiente e o clima atingir até 4 graus Celsius (conforme advertem sérios centros de pesquisa), então a vida assim como a conhecemos não será mais possível. Haverá uma paisagem sinistra: uma Terra devastada e coberta de cadáveres.

Nunca a humanidade, como um todo, se confrontou com semelhante alternativa: ou mudar radicalmente ou aceitar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida. A Terra continuará, entregue às bactéria, mas sem nós.

Importa entender que o problema não é a Terra. É nossa relação agressiva e não cooperativa para com seus ritmos e dinâmicas. Talvez ao buscar um novo ponto de equilíbrio, ela se verá forçada a reduzir a biosfera, implicando na eliminação de muitos seres vivos, não excluindo seres humanos.

O terceiro problema é a insustentabilidade do sistema-Terra. Hoje sabemos empiricamente que a Terra é um superorganismo vivo que harmoniza com sutileza e inteligência todos os elementos necessários para a vida a fim de continuamente produzir ou reproduzir vidas e garantir tudo o que elas precisam para subsistir.

Ocorre que a excessiva exploração de seus recursos naturais, muitos renováveis e outros não, fez com que ela não conseguisse, com seus próprios mecanismos internos, se autoreproduzir e autoregular. A humanidade consome atualmente 30% mais do que aquilo que a Terra pode repor. Desta forma ela não se torna mais sustentável. Há crescentes perdas de solos, de ar, de águas, de florestas, de espécies vivas e da própria fertilidade humana. Quando estas perdas vão parar? E se não pararem qual será o nosso futuro?

Tudo isso nos obriga a uma mudança de paradigma civilizacional. Mudança de civilização implica fundamentalmente um novo começo, uma nova relação de sinergia e de mútua pertença entre a Terra e a humanidade, a vivência de valores ligados ao capital espiritual como o cuidado, o respeito, a colaboração, a solidariedade, a compaixão, a convivência pacífica e uma abertura às dimensões transcendentes que dizem respeito ao sentido terminal nosso e do universo inteiro.

Sem uma espiritualidade, vale dizer, sem uma nova experiência radical do Ser e sem um mergulho na Fonte originária de todos os seres de onde nasce um novo horizonte de esperança, certamente não conseguiremos fazer uma travessia feliz. Enfrentamos um problema: o velho ainda persiste e o novo custa a nascer, para usar uma expressão de Antonio Gramsci. Vivemos tempos urgentes. São as urgências que nos fazem pensar e são os perigos que nos obrigam a criar arcas de Noé salvadoras. Estamos inconformados com a atual situação da Terra. Mesmo assim cremos que está ao nosso alcance construir um mundo do "bem viver" em harmonia com todos os seres e com as energias da natureza e principalmente em cooperação com todos os seres humanos e numa profunda reverência para com a Mãe Terra.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

HERÓIS CONDENADOS

Autor: Frei Betto

“Os últimos soldados da guerra fria”, livro de Fernando Morais editado pela Companhia das Letras (2011), teria suscitado inveja em Ian Fleming, autor de 007, se este não tivesse morrido em 1964, sobretudo por comprovar que, mais uma vez, a realidade supera a ficção.

Suponhamos que na esquina de sua rua haja um bar que abriga suspeitos de assaltarem casas do bairro. Como medida preventiva, você trata de infiltrar um detetive entre eles, de modo a proteger sua família. A polícia, de olho nos meliantes, identifica o detetive. E ao invés de prender os bandidos, encarcera o infiltrado...

Foi o que ocorreu com os cinco cubanos que, monitorados pelos serviços de inteligência de Cuba, se infiltraram nos grupos anticastristas da Flórida, responsáveis por 681 atentados terroristas contra Cuba, que resultaram no assassinato de 3.478 pessoas e causaram danos irreparáveis a outras 2.099.

Desde setembro de 1998, encontram-se presos nos EUA os cubanos Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández e Ramón Labañino. O quinto, René González, condenado a 15 anos, obteve liberdade condicional no último dia 7 de outubro, mas por ter dupla nacionalidade (americana e cubana) está proibido de deixar o país.

Os demais cumprem pesadas penas: Hernández recebeu condenação de dupla prisão perpétua e mais 15 anos de reclusão... Precisaria de três vidas para cumprir tão absurda sentença. Labañino está condenado à prisão perpétua, mais 18 anos; Guerrero, à prisão perpétua, mais 10 anos; e Fernando a 19 anos.

Os cinco constituíam a Rede Vespa, que municiava Havana de informações a respeito de terroristas que, por avião ou disfarçados de turistas, praticaram atentados contra Cuba, contrabandearam armas e detonaram explosivos em hotéis de Havana, causando ferimentos e mortes.

Bush e Obama deveriam agradecer ao governo cubano por identificar os terroristas que, impunes, usam o território americano para atacar a ilha socialista do Caribe. Acontece, no entanto, exatamente o contrário, revela o livro bem documentado de Fernando Morais. O FBI prendeu os agentes cubanos, e continua a fazer vista grossa aos terroristas que promovem incursões aéreas clandestinas sobre Cuba e treinamentos armados nos arredores de Miami.

Em 15 capítulos, o livro de Morais relata como a segurança cubana prepara seus agentes; a saga do mercenário salvadorenho que, a soldo de Miami, colocou cinco bombas em hotéis e restaurantes de Havana; o papel de Gabriel García Márquez, como pombo-correio, na troca de correspondência entre Fidel e Bill Clinton; a visita sigilosa de agentes do FBI a Havana, e o volume de provas contra a Miami cubana que lhe foram oferecidas por ordem de Fidel.

“Os últimos soldados da guerra fria” é fruto de exaustivas pesquisas e entrevistas realizadas pelo autor em Cuba, EUA e Brasil. Redigido em estilo ágil, desprovido de adjetivações e considerações ideológicas, o livro comprova por que Cuba resiste há mais de 50 anos como único país socialista do Ocidente: a Revolução e suas conquistas sociais incutem na população um senso de soberania que a induz a preservá-las como gesto de amor.

Em país capitalista, para quem, graças à loteria biológica, nasceu em família e classe social imunes à miséria e à pobreza, é difícil entender por que os cubanos não se rebelam contra as autoridades que os governam. Ora, quando se vive num país bloqueado há meio século pela maior potência militar, econômica e ideológica da história, da qual dista apenas 140 km, é motivo de orgulho resistir por tanto tempo e ainda merecer elogios do papa João Paulo II ao visitá-lo em 1998.

Em mais de 100 países – inclusive no Brasil – há médicos e professores cubanos em serviços solidários em áreas carentes. O número de desertores é ínfimo, considerada a quantidade de profissionais que, findo o prazo de trabalho, retornam a Cuba. E a Revolução, como ocorre agora sob o governo de Raúl Castro, tem procurado se atualizar para não perecer.

Talvez este outdoor encontrado nas proximidades do aeroporto de Havana, e citado com frequência por Fernando Morais, ajude a entender a consciência cívica de um povo que lutou para deixar de ser colônia, primeiro, da Espanha e, em seguida, dos EUA: “Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana.”

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012 - RADIOGRAFIA DE UMA SOCIEDADE

Autor: Dib Curi

Durante séculos a humanidade tem contado histórias sobre o fim das civilizações e sobre as mudanças nos padrões da vida social.

Uma das histórias mais antigas que conhecemos, ainda sem comprovação científica, é a história de uma grande ilha chamada Atlântida. Este nome se deu porque estaria situada além dos Montes Atlas, no noroeste da África. O filósofo Platão confirmou esta história nos seus livros “Timeu” e “Crítias”. O filósofo Tales de Mileto foi amigo do Faraó Amásis que lhe contou também esta história.

São igualmente conhecidas as histórias que nos falam de um novo fim dos tempos que há de vir. Elas estão em livros e fatos como o “Apocalipse”, de João; as “Centúrias”, de Nostradamus; os “Segredos de Fátima” e os “Calendários Maias”, que o apontam à partir do ano de 2012.

Segundo os livros religiosos o fim das civilizações se dá pelo esquecimento do sentido mais profundo da existência. É sabido que cada ser humano tem um grande potencial existencial e espiritual e que a vida é uma oportunidade única de autoconhecimento e realização. Quando as civilizações se esquecem destes valores, sua razão de ser também desaparece. Em verdade, o fim das civilizações se dá pelo afastamento da humanidade da sua espiritualidade harmonizadora ancestral. Não estamos isolados; somos ligados à Terra.

O mundo contemporâneo

O mundo atual tem nos dado muitos sinais deste afastamento. As dificuldades e as rotinas se tornaram exclusivamente materialistas. Estamos ocupados demais com nossos afazeres e parece não haver tempo para uma rotina amorosa, pacífica e criativa. Todas as coisas se transformaram em mercadorias e está acontecendo uma carestia geral, aumentando a insegurança, a competição e o estresse.

A causa econômica


Os aspectos negativos do atual sistema econômico superam os aspectos positivos. Muitos dizem que este sistema é o único capaz de gerar tantas riquezas e de defender a liberdade. Por outro lado, nunca houve, na história, um sistema econômico que estimulasse tanto o individualismo e a superficialidade das pessoas.

Acontece um estímulo exagerado aos desejos para aumentar o consumo e os empregos. Mas o mercado não possui uma regulação ética e, por isto, acontece uma grande degradação ambiental, além de uma falta de realização da maioria das pessoas que alugam o seu tempo de vida com poucos momentos dedicados a melhoria pessoal. Acontece também uma febril especulação financeira em nome do lucro fácil. Vivemos o clímax de problemas sociais muito graves em função de uma desigual distribuição de oportunidades, gerando alienação, violência e corrupção de caráter.

É bom frisar que a mentalidade comercial ou mercantil é algo positivo e sempre existiu gerando riquezas e movimentando a sociedade. Mas ela tem que estar na base da sociedade e não no comando, simplesmente, porque se baseia no interesse individual e coorporativo. Ela estimula demais a competição e não a solidariedade. Os interesses coletivos não podem se restringir aos interesses econômicos. A política não pode servir a economia.

O problema político

Thomas Hobbes, (1588-1679), dizia que precisamos de um governo muito forte porque senão viveríamos numa guerra constante de todos contra todos, pois “o homem é o lobo do homem”. Por outro lado, Jean J. Rousseau, (1712-1778), disse que o homem era naturalmente bom e era a civilização que nos corrompia.

Sem entrar no debate se o homem é bom ou ruim, o fato é que os governos foram criados para defenderem o interesse coletivo diante da força do interesse individual e do egoísmo humano.

Todavia, os políticos, “escolhedores do caminho social”, parecem resignados aos caminhos econômicos e ocupados demais em defender seus privilégios. Contudo, as principais funções políticas são:

a - dar oportunidades aos menos favorecidos e excluídos;
b - criar um ambiente social de desenvolvimento dos talentos e vocações, através da educação e da cultura.
c - garantir o desenvolvimento social, o respeito às Leis, aos direitos humanos e aos ecossistemas.

A corrupção do caráter


A sociedade de consumo quebrou tradições importantes ligadas a valorização da Terra, da comunidade e da espiritualidade. Em lugar da lealdade e da solidariedade temos a competição e o individualismo. Ao invés do autoconhecimento e da integração com a natureza temos o desejo insaciável de coisas externas e a insana exploração ambiental. O individualismo nos isola numa grande solidão e faz imperar o vale tudo para sobreviver e prosperar. Vivenciamos um processo de auto corrupção e esvaziamento de valores pelo medo e pela busca ansiosa de segurança, prazer ou uma vida de aparências.

Paralelamente, acontece um processo de idiotização do povo, onde tudo se faz para torná-lo “abestado” e consumista. Segundo o filósofo Max Sheller; “A relatividade dos valores vitais causa a corrosão do caráter que se manifesta em doença, mal crônico e contagioso”.

Pouco antes do fim da civilização grega, o filósofo Sócrates, antes de morrer, se despediu da vida, dizendo as seguintes palavras no tribunal: “Tu, um ateniense, da cidade mais importante, cuidas de adquirir riquezas, fama e honrarias, e não te importas da razão, da verdade e de melhorar quanto mais a tua alma?"

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

DEUS SEGUNDO SPINOZA

por Baruch Spinoza, filósofo.

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti”.

As sábias palavras são de Baruch Espinoza - nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677, foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. Acredite, essas palavras foram ditas em pleno Século XVII. Continuam verdadeiras e atuais até a data de hoje.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

PAÍS EM RISCO - CORRUPÇAO NO BRASIL TEM TUDO A VER COM A IGNORÂNCIA

Autora: Luiza Nagib (procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, autora de vários livros, dentre os quais “A paixão no banco dos réus” e “Matar ou morrer - o caso Euclides da Cunha”, ambos da editora Saraiva).


Subdesenvolvimento é sinônimo de ignorância. O abandono intelectual e a fragilidade moral em que se encontra o povo brasileiro são as principais causas dos seus infortúnios. A mera observação daquilo que se passa ao nosso redor já seria suficiente para concluirmos que sem educação não há saída, mas, agora, o fato encontra-se confirmado pela última pesquisa do Ibope sobre o analfabetismo funcional, publicada no jornal O Estado de São Paulo do dia 8 de setembro deste ano.

Os dados da pesquisa mostram que 75% da nossa população não conseguem ler nem escrever satisfatoriamente, pois muitos daqueles que eram considerados alfabetizados por outros métodos de avaliação, embora conseguissem ler palavras, não tinham noção do que elas realmente significavam e não compreendiam corretamente o sentido de um texto.

Obviamente, não basta saber rabiscar o nome ou meia dúzia de palavras para ser considerado alfabetizado, ou seja, apto a adquirir conhecimentos por meio da leitura ou de se fazer entender por meio da escrita. Assim, dos 190 milhões de habitantes brasileiros, cerca de150 milhões vivem na ignorância. O conceito de analfabetismo funcional foi desenvolvido pela Unesco no fim da década de 70 e engloba aqueles que não conseguem utilizar a leitura e a escrita para se inserir plenamente na sociedade e compreender a realidade. Essa, portanto, é a verdadeira exclusão social.

O índice encontrado explica muita coisa. A corrupção deslavada, por exemplo, tem tudo a ver com a ignorância. Primeiro, porque os governantes não se sentem na obrigação de dar satisfações a ninguém, já que o povo, mergulhado nas trevas, não entende e não cobra nada. Segundo, porque os próprios governantes, em parte, provêm dessa camada iletrada da população e são completamente despreparados para assumir funções administrativas de relevância.

É ilusão achar que o povo brasileiro é cordial, trabalhador, honesto. Existe uma parcela de pessoas nessas condições, claro, mas a grande maioria da população se debate na incompetência, na desorientação, na falta de perspectivas e de valores morais. Em posição de poder, um sujeito assim despreparado tende a optar pela corrupção, como acontece freqüentemente.

Quanto mais ignorante o político, menos se importará com as conseqüências sociais de atos de ganância e irresponsabilidade política que possa praticar. Desta forma, a falta de ética no trato da coisa pública alastrou-se por todas as camadas da população, enredando-se profundamente nas práticas eleitorais e administrativas. Mesmo os mais intelectualizados e, possivelmente, mais conscientes dos deveres de um governante, foram, em certos casos, tragados pela cultura da prevaricação.

O triste espetáculo da administração federal petista e da banalização da propina no Congresso Nacional são puro reflexo desse obscurantismo cultural. “Faturar por fora”, exigir “agrados”, cobrar “mesadas”, vender favores são comportamentos tão baixos, tão irresponsáveis que só podem partir de pessoas sem escrúpulos e sem nenhum compromisso com o interesse público.

A continuar nesse diapasão, em futuro próximo, haverá representantes do povo se vendendo por uma penca de bananas. Tudo em nome da esperteza chinfrim e da necessidade de levar vantagem a qualquer custo.

Por sua vez, parcela da elite econômica acaba agindo da mesma forma que os políticos irresponsáveis, seguindo as mesmas regras, perpetuando as bandalheiras.

O resultado é perceptível a olho nu. Além da miséria generalizada e da transformação do país em um favelão, é importante observar que não existem mais lugares aprazíveis no Brasil. As regiões montanhosas, anteriormente exuberantes e cobertas de vegetação, atualmente estão em processo acelerado de desmatamento, castigadas pelas queimadas ou ocupadas por barracos precários pendurados em suas encostas. As praias, verdadeiros símbolos de nossa natureza tropical, sucumbem aos coliformes fecais e à ocupação irregular. As cidades, totalmente desorganizadas, vicejam em meio ao lixo, ao esgoto, à degradação ambiental e à violência. As periferias dos grandes centros urbanos são um espetáculo de horror, tomadas de casas precariamente construídas, apinhadas, todas de tijolo aparente ou barro, desprovidas das mais elementares condições de higiene e segurança.

Para piorar o quadro, dos 40 milhões que, supomos, são alfabetizados de verdade, poucos gostam de ler. É enorme a quantidade de cidades brasileiras que sequer possuem livrarias, e muitas delas abrigam universidades. Difícil saber como conseguem ensinar sem livros...

O momento é de tomada de consciência e de adoção de medidas imediatas. Se não afastarmos e punirmos com rigor os corruptos, se não recuperarmos o dinheiro que nos foi subtraído, senão investirmos em educação continuaremos sendo vítimas de aventureiros e aproveitadores.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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domingo, 25 de dezembro de 2011

ALUNOS ANALFABETOS

Autor: Frei Betto

No primeiro semestre deste ano, aplicou-se a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) em turmas de alunos que concluíram o 3º ano do ensino fundamental, em todas as capitais do país. Uma iniciativa do movimento Todos pela Educação com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

O resultado é alarmante. Constatou-seque 43,9% dos alunos são deficientes em leitura e 46,6% em escrita. Ou seja, são semi-alfabetizados. Não captam o significado do que leem e redigem uma simples carta com graves erros de sintaxe e concordância.

Quanto à leitura, quase metade(48,6%) dos alunos da rede pública correspondeu ao resultado esperado. Na rede de escolas particulares, o desempenho foi bem melhor: 79%. No item escrita tiveram bom resultado apenas 43,9% dos alunos da rede pública. Na rede particular, 86,2% dos alunos se saíram bem em redação.

Os índices demonstram que, no Brasil, a desigualdade social se alia à desigualdade educacional. Alunos da rede pública, oriundos, na maioria, de famílias de baixa renda, não trazem de berço o hábito de leitura. Seus pais possuem baixa escolaridade e o livro não é considerado um bem essencial a ser adquirido, como ocorre em famílias de renda mais elevada.

De qualquer modo, é preocupante o fato de alunos, tanto da rede pública quanto da particular, não atingirem 100%de alfabetização ao concluir o 3º ano do ensino fundamental. O que demonstra falta de método de alfabetização, embora esta seja a nação que gerou Paulo Freire.

Uma criança que, aos 8 anos, tem dificuldade de leitura e escrita, sente-se incapaz de lidar com os textos de outras disciplinas escolares, o que prejudicará seu aprendizado. Uma alfabetização incompleta constitui um incentivo ao abandono da escola ou a uma escolaridade medíocre.

É hora de se perguntar se a progressão automática, isto é, fazer o aluno passar de ano sem provar estar em condições, é uma pedagogia recomendável. Com certeza, no futuro, o adulto com insuficiente escolaridade não merecerá aprovação automática em empregos que exigem concurso e qualificação.

Priscila Cruz, do Todos pela Educação, frisa a importância da educação infantil (creches, jardim da infância etc.) para dar à criança uma boa alfabetização. Para que se desperte na criança a facilidade de síntese cognitiva é importante que ela comece a ouvir histórias ainda no ventre materno.

O Brasil é um país às avessas. A Constituição de 1988 cometeu o erro de incumbir a União do ensino superior, o estado do ensino médio, e o município do ensino fundamental. Ora, uma nação se faz com educação. E a base reside no ensino fundamental. Dele devia cuidar o MEC.

Nenhum governo implementou, ainda, a revolução educacional sonhada por Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire e tantos outros educadores. Como acreditar que apenas 4 horas de permanência na escola são suficientes para uma boa educação? Por que os alunos não permanecem de 6 a8 horas por dia na escola, como ocorre em tantos países?

No Brasil, 10% da população adulta são considerados analfabetos. No Chile, 3,4%. Na Argentina, 2,8%. No Uruguai, 2%. Em Cuba e na Bolívia, 0%.

Outros fatores que contribuem para a semi-alfabetização são o desinteresse dos pais pelo desempenho escolar do filho e o longo tempo que este dedica à TV e a navegar aleatoriamente na internet. Nessa era imagética, há o sério risco de se multiplicar o número de analfabetos funcionais ou de alfabetizados iletrados, aqueles que sabem ler,mas não interpretar o texto, e muito menos evitar erros primários na escrita.

O governo deve à nação uma eficiente campanha nacional de alfabetização, inclusive entre alunos dos 3º e4º anos. Para isso, há que ter método. Há vários. Quem se interessar por um realmente eficiente, basta indagar do deputado Tiririca como ele se alfabetizou em dois meses, a tempo de obter seu diploma na Justiça Eleitoral.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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sábado, 24 de dezembro de 2011

NATAL

Autor: Rubem Alves
Natal me deixa triste. Porque, por mais que o procure, não o encontro. Natal é uma celebração. As celebrações acontecem para trazer do esquecimento uma coisa querida que aconteceu no passado. A celebração deve ser semelhante à coisa celebrada.

Não posso celebrar a vida de Gandhi com um churrasco. Ele era vegetariano, amava os animais. Uma celebração de Gandhi teria de ser feita com verduras, água, leite e um falar baixo. Mais a leitura de alguns textos que ele deixou escritos. Assim Gandhi se tornaria um dos hóspedes da celebração.

Agora, um visitante de outro planeta que nada soubesse das nossas tradições, se ele comparecesse às festas de Natal, sem que nenhuma explicação lhe fosse dada, ele concluiria que o objeto da celebração deveria ser um glutão, amante das carnes, bebidas, do estômago cheio, das conversas em voz alta, do desperdício.

Nossas celebrações de Natal são como as cascas de cigarra agarradas às árvores. Cascas vazias, das quais a vida se foi. Se perguntar às crianças o que é que está sendo celebrado, eles não saberão o que dizer. Dirão que o Natal é dia do Papai Noel, um velho barrigudo de barbas brancas amante do desperdício, que enche os ricos de presentes e deixa os pobres sem nada. Pois é certo que as celebrações do Natal são orgias de ricos, celebrações do desperdício e lixo. Celebrações do lixo? Aquelas pilhas de papel de presente colorido em que vieram embrulhados os presentes, não são elas essenciais às celebrações? Rasgados, amassados, embolados num canto. Irão para o lixo. Quantas árvores tiveram de ser cortadas para que aqueles papéis fossem feitos. Para quê? Para nada. A indiferença com que tratamos o papel de presentes é uma manifestação da indiferença com que tratamos a nossa Terra.

Estou convidando meus amigos para uma celebração de Natal. Ela deverá imitar a ceia que José e Maria tiveram naquela noite: velas acesas, um pedaço de pão velho, vinho, um pedaço de queijo, algumas frutas secas. À volta de um prato de sopa de fubá – comida de pobre –, tentaremos reconstruir na imaginação aquela cena mansa na estrebaria, um nenezinho deitado numa manjedoura, uma estrela estranha nos céus, os campos iluminados pelos vaga-lumes. E ouviremos as velhas canções de Natal, e leremos poemas, e rezaremos em silêncio. Rezaremos pela nossa Terra, que está sendo destruída pelo mesmo espírito que preside nossas orgias natalinas.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CONTAGEM REGRESSIVA PARA A HUMANIDADE

Autor: Celso Lungaretti - jornalista e escritor

Não será como o místico Antônio Conselheiro previu. O sertão não vai virar mar, nem o mar virar sertão. Pelo contrário, o sertão ficará ainda mais árido e o mar vai encorpar-se com o derretimento de geleiras. Tempestades, tufões, furacões, maremotos e tsunamis se tornarão bem mais devastadores. A desertificação de outras áreas avançará. Safras vão ser destruídas e a fome aumentará. A água que estará sobrando em alguns quadrantes, vai faltar em outros. Imensos contingentes humanos terão de deixar seus lares e buscar a sobrevivência alhures. Como uma amarga ironia, podemos dizer que o Brasil finalmente se igualará aos países desenvolvidos: haverá retirantes também no 1º Mundo.

Isto é o que se pode concluir da parte já divulgada do quarto relatório de avaliação da saúde da atmosfera produzido pelo Intergovernamental Painel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), órgão da ONU que congrega especialistas de 40 países. Uma novidade é que agora existe uma quase certeza científica de que as alterações climáticas provêm mesmo da insensatez humana, causadora de uma concentração inédita dos gases que provocam o efeito estufa na atmosfera. Fabricamos demasiados automóveis e queimamos demasiadas florestas. A conta está chegando.

Esse relatório, que sintetiza as contribuições de 600 autoridades no assunto, permite antever que a escalada catastrófica virá crescendo, intensificando-se sobretudo na segunda metade do nosso século. E nada há a fazer para impedi-la, pois os danos causados já são irreversíveis. Nem que todos os veículos motorizados do planeta parassem imediatamente de circular, a temperatura deixaria de subir. Vêm tempos difíceis e a humanidade terá de passar por eles.

Mas, para que haja um século 22, teremos de corrigir a partir de agora nosso modelo econômico, deixando de priorizar o lucro em detrimento do meio ambiente. O atendimento das expectativas de cada consumidor não é um mandamento divino, nem o planeta está aí para se sujeitar eternamente à faina predadora dos humanos. Teremos de aprender a respeitá-lo, a conviver harmoniosamente com ele. Somos seus locatários, não seus donos. Se continuarmos dilapidando insensivelmente a propriedade, o senhorio nos expulsará. É simples assim.

A grande questão é: o capitalismo comporta uma mudança radical das prioridades humanas? Existe alguma conciliação possível entre o direcionamento obsessivo dos esforços humanos para a obtenção do lucro e o imperativo de os homens trocarem a competição pela cooperação, fundamental para a travessia das próximas décadas e para a correção de rumos que se impõe?

A resposta é óbvia: não. O alerta lançado na década de 1960 por filósofos como Herbert Marcuse e Norman O. Brown está sendo confirmado da maneira mais dramática. O capitalismo, com a prevalência dos interesses individuais sobre as necessidades coletivas, leva à destruição da humanidade, num quadro em que os recursos indispensáveis à sobrevivência da espécie humana são finitos e têm de ser aproveitados de forma racional e compartilhada.

A contagem regressiva está em curso. Resta saber se seremos capazes de transcender nossas limitações e nossa cegueira, passando a colocar em primeiro plano “nós” e “os que virão depois”. Pois o mundo do egoísmo e da ganância deixará de existir, de um jeito ou de outro.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com

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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O DIA DO JUIZO SOBRE NOSSA CULTURA

Autor: Leonardo Boff, Teólogo e Filósofo

O final do ano oferece a ocasião para um balanço sobre a nossa situação humana neste planeta. O que podemos esperar e que rumo tomará a história? São perguntas preocupantes, pois os cenários globais apresentam-se sombrios. Estourou uma crise de magnitude estrutural no coração do sistema econômico-social dominante (Europa e USA), com reflexos sobre o resto do mundo. A Bíblia tem uma categoria recorrente na tradição profética: o dia do juízo se avizinha. É o dia da revelação: a verdade vem à tona e nossos erros e pecados são denunciados como inimigos da vida. Grandes historiadores como Toynbee e Von Ranke falam também do juízo sobre inteiras culturas. Estimo que, de fato, estamos face a um juízo global sobre nossa forma de viver na Terra e sobre o tipo de relação para com ela.

Considerando a situação num nível mais profundo que vai além das análises econômicas que predominam nos governos, nas empresas, nos foros mundiais e nos meios de comunicação, notamos, com crescente clareza, a contradição existente entre a lógica de nossa cultura moderna, com sua economia política, seu individualismo e consumismo e entre a lógica dos processos naturais de nosso planeta vivo, a Terra. Elas são incompatíveis. A primeira é competitiva, a segunda, cooperativa. A primeira é excludente, a segunda, includente. A primeira coloca o valor principal no indivíduo, a segunda no bem de todos. A primeira dá centralidade à mercadoria, a segunda, à vida em todas as suas formas. Se nada fizermos, esta incompatibilidade pode nos levar a um gravíssimo impasse.

O que agrava esta incompatibilidade são as premissas subjacentes ao nosso processo social: que podemos crescer ilimitadamente, que os recursos são inesgotáveis e que a prosperidade material e individual nos traz a tão ansiada felicidade. Tais premissas são ilusórias: os recursos são limitados e uma Terra finita não agüenta um projeto infinito. A prosperidade e o individualismo não estão trazendo felicidade, mas altos níveis de solidão, depressão, violência e suicídio.

Há dois problemas que se entrelaçam e que podem turvar nosso futuro: o aquecimento global e a superpopulação humana. O aquecimento global é um código que engloba os impactos que nossa civilização produz na natureza, ameaçando a sustentabilidade da vida e da Terra. A conseqüência é a emissão de bilhões de toneladas/ano de dióxido de carbono e de metano, 23 vezes mais agressivo que o primeiro. Na medida em que se acelera o degelo do solo congelado da tundra siberiana (permafrost), há o risco, nos próximos decênios, de um aquecimento abrupto de 4-5 graus Celsius, devastando grande parte da vida sobre a Terra. O problema do crescimento da população humana faz com que se explorem mais bens e serviços naturais, se gaste mais energia e se lancem na atmosfera mais gases produtores do aquecimento global.

As estratégias para controlar esta situação ameaçadora praticamente são ignoradas pelos governos e pelos tomadores de decisões. Nosso individualismo arraigado tem impedido que nos encontros da ONU sobre o aquecimento global se tenha chegado a algum consenso. Cada país vê apenas seu interesse e é cego ao interesse coletivo e ao planeta como um todo. E assim vamos, gaiamente, nos acercando de um abismo.

Mas a mãe de todas as distorções referidas é nosso antropocentrismo, a convicção de que nós, seres humanos, somos o centro de tudo e que as coisas foram feitas só para nós, esquecidos de nossa completa dependência do que está à nossa volta. Aqui radica nossa destrutividade que nos leva a devastar a natureza para satisfazer nossos desejos.

Faz-se urgente um pouco de humildade e vermo-nos em perspectiva. O universo possui 13,7 bilhões de anos; a Terra, 4,45 bilhões; a vida, 3,8 bilhões; a vida humana, 5-7 milhões; e o homo sapiens cerca de 130-140 mil anos. Portanto, nascemos apenas há alguns minutos, fruto de toda a história anterior. E de sapiens estamos nos tornando demens, ameaçadores de nossos companheiros na comunidade de vida. Chegamos ao ápice do processo da evolução não para destruir, mas para guardar e cuidar este legado sagrado. Só então o dia do juízo será a revelação de nossa verdade e missão aqui na Terra.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com

domingo, 18 de dezembro de 2011

O LADO OBSCURO DO CAPITALISMO

Autor: Luís Olímpio Ferraz Melo, advogado

Depois que o sistema capitalista apareceu no mundo, todos nós acabamos sendo escravizados e a sociedade de consumo que se formou destruiu tradições e conceitos salutares que garantiam qualidade de vida e felicidade para as pessoas. Por onde o Capitalismo se instalou a cultura do povo foi “furtada” e houve perda da identidade e da dignidade no homem.

No seu discurso sobre a Origem das desigualdades, Jean-Jacques Rousseau dizia que tudo começou quando um homem primitivo cercou um terreno, que era de todos, e disse que era dele. Quantas guerras e injustiças teriam sido evitadas se as pessoas que viram aquele egoístico ato tivessem se rebelado e não aceitado aquilo, reflexionou Rousseau.

Karl Marx dizia que há dentro do próprio Capitalismo o “germe” que rá destruí-lo, mas a questão é bem mais complexa do que analisou Marx naquela época e o bom discurso marxista estigmatizou-se devido ao radicalismo de alguns.

Em 1974, nos Estados Unidos, foi tornado público o “relatório Kissinger”, do então influente político americano, Henri Kissinger, que apelava para o aborto como forma de controlar a natalidade no mundo – eles querem controlar tudo. O Capitalismo também é favorável à pena de morte e às guerras, pois após a destruição dos países os bancos “emprestam” dinheiro para os mesmos se reconstruírem e assim virarem escravos do sistema. O homem sempre foi exortado a temer a Deus e isso garante ainda hoje a sobrevida das religiões que ganham muito dinheiro com essa crença nada científica.

Muitas doenças foram desenvolvidas em laboratórios, bem como os seus antídotos para no caso de se perder o controle, pois os remédios não curam, apenas controlam as doenças. Propagandas com mensagens subliminares que afetam a mente garantem o consumismo desenfreado e muitas pessoas estão hipnotizadas por conta disso.

A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada por um grupo heterodoxo para ser daqui há alguns anos o “Governo único” que será comandado pelas grandes potências. Não há muita coisa a se fazer contra o Capitalismo e nem devemos ter ódio dele, pois se ele chegou até aqui dessa forma avassaladora, foi por pura ineficiência da humanidade. Não existe hoje no mundo mais nenhuma civilização incólume do Capitalismo. Cada qual respeitando o seu livre-arbítrio, deve decretar o fim dessa escravidão e não mais priorizar em sua vida o dinheiro e nem tampouco o consumismo supérfluo, ou seja, você mesmo tem agora nas mãos o poder de conceder a sua própria alforria.

Fonte: Fábio Oliveira

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

UM PODER DE COSTAS PARA O PAÍS

Autor: MARCO ANTONIO VILLA

Justiça no Brasil vai mal, muito mal. Porém, de acordo com o relatório de atividades do Supremo Tribunal Federal de 2010, tudo vai muito bem. Nas 80 páginas — parte delas em branco — recheadas de fotografias (como uma revista de consultório médico), gráficos coloridos e frases vazias, o leitor fica com a impressão que o STF é um exemplo de eficiência, presteza e defesa da cidadania. Neste terreno de enganos, ficamos sabendo que um dos gabinetes (que tem milhares de processos parados, aguardando encaminhamento) recebeu “pela excelência dos serviços prestados” o certificado ISO 9001. E há até informações futebolísticas: o relatório informa que o ministro Marco Aurélio é flamenguista.

A leitura do documento é chocante. Descreve até uma diplomacia judiciária para justificar os passeios dos ministros à Europa e aos Estados Unidos. Ou, como prefere o relatório, as viagens possibilitaram “uma proveitosa troca de opiniões sobre o trabalho cotidiano.” Custosas, muito custosas, estas trocas de opiniões. Pena que a diplomacia judiciária não é exercida internamente. Pena. Basta citar o assassinato da juíza Patrícia Acioli, de São Gonçalo. Nenhum ministro do STF, muito menos o seu presidente, foi ao velório ou ao enterro. Sequer foi feita uma declaração formal em nome da instituição. Nada.

Silêncio absoluto. Por quê? E a triste ironia: a juíza foi assassinada em 11 de agosto, data comemorativa do nascimento dos cursos jurídicos no Brasil. Mas, se o STF se omitiu sobre o cruel assassinato da juíza, o mesmo não o fez quando o assunto foi o aumento salarial do Judiciário. Seu presidente, Cézar Peluso, ocupou seu tempo nas últimas semanas defendendo — como um líder sindical de toga — o abusivo aumento salarial para o Judiciário Federal. Considera ético e moral coagir o Executivo a aumentar as despesas em R$ 8,3 bilhões. A proposta do aumento salarial é um escárnio.

É um prêmio à paralisia do STF, onde processos chegam a permanecer décadas sem qualquer decisão. A lentidão decisória do Supremo não pode ser imputada à falta de funcionários. De acordo com os dados disponibilizados, o tribunal tem 1.096 cargos efetivos e mais 578 cargos comissionados. Portanto, são 1.674 funcionários, isto somente para um tribunal com 11 juízes. Mas, também de acordo com dados fornecidos pelo próprio STF, 1.148 postos de trabalho são terceirizados, perfazendo um total de 2.822 funcionários. Assim, o tribunal tem a incrível média de 256 funcionários por ministro.

Ficam no ar várias perguntas: como abrigar os quase 3 mil funcionários no prédio-sede e nos anexos? Cabe todo mundo? Ou será preciso aumentar os salários com algum adicional de insalubridade? Causa estupor o número de seguranças entre os funcionários terceirizados. São 435! O leitor não se enganou: são 435. Nem na Casa Branca tem tanto segurança. Será que o STF está sendo ameaçado e não sabemos? Parte desses abusos é que não falta naquela Corte. Só de assistência médica e odontológica o tribunal gastou em 2010, R$ 16 milhões.

O orçamento total do STF foi de R$ 518 milhões, dos quais R$ 315 milhões somente para o pagamento de salários. Falando em relatório, chama a atenção o número de fotografias onde está presente Cézar Peluso. No momento da leitura recordei o comentário de Nélson Rodrigues sobre Pedro Bloch. O motivo foi uma entrevista para a revista “Manchete”. O maior teatrólogo brasileiro ironizou o colega: “Ninguém ama tanto Pedro Bloch como o próprio Pedro Bloch.”

Peluso é o Bloch da vez. Deve gostar muito de si mesmo. São 12 fotos, parte delas de página inteira. Os outros ministros aparecem em uma ou duas fotos. Ele, não. Reservou para si uma dúzia de fotos, a última cercado por crianças. A egolatria chega ao ponto de, ao apresentar a página do STF na intranet, também ter reproduzida uma foto sua acompanhada de uma frase (irônica?) destacando que “a experiência do Judiciário brasileiro tem importância mundial”. No relatório já citado, o ministro Peluso escreveu algumas linhas, logo na introdução, explicando a importância das atividades d tribunal.

E concluiu, numa linguagem confusa, que “a sociedade confia na Corte Suprema de seu País. Fazer melhor, a cada dia, ainda que em pequenos mas significativo passos, é nossa responsabilidade, nosso dever e nosso empenho permanente”. Se Bussunda estivesse vivo poderia retrucar com aquele bordão inesquecível: “Fala sério, ministro!” As mazelas do STF têm raízes na crise das instituições da jovem democracia brasileira. Se os três Poderes da República têm sérios problemas de funcionamento, é inegável que o Judiciário é o pior deles. E deveria ser o mais importante. Ninguém entende o seu funcionamento.

É lento e caro. Seus membros buscam privilégios, e não a austeridade. Confundem independência entre os poderes com autonomia para fazer o que bem entendem. Estão de costas para o país. No fundo, desprezam as insistentes cobranças por justiça. Consideram uma intromissão.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

QUEM FOI KARL MARX?

Autor: Antonio Radi

Alguns cidadãos que conheço - empedernidos membros da classe média, orgulhosos de seu status social - bradariam com expressão de horror em suas faces: Oh! Um barbudo revolucionário! Um comunista! Ou ainda: O diabo em pessoa!

Sim, conheço cidadãos - alguns deles ilustres membros de organizações sociais cristãs e/ou humanistas - que chegariam a se benzer diante de invocação tão herética e amaldiçoada!

Porém, vos afirmo a todos - leitores eventuais e acidentais - que nenhum desses senhores que conheço jamais leu nada escrito diretamente por Marx. As idéias deste pensador as conhecem por "ouvir falar" e o que sabem saiu da boca daqueles que têm espaço na mídia; da aversão destes, constroem, assim, a sua aversão.

Bem, antes que me taxem de comunista vou antecipar-me e dizer-lhes que os comentários que trago aqui em relação à obra de Marx não são meus... e também não são de ninguém da "esquerda". Pertencem os dizeres ao Sr. George Magnus, ex-economista chefe da União de Bancos Suíços (UBS) e atualmente consultor sênior desta instituição financeira. Mais aliviados meus queridos antimarxistas?

Em um artigo intitulado "Deem uma chance a Karl Marx" o Sr. Magnus sugere aos dirigentes políticos do planeta que leiam os escritos deste pensador alemão, em especial sua "grande" obra: O Capital... por que? Já explico...

A primeira "profecia" de Marx em que o Sr. Magnus se apóia para fazer a sua (ousada) recomendação diz respeito à formação do chamado "exército industrial de reserva", composto por uma grande população de desempregados. Este "exército" - inicialmente formado pelo enorme contingente de trabalhadores rurais que migraram para as cidades - é hoje mantido pela constante automação dos meios de produção; esta, por sua vez, é impulsionada pela busca constante do lucro e da acumulação financeira, pressupostos essenciais para o funcionamento do sistema Capitalista. O problema, no entanto, como salienta o Sr. Magnus, é que uma grande acumulação financeira de um lado gera uma grande miséria do outro. Escreve ainda este economista: "A parcela da produção econômica apropriada pelas empresas, na forma de lucros corporativos, chegou ao nível mais alto em seis décadas. Enquanto isso, a taxa de desemprego subiu para 9,1% e os salários reais estão estagnados. A desigualdade de renda nos Estados Unidos chegou, por sua vez, a seu nível mais alto desde a década de 1920."

A segunda "profecia" lembrada pelo Sr. Magnus diz respeito a uma das contradições do sistema capitalista: "quanto mais trabalhadores permaneçam relegados à pobreza, menos serão capazes de consumir todos os bens e serviços que as empresas produzem. Quando uma empresa reduz os custos para aumentar o lucro, está sendo esperta; mas quando todas as empresas fazem isso ao mesmo tempo, minam a distribuição de renda e a demanda efetiva dos que dependem de salários." E prossegue o Sr. Magnus: "O resultado (deste processo) é visível nos Estados Unidos, onde a construção de novas habitações e as vendas de automóveis permanecem cerca de 75% e 30% abaixo de seus picos de 2006, respectivamente." E, citando Marx literalmente, o Sr. Magnus crava: "a razão última de todas as crises reais ainda é a pobreza e o consumo restrito das massas."

Para vencer a crise, o Sr, Magnus desenha uma estratégia fundamentada em cinco eixos principais, à saber:

- Sustentar o consumo e o crescimento da renda através de medidas como redução de impostos e incentivos fiscais;

- Reestruturação/prorrogação das dívidas das famílias;

- Mais crédito para pequenas empresas e para obras de infra- estrutura;

- Ampliação dos prazos de pagamento e redução da dívida grega; simultaneamente, recapitalizar os bancos europeus;

- Bancos centrais mais focados no crescimento econômico do que na compra de títulos;

Dará certo? Bem, nem o Sr. Magnus sabe... mas ele termina o artigo com um alerta... ninguém está imune à crise... nem mesmo a China...

Quem viver verá...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

RECURSOS NATURAIS EM COLAPSO EM 40 ANOS

Reportagem da Reuters

Recursos naturais podem ter colapso em 40 anos, dizem especialistas. Previsão foi divulgada nesta segunda durante conferência em Londres. Por hora, três espécies de animais desaparecem do mundo, diz pesquisador.

Uma previsão catastrófica do planeta Terra para os próximos 40 anos foi divulgada, no dia 17/10, por especialistas da área de clima e saúde reunidos em uma conferência em Londres, no Reino Unido. Reportagem da Reuters.

Segundo os pesquisadores, recursos naturais da Terra como comida, água e florestas, estão se esgotando em uma velocidade alarmante, causando fome, conflitos sociais, além da extinção de espécies.

Nos próximos anos, o aumento da fome devido à escassez de alimentos causará desnutrição, assim como a falta de água vai deteriorar a higiene pessoal. Foi citado ainda que a poluição deve enfraquecer o sistema imunológico dos humanos e a grande migração de pessoas fugindo de conflitos deverá propagar doenças infecciosas.

Tony Mc Michael, especialista em saúde da população da Universidade Nacional Australiana, afirmou que em 2050,somente a região denominada África Subsaariana seria responsável por aumentarem 70 milhões o número de mortes.

Outro ponto citado se refere ao aumento dos casos de malária entre 2025 e 2050 devido às alterações climáticas, que tornaria propícia a reprodução do mosquito transmissor da doença.

“A mudança climática vai enfraquecer progressivamente o mecanismo de suporte de vida da Terra”, disse Mc Michael.

Aumento populacional

De acordo com os especialistas, o aumento da população (estimada em 10 bilhões em 2050) vai pressionar ainda mais os recursos globais. Outra questão citada são os efeitos nos países ricos, principalmente nos da Europa.

“O excesso de consumo das nações ricas produziu uma dívida ecológica financeira. O maior risco para a saúde humana é devido ao aumento no uso de combustíveis fósseis, que poderão elevar o risco de doenças do coração, além de câncer”, afirmou Ian Roberts, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Além disso, o Velho Continente estaria sob risco de ondas de calor, enchentes e mais doenças infecciosas para a região norte, disse Sari Kovats, uma das autoras do capítulo sobre a Europa no quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que será lançado entre 2013-2014.

Espécies em risco

De acordo com o Paul Pearce-Kelly, curador-sênior da Sociedade Zoológica de Londres, cerca de 37%das 6 mil espécies de anfíbios do mundo podem desaparecer até 2100. Os especialistas afirmam que na história do planeta ocorreram cinco extinções em massa, entretanto, atualmente a taxa de extinção é 10 mil vezes mais rápida do que em qualquer outro período registrado.

“Estamos perdendo três espécies por hora e isso antes dos principais efeitos da mudança do clima”, disse Hugh Montgomery, diretor do Instituto para Saúde Humana e Performance da University College London.

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com

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domingo, 4 de dezembro de 2011

SOCIEDADE AMERICANA E O DINHEIRO

Autor: John Kozy- Global Research

Foi-se o tempo em que a ética protestante definia o caráter dos Estados Unidos. Ela foi usada como fator responsável pelo sucesso do capitalismo na Europa do Norte e na América, pelos sociólogos, mas a ética protestante e o capitalismo são incompatíveis, e o capitalismo, em última análise, faz com que a ética protestante seja abandonada.

Há um novo ethos que emergiu, e as elites governamentais não o entendem. Trata-se do ethos da “grande oportunidade”, do “prêmio”, da “próxima grande idéia”. A marcha lenta e deliberada em direção ao sucesso é hoje uma condenação do destino. Junto à próxima grande ideia comercial está o novo modelo do "sonho americano". Tudo o que importa é o dinheiro. Dada essa atitude, poucos na América expressam preocupações morais. A riqueza é só o que se tem em vista; vale inclusive nos destruir para alcançá-la. E se não chegamos lá ainda, certamente em breve chegaremos.

Eu suspeito que a maior parte das pessoas gostaria de acreditar que sociedades,não importa as bases de suas origens, tornam-se melhores com o tempo. Infelizmente a história desmente essa noção; frequentemente as sociedades se tornam piores com o tempo. Os Estados Unidos da América não é exceção. O país não foi benigno em sua origem e agora declina, tornando-se uma região de depravação raramente superada pelas piores nações da história.

Embora seja impossível encontrar números que provem que a moralidade na América declinou, evidências cotidianas estão onde quer que se veja. Quase todo mundo pode citar situações nas quais o bem estar das pessoas foi sacrificado pelo bem das instituições públicas ou privadas, mas parece impossível citar um só exemplo de instituição pública ou privada que tenha sido sacrificada em nome do povo.

Se amoralidade tem a ver com o modo como as pessoas são tratadas, pode-se perguntar legitimamente onde a moralidade desempenha um papel no que está se passando nos EUA? A resposta parece ser: “Em lugar nenhum!” Então, o que tem aconteceu nos EUA para se ter a atual epidemia de afirmações de que a moralidade na América colapsou?

Bem, a cultura mudou drasticamente nos últimos cinquenta anos. Foi isso o que aconteceu. Houve um tempo em que a "América", o "caráter americano", era definido em termos do que se chamava de Ética Protestante. O sociólogo Max Weber atribuiu o sucesso do capitalismo a isso. Infelizmente, Max foi negligente; ele estava errado, completamente errado. O capitalismo e a ética protestante são inconsistentes entre si. Nenhum dos dois pode ser responsável pelo outro.

A ética protestante (ou puritana) está baseada na noção de que o trabalho duro e a ascese são duas consequências importantes para ser eleito pela graça da cristandade. Se uma pessoa trabalha duro e é frugal, ele ou ela é considerado como digno de ser salvo. Esses atributos benéficos, acreditava-se, fizeram dos estadunidenses o povo mais trabalhador do que os de quaisquer outras sociedades (mesmo que as sociedades protestantes europeias fossem consideradas parecidas e as católicas do sul da Europa fossem consideradas preguiçosas).

Alguns de nós afirmam agora que estamos testemunhando o declínio e a queda da ética protestante nas sociedades ocidentais. Como a ética protestante tem uma raiz religiosa, o declínio é frequentemente atribuído a um crescimento do secularismo. Mas isto seria mais facilmente verificável na Europa do que na América, onde o fundamentalismo protestante ainda tem muitos seguidores. Então deve haver alguma outra explicação para o declínio. Mesmo que o crescimento do secularismo tenha levado muita gente a dizer que ele destruiu os valores religiosos juntamente aos valores morais que a religião ensina, há uma outra explicação.

No século XVII, a economia colonial da América era agrária. Trabalho duro e ascese combinam perfeitamente com essa economia. Mas a América não é mais agrária. A economia dos EUA hoje é definida como capitalismo industrial. Economias agrárias raramente produzem mais do que é consumido, mas economias industriais o fazem diariamente. Assim, para se manter a economia industrial funcionando, o consumo deve não apenas ser contínuo, como continuamente crescente.

Eu duvido que haja um leitor que não tenha escutado que 70% da economia dos EUA resultado consumo. Mas 70% de um é 0,7, ou de dois é 1,4, de três, 2,1, etc. À medida que economia cresce de um a dois pontos do PIB, o consumo deve crescer de 0,7 para 1,4 pontos. Mas o aumento crescente do consumo não é compatível com a ascese. Uma economia industrial requer gente para gastar e gastar, enquanto a ascese requer gente para economizar e economizar. A economia americana destruiu a ética protestante e as perspectivas religiosas nas quais foi fundada. O consumo conspícuo substituiu o trabalho duro e a poupança.

No seu A Riqueza das Nações, Adam Smith afirma que o capitalismo beneficia a todos, desde que cada um aja em benefício dos outros. Agora estão nos dizendo que “economizar mais e cortar gastos pode ser um bom plano para lidar com a recessão. Mas se todo mundo proceder assim isso só vai tornar as coisas piores... aquilo de que a economia mais precisa é de consumidores gastando livremente”. A grande recessão atingiu Adam Smith na sua cabeça, mas o economista admitiria isso. “Um ambiente em que todos e cada um quer economizar não pode levar ao crescimento. A produção necessita ser vendida e para isso você precisa de consumidores”.

Poupar é (presumivelmente) bom para indivíduos, mas ruim para a economia, a qual requer gasto contínuo crescente. Se um economista tivesse dito isso na minha frente, eu teria lhe dito que isso significa claramente que há algo fundamentalmente errado com a natureza da economia, que isso significa que a economia não existe para prover as necessidades das pessoas, mas que as pessoas existem apenas para satisfazer as necessidades da economia. Embora não pareça isso, uma economia assim escraviza o povo a quem diz servir. Então, de fato, o capitalismo industrial perpetrou a escravidão; ele tem reescravizado aqueles que um dia emancipou.

Quando o consumo substituiu a poupança na psique americana, o resto de moralidade afundou junto na depravação. A necessidade de vender requer marketing, o que nada mais é que a mentira das mentiras. Afinal de contas, toda empresa é fundada no que disse o livro de Edward L. Bernays, de 1928: Propaganda. A cultura americana tem sido inundada por um tsunami de mentiras. O marketing se tornou a atividade predominante da cultura. Ninguém pode se isolar disso. É uma coisa seguida por pessoas de negócios, políticos e pela mídia. Ninguém pode ter certeza de estarem lhe contando a verdade a respeito de alguém. Nenhum código moral pode sobreviver numa cultura de desonestidade, e de resto, ninguém pode!

Tendo subvertido a ética protestante, a economia destruiu toda ética que a América um dia promoveu. O país tornou-se uma sociedade sem um ethos, uma sociedade sem propósito humano. Os americanos se tornaram cordeiros sacrificáveis para o bem das máquinas. Então, um novo ethos emergiu do caos, um ethos que a elite governamental desconhece completamente.

Diz-se frequentemente que Washington perdeu o contato com as pessoas que governa, que não entende mais seu próprio povo ou como sua cultura comum funciona. Washington e a elite do país não entendem isso, mas a cultura não valoriza mais o certo sobre o errado ou o trabalho duro e a ascese sobre a preguiça e a extravagância. Hoje os americanos estão buscando a “grande oportunidade”, o “prêmio”, a “próxima grande ideia”. O Sonho Americano foi hoje reduzido a “acertar em cheio!”. A longa e deliberada estrada para o sucesso é uma condenação. Vejam American Idol, The X-Factor e America’s Got Talent e testemunhe a horda que se apresenta para os auditórios. Essas pessoas, em sua maior parte, não trabalharam duro em nada na vida. Contem o número de pessoas que regularmente apostam na loteria. Esse tipo de aposta não requer trabalho algum. Tudo o que essas pessoas querem é acertar em cheio. E quem é nosso homem de negócios mais exaltado? O empreendedor!

Empreendedores são, na sua maior parte, fogo de palha, mesmo que haja exceções notáveis. O problema com o empreendedorismo, no entanto, é a alta conta em que passou a ser tomado. Mas o único valor ligado a ele é a quantidade de dinheiro que os empreendedores têm feito. Raramente ouvimos alguma coisa a respeito do modo nefasto como esse dinheiro foi feito. Bill Gates e Mark Zuckerberg, por exemplo, dificilmente representam imagens de pessoas com moralidade exemplar, mas na economia sem escrúpulos morais, ninguém se importa; tudo o que importa é o dinheiro.

Dada essa atitude, por que alguém, nessa sociedade, expressaria preocupações morais? Poucos na América o fazem. Assim, enquanto a elite americana fala na necessidade de produzir força de trabalho sustentável para as necessidades de sua indústria, as pessoas não querem nada disso.

A elite frequentemente lastima a falência do sistema educacional americano e tem tentado melhorá-lo sem sucesso, por várias décadas. Mas se alguém presta atenção no atual estado de coisas na América, vê que a maior parte dos empreendedores de sucesso são pessoas que abandonaram faculdades. Como se pode convencer a juventude de que a educação universitária é um empreendimento que vale a pena? Assim como Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg mostraram, aprendera desenhar um software que não requer graduação universitária. Nem ganhar na loteria ou vencer o American Idol. Fazer parte da Liga Nacional de Futebol pode requerer algum tempo na universidade, mas não a graduação. Todo o empreendedorismo requer uma nova ideia mercantil.

Entretenimento e esportes, loterias e programas de jogos e disputas, produtos de consumo de que as pessoas não tiveram necessidade por milhões de anos são agora as coisas que formam a cultura americana. Mas não são coisas, são lixo; não podem formar a base de uma sociedade humana estável e próspera. Esta é uma cultura governada meramente por um atributo: a riqueza, bem ou mal havida!

A capacidade humana de auto-engano é sem limites. Os estadunidenses vêm se enganando com a crença de que a riqueza agregada, a soma total de riquezas, em vez de como ela é distribuída, dá certo. Não importa como foi obtida ou o que foi feito para se obter tal riqueza. A riqueza agregada é a única coisa que se tem em vista; é algo pelo que vale à pena destruir a nós mesmos. E mesmo que não o tenhamos alcançado ainda, em breve certamente o conseguiremos.

A história descreve muitas nações que se tornaram depravadas. Nenhuma delas jamais se reformou. Nenhum garoto bonito pode ser convocado para desfazer a catástrofe do Toque de Midas. O dinheiro, afinal de contas, não é uma coisa de que os humanos precisem para sobreviver, e se o dinheiro não é usado para produzir e distribuir as coisas necessárias, a sobrevivência humana é impossível, não importa o quanto de riqueza seja agregada ou acumulada.

(*) JohnKozy é professor aposentado de filosofia e lógica que escreve sobre assuntos econômicos, sociais e políticos. Depois de ter servido na Guerra da Coréia, passou 20 anos como professor universitário e outros 20 trabalhando como escritor. Publicou um livro de lógica formal, artigo acadêmicos. Sua página pessoal é http://www.jkozy.com onde pode ser contatado.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Fábio Oliveira – fabioxoliveira2007@gmail.com